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Capítulo 8 - Feridas De Amor

"Proteção"

Olhei para os lados ao acordar, minha cabeça estava doendo, a luz fraca de uma vela próxima a minha cama iluminava o rosto de um senhor dormindo sentado na cadeira.

Tentei me levantar aos poucos, para não acordá-lo e conseguir fugir, a roupa que vestia era apenas uma camisola, meu vestido de casamento estava estendido perto da janela com todas as joias também. Prendi minha respiração, coloquei meus pés no chão e fui caminhando pausadamente até a porta, quando abri a porta rangeu e ele acordou.

— Menina! — Comecei a correr, era um vasto pasto, minha cabeça começou a doer cada vez mais, tudo ficou girando e apaguei. Quando acordei já era dia, o cheiro de comida estava forte e uma senhora estava perto da lareira, o senhor abriu a porta na hora em que me sentei na cama. — Domitila, a menina acordou.

— Olá! — Ela se virou em minha direção e veio mais perto, me encolhi. — Não vamos te machucar, nós te salvamos, eu acho, na verdade meu filho te salvou e te trouxe para cá.

— Onde estamos? — Perguntei, minha voz não saiu tão firme como eu queria.

— Estamos perto do reino, meu marido é ferreiro para o rei e não sabemos mais nada do que aconteceu com você, quando meu filho retornar você pode perguntar para ele. — Ela disse voltando para perto da lareira e enchendo uma cumbuca com líquido. — Tome isso menina, vai te ajudar, fiz uma sopa de batata. Beba água também! — A senhora colocou perto da cama e sorriu amorosamente. — Fiquei assustada, sua cabeça estava sangrando quando chegou, você deve ter sofrido muito. — Tentei me lembrar o que aconteceu, Cleto...

— Tinha mais alguém comigo? — O senhor que havia se sentado na outra cama para tirar as botas balançou a cabeça negando.

— Nicolás apenas te trouxe, ele foi pegar uma mercadoria para mim naquele dia e decidiu ir pela floresta, não conseguiu contar direito, ele te deixou correndo aqui e foi embora dizendo que voltaria em breve e se poderíamos cuidar de você até ele voltar.

— Entendi. — Olhei a sopa, meu estômago estava extremamente vazio, peguei a colher e comecei a comer. — Obrigada por ajudar, desculpe o incomodo. Eu gostaria de contar o que aconteceu, mas também não sei o porquê de tudo.

— Não tem problema, o importante é que você está viva e a salvo agora. Logo poderá voltar para sua família. — Meu coração estremeceu, talvez eu não tivesse mais família.

Apenas dei um leve sorriso de lado para disfarçar, mas Domitila percebeu a tristeza por trás disso.

— Está tudo bem com sua família menina?

— Não tenho certeza. — Levei mais uma colher até a boca, ficamos em silêncio, repeti a refeição enquanto os dois iam para fora da casa colher algo para jantarem, me levantei e me olhei no espelho, havia um curativo na minha cabeça que ainda doía bastante, a roupa que eu estava vestindo não era apropriada, muito fina, tinha uma roupa dobrada perto do meu vestido, uma calça e uma blusa de homem, eram grandes mas dava dava para dobrar e amarrar com um lenço na cintura a calça, coloquei e sai para perto de onde era a colheita, o sol estava forte.

— Menina! Você deveria ficar descansando mais. — O homem disse.

— Estou bem. — Disse observando os dois. — Eu coloquei essas roupas que vocês deixaram para mim, prometo lavar antes de partir. — Ele deu risada.

— Como nosso menino é grande mesmo! Puxou a minha família. As roupas de quando ele era moleque e fracote ficaram gigantes nela, olhe Domitila! — Ela se virou para olhar com mais atenção e deu risada também.

— Pode ficar com as roupas, não cabe mais no Nicolás, ele usava isso quando tinha uns 15 anos, agora ele esta mais forte e isso fica justo, eu guardei caso um dia precisássemos, só não dei um vestido meu porque eu sou muito alta e tenho muita carne, você é muito magra. — Domitila era alta assim como o marido, os dois eram bem fortes.

— Obrigada. — Fui andando pelo pasto, o vento soprava, um vento bom naquele dia tão ensolarado, é estranho ver uma planície, vivi minha vida no meio das montanhas.

— Qual seu nome menina? — Domitila se aproximou com um copo de limão espremido com água. — Está muito quente, tome um pouco disso.

— Caelia Aragon, me chamavam assim. — Tomei um gole, estava bem forte. — Estou aqui há quantos dias?

— Há uns dois dias.— Ela disse. — O Ramóm, meu marido, está saindo para levar a mercadoria para o reino, melhor aproveitar para tomar banho no rio aqui perto, seu cabelo está com muito sangue seco e você está toda suja, tentei limpar um pouco, mas melhor tomar um banho enquanto está quente. Vamos lá para dentro para eu pegar um pano para você e sabão, vou aproveitar para ver se a casca do ferimento está firme.

Fui junto até ao casebre, ela olhou meu machucado na cabeça, estava tudo bem e me mostrou o caminho até o rio e disse que logo iria também. — Cuidado com cobras! — Domitila gritou de longe, fui olhando o local, era um terreno bem grande, quase nada era usado para plantação, havia uma parte para rebanho de ovelhas, algumas vacas paridas e cavalos, outra parte era um local onde o Ramóm trabalhava com o ferro e uma casa apenas para estocar os equipamentos prontos. Cheguei no rio, não tinha uma correnteza forte, tirei a roupa e entrei, era mais funda do que esperava. Fiquei perto da borda e me ensaboei, minha cabeça ainda doía e passar o sabão ardeu bastante.

— Ai, ai, ai... — Tapei meu nariz e fui para baixo da água para ver se ao tirar o sabão a dor também diminuiria, voltei a superfície, terminei meu banho e fiquei um pouco na borda do rio me secando com o sol. Havia alguns machucados no meu braço esquerdo, alguns na minha perna e pés, as imagens do dia do casamento me vieram a mente, meu coração estava apertado, as lágrimas começaram a cair incontrolavelmente, me encolhi, abracei meu joelho e chorei, passaram-se alguns minutos. Peguei a toalha para me secar, sequei meu cabelo levemente e coloquei a blusa que antes vestia, mesmo depois de alguns minutos o choro insistia em vir, mas não queria que Domitila me visse daquele jeito quando chegasse. Ouvi um barulho de galho quebrando vindo sentido as árvores.

— Domitila? — Perguntei, meu coração congelou, e se as pessoas que me perseguiam tivessem me encontrado? E se tivessem matado a família que me salvou? Peguei um pedaço de madeira perto e as roupas no chão. — Domitila? — Novamente o silêncio persistiu, coloquei a calça e fui sentido a casa. É melhor ir embora logo, demorei para achar o caminho de volta, não era tão boa com novas localizações e sempre me perdi facilmente, entrei na casa apreensiva, rezando para que estivesse tudo bem.

— Você voltou rápido até, eu decidi te dar um pouco de privacidade, para digerir tudo que está passando. — Domitila me deu um olhar triste. — Quando eu era pequena, perdi meus pais também, eu era muito nova e tinha irmãos para cuidar, foi difícil, mas tudo nessa vida passa menina. — Ela me abraçou e se sentou para falar da infância dela, algum tempo depois ouvimos um barulho de cavalo se aproximando, meu coração acelerou novamente, ela foi olhar pela janela e deu um largo sorriso. — Meu menino regressou em segurança! — Ela fez um gesto de agradecimento com as mãos e abriu a porta para ir de encontro ao filho, respirei fundo algumas vezes para tentar acalmar meu coração e fui para fora também. Ele estava em um corcel negro, desceu dele e veio em nossa direção, era tão alto quanto os pais e forte, ele pegou uma sacola que estava presa no cavalo e um elmo na outra mão. — Meu menino! Voltou mais cedo do que esperávamos, não tinha treinamento?

— Eu pedi para sair antes de terminar, porque eu estava preocupado. — Ele disse me olhando, desviei o olhar para baixo. —Olá. — Ele se aproximou e estendeu a mão. — Sou o Nicolás, eu que te encontrei. — Contínou com a mão estendida, mas não encostei nele.

— Obrigada. — Me virei e entrei para dentro de casa.

— Garota estranha e ela não é muito amigável. — Disse para a mãe e ela deu um tapa nele. — Ai! É verdade... Em seguida ele foi se lavar perto do poço na parte de fora, estava colocando o vestido em uma sacola provavelmente tinha um valor alto se eu o vendesse e as joias também, deixaria duas pulseiras como agradecimento a família.

— Não é melhor você ir embora amanhã? — Ela perguntou preocupada.

— Eu não acho que seja muito bom eu ficar aqui por mais tempo, é perigoso para vocês. — Eu me aproximei dela e entreguei as joias. — Como agradecimento por ter cuidado de mim.

— Não precisamos disso Caelia, você vai precisar bem mais, mas andar com isso no meio da floresta é perigoso, tem ladrões por todo canto.

— Não quero que vocês se machuquem também, por minha causa. Eu tenho a impressão que alguém já me encontrou, ouvi um barulho na floresta. — Nicolás entrou na casa enquanto eu falava, ele mordeu os lábios.

— Eu estava na floresta, não precisa se preocupar. — Ele disse coçando a cabeça e recebeu outro tapa da mãe. — Ai! Por que me bateu dessa vez?

— Você viu ela tomando banho? Não te ensinei a ser assim! — Ela bateu novamente.

— Desculpe, mas eu não sabia que ela estava lá. Eu ia tomar banho antes de aparecer por aqui também, mas quando me aproximei e vi que tinha alguém, achei estranho, mas não vi quase nada, eu me virei assim que percebi que ela estava sem roupas e acabei fazendo barulho. Não que tenha muita coisa para ver também. — Ele disse dando risada e recebeu outro tapa da mãe. — Ai! Mãe, quer parar com isso!

— Sabe o quanto fiquei preocupada? Eu achei que haviam machucado sua mãe! Achei que fossem pessoas ruins. — As lágrimas começaram a cair novamente. — Com licença. — Sai de casa e fui para o celeiro, passaram uma ou duas horas, estava encolhida perto dos recém nascidos, um deles mastigava a manga da camisa.

— Caelia? — Nicolás veio até perto de mim. — Eu não disse quem eu era na hora, porque achei que você acharia que eu era um pervertido espiando e que fosse te assustar ainda mais. — Ele se sentou do meu lado. — Eu não achei que... eu sinto muito. — Nicolás coçou a cabeça novamente e me olhou de lado, uma mecha do seu cabelo loiro trançado estava caído sobre seus olhos verdes, isso me incomodava.

— Tudo bem, me desculpe também.

— Não precisa se preocupar, ninguém sabe que eu te trouxe para cá. Não vá embora tão rápido e se cure antes, eu te ajudarei depois. — Ele disse dando um sorriso leve para me dar segurança. — Vamos comer algo, minha mãe terminou o jantar. — Ele levantou e me ajudou a levantar logo em seguida. — Eu vou te proteger e a minha família também, não fique tão preocupada, eu sou um bom soldado.

— Não preciso de sua proteção, mas obrigada. — Ele deu uma risada e parou na minha frente.

— Como a princesa cigana desejar então. — Nicolás se curvou e continuou caminhando do meu lado enquanto assobiava.

Christos leu e ficou intrigado com o sobrenome da cigana que era descrita na história.

— Caelia Aragon, o mesmo sobrenome da minha mãe biológica a um século atrás. Será possível. Pensou massageando suas pálpebras cansadas.

1986 Palavras

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