Capítulo 18 - Feridas de Amor
Assim que o barco chegou, Christos foi cumprimentar Andreas. Um homem de estatura baixa, moreno, de ombros largos e olhos doces. Abraçou Christos e despejou-lhe um turbilhão de palavras em grego.
Sorriu para Allegra, carinhosamente, tomou-lhe as duas mãos, saudando-a efusivamente. Ajudou-a a subir no barco com todo o cuidado.
Allegra estava com os nervos a flor da pele, mas sabia que não poderia perder o controle diante de Christos. Talvez ele não mais a desejasse, mas jamais permitiria que sentisse pena dela. Seu orgulho jamais permitiria tal ato, mesmo que o seu coração ficasse aos pedaços.
Ao abrir a maleta em seu quarto, a primeira coisa que viu foi o vestido do casamento; sentiu um aperto na garganta, difícil de controlar. Mas ela devia ao menos salvar seu orgulho próprio daqui por diante.
A viagem de barco demorou meia hora. Christos estava ao leme e Allegra sentou-se atrás, meditando sobre seu destino, sentindo a brisa do mar e tentando deixar para trás sua breve vida em comum com Christos Karamanlís.
Quando se aproximavam da costa da ilha da família Karamnalís, conhecida pelo nome de uma flor da região da Grécia, um nome bastante sujestivo, Helicônia, Allegra pode ver um aglomerado de casas brancas dominadas por um templo no centro, com certeza seria uma igreja, e em sua volta um grandiosos jradim com rosas, líriros e cravos... Que também ewstavam presentes rodeando o porto.
Christos passou pela vila, seguindo a costa.
A paisagem era muito diferente da de Argoli. A ilha era bem maior, muito mais verde. Era também muito mais montanhosa. Allegra imaginava se teria a chance de conhecer melhor as redondezas, mas logo descartou a ideia.
O primeiro problema seria enfrentar a mãe de Christos. Ela tentava imaginar como seria fisicamente, mas não conseguia. Christos quase não falara nela.
O sol estava começando a se pôr, espalhando reflexos avermelhados sobre o mar. Christos diminuiu a velocidade, dirigindo se a uma praia particular cujo areias brancas se destacavam de longe e começava a se delinear por causas das diversas conchas espalhadas.
Havia alguém esperando por ele; era uma mulher vestida elegantemente com calça de linho branco e blusa bege. Tinha cabelos loiros cortados reto na altura dos ombros, um rosto muito atraente sem ser bonito e tinha os braços abertos.
"Seria alguma prima?", pensou Allegra. No entanto, quando se aproximaram mais, deu-se conta de que era uma mulher mais madura, com uma expressão estranhamente familiar.
— Christos, meu menino! — Disse a mulher, atirando-se nos braços dele. — Seu bandido! Enganando-me, fazendo-me pensar que você estava a bordo do seu iate, enquanto estava aqui tão perto! Mas não posso culpá-lo. Um iate seria um lugar demasiado publico para uma lua-de-mel.
Abraçou-o mais uma vez e voltou-se para Allegra.
— Então você é minha nova filha. — Se expressou carinhosamente. — Bem-vinda a Helicônia, meu bem. Pelos deuses ela é lindíssima, meu menino.
Allegra ficou paralisada. Essa era a mãe de Christos? Era ela a suposta empregada doméstica que Georgios Karamanlís havia se apaixonado perdidamente? Vendo-a e ouvindo a voz, Allegra reconheceu-a de imediato.
— A senhora é Selena Karamanlís! — Conseguiu dizer Allegra.
— Sou sim, mas você parece surpresa com isso.
Selena Karamnalís, lembrou-se Allegra, era an verdade a famosa atriz que encantará Hollywood anos atrás e que depois de uma carreira meteórica, abandonara a profissão no auge da fama. A grande atriz cujos filmes eram cultuados em todo o mundo. Selena Karamanlís, por mais inacreditável que fosse era a mãe de Christos. Mas então, por que os seus pais haviam, na verdade a sua mãe havia lhe dito toda aquela história. Será que tudo já fazia parte de um plano entre os seus pais para fazê-la se casar com Christos Karamanlís.
— Mas Christos não lhe havia contado? Selena perguntou sorridente. — E por que não?
— Eu quis fazer uma surpresa para minha mulher! — Explicou Christos, passando-lhe o braço pelos ombros.
— Pois você conseguiu, meu filho. – Repreendeu-o suavemente. — Talvez tenha sido mais do que uma surpresa para ela! Um choque terrível.
— De forma alguma, sra. Karamanlís. Tudo na verdade está sendo bastante esclarecedor. — Comentou Allegra. — De qualquer modo, eu já deveria estar acostumada com as surpresas de Chris. Para mim é uma grande honra conhecê-la. Eu vi todos os seus filmes.
— Não pode ser! — Riu a atriz. — Você é jovem demais. Ah provavelmente você deve ter assistido com os seus pais ou mesmo por algum documentário qualquer. E de qual deles você mais gostou?
Allegra percebeu que estava sendo testada.
— Bem, apesar de mostrarem mais " A Escuridão da Face Amada" eu preferi "Sem Rumo Sem Destino".
Selena Karamanlís pareceu satisfeita com a escolha.
— Também é meu favorito. — Confessou , passava o braço pelos ombros de Allegra e caminhando em direção a casa. — Vou gostar muito dessa menina bonita com quem você se casou, Christos. Você está perdoado por tê-la escondido em Argoli.
Voltou-se para Allegra ainda sorridente.
— É triste ver a ilha abandonada, não? Em certa época, havia muita gente vivendo ali, era uma ilha feliz, muito importante para mim. Nos dias de hoje, não consigo mais ir até lá. Foi lá que rodamos um dos meus primeiro filmes, "Abandonada a própria Sorte" era uma comédia romântica. E foi lá também que Christos foi concebido. Mas essa história eu lhe conto depois.
— Será novamente uma ilha feliz; mamãe. — Murmurou Christos. — Quando os seus antigos habitantes retornarem.
— A primeira vez que Christos disse isso. — Riu Selena com entusiasmo. — Eu pensei que fosse só um sonho de um adolescente. Mas sei agora que o que o meu menino diz ele cumpre, por mais que lhe custe. Por isso, Allegra querida, cuide-se.
— Acho que já descobri isso por mim própria. — Murmurou Allegra.
— Tão cedo? Meu menino o que andou aprontando com a sua esposa?... Mas afinal, vocês estavam sós, tendo dia e noite só para conhecerem um ao outro. Espero que tenha revelado o seu lado mais doce primeiramente, pois o seu lado enfurecido é terrível e implacável. Sabe querida, Christos é a cópia do próprio pai, mesmo que ele não goste muito de admitir isso.
Allegra esboçou um sorriso em resposta. Quão pouco Selena Karamanlís sabia! Ela obviamente pensava que os dois haviam passado momentos idílicos na praia, fazendo amor e tomando banho de sol.
Ela pensava qual seria a reação de sua sogra se lhe relatasse: "Passava os dias trabalhando tão duro como jamais houvera sonhado, sem tempo para nada, e as noites rolando no colchão duro, esperando pelo amante que jamais chegava".
Seria a vez de a atriz ficar chocada.
A casa era linda e aconchegante, toda branca, rodeada de variadas rosas e lírios, com as janelas e portas em madeira escura.
Dentro, estava surpreendentemente fresco, com grandes e antigos ventiladores girando no teto.
Selena tirou as sandálias, caminhando descalça pelo saguão de mármore até que chegou a porta da sala de estar.
— Venha, querida, quero apresentá-la aos outros.
Allegra sentiu um impulso covarde de virar-se e correr: no entanto, controlou-se e seguiu Selena.
Deparou-se com um estranho quadro. A primeira pessoa que viu foi Pavlos, obviamente nervoso, de pé, atrás de um sofá onde estavam sentadas duas mulheres.
Uma delas já tinha certa idade, o rosto marcado e altivo. Vestia-se de negro, a cor tradicional das viúvas gregas, mas portava colares e pulseiras onde luziam diamantes.
— Allegra, quero apresentar-lhe a sra. Perpétua Karamanlís que é minha hóspede aqui. Pavlos, que você já conhece. E sua irmã, Alma.
Alma Karamanlís era uma jovem muito bonita, olhos amendoados e pele cor clara, corpo muito bem-feito. Trajava um vestido caro, um pouco vistoso demais.
A beleza dele era ofuscada por uma expressão hostil que não tratava de esconder.
Assim como a mãe, estendeu a mão para Allegra, mas da maneira mais fria possível.
Allegra logo percebeu que ela havia estragado os planos de Perpétua em relação a Alama e Christos. Era obvio que a sra. Perpétua não estava muito feliz em ter perdido a fortuna da família para uma estranha vinda dos EUA. Se pudesse reavê-la através de um casamento entre os primos, tudo estaria resolvido.
Allegra afastou-se um pouco, sob o pretexto de olhar um bonito retrato de Selena Karamanlís. Logo a atriz reuniu-se a ela com um copo de bebida.
— Aqui esta, minha querida, um legado da America um Martini seco. Se soubesse que vocês viriam, não teria enchido a casa de convidados. Depois do jantar, poderá ficar a sós no quarto com Christos. Eu só quis fazer o melhor. Georgios, com certeza, gostaria que eu fosse gentil com a família dele, e não podemos ser inimigos para sempre. Apesar que Christos pense diferente, pois já pode imaginar como os parentes se refere a mim e ao meu filho.
— Tenho certeza de que Christos agora concorda com a senhora. O tempo pode fazer as pessoas mudarem. — Disse Allegra, engasgando-se com a bebida.
— Está um pouco forte, não? Achei que você precisava de alguma coisa para relaxar, meu bem. Em um momento, você está a sós com Christos fazendo amor; no momento seguinte, esta rodeada dessas pessoas hostis que ficam observando-a como se fosse um inimigo. Mas não pense que você e a única vitima da frustração deles. Como crê que me olharam a primeira vez que nos encontramos? A verdade deixou-os estarrecidos! Até hoje eles não aceitaram muito bem que o Giorgios Karamanlís tenha se casado com uma atriz americana, pra eles isso é um escândalo. E o meu pobre menino acabou sofrendo demais.
— Mas com certeza deviam já ter ouvido falar na senhora. — Protestou Allegra.
— Em Selena Smith, claro que sim, mas esse é meu nome de atriz. Meu verdadeiro nome e Helena Salmom e é o nome que aparece na certidão de nascimento de Christos. Foi por isso que consegui preservar minha privacidade até que eu decidi torná-la publica. Você poderia imaginar qual seria a reação deles se soubessem quem eu era durante aquele absurdo processo? Eu não poderia haver suportado. Mas agora que eles dependem de Christos para manter o alto padrão de vida a que estavam acostumados, não ousariam fazer qualquer tipo de comentário inadequado sobre a sua origem. Não em sua frente pelo menos, mas com certeza pelas costas de meu filho, posso imaginar as babarbaridades que essa gente tem espalhado por aí.
Selena parou por alguns instantes, os olhos enchendo-se de lágrimas.
— Quem se importa agora? O meu Georgios esta morto há tantos anos! E nós dois tivemos tão pouco tempo juntos, tudo por causa da fofoca de terceiros. — Desabafou, enxugando os olhos e voltando a sorrir. — O jantar está servido, Allegra querida; você se sentará a meu lado.
Allegra mal conseguiu lembrar-se da refeição. Tentara provar um pouco de cada prato. Selena Karamanlís esforçava-se para controlar o ambiente tenso, conversando sobre amenidades, envolvendo todos os participantes.
Mas a atenção de Allegra estava voltada só para Christos, que, do outro lado da mesa, lançava-lhe olhares de raiva.
"Por favor", Allegra pedia silenciosamente. "Não é minha culpa se sua mãe gostou de mim; também não é minha culpa que ela, esteja fazendo o possível para que eu me sinta em casa..."
O jantar parecia não ter mais fim; culminou com café forte adocicado com mel silvestre e um licor que parecia ser de tangerina. Quando finalmente terminara, Allegra desculpou-se e pediu para ir ao quarto. Selena Karamanlís insistiu em acompanhá-la.
O aposento era amplo, mobiliado de modo simples, mas confortável, a colcha e as cortinas de tecido feito por artesãos da própria ilha.
— Tudo que há nesta casa foi escolhido por mim. — Explicou Selena, feliz. — Creio que você encontrara tudo o que necessita, exceto seu marido, que vou mandar logo de volta para você. Pois antes preciso ter uma conversa com ele.
Selena beijou Allegra na testa, traçando com os dedos símbolos que ela não conhecia.
— Que os deuses a abençoe, querida, seja feliz e faça com que meu Christos seja feliz também; e dêem-me bonitos netos. — Logo em seguida, retirou-se do quarto, deixando-a a sós.
1996 Palavras
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