Capítulo 1 ISAAC
Olá meninas!!
Mais um capítulo quentinho saindo, vamos conhecer um pouco do nosso mocinho? ele é lindo não?
Lembrando que o livro está prontinho só esperando o dia para ir para a Amazon, assim se tiver alguma ansiosa por aqui, assim como eu, a espera não será longa.
Isaac
Ainda sentindo meu pau esporrando de prazer, saí de dentro de Matilda e tombei meu corpo para o lado. Movimento que foi aproveitado por ela para enroscar suas coxas em mim. Passando meu braço embaixo de seu corpo, com carinho, acariciei suas costas cobertas pela farta cabeleira loira e pouco depois ouvi o ressonar abafado de seu sono tranquilo. Com todo cuidado para não a acordar, desvencilhei-me dela e comecei a me afastar devagar.
⸺ Não acredito que está indo embora. ⸺ Eu a ouvi reclamar, apoiando-se sobre os cotovelos e deixando à mostra o belo par de seios, lindamente siliconados. Eu podia ver várias marcas dos meus dentes desenhadas neles. ⸺ Não é nem meia-noite, pensei que iríamos ter pelo menos mais uma rodada.
⸺ Eu sei que é cedo ⸺ com minha cueca em mãos, voltei a me aproximar da cama e toquei seu queixo ⸺, mas tenho que viajar de madrugada, além de que gosto de amanhecer em minha cama.
⸺ Por isso eu não entendo ⸺ choramingou, deixando-me incomodado, pois já sabia que aquela conversa tinha tudo para se prolongar. ⸺ Se você gosta de amanhecer em sua cama, por que não me leva para sua casa? Assim não teria que sair sempre no meio da noite.
⸺ Já conversamos sobre isso, lembra? ⸺ A noite tinha sido boa; o sexo, prazeroso e desestressante, que era o que eu sempre procurava, no entanto, tudo começava a se arruinar. ⸺ Por enquanto, vamos ficar por aqui, assim que concordarmos em ter uma relação, eu a levo para minha casa, minha cama, tudo. Okay?
Dei um sorriso, tentando não perder o relaxamento conseguido com a foda dura.
⸺ Essa foi a promessa que você fez quando começamos e isso já faz um ano. ⸺ Naquele momento, já não eram choramingos, e sim raiva que brilhava nos seus olhos claros. ⸺ No entanto, sua casa, seu quarto, sua cama ainda continuam sendo lugares proibidos para mim.
⸺ Matilda ⸺ disse, puxando minha cueca para cima e acomodando meu membro dentro dela, enquanto evitava um bufo de frustração. ⸺ Isso é o que, no momento, eu posso oferecer, se não for suficiente para você...
⸺ Não é isso ⸺ ela me interrompeu, apressada. ⸺ É que eu achei que um ano já seria tempo suficiente para que você assumisse que temos uma relação, mas entendo, talvez ainda seja cedo.
Terminou de falar, voltando a estender seu corpo nu de forma lânguida e sensual, numa tentativa de atrair mais uma vez minha atenção, porém eu já estava mais que satisfeito. Naquele momento, a única coisa que eu queria era uma cerveja gelada, um filme de terror, meu travesseiro e assim terminar minha noite verdadeiramente relaxado. Baixei minha cabeça e tentei colocar meus lábios em sua bochecha.
⸺ Boa noite, Matilda. ⸺ Ela tomou minha boca e, de forma gulosa, puxou minha língua para sua boca, ronronando, excitada. Correspondi, tomando a dela com a minha, para logo me afastar; caso continuasse, não sabia aonde iríamos parar. ⸺ Mas agora eu preciso ir, tenho uma viagem marcada para amanhã cedo. E não gosto de pilotar cansado.
⸺ Eu sei. ⸺ Sentou-se, ainda fazendo bico, no entanto, já mais conformada com a minha ida. ⸺ Ouvi papai comentando com James quando fui jantar na casa dele ontem. Segundo ele, você irá passar uma semana ou mais visitando os frigoríficos de Sydney e Camberra, além de outras cidades que não registrei.
⸺ Sim. ⸺ Peguei meu capacete, pronto para sair. ⸺ Então já sabe todo o trabalho que me espera.
⸺ Bem que podia me levar com você. ⸺ Ela sorriu, em uma última tentativa de me amarrar a ela. ⸺ Assim, enquanto você visita os clientes durante o dia, eu me divirto fazendo comprinhas e à noite aproveito para retirar todo seu estresse.
⸺ E como explicaria ao seu pai essa semana que passaria comigo? ⸺ perguntei, levantando uma sobrancelha, mesmo que já soubesse a resposta. ⸺ Um simples peão?
⸺ Seria uma boa oportunidade para você me assumir. ⸺ Sorriu, sabendo que sua nova tentativa, mais uma vez, tinha fracassado. ⸺ E ele não pode dizer nada, sou adulta, separada e cuido do meu nariz.
Não disse nada, apenas saí, eu tinha um carinho especial por Matilda, porém nada além. Talvez, por egoísmo, eu continuava visitando sua cama e aproveitando tudo que ela me oferecia, ou eu acreditava que um dia conseguiria me libertar do meu passado e seguir em frente. Todavia, eu sentia como se estivesse em um lago de areia movediça e, quanto mais força eu fazia para sair, mais meu corpo afundava, e às vezes eu sequer conseguia respirar.
Desci as escadas e saí pela porta dos fundos, Matilda não era nenhuma filhinha inocente de papai. Ela era a rica filha de um fazendeiro tão poderoso quanto James, a fazenda Castanho era apenas um pouco menor que a Thompson. Com seus vinte e cinco anos, já estivera casada e, agora separada, vivia do que o divórcio lhe rendera. Mesmo assim, eu tentava evitar ao máximo ser visto saindo de sua casa de madrugada. Eu sabia que meu comportamento com ela não era legal, mas... talvez um dia eu conseguisse.
Olhei o relógio, vinte três e trinta. Àquela hora da noite, junto com a velocidade, eu levaria uns trinta minutos para sair das terras dela e estar de volta à fazenda dos Thompson; geralmente eu não tinha problema com horários, porém, com a viagem marcada para as primeiras horas da manhã, o tempo ficava apertado. Colocando o capacete, montei minha moto, o motor tomou vida com um ronco suave. O vento, o cheiro da terra, tudo era calmaria, no entanto, não importava, bastavam alguns minutos de silêncio para que a garota sapeca aparecesse para confidenciar loucuras em meu ouvido.
⸺ Eu amo você. ⸺ Ela riu. ⸺ Um dia vamos nos casar e ter um monte de filhos. O que você acha?
⸺ Eu acho perfeito. ⸺ Eu ri com ela, nosso amor era único, não tinha outra como ela.
Como esquecer o primeiro amor? Como esquecer a dor que ele nos causa quando é impossível, por mais puro que seja? Impossível. Todavia, eu sabia que não podia continuar usando as pessoas para tentar apaziguar essa mesma dor.
Ao entrar em casa e jogar as chaves dentro de uma pequena cuba que ficava sobre o aparador, ao lado da porta, eu já tinha minha decisão tomada. Matilda tinha razão, se em um ano eu ainda não a tinha assumido, era porque nunca o faria. O tempo passaria e, a cada nova ocasião, eu encontraria uma desculpa. Na volta da viagem, eu acharia uma forma de conversar de um modo que não a magoasse, não queria machucá-la mais do que certamente já a machucaria.
Passei pela cozinha e fiz o que eu queria fazer a tarde toda. Com uma lata de cerveja em mãos, me dirigi ao quarto e, antes de chegar, já tinha esvaziado seu conteúdo. Cookie, ao me ver entrar, levantou-se, bocejou, se espreguiçou e em seguida se acomodou, voltando a colocar a cabeça sobre as patas para dormir. Acariciei sua cabeça e me desculpei por ter atrapalhado seu sono.
Ainda procurando uma forma de ser direto sem ser cruel, segui em direção ao banheiro, amassei e deixei a lata sobre a bancada; havia alguns garotos que juntavam aquele tipo de material e Ruby já estava acostumada a juntá-las para eles.
Ao sair, ainda secando os cabelos, ouvi o som de uma chamada. Era quase uma da manhã, não podia imaginar quem estaria me ligando. Apressei meus passos, mas, quando atendi, já estava mudo. Suspirando, vi que era o dono do frigorífico com quem eu tinha marcado a primeira reunião do dia seguinte.
Sem muito ânimo, deixei a toalha em uma cadeira e, jogando-me na cama, me dispus a devolver a ligação, porém, antes que completasse, ele vibrou com a chegada de uma mensagem e, para minha felicidade, já que não estava muito a fim de passar uma semana viajando, como tinha planejado James, o cliente estava desmarcando. Com aquela boa notícia, pelo menos meu sono seria mais relaxado, sem o estresse de pilotar de madrugada.
Mais tranquilo, deixei o celular de lado sem devolver a chamada; quando estivesse no escritório, no dia seguinte, ligaria e remarcaria. Cansado, ajeitei meu corpo e afundei meu rosto no travesseiro. Mas, como sempre acontecia, a garota magrela, de nariz empinado, olhos brilhantes e palavras perfeitas insistia em voltar para me fazer relembrar das minhas promessas não cumpridas.
E, como sempre, era tão real que eu podia sentir não apenas o calor do seu hálito em minha orelha, mas também seu perfume de menina inocente em meu nariz.
⸺ Nós nunca vamos nos separar, não é? ⸺ Sua mão pequena deslizou sobre meu peito com os pelos ralos de adolescente.
⸺ Não. ⸺ Acariciei sua face suave, com o rosa do calor do dia sobre ela.
⸺ Prometa ⸺ insistiu.
⸺ Prometo. ⸺ Beijei sua bochecha, sentindo em meus lábios seu sabor de pureza quase infantil. ⸺ Nunca vou me separar de você, vamos ficar velhinhos juntos.
⸺ Você vai ser meu marido. ⸺ Sorriu, sonhadora. Com a cabeça apoiada em meu peito, olhava para as nuvens, tentando encontrar desenhos imaginários. ⸺ Todas as meninas vão sentir inveja de mim, pois vou me casar com o garoto mais lindo de escola.
⸺ E os garotos, inveja de mim. ⸺ Eu a acompanhei, feliz, no riso. ⸺ Porque vou ter a esposa mais linda de toda a Austrália.
⸺ Bobo, eu não sou linda.
Adormeci ouvindo sua gargalhada, cansado da dor que eu sabia que nunca terminaria.
***
⸺ Bom dia, Ruby ⸺ disse, entrando na cozinha no dia seguinte, apressado e com o suor pingando do meu rosto. Eu gostava de me exercitar antes que o sol saísse, mas naquele dia foi diferente. Ainda estava escuro quando eu já tinha terminado minha corrida e seguido para minha série de pesos; quando os primeiros raios começaram a despontar, eu já estava de volta à casa. ⸺ Prepare um café reforçado e um lanche para viagem, vou passar o dia fora, não vou ter tempo de vir almoçar.
⸺ Não viajou, levantou mais cedo que de costume, tudo isso é para... ⸺ Ela parou em seco, como se estivesse cometendo uma gafe.
⸺ Tudo isso é para quê? ⸺ Peguei uma toalha no banheiro social, que ficava quase em frente à sala, e, secando meu suor com ela, encarei as costas de Ruby, que procurava por frios na geladeira. ⸺ Não entendi.
⸺ Por nada ⸺ respondeu, sem graça, me deixando ainda mais intrigado. ⸺ O café reforçado já está pronto, vou colocar o lanche, água e alguns petiscos, além de frutas, para que passe bem o dia.
Avisou-me antes de se retirar em busca da caixa térmica para preparar meu pedido. Confuso, dei a volta e segui em direção ao meu quarto; o cancelamento da viagem não significava que eu estava de folga, ao contrário.
Meu banho foi demorado, aquele era um tempo que eu tomava como especial para mim, pois sabia que, ao sair, meu dia seria sempre corrido. Ser o administrador geral das fazendas Thompson não era um serviço fácil e simples, todo dia tinha algo acontecendo em um dos quatro conglomerados em que estavam divididas as vastas terras da família. Mesmo que cada uma contasse com seu capataz, ajudantes e que todos fossem excelentes funcionários, não tinha como tudo andar nos trilhos todos os dias.
Me vesti devagar, como alguém que saboreia as últimas migalhas de uma torta saborosa. Calcei minhas botas todo terreno, o melhor trabalho da fazenda era o que se realizava a campo aberto, então hoje eu não pretendia me trancar em um escritório com o ar-condicionado no máximo. Para o trabalho que eu pretendia fazer no dia, um par de jeans velhos, gastos pelo tempo de uso, estava perfeito, eu ainda não sabia como o mundo tinha sobrevivido antes daquela peça tão especial ser inventada.
Com o calor que fazia, uma camiseta branca era indispensável; para completar, camisa de manga comprida para proteger os braços do sol escaldante. Antes de sair, cruzei sobre os ombros a mochila com meu notebook, coloquei no bolso traseiro meu celular, passei a mão, tentando pôr ordem nos meus cabelos sempre rebeldes e bagunçados, afundei meu inseparável boné e, finalmente, sobre a aba, apoiei meus óculos escuros. Eu estava pronto para enfrentar o dia.
⸺ Senhor Libourne. ⸺ Ouvi, ao descer as escadas. Geralmente os problemas começavam quando eu saía de casa ou chegava no escritório, mas, naquele dia em especial, parecia que estavam impacientes e tinham decidido se adiantar. Assim, estavam literalmente dentro da minha sala. ⸺ Ele já vai descer, o senhor sabe que ele não gosta que entrem sem sua autorização, espere aqui, por favor.
⸺ Claro. ⸺ O tom sarcástico da voz arranhada pelo abuso de cigarro e álcool chegou aos meus ouvidos, fazendo com que eu inspirasse, fechando meus olhos. Travei meus punhos e o maxilar, numa tentativa de dominar a raiva repentina. ⸺ Mas eu não sou qualquer um, mulher, sou o pai desse idiota metido a rico, só porque ganha uns centavos a mais que eu.
⸺ Bom dia, papai ⸺ disse, tentando não o deixar ainda mais furioso do que normalmente era. ⸺ Fale logo do que se trata, afinal, para você deixar o aconchego do seu lar e vir bater em minha porta a essa hora da manhã, boa coisa não deve ser.
Perguntei, lembrando-me dos seus ataques de ira contra mim. A última vez que aquilo tinha acontecido foi no dia em que Ami entrou em minha vida. Se fosse outro, eu teria revidado até transformar seu rosto em carne moída, no entanto, por mais que ele me tratasse como um verme, eu nunca levantava meu punho para ele.
⸺ Você não deveria estar voando para Sydney? ⸺ indagou-me, com os olhos injetados pela fúria. ⸺ Não ia ficar uma semana visitando frigoríficos e vendo novos clientes? O que está fazendo aqui?
⸺ Que eu saiba ⸺ sem parar para conversar, fui em direção à cozinha, minha fome tinha se esvaído ⸺, essa pergunta só poderia ser feita pelo senhor Thompson e, como vejo que você não é ele, não vou perder meu tempo respondendo.
⸺ Escute aqui, moleque. ⸺ Seu rosto pálido de inglês nativo, queimado e manchado pelos anos de descuido ao sol, tomou ainda mais tons terracota. ⸺ Não é porque o pau cresceu que você vai falar comigo dessa forma.
⸺ E não é porque você é meu pai ⸺ disse, sem me virar, conferindo o que Ruby tinha colocado dentro da caixa ⸺ que vai me socar como antes.
⸺ Pegue o maldito avião e vá visitar os clientes como tinha combinado com seu patrão! ⸺ vociferou, como se não tivesse ouvido o que eu tinha dito. ⸺ Vá, suma, desapareça.
Naquele momento, dei a volta e o encarei, tudo bem que ele sempre foi desequilibrado e, quando eu era criança, me espancava quando bem entendia, porém vir até a minha casa para exigir que eu fizesse algo que não era seu trabalho era um pouco parecido com loucura.
⸺ Sim, pretendo sumir mesmo, senão por uma semana, pelo menos da sua frente. ⸺ Saí, levando a caixa. Ruby tinha desaparecido havia muito tempo, talvez para evitar assistir a mais um deprimente espetáculo de pai e filho brigando.
Caminhei os poucos metros que separavam minha casa da garagem, seguido por Cookie, que mancava com a pata que tinha sido maldosamente quebrada por alguém que eu não chegara a descobrir. Aquilo tinha acontecido alguns anos atrás e, mesmo assim, ele saltava alegre ao meu lado, seu fiel salvador. O boiadeiro australiano tinha aquele nome justamente por ter o pelo com manchas negras e creme e, desde filhote, era alegre, doce e brincalhão, como um perfeito exemplar da raça e das delícias do mesmo nome.
Aquele tinha sido meu último presente para.... Engoli minha saliva e mudei o rumo dos meus pensamentos. Cheguei à "garagem", que não passava de um pequeno espaço coberto com trepadeiras, onde meus dois veículos eram mais resguardados do sol que propriamente da chuva.
Com meu pai gritando barbaridades em minhas costas, apoiei a caixa no piso e, no banco do carona, coloquei meu notebook, assegurando-o com um par de cordas elásticas. No mesmo instante, Cookie passou por mim e saltou todo feliz, indo parar na traseira, com uma agilidade incomum para sua pata inválida.
⸺ Ei, rapaz, hoje não. ⸺ Acariciei seu pelo, enquanto dava pequenos empurrões para que descesse. ⸺ Amanhã prometo levar você ao rio e, assim, nos divertir.
⸺ Amanhã? ⸺ Eu ouvi o vociferar do meu pai, porém já não me importei em ficar escutando.
⸺ Bom menino ⸺ disse, assim que ele pulou novamente para fora, latindo como se tivesse entendido e aceitado minha proposta.
Saltei para o assento do motorista, dei ignição no motor e liguei o ar; mesmo naquela hora da manhã, o inferno parecia já estar com suas portas abertas, tal era o calor. E, com Cookie a uma distância segura, aproveitei para acelerar, deixando para trás o homem frio, cruel e amargo que eu tinha como pai.
O trajeto da minha casa até o hangar da fazenda levava pouco mais de quinze minutos, mas, com a raiva que eu estava, levei menos de dez, tal a força que meu pé imprimiu no acelerador. Ao me aproximar, vi que a gigantesca porta estava completamente aberta. Aquilo chamou minha atenção, já que fazia mais de um ano que o jato dos Thompson não ficava na fazenda e era usado apenas em Londres para fazer serviços de táxi aéreo, pois, assim como Ash, James também não se decidia sobre vender ou não a luxuosa aeronave. E os monomotores e bimotores que usávamos não precisavam ter o portão aberto da forma que estava.
Entrei e estacionei meu Land Rover Defender, presente de formatura de James, no espaço reservado aos veículos. Antes de retirar minha caixa, atravessei mais uma vez o notebook sobre os ombros e o deixei em minhas costas. Com tudo em mãos, fui em direção ao bimotor que eu usava para minhas viagens de inspeção pelo vasto território pertencente à fazenda. Meu trajeto, no entanto, foi interrompido pelo barulho do Hummer do velho Thompson se aproximando. Parei e fiquei observando-o estacionar seu impecável e lustroso veículo de luxo ao lado do meu, todo sujo e empoeirado.
Parei, esperando que ele descesse, sem entender o que tinha acontecido, pois, desde que eu comecei a trabalhar no hangar ⸺ o espaço, além abrigar as aeronaves, funcionava também como escritório ⸺, James dificilmente aparecia. A maioria dos problemas que precisavam da sua assinatura ou aprovação eu resolvia por telefone ou enviava alguém para que ele assinasse.
Ele também viajava somente no jatinho particular e quase nunca inspecionava a fazenda dentro dos monos ou bimotores que usávamos para aquele fim. James tinha um verdadeiro pavor dos nossos teco-tecos, aquelas vistorias eram feitas por mim ou pelos capatazes assistentes que eu comandava. Ainda tentando descobrir o que ele fazia ali tão cedo, fui pego de surpresa por sua reação ao me ver.
⸺ O que você está fazendo aqui? ⸺ gritou, ignorando minha mão levantada e meu sorriso de cumprimento. ⸺ Por acaso não tinha reuniões marcadas com clientes durante toda a semana?
⸺ Sim. ⸺ Tentei ignorar o tom de reprovação, já que, ao contrário do meu pai, aquela não era uma atitude corriqueira da sua parte. ⸺ Mas a filha do nosso principal cliente, com quem eu tinha que me encontrar hoje, sofreu um acidente e ele pediu para adiar. Então, como meu próximo cliente é apenas amanhã, vou realizar o trabalho de hoje aqui e viajo amanhã de madrugada. Se tudo der certo, remarco minha reunião com ele na volta, assim fecho o cronograma sem deixar nenhum cliente de fora.
Sorri, feliz.
⸺ E você toma esse tipo de decisão sem sequer me avisar? ⸺ reclamou, com ira, vindo apressado em minha direção. ⸺ Podia muito bem ter ido, mesmo que passasse o dia apenas passeando. Foi muita irresponsabilidade o que você fez.
Não podia determinar se foi fogo ou gelo o que correu por minhas veias, porém não importava, os dois queimavam, de maneiras diferentes, mas queimavam.
⸺ Posso saber que merda está acontecendo? ⸺ Joguei de qualquer forma meu note e minha caixa dentro da cabine. ⸺ Essa manhã por pouco meu pai não me deu uma surra por eu ter adiado a viagem. E agora você?
⸺ Talvez ele, pela primeira vez, esteja com a razão. ⸺ Parou no meio do caminho, passando, nervoso, as mãos pelos cabelos. De forma inconsciente, tirei meu boné, repetindo o mesmo gesto que ele. ⸺ O que está esperando? Se estava saindo, por que ainda está aqui?
⸺ Dele até eu podia esperar, mas de você? ⸺ Apontei o dedo em sua direção, sentindo-me ofendido e chateado. ⸺ Você nunca falou comigo usando esse tom.
⸺ Desculpe-me, filho. ⸺ Com o olhar para fora do hangar, ele apressou os passos até chegar ao meu lado. ⸺ Mas você deve me entender, nesses últimos tempos não ando bem da cabeça
⸺ Tudo bem, James ⸺ aceitei o pedido de desculpa, afinal, se não fosse por ele, eu nem teria conseguido terminar meus estudos. ⸺ Sei de todo o estresse que você vem passando.
Ainda nervoso, ele parou ao meu lado, olhando para fora e para o relógio, e me deixando curioso e intrigado. Toquei seu braço, tentando fazer com que relaxasse. James era o pai que qualquer um sonharia em ter, ele tinha pagado todos os meus estudos e eu tinha devolvido o favor, só que com meu trabalho. Ele tomara para si, mesmo contra a vontade do meu pai, responsabilidades que deveriam ter sido dele. Me ajudou, porém nunca aliviando para o meu lado, me fez crescer, começando de baixo, me fazendo escalar cada degrau. Assim como a faculdade tinha sido difícil, conquistar o posto aonde eu tinha chegado apenas dois anos antes também fora.
⸺ Já que você cancelou a viagem, por que não aproveita e tira o dia de folga? ⸺ Arregalei meus olhos, incrédulo, as coisas estavam piores do que eu imaginava. ⸺ Pegue sua namorada e desapareça, pare de fingir que não tem nada acontecendo entre você e Matilda.
⸺ Acho que você errou na dose de conhaque com que tem o costume de batizar seu café... ⸺ Não pude continuar, o barulho de um jatinho pousando e passando rápido pela pista em frente ao portão do galpão aberto me tomou de surpresa. ⸺ Quem está chegando? Ash?
⸺ Ah, sim, ele ⸺ gaguejou. ⸺ Ash.
⸺ Não sabia que ele estava vindo. ⸺ Sorri, feliz com a notícia. Ash era um cara legal, apenas não tinha em suas veias a paixão pelas terras da família. ⸺ Por que não me contou?
⸺ Porque foi decidido de última hora. ⸺ Mais uma vez, sua voz soava apreensiva. ⸺ Mas você não estava com pressa? A pista está livre e já pode decolar.
⸺ Como assim? ⸺ Encostei meu corpo contra a lataria da aeronave que se encontrava em minhas costas. ⸺ Parece até que você me quer longe daqui. Faz meses que não o vejo, vou dar um abraço nele antes de sair.
⸺ Você poderá fazer isso quando voltar ⸺ tentou me dissuadir. ⸺ Podem marcar uma noite para pôr a conversa em dia.
⸺ O que está havendo, James? ⸺ Olhei para ele, nada naquela conversa fazia sentido. ⸺ Por que está agindo dessa maneira?
⸺ Vá para casa, Isaac. ⸺ Com cansaço em sua voz, tocou meu braço com carinho, no mesmo instante em que o bico da aeronave girou na pista e tomou o rumo da entrada do hangar. ⸺ Tire uns dias de férias, vai ser melhor para todos.
⸺ Por que não me avisou? ⸺ Encarei-o, tremendo. Tarde demais, eu entendi o porquê de tantos mistérios, me senti o próprio marido traído, aquele que é sempre o último a saber.
⸺ Por que. Não. Me. Avisaram?
Repeti.
⸺ Ainda dá tempo ⸺ incentivou-me, porém para mim já era tarde, os músculos das minhas pernas tinham perdido a força e se encontravam trêmulos como os de um atleta depois de uma maratona. ⸺ Vá.
Não respondi, todo o meu ser se encontrava em algum lugar do passado, revivendo tudo que tinha acontecido, tudo do que eu tive que abrir mão para salvá-la. Enquanto James insistia para que eu me retirasse dali, a porta foi aberta e, no topo da escada, Amiha apareceu, mais linda que nunca. Mesmo com a distância que nos separava, eu pude sentir o perfume chegando a mim, todavia, já não era minha Ami, os gestos duros das mãos ao tocarem o apoio da escada indicavam uma frieza que não era característica dela.
Pisquei, balancei a cabeça, sem querer acreditar no que meus olhos me entregavam, Ami tinha conseguido o impossível, estar ainda mais bela do que já era. Parada no topo da escada, olhou para o ponto onde nos encontrávamos. O conjuntinho de regata e calça branca a deixavam com uma elegância que destoava da menina que um dia eu havia conhecido. Roupas finas, bolsa, joias, o porte, tudo indicava riqueza e poder, coisa que a família Thompson tinha de sobra, mas que nunca foi uma caraterística dela. Aquela não era ela.
Os belos olhos estavam cobertos por um par de óculos escuros, o que me impossibilitava de vê-los, porém eu me recordava muito bem. Eles tinham um tom de cinza único, quase gelo, que era perfeito, combinado com os cabelos preto azeviche, fartos e grossos. Ela tinha uma beleza única, resultado da união de duas raças.
Quando ela levou o pé ao primeiro degrau da escada, um homem apareceu atrás dela e a segurou pelo braço, dizendo algo em seu ouvido, o que interrompeu seu trajeto, fazendo com que ela se colocasse de lado para que assim ele tomasse a frente na descida. Com um sorriso, ela aceitou aquele gesto de proteção e segurança e, com a mão apoiada em seu ombro, continuou a descida, até chegar na base da escada. Sem conseguir tirar meus olhos dela, percebi que sua já natural altura estava acentuada por um par de sandálias altíssimas ⸺ coisa que ela abominava ⸺ com bordados coloridos que faziam contraste com seus pés delicados.
⸺ Vá. ⸺ Ouvi a voz de James ao meu lado, porém era como se estivesse a quilômetros de distância, ou estivesse chegando a mim vinda do passado. ⸺ Nada bom pode acontecer com um perto do outro. Vá.
Enquanto as palavras de James soavam em meus ouvidos, eu a via se aproximar cada vez mais de onde estávamos, nada daquela mulher que caminhava com passos decididos em nossa direção lembrava a garotinha rebelde que eu conheci.
😥
Então meninas, o que acharam,
Estão gostando? Se estão, por favor não se esqueçam de votar e principalmente comentar e indicar para as amigas, isso me ajuda muito. Obrigada!🙏🏽
Nossa história viajará entre o passado e presente e no próximo capítulo teremos o primeiro flash back.😍Será o primeiro encontro nos nossos mocinhos que acontece ainda na infância.❤️
Espero pode contar com todas. Até lá bjs🥰
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