Capítulo 23 - Feridas de Amor - Penúltimo
Argoli estava bonita no calor da tarde, notou Allegra, enquanto percorria suas ruas desertas. Nenhuma brisa movia as folhas das oliveiras e o único ruído era o cantar das cigarras.
Andreas deveria buscá-la dentro de três horas e levá-la diretamente para a ilha mais perto do porto central onde de lá poderia pegar uma embarcação ou mesmo uma aeronave para sua casa.
Mas antes Allegra teria que chegar em Atenas, onde deveria passar a noite em um hotel e, no dia seguinte partiria para a Inglaterra. Felizmente, com suas roupas havia encontrado dinheiro e cartões de credito.
Mas antes tinha de voltar onde seu breve casamento, um misto de tragédia e comédia, começara.
Quando chegou a casa de Ginna, estacou e deu uma boa examinada nela. Os trabalhos de reparação que Christos empreendera fizeram uma grande diferença na casa. E ainda havia bastante terreno nos fundos, se quisessem construir um ou dois cômodos maiores...
Parou de repente. Não havia sentido fazer quaisquer planos.
O que ela deveria fazer era confiar na carta que deixara para Christos. Baseara todas as suas esperanças em algo muito frágil, mas era sua última cartada.
"Sou uma jogadora, tal qual meu pai", que tristeza... Pensou Allegra. Mas havia muito mais em jogo: era toda sua felicidade, toda sua razão de viver.
Entrou na casa. A poeira já começava a se acumular no piso. Pensava se os planos de Christos para que os antigos moradores retornassem a ilha dariam certo, e se ele voltaria a usar a casa. Selena Karamanlís havia sido muito franca contando toda a brutal verdade sobre os motivos que a fizeram deixar Christos na ilha, aos cuidados de uma mulher apesar de ser de sua confiança, não era a sua mãe verdadeira. Por outro lado, para Allegra, não poderia haver lugar melhor para se criar um filho.
Era pro isso então que Christos apresentava esse comportamento. Aquela vulnerabilidade que pressentira era muito mais profunda do que ela jamais poderia imaginar. Nem mesmo a devoção de Ginna conseguira protegê-lo do fato de que sua mãe realmente o abandonara. que o seu pai havia feito o mesmo, e mesmo que ambos o amassem muito, nada justificaria a dor de ser colocado de lado por status e dinheiro. Confrontar-se com essa realidade abalara-o tanto a ponto de fazê-lo questionar sua própria existência.
"E eu só contribui para piorar a situação", lamentou-se Allegra.
Lembrando-se da época em que o conhecera, Allegra pensava como havia tido oportunidades de mudar a opinião que ele tinha dela. Porém, naquela época; ela ainda era uma menina tola, orgulhosa e muito mimada.
Subiu lentamente a escada que conduzia ao seu antigo quarto. Estava igual, exceto que não via em nenhum lugar o velho vestido verde que queria levar como lembrança, talvez a única que teria da vida em comum com Christos.
Afinal, não havia nenhuma garantia de que ele lesse a carta. Talvez a jogasse no lixo, sem ao menos abri-la, aliviado com a partida dela.
Com um suspiro, desceu e saiu para o sol. Talvez tivesse sido erro voltar a Argoli. O melhor teria sido ir direto para a ilha de Atenas, sem reviver lembranças que só lhe causavam dor.
Decidiu ir até a fonte para tomar um pouco de água fresca. Recolheu uma garrafa velha do pátio e, depois de lavá-la repetidas vezes na água cristalina, encheu-a até a borda.
Christos estava de pé há alguns metros, olhando-a, e quando Allegra se deu conta, foi tão inesperado, tão evocativo, que ela gritou, deixando cair a garrafa que se espatifou nas pedras.
— Eu estava em um dos meus barcos quando vi Andreas se afastando de Argoli. — Explicou ele, a voz grave. — Fiquei pensando... O que ela estará fazendo aqui?
— Eu vim para dar uma última olhada. Andreas vira me buscar para levar-me até Atenas daqui a pouco.
— Você está indo embora? — Perguntou Christos, a voz embargada. — Sem me dizer
nada?
— Pensei que tudo já havia sido dito. E, além do mais, deixei uma carta para você em seu quarto.
— Obrigado por isso, ao menos. — Sorriu ele, com profunda tristeza.
Christos examinou-a lentamente, dos pés a cabeça, e disse, mais para si próprio.
— Então, é assim que termina a nossa história deveria ter terminado.
— Achei que um rompimento total seria melhor para todos. Especialmente ...
— O que você ia dizer?
— Oh, que todos estão percebendo a farsa que é o nosso casamento e a situação está ficando bastante constrangedora. Seu primo Pavlos pensa que estou precisando ser consolada.
— E você esta?
— Mas não por ele.
— Mas vocês saíram juntos, antes de nos conhecermos.
— Eu só fui jantar com ele, uma ou outra vez. E nunca estamos sozinhos realmente.
— E foi desses encontros que você formou sua primeira opinião sobre mim. Deve ter sido importante.
— Estou tentando esquecer tudo isso, Chris. Não quero prende-lo por mais tempo. Alma deve estar esperando-o para velejarem.
— Ela não está comigo. Reclamou, como sempre, que o vento estava estragando seu penteado. Então, deixei-a a salvo aos cuidados de tia Perpétua. — Caçoou ele. — Não creio que ela goste de mar, mas foi muito engraçado observar a que ponto ela se sacrificaria para me agradar, nos últimos dias.
— Você não está sendo muito gentil.
— Eu não sou sempre gentil. Quem pode saber melhor do que você, minha deusa?
— Eu ... vou recolher os cacos de vidro. Se você trouxe animais para cá...
— Não. Não voltarei jamais para Argoli.
— Vai desperdiçar todo o árduo trabalho na casa?
— Já esta perdido. — Deu de ombros. — Mas por que você se importaria, Allegra, com uma cabana de um pobre bastardo em uma ilha remota, agora que está voltando para sua amada propriedade? Em breve, você mal se recordara desse lugar e de tudo o que aqui aconteceu. e com certeza terá muito o que conversar sobre as suas desventuras nas minhas terras, suas amigas vão adorar!
— Gostaria de poder acreditar nisso. E a carta que lhe escrevi é sobre as propriedades.
— Já lhe disse que a casa será sua quando nos divorciarmos. E eu cumpro com o que eu prometo. — Disse ele, franzindo os cenhos. — Não vou voltar atrás na minha palavra.
— Não tenho duvidas sobre isso. — Respondeu Allegra, levantando o rosto. — Na verdade, o que desejo é a sua permissão para vender Reviello.
— Você quer vender a propriedade... sua casa? — Perguntou, incrédulo. — Mas do que é que você esta falando? Ficou louca? Você fez coisas inimagináveis para obter aquelas terras e agora vai desistir delas?
— Não!... — Respondeu com toda a calma. — Acho que finalmente estou em meu juízo perfeito. Você chama Reviello de minha casa, mas se eu for viver lá sozinha, não é nada, só uma concha vazia. Não tem nenhum significado. É isso que lhe disse na carta.
— Por que você me diria algo assim?
Por um momento, Allegra hesitou, a coragem quase abandonando-a. Então, lembrou-se das palavras de Selena Karamanlís quanto a afastar ressentimentos desta vida e de outras que viveram. Agora ela tinha essa oportunidade.
Deu um passo em direção a Christos, a voz trêmula.
— Porque eu pensei que se aquelas terras não mais estivesse presente, como uma mancha entre nós, você poderia acreditar em mim se eu lhe dissesse que o amo de verdade.
Christos empalideceu.
— Allegra, tenha muito cuidado com o que está dizendo. Não brinque comigo. Não, me faça de idiota outra vez. Pelos deuses eu não vou suportar isso outra vez. Prefiro que você me despreze.
— Nunca falei tão sério. — Assegurou-lhe apaixonadamente. — O que mais posso dizer ou fazer para convencê-lo? Eu o amo, Chris, eu o quero e preciso de você. Você estava determinado a destruir meu orgulho. Nada mais restou dele. O que acha que eu vim fazer aqui, senão recordar e pensar? Tentei odiá-lo pelo que me fez passar mas só consegui amá-lo cada vez mais. E nem sei como uma coisa dessa poderia acontecer. Pois o normal seria nunca mais olhar na sua cara, mas o meu coraçãoo escolheu e nçao posso mais lutar contra isso.
Christos, puxou-a com força para seus braços. Sua boca cobriu a dela em um beijo apaixonada, cheio de ternura, as mãos agarrando-a como se nunca mais a fossem deixar partir.
Quando se separaram, os dois estavam trêmulos e ofegantes.
— Sonhei tantas vezes com isso, meu amor. Sonhei com você em outras vidas e nessa, a desejei como um louco em todas elas. — Confessou Christos, emocionado. — Finalmente, agora passou a ser verdade.
— Há muito tempo que é verdade, meu amor. — Murmurou Allegra, acariciando-lhe o rosto. — Eu lhe teria confessado naquela noite a bordo do seu iate, mas não tive oportunidade. E, naque1a ocasião, você não teria acreditado em mim. Eu jamais nesta vida conseguiria permitir que outro homem me tocasse. Eu nasci para lhe amar!...
— Pelos deuses... Perdoe-me, Allegra. Eu a acusei de orgulhosa, mas era meu próprio orgulho que estava ferido. Eu quis me vingar, fazê-la sofrer por todo o sofrimento que eu havia passado e que eu deveria ter deixado para trás a muito tempo. No entanto, quando vi resultado, não senti nenhum prazer nisso. A cada ação e atitude minha para humilhá-la a dor em meu peito era dilacerante. Você foi muito valente.
— Quando me recuperei do primeiro choque, foi um verdadeiro choque, foi um verdadeiro desafio. — Confessou Allegra, com um sorriso. — Você era tudo o que eu sempre sonhei e desejei na verdade. Mas eu também não queria admitir isso.
— Será que algum dia poderá esquecer tudo isso? Não poderíamos apagar de nossas mentes as últimas semanas e fazermos de conta que nosso casamento está começando neste momento?
— Bem, poderíamos. — Disse Allegra, passando os braços pelo pescoço dele. — Mas algumas coisas que se passaram aqui, eu não gostaria de esquecer.
— É mesmo? — Perguntou ele, surpreso.
— É claro. Foi aqui que aprendi a fazer pão e ordenhar aquela peste da Dina. Foram grandes realizações, aquelas. Aprendi a amar e valorizar o meu próprio trabalho. Hoje eu sou capaz de construir algo de bom com essas minhas mãos, como uma horta ou um jardim.
— Devem ter sido mesmo. — Sussurrou ele, sério, ainda não acreditando.
Inc1inou a cabeça, beijando-a profundamente para ter certeza de que não estava sonhando mais uma vez.
— É só o que você se lembra, hum?
— Minha memória é fraca. Preciso que me ajude a reativá-la... — Provocou-o.
Christos carregou-a de repente.
— O que você esta fazendo? — Perguntou, rindo.
— Tentando reavivar sua memória. Qual de nos tinha o melhor colchão aqui? Já sei, vamos experimentar os dois!
Entraram na casa, rindo, felizes. Despiram-se um ao outro entre risos e beijos, murmurando palavras de amor por tanto tempo escondidas, seus corpos unindo-se com toda paixão e harmonia, dando e recebendo prazer, chegando a um êxtase comum de felicidade plena.
Muito tempo depois, Allegra murmurou sonolenta.
— Precisamos conseguir uma cama maior.
— Como? — Christos disse, levantando a cabeça dos seios perfumados dela. — Na ilha da família temos camas grandes.
— Mas não é aqui. E, além disso, teríamos de enfrentar tia Perpétua e ela não vai ficar nada satisfeita quando souber que você não pretende mais se casar com a filha dela.
— No entanto, Alma se sentira aliviada. — Disse Christos, sardônico. — Eu fui duro com ela, perdi a paciência algumas vezes, tentando fazer com que você ficasse enciumada. Consegui alcançar meus objetivos? E Alma não é tão idiota assim para não ter percebido o que eu estava realmente fazendo.
— Perfeitamente!... — Admitiu Allegra.
— E quanto a Pavlos, então ele queria consolar você? Não posso me esquecer de lhe agradecer pela gentileza.
— Eu já o fiz!... — Confessou Allegra. — Penso que as marcas no rosto dele não vão sair tão cedo. O chato disso tudo, é que eu quebrei duas unhas minhas.
— Você é a mulher da minha vida e muito mais, minha deusa guerreira. — Admitiu beijando-a.
Ela recomeçou a acariciar todo seu corpo, feliz em poder fazê-lo livremente.
— Querido, será que temos de voltar pra ilha mesmo? Não poderíamos ficar por aqui, só nós dois por mais alguns dias?
— É mais confortável na casa, agapitós; vai demorar algum tempo para conseguirmos trazer uma cama grande para cá.
— Não somos tão silenciosos assim e com certeza a tia Perpétua vai ficar fazendo comentários sobre a nossa intimidade e...
— E se ela se atrever, eu posso do nada, começar a ficar mais atrevido e fazer amor com você no jardim, na piscina, na sala de estar. Deixa ver aonde mais, temos a cozinha, nas escadas da casa e ela que tampe os olhos e os ouvidos... Por que vou fazer você gritar o meu nome sem parar. Disse ele se deitando sobre Allegra e a enchendo de beijos.
— Estou gostando e muito dessa ideia. Mas nos temos tempo. E ainda há muito trabalho a ser feito na casa. Um quarto extra nos fundos seria ótimo. Vamos precisar de mais espaço para quando chegarem nossos filhos.
— Nossos filhos. — Murmurou Alex, encantado.
— Concebidos aqui e nascidos em Reviello. Que tal lhe parece, Allegra?
— Maravilhoso. Quero que você saiba, Chris, que eu realmente estou disposta a vender as terras, se você quiser.
— Mas eu não quero. Eu adoro a casa, eu adoro você, meu bem, e viveremos em Reviello e aqui também e seremos felizes.
— Na verdade não importa onde vivamos. — Disse suavemente. — Desde que estejamos juntos. Oh, Chris, eu o amo tanto!
— E eu amo você, minha mulher, para toda a vida e muito além.
— Para toda a vida e muito além! Repetiu Allegra, puxando-o outra vez para si.
2269 Palavras
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