Capítulo 13 - Feridas de Amor
A hora seguinte pareceu a Allegra uma eternidade.
A limpeza do fogão foi tarefa extremamente difícil e cansativa. As cinzas e a fuligem grudavam em seus cabelos, penetrando-lhe pela boca e nariz. O corpo estava coberto de transpiração e cinzas.
Allegra sabia que os gravetos e galhos secos que encontrara, e que com tanta dificuldade trouxera até a casa, mal dariam para o dia. O fogão parecia consumir voraz e impiedosamente todo seu esforço.
Não podia imaginar como era pesado puxar o balde cheio de água de dentro do poço; além disso, derrubara grande parte do precioso liquido, trazendo-o da rua até a casa. Seus músculos, pouco treinados a carregar qualquer peso, doíam e latejavam. Mas conseguira colocar no fogão uma panela de água que já estava começando a ferver. Encontrou um vidro de café instantâneo e também duas canecas grandes.
Christos sugerira que comeriam só peixe, mas Allegra encontrara uma vasta quantidade de enlatados no armário do lado da pia. Era obvio que ele pretendia passar muito tempo na ilha.
Do outro lado da casa, Allegra encontrara ferramentas de jardinagem e também um saco de batatas. Havia ainda uma boa quantidade de carvão que poderia ser usado para assar os peixes em um dos lados do fogão.
Nesse momento, Allegra sentou-se, exausta, do lado do fogão, pensando como poderia sair daquela situação enlouquecedora. De maneira alguma suportaria mais um dia naquele lugar.
Era inútil imaginar que Christos mudaria de posição. Ele estava determinado a destruí-la, assim como a Vó Badim havia previsto.
E apesar disso, não podia negar a forte atração que sentia por ele.
Acontecera desde o primeiro momento em que o vira. Ela, a inatingível, que jamais se deixara envolver com ninguém. Christos destruíra isso completamente na primeira vez que a tocara.
Quando ele afirmara que a teria, só podia concordar, por mais que isso a envergonhasse.
— Por que você está aí sentada? Por que ainda não limpou a casa? — Vociferou ele Allegra assustou-se ao ser surpreendida em seus pensamentos.
— Eu acendi o fogo e o café está pronto. — Explicou ela.
— Não fez nada além da sua obrigação. Vejo também que conseguiu cobrir todo o piso e você mesma com toda essa sujeira. Antes de pensar em se sentar para descansar, limpe toda essa porcaria.
Christos saiu por um momento, trazendo uma vassoura usada e grosseira.
— Aqui esta. — Disse, estendendo-a.
Allegra mordeu os lábios enquanto viu encher a caneca de café cheiroso e sentar-se no terraço para saboreá-lo.
Sentia vontade de chorar, mas controlou-se e começou a varrer desajeitadamente. A boca ficou seca, com o gosto horrível das cinzas, e já nem mais pensava no café; só queria tomar um pouco de água. Agarrou a outra caneca e mergulhou-a no balde; quando já estava encostando-a nos lábios, morta de sede, sentiu um golpe que a arrancou das mãos, atirando todo o precioso líquido no chão.
— Sua idiota! Você não pode beber água do poço se não for fervida. Eu já não lhe havia dito? Água potável, só da nascente.
— Eu me esqueci. — Enfrentou-o Allegra. — E com certeza uma única vez não teria importância.
— Já lhe disse que não. E agora venha comigo.
Arrastou-a bruscamente pelo braço, caminhando até atrás da casa, onde no meio das pedras havia uma mina pro onde escorria um filete de água fresca.
— Mas eu não trouxe a caneca! — Reclamou ela.
— Use as mãos, assim. — Mostrou Christos, juntando as duas mãos.
Allegra agarrou-lhe os pulsos, desesperada de sede, para beber um pouco de água. Por um breve momento ele não se moveu, mas repentinamente pronunciou algumas palavras duras em sua própria língua e soltou-a bruscamente. Pegou-a pelos cabelos forçando-a a encará-lo. Havia raiva em seus olhos e o rosto estava afogueado.
— Aprenda a tomar água sozinha.
Voltou-se e se afastou bruscamente dela. Allegra permaneceu onde estava.
Percebeu que, por um momento, ele tinha sido afetado pela proximidade dela. Era um bom sinal, uma arma que poderia usar contra ele.
Bebeu água e depois mergulhou as mãos e lavou o rosto de toda a fuligem.
Sentia-se bem melhor.
Quando voltou a casa, havia dois peixes sobre a mesa, ao lado de um facão.
Christos estava acendendo a grelha.
— É o almoço? Perguntou ela. — Coitados.
— Você preferiria passar fome? — Perguntou, seco. Infelizmente se lembrando que ela sempre detestou machucar outros animais.
— Não, mas há tanta comida enlatada...
— É para ser usada em caso de emergência, se eu não conseguir pescar. E agora, trate de limpá-los.
— Limpar, você disse? — Engasgou.
— Qual o problema?
— Só um pequeno problema. Jamais toquei em um peixe que não estivesse servido em um atravessa.
Christos levantou-se.
— Suas habilidades domesticas são praticamente inexistentes, agapitós. — Disse ele, rindo. — Imagino que eu deva estar agradecido pro você saber ferver água. Observe.
Christos aproximou-se da mesa, tomou a faca e, com habilidade, começou a limpar um dos peixes. Allegra percebeu horrorizada que ele lhe estendia a faca.
— Agora é sua vez.
— Minha vez? — Disse, empalidecendo. — Não creio que possa fazê-lo.
— E eu digo que você não tem escolha. Vai fazê-lo, a menos que pretenda passar o resto da vida sendo um enfeite inútil.
Allegra segurou a faca, as nãos tremulas, e começou a tarefa. Cinco minutos depois, mal podia crer em tal desordem; era muito pouco o que restou do peixe.
— Esse vai ser o seu almoço. — Comentou ele, implacável.
Sob a orientação dele, Allegra colocou o peixe cuidadosamente sobre a grelha e espalhou ervas e azeite de oliva por cima.
Enquanto o peixe estava grelhando, Christos ensinou-a a preparar salada grega, com pepinos cortados e tomates enormes, azeitonas pretas e pedaços de queijo de cabra, temperado com grande quantidade de azeite de oliva verde e pouco refinado e limão, que ela havia colhido de um limoeiro no jardim.
— Parece delicioso. — Confessou ela.
O aroma do peixe e a aparência da salada abriu o apetite de Allegra. Embora a mesa não se parecesse em nada com o luxo da refeição no Poseidon, ela mal podia esperar para jantar.
— Bom apetite e aproveite enquanto temos comida fresca. — Preveniu-a Christos.
Allegra arregalou os olhos quando viu uma garrafa de vinho meio amarelado nas mãos de Christos.
— E retsina... — Explicou ele sério. — Já experimentou?
— Não, eu só conheço ouzo.
Christos encheu um copo e estendeu-lhe.
— Prove.
— Meu Deus! O que e isso? — Perguntou, depois de provar um gole, engasgando-se.
— É a resina dos tonéis onde o vinho é guardado. É forte demais para você? Muitos ciganos e pessoas que não tem condições de comprar uma garrafa de vinho, acabam por adquirir isso aqui. Ele observou o líquido por alguns segundos e tomou outro gole. — Com o tempo você se acostuma!
— Pensei que fosse parte do castigo, que você estava tentando me envenenar. Isso é horrível!
— Mas claro que não, agapitós. — Disse, irônico. — Se eu quisesse colocar a minha vingança em prática não seria algo tão rápido assim! Pois uma vingança para ser saboreada deve ser degustada lentamente.
Para sobremesa, comeram uvas que Christos havia trazido de um vinhedo do outro lado da vila. Eram grandes e deliciosamente doces.
— Foi uma refeição maravilhosa.
Allegra estava exausta depois de tanto esforço físico.
— Você não vai dormir ainda, agapitós. Só depois de lavar tudo e arrumar a sala.
— Esta bem. — Contemporizou ela. — Vou colocar mais água no fogo.
Quando terminou, o sol já se punha, mas a temperatura estava quente e não havia brisa. Allegra afastou uma mecha dos cabelos que lhe caia sobre os olhos, sonhando com o banheiro de Reviello. As mãos estavam vermelhas e cheias de bolhas. Sentia dor por todo o corpo.
Quando Christos voltou para tomar o café que ela havia preparado, Allegra perguntou-lhe.
— Não há nenhum chuveiro?
— Não, mas temos uma banheira. Você quer que eu a traga para a sala?
Christos voltou com uma pequena banheira, que mal dava para uma pessoa sentar-se. Trouxe-lhe uma toalha áspera e uma barra de sabão grosseiro.
— Quanto luxo! — comentou irônica.
— Não demore muito. — Respondeu Christos, antes de sair e fechar a porta.
Por sorte, ainda sobrar água suficiente para se lavar.
Allegra lavou todo o corpo e a cabeça, sentindo-se muito melhor. Quando terminou, arrastou a banheira até a porta para esvaziá-la; Christos não estava em parte alguma.
Sentia-se relaxada e tão cansada que se dirigiu para o quarto. Colocou o vestido sobre a cadeira, as sandálias no piso e subiu na cama, que rangia sob seu peso dela.
Estava quase dormindo quando escutou passos na escada. Sentou-se imediatamente.
Christos surgiu no quarto e dirigiu-se a ela, quase gentil.
— Então, você ainda esta acordada.
Enquanto Allegra o olhava, apreensiva, ele despiu a camisa e deixou-a cair no chão. Era a primeira vez que o via sem camisa. Como que hipnotizada, viu-o tirar o jeans desbotado, deixando-o cair junto à camisa; fez a mesma coisa com a cueca.
Allegra nunca havia visto um homem nu anteriormente, exceto em filmes ou estátuas em qual visitará anos atrás. Christos pareceu-lhe um Deus grego como aquelas estátuas em exibição nos mais famosos museus do mundo, apenas um detalhe a deixou apreensiva, ele era bem maior do que imaginava... Sendo que estava em repouso.
Apontando para o monte de roupas no chão, Christos explicou.
— Para ser lavado, amanhã de manhã. — Disse, um sorriso irônico nos lábios. — Boa noite, minha bela esposa. Durma bem.
Saindo do quarto em seguida, indo dormir totalmente nu no andar de baixo.
1564 Palavras
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro