40 - CASTELO KRASA - NEPHELIM
Cada um reagiu de diferente maneira em relação ao meu lugar de origem, vamos por partes.
Tashiro já conhecia tudo, mas não havia se adaptado ao tamanho do lugar, seu lugar preferido obviamente era a arena, onde todos os dias alguém vinha para desafiá-lo, fiquei sabendo que somente uma pessoa o havia derrotado até aquele momento.
Yukio provavelmente nem reparou, afinal, desde que encontrou Lidy de novo, não havia saído de seu lado.
Natsu e Satoru pareciam especialmente encantados com algumas mulheres dali e elogiaram a divisão que lhes foi preparada.
Tatsuo falava alto pela surpresa dos pisos, o tamanho do teto, como chegava aquela luz ali? De onde vinha a água quente nas torneiras?
Saito não falava nada.
Entrei um pouco trêmula pelas lembranças e caminhei tentando me centrar apenas no assombro de cada um deles, mas não fui capaz de tirar da mente pequenos flashes e teria ficado nisso, se não fosse meu instinto me fazendo desviar de uma lâmina que passou bem próximo da minha orelha direita.
– Parece que você segue muito boa em seus instintos.
Olhei para meu agressor e vi um rapaz encantador me encarando ainda com a espada em mãos. Olhei para os rapazes que tinham suas mãos em suas espadas, coloquei a mão na cintura e coloquei a cabeça de lado.
– E parece que você continua com a ideia de que vai chamar a minha atenção me atacando – olhei para os rapazes e os tranquilizei – Está tudo bem. Esse é o duque Tales Kankara.
– Mas funciona, já tenho a sua atenção agora. Que maneira mais fria de apresentar seu prometido. Estou realmente ofendido – ele colocou a mão teatralmente no coração me fazendo rir.
– Prometido? – Tashiro perguntou arqueando uma sobrancelha – Você deveria ter encontrado alguém melhor, Ambar. Com o Saito perto e você ainda consegue ter um prometido desses?
Senti meu rosto esquentar.
– Ah – Tales fez que ia cair – Socorro, soldado abatido. Depois de séculos te esperando eu fui trocado assim.
– Parece que você foi dispensado de novo, maninho – Lidy falou se contorcendo de rir – mas olha pelo lado positivo, foram só 620 vezes contando com essa.
– Ah, qual é Lidy? – ele riu – éramos crianças. Você realmente contou?
Ele ficou me olhando um tempo antes de cair na risada de novo.
– Nossa, Ambar. Você está bem? Não sabia que o rosto de alguém poderia ficar tão vermelho assim.
– Cala a boca, Tales – respondi sentindo o rosto esquentar ainda mais.
– Ok, ok. Eu parei – ele falou enxugando uma lágrima do olho – mas é sério que depois de tantos anos não vou receber nem um abraço?
– Não que você mereça – eu falei sorrindo e o abracei – senti saudades.
– Estou feliz que você esteja bem e que tenha encontrado guerreiros tão bons. Tive medo de que estivesse morta. Mas acho melhor desfazer o abraço agora, sinto que seu amigo Saito está incomodado com isso.
Me separei quase instantaneamente e Tales riu ainda mais.
– Saito – ele chamou Saito e eu senti meu corpo ficando tenso – sabia que só de falar seu nome o coração dela dispara? Podíamos duelar após a guerra.
Olhei para Saito de relance, pois tinha tanta vergonha que não sabia se seria capaz de encará-lo novamente algum dia e vi um brilho passar pelos olhos de Saito, mas ele seguia sério, com sua máscara impenetrável.
– Não me faça rir – Tashiro riu – Nem eu ganho do Saito e você, por sua vez, não ganha de mim.
– Mas pela Ambar valeria a pena, mesmo com essa roupa horrorosa. Aonde estão as roupas sexys que você sempre usava? Estou ansioso para te ver com elas de novo – Tales piscou para mim e se distanciou.
– Senhorita, Ambar – uma criada veio ao meu encontro me salvando de ter que encarar Saito – Estávamos esperando pela senhorita. Sou Rosa, a governanta.
– Obrigada, Rosa – lhe ofereci um sorriso – os quartos estão preparados?
– Sim, senhorita. Já acomodei o senhor Natsu e o senhor Satoru. Irei acomodar imediatamente os demais. Deixei os quartos dos rapazes próximos ao da senhorita, deseja mudar algo?
– Não, assim está perfeito.
– Ambar, me responde uma coisa – Yukio perguntou ao lado de Lidy – Como você pôde trocar todo esse luxo pelo complexo?
– Na verdade eu não vivia aqui – falei dando de ombros – vivi aqui por alguns anos somente.
– Eu não diria que 109 seja somente alguns anos – Tashiro disse rindo – Mas quem sou eu para revelar a idade de alguém, não é? Mas estou curioso, ninguém aqui ousou falar sua idade verdadeira. Quanto anos você tem?
– Não é educado perguntar a idade de uma dama mesmo aqui em Nephelim – uma jovem extremamente bonita chegou de repente – Sou a princesa Erica, é um prazer finalmente conhecê-la, Ambar.
Ela fez uma reverência perfeita. Usava um vestido longo de um verde claro decotado que lhe caía muito bem.
– Espero que tenha sido bem recebida, princesa – fiz uma reverência em troca.
– Muito bem recebida, obrigada – ela sorriu – Mas Tashiro não quer brincar comigo.
Ela fez biquinho e esperou a reação dele. Ele revirou os olhos como se aquilo já tivesse ocorrido milhares de vezes.
– Oi, Erica – ele disse um pouco taciturno e ela riu.
– Tenho que admitir que são muito bonitos, princesa. Posso brincar com eles? Ouvi dizer que você é muito ciumenta com os seus rapazes – ela usou a voz entre o tom meigo e o sedutor que era típico dos súcubos e incubus quando se divertiam.
– Eles não são meus rapazes, Erica.
– Mas são seus servos, não? – ela perguntou de repente parecendo confusa.
– Não são meus servos, na verdade acho que é bem mais ao contrário. Aquele com Lidy é meu comandante. Os outros são capitães, incluindo Tashiro que você andou provocando. No caso Saito é o meu capitão direto.
– Então você quer dizer que não são realmente seus servos? – ela pareceu chocada e ao mesmo tempo sem graça – Mas ouvi dizer que eles... bem...
– Sim, Erica. Sei como são as coisas aqui, não precisa ficar sem graça – disse sorrindo – Quando eu cheguei na vida deles, eles me receberam e eu fiz um juramento. Eles na verdade são minha família e não meus servos.
– Ah – ela disse com um sorriso do tamanho da cara – Então, nesse caso, posso perguntar direto para eles?
– Fique à vontade – respondi devolvendo o sorriso – mas por favor, nada de os ludibriar, está bem? E acho que é melhor você não chegar perto do comandante. Lidy não ficaria muito feliz.
– Sério? Mas ele é tão bonito – pude sentir a raiva de Lidy mesmo estando distante – Posso mostrar coisas na cama que nenhum nefilim nem sonharia, comandante.
Yukio pareceu um pouco atordoado com aquilo e não respondeu.
– Então Erica, quer resolver isso lá fora? – Lidy perguntou com um sorriso tenso no rosto.
– Diferente de vocês que gostam de lutas e sangues, eu prefiro uma boa noitada.
– Acho que já chega, Erica – falei antes que o ciúmes de Lidy realmente ficasse sério.
– Não se preocupe, princesa – ela falou com um sorriso encantador – Eu estava apenas brincando. Mas você sabe que eu não me importaria de dividir a cama com a princesa nefilim, certo?
– Erica, sou amiga do seu pai, não esqueça – falei sorrindo para a garota que agora se aproximava a mim.
– Ah – ela falou alargando ainda mais o sorriso – Soube que foi meu pai que selou o pacto de Tashiro.
– Espero que você não tenha usado isso como chantagem contra ele – falei pacientemente.
– Jamais faria isso com a sua família – ela fez outra reverência e mandou um beijo para Tashiro – Tashiro, espero ver você logo.
– Quem é ela? – Yukio finalmente se recompôs e perguntou parecendo se divertir com a reação de Tashiro.
– Sucubus – ele respondeu revirando os olhos – pelo que entendi são demônios que ficam mais fortes quando tem relações.
– O quê? – Natsu perguntou boquiaberto – Uma beleza dessa está querendo... aam... ficar com você e você está recusando?
– Então elas são Oirans? – Yukio seguiu suas perguntas.
– Na verdade não e não é bem assim como Tashiro disse também. Digamos que eles são um pouco difíceis de parar, principalmente as mulheres. As sucubus são algo intensas, mas não ficam mais fortes com isso – falei tentando explicar – Vejamos, a cultura aqui é muito diferente da cultura do mundo que você conhece. Ela não está buscando dinheiro, ela está buscando diversão, digamos assim. Talvez Lidy possa te explicar melhor. Eu preferia não ter que fazê-lo.
– Você também é assim? – Saito perguntou sem olhar para mim.
– Eu não – falei sentindo o rosto ficar vermelho – não sou um sucubus.
– Por que ficou vermelha, Ambar? – Tashiro me cutucou – Talvez por que tenha sido Saito que te fez a pergunta?
– Cala a boca – falei virando o rosto e antes que qualquer um pudesse falar alguma outra coisa eu agradeci ao ver Rosa aparecer novamente.
– Senhorita, pedi para que fosse preparado seu banho. Os quartos de todos já estão prontos. Devo pedir para acompanhá-los?
– Sim, por favor. Preciso que cada um tenha alguém disponível para ajudá-los com tudo o que não conhecem, por favor.
– Acreditem se quiserem – Tashiro suspirou – Acho que nem em cem anos vocês vão conseguir aprender a usar tudo o que tem aqui.
– Mais uma coisa, Rosa – falei chamando-a – Preciso que mostre para eles a arena. Provavelmente cada um passará a ter uma divisão aqui, diz para Luh providenciar isso para mim por favor. Eles precisarão treinar. Faça com que eles consigam tudo o que precisarem.
– Mas Keiko seria melhor para juntar os homens, senhorita. Ela está mais familiarizada com os guerreiros daqui – Rosa falou um pouco confusa.
– Keiko não voltará – falei mordendo o lábio ao me lembrar de seu último ato.
– Entendo – se Rosa sentiu a perda de sua companheira ela não deu mostras – Deseja algo mais?
– Minha recepção será amanhã, certo? – perguntei.
– Sim, senhorita.
– Então arrume a sala de reuniões para amanhã cedo.
– Assim será feito, senhorita. Devo esperar alguém para a reunião?
– Não, a reunião será nossa. Acredito que meu comandante quer discutir algumas coisas antes da batalha.
– Muito bem, assim será feito – Rosa se reverenciou e saiu da sala.
– Ambar – Lidy falou saindo finalmente de perto de Yukio – Não temos nem metade de aliados esperados. Acho que você já sabe disso.
– Sim, a maioria das casas preferiram ficar neutras. Temos apenas 8 casas aliadas e eles possuem 13 pelo que fui informada. Lidy, por que você entrou nessa batalha? Por que você e o Tales não deixaram sua casa neutra?
– Isso deveria estar claro para você – Lidy sorriu – Sua família manteve a paz para nosso povo por centenas de anos, a prática de duelos foi legalizada e brigas individuais eram resolvidas através de lutas honradas. Somos um povo de guerreiros e qual a melhor maneira de morrer se não for em uma luta? Seu amigo ali – ela apontou para Tashiro – ele tem uma lista gigante de duelos, todos querem conhecer o poder de seus homens, todos querem morrer pela espada e sua família nos deu essa oportunidade. Por que deveríamos seguir lorde Saikhan? O único desejo deles é escravizar seres humanos. Eu não quero escravos, eu quero guerreiros, quero morrer em uma luta. Lorde Saikhan desonrou sua mãe quando a matou. Ela morreu para que você vivesse, mas morreu sem a honra de um nefilim. Através de sua mãe, inúmeros nefilins podem atuar nas linhas de frente contra diversos seres que invadem universos paralelos. As divindades podem não gostar disso, mas quando a situação fica feia, são as linhas dos nefilins que vão para a batalha. Sem a sua família, isso não seria possível. Acredite, nem todos nós somos doentes por ver sofrimento em vão.
Algo dentro de Saito despertou, porque quando o vi ele tinha os olhos mais abertos e atentos em Lidy.
– Lidy – falei baixo – o que eu estou defendendo?
– Ambar – ela falou me abraçando – Você sempre teve o dom de se culpar por tudo. Você está defendendo a tradição da sua mãe, está defendendo a tradição de um guerreiro poder morrer por uma espada e principalmente, está defendendo sua nova família.
Ficamos um tempo assim e para quebrar o clima que havia ficado resolvi mudar de assunto.
– Tashiro – falei me soltando do abraço da minha amiga – Você já perdeu algum duelo?
– Se ele tivesse perdido ele estaria aqui? – Natsu perguntou confuso – Ele não estaria morto?
– Natsu – eu ri – ele na verdade já está morto. No caso ele perde o corpo e dizem que além de ser dolorosa a reconstrução, ela demora horas e as vezes dias.
– Tenho que admitir que preferia morrer a ter de passar por isso de novo – Tashiro estremeceu.
– Para quem você perdeu? – perguntei curiosa.
– Uma pirralha ceifeira chamada Uiara.
– Ah – estremeci ao lembrar dela.
– Aquela pirralha que apareceu com o rei? – Tatsuo perguntou também estremecendo.
– Essa mesma – respondi.
– As crianças daqui dão medo – Tashiro disse rindo – Por certo, Ambar. Faça o favor de parar de se machucar? Tive meu ombro e meu estômago perfurado, isso não é engraçado.
– Desculpa – falei um pouco envergonhada.
– Dá para explicar? – Satoru perguntou juntando um pouco as sobrancelhas.
– Eu paguei um preço para o que eu fiz – Tashiro deu de ombros – sirvo a família Krasa agora e além do mais..., acho que seria mais fácil mostrar.
– Ah – falei me afastando um pouco – Sai fora, masoquista. Não vou me cortar só para você mostrar para eles o que acontece.
– Que pena – ele riu alto enquanto falava – Bem, então se contentem em escutar somente. Qualquer ferimento que Ambar tenha, as almas que fizeram pacto com ela também sofrem. Ou seja, se ela perder uma perna, eu perderei uma perna junto. Apesar que a minha cresceria de novo, a dela eu já não sei.
– Há há engraçadinho – falei fingindo estar irritada – Bom, na verdade você sofre, mas não vai morrer se eu morrer. Então, no caso é só aguentar a dor. Bem, se vocês me permitem, irei tomar um banho agora, faz muito tempo que não sei o que é um banho decente. Parece que já está vindo gente para levar vocês aos seus quartos. Infelizmente vocês terão de se contentar com as coisas daqui, já que não tivemos tempo de trazer nada.
Fiz uma pequena reverência e saí do salão, deixando-os aos cuidados de Rosa, que pelo que eu soube depois, era extremamente habilidosa e rápida com tudo.
Acordei e coloquei minha roupa, sabe aquelas roupas medievais de luta para mulheres que aparecem nos filmes? Eu sei que sabe. Uma camisa branca por baixo de um espartilho de couro, uma calça apertada, botas e um sobretudo preto um pouco mais no estilo gótico. Roupas que fui obrigada a usar diversas vezes. Achava bonitas, mas detestava a hora de usar o banheiro quando as estava usando.
Desci para o café da manhã sentindo o corpo tão relaxado que eu mal conseguia seguir andando. Notei o quanto me adaptei a dormir no chão, após estranhar a cama extremamente macia do meu quarto.
Quando cheguei ao salão principal, para a minha surpresa, ao invés de ver os samurais que eu estava tão acostumada a ver, vi homens com roupas elegantes, usavam trajes militares de abotoadura também ao estilo medieval, trajes finos que apareciam em muitos filmes da Terra e por cima sobretudo também preto que iam quase até os calcanhares. Me senti uma verdadeira estrela de cinema ao lado de vários galãs.
Parei boquiaberta quando Natsu veio me cumprimentar.
– Wow – ele falou colocando a mão no ombro e me estudando – Você fica realmente diferente com essa roupa. Acho que entendo um pouco melhor aquele seu amigo.
– Primeiramente, eu sempre andei assim – respondi ainda boquiaberta e impressionada – Depois, olha quem fala. Você é realmente o Natsu?
– Após o comandante conversar com Tashiro e com um outro soldado, ele ordenou que nos vestíssemos com as roupas militares daqui de agora em diante, sempre que formos para uma batalha, pelo menos, enquanto estamos aqui – Saito se explicou.
– Nossos inimigos usam roupas assim – Yukio apareceu de repente – As tradições são importantes.
Eu não tinha palavras, estavam todos tão elegantes e diferentes que me deixou realmente sem nenhuma reação.
– Cara, nunca pensei que marcharia para uma batalha com roupas tão parecidas a do Oeste, sabe? – Natsu sorriu – Acho que é isso que acontece quando você envelhece... ou quando morremos.
– Yukio gosta de coisas novas – olhei para Satoru que havia começado a falar e quase me engasguei – Acho que se os caras com quem estamos lutando estão se vestindo assim, talvez devêssemos tentar. Talvez ajude.
– Mas é meio difícil se acostumar – Natsu seguiu – Quero dizer, ainda não tenho certeza de conseguir usar essas coisas. Elas são chamadas de botões, eu acho.
Abri mais o sorriso ao ouvir isso. Seria difícil me acostumar com a ideia de que alguém não conhecesse os botões. Eu não estava acostumada a vê-los assim e para ser sincera, apesar das brincadeiras, eles pareciam um pouco desconfortáveis.
Olhei novamente para Saito.
– Saito, como está sua roupa nova? São difíceis de usar?
– Não, não realmente – ele respondeu sinceramente. Roupas militares pretas combinava com eles. A roupa tinha apenas aquela gola branca costumeira em qualquer roupa ocidental.
Saito era tão novo com as roupas quanto todo mundo, mas parecia combinar tão bem com ele. Acho que olhei por tanto tempo para ele, que ele automaticamente olhou para baixo e se examinou por um momento.
– Algo errado? – ele perguntou finalmente.
– Talvez você tenha se vestido errado, Saito – Natsu o provocou.
– Não – falei um pouco mais enfática do que pretendia - Não, definitivamente não tem nada errado.
– Você está estranha, hein? – Yukio também me provocou.
Senti meu rosto corar e tentei falar de outra coisa que não fosse minha fascinação por Saito.
– Por que o Tashiro está descalço?
– Eles são tão apertados – ele falou dando de ombros – Eu não suporto colocar essas coisas nos pés.
– Ah, sim, é difícil se acostumar mesmo – falei sem ter certeza se era verdade. No fim, eu sempre havia usado – Já comeram?
– Está falando daquele banquete gigante na sua sala de jantar? – Satoru disse sorrindo – Vamos nos acostumar mal assim.
– Acho que nem faz diferença vocês se acostumarem ou não – Tashiro falou ainda dando de ombros – É sempre assim aqui.
Fomos para o café da manhã, todos pareciam um pouco mais animados nesse dia e isso de certa forma me aliviou.
Após o café da manhã, como eu havia pedido, a sala de reuniões estava preparada para nós. Era uma sala grande e olhei aquilo sem me sentir muito à vontade. Olhei para um canto da sala, onde havia um espaço livre e fui para lá, todos pareceram entender como eu me sentia, já que todos fizeram o mesmo e nos sentamos sobre os calcanhares. Luh apareceu pouco tempo depois junto de Lidy e Selina e estranhou que estivéssemos ali e não na mesa.
– Acho que eu deveria deixar as perguntas para mais tarde – Luh falou dando de ombros e se juntando a nós.
Selina parecia abatida, mas sorriu ao me ver.
– Os números não nos favorecem – Luh falou finalmente quando se agachou mostrando um mapa ao redor do castelo de lorde Saikhan. Acho que o ideal seria seguirmos até lá e tomar o castelo.
– A hora finalmente chegou... – escutei Saito falando o mais silencioso possível.
– Se vamos emboscar o castelo dele – Yukio começou – Deveríamos ter um elemento surpresa. Há alguma entrada por outro lugar do castelo?
– Sim – Lidy respondeu com voz profissional e apontou uma outra entrada que dava para uma floresta – Essa parte do castelo tem menos seguranças normalmente. Não sei dizer se continuará assim, mas por ali seria o local ideal para fazer com que tropas invadissem o local.
– Então provavelmente deveríamos manter nossa maior força concentrada atacando pela frente.
– Bem, comandante – disse, me virando para Yukio – sei que deve ser complicado trabalhar em um lugar que você não conhece, mas qual a sua opinião?
– Acho que o ideal será estudarmos o seu local e nos concentrar em como contra-atacaríamos. Ir direto para o castelo daria a eles a vantagem do ambiente, além de indicar como será nosso método de luta. Já está claro que tentar uma emboscada surpresa está fora de questão. Deixaremos uma tropa na floresta para que ataque o castelo quando eles tiverem com as guardas baixas após nos atacarem diretamente.
– Você está querendo dizer para mantermos tropas aqui como iscas? – perguntei tentando seguir seu raciocínio.
– Isso mesmo. E para que não haja suspeita, essa tropa que irá para o castelo deverá se infiltrar na floresta o mais rápido possível.
– E quem seriam os elementos surpresas? – perguntei.
– Precisaremos de três dos capitães para formar a equipe para o ataque a partir da floresta, os outros três ficarão com a maior parte dos homens aqui e os atrairemos para uma luta em campo aberto.
– Seu raciocínio é bom – Luh argumentou – Mas lorde Saikhan não deixará seu castelo, ele não irá para o campo de batalha aberto, mandará apenas as tropas. Você estaria mandando seus homens para a morte certa, lorde Saikhan é muito poderoso, mas extremamente covarde para encarar um campo de batalha. Melhor seria deixar todos concentrados em uma única força.
– Mas assim seria realmente difícil tomar o castelo dele – falei mais para mim mesma.
– Eu irei – Saito falou sem olhar para ninguém em particular.
– Tem certeza? – Yukio perguntou com um sorriso fraco, estava claro que ele seguia sem a mínima esperança para a nossa luta após ver os números de cada lado – Se você morrer, ele vai tratar seu cadáver como qualquer outro pedaço de lixo, não seria diferente do que ele fez com Tanizake.
Saito acenou com a cabeça silenciosamente antes de falar.
– Estou preparado para o pior.
Ele olhou para Yukio, e pude ver em seus olhos que ele tinha tomado a sua decisão. Yukio olhou para ele por um momento, e então um sorriso melancólico torceu sua boca.
– Yukio – a voz de Saito saiu tremida – Você se lembra da primeira vez que visitei o dojo?
– Acha que eu poderia esquecer isso? Não é provável que isso um dia aconteça – Yukio soltou uma risada curta e amarga – Não tínhamos varas de bambu naquela época, apenas madeira pesada para praticar espadas, mas ainda assim você venceu todas. Se não tivesse lutado com Tashiro primeiro, tenho certeza de que teria quebrado alguns dos ossos de seus oponentes. Inferno, você poderia ter matado alguém. Tashiro não era diferente – todos os olhos se voltaram para Tashiro que também tinha um sorriso triste no rosto – A maneira como ele balançava essa coisa, acho que ele pensou que havia uma lâmina de verdade ali e ele queria cortá-lo ao meio com isso. Se não tivéssemos parado vocês dois, acho que um de vocês teria ido para o caixão cedo.
Yukio suspirou, eles haviam passado a juventude juntos em um pequeno dojo. Para Saito, aquele foi o primeiro lugar a aceitar seu estilo de luta. Sem dúvida que tudo aquilo era especial para ele e eu estava mandando todos para a morte.
– Quando terminamos – Saito seguiu – Foi a primeira vez que alguém me assistiu lutar e não me chamou de trapaceiro, ou herege.
– Quando você está lutando com uma espada real – Yukio falou despreocupado – você não tem tempo para chamar alguém de trapaceiro. Perca tempo conversando e você será morto antes de sua primeira palavra terminar. Além disso, lutar com a mão esquerda não é trapaça. Inferno, para você pessoas que lutam com a mão direita estão trapaceando tanto quanto você está.
Essas palavras certamente trouxeram muita felicidade a Saito quando ele as ouviu pela primeira vez, há anos.
– Lembro que te disse então, que se você ou Tanizake me ordenasse, eu mataria qualquer um, seja eles famosos samurais ou até estrangeiros.
– Eu te dei um monte de trabalhos sujos, não dei? – Yukio juntou um pouco as sobrancelhas – Sinto muito por isso...
– Eu escolhi seguir suas ordens. Não me arrependo dessa escolha. Eu pretendia seguir essas ordens para sempre, mas... – ele franziu os lábios e desviou o olhar, sem saber como terminar. No fundo, todos sabíamos que ele estava apenas se despedindo, que mesmo que sobrevivêssemos, esse grupo tão particular não conseguiria mais seguir junto.
– Saito – Yukio se virou para seu amigo – Não se culpe por isso, certo? Algum dia todos deveríamos seguir nossos caminhos e sabíamos disso. Acredito que sei qual a sua escolha, mas deixaremos isso por agora.
– Sim... – Saito respondeu.
– O que está por vir agora é algo muito grande. A escolha que você fez não está errada...
Saito piscou de repente, como se quisesse limpar as lágrimas de seus olhos. Eu vi sua mandíbula apertar e abrir rapidamente, e sua respiração estava tensa. Ele se virou, talvez com medo de que, se tentasse falar, poderia chorar.
Ficamos em silêncio por vários momentos antes de Yukio seguir os olhos pelo grupo e parar em Tashiro.
– E você Tashiro?
– Eu defenderei os domínios de Ambar, afinal, esse é meu trabalho aqui – ele foi breve, algo que não era costumeiro para ele. Sem piadas, sem tentar ter a última frase.
– Natsu?
– Você e Tanizake sempre quiseram ser samurais – Natsu falou coçando o queixo – Eu nunca me importei muito com isso. Mas agora que já escolhi a quem realmente quero servir, minha melhor escolha será ir para a emboscada. Acho que vale apena arriscar o pescoço por alguém como você, Ambar. Inferno... Nunca pensei que escutaria Saito falar tanto, talvez eu não o conheça tão bem quanto pensei.
Yukio acenou com a cabeça, ele precisaria de mais um para seguir para a floresta.
– Bem, acho que irei também – Satoru disse dando de ombros – No fim, morrer aqui não deve ser tão ruim e alguém precisa tomar conta do traseiro do Natsu.
– Eu já morri uma vez, eu acho – Tatsuo disse parecendo confuso – Acho que prefiro não passar por isso de novo. Vou ficar por aqui. De qualquer maneira, a equipe já está feita. Tenho tentado descobrir se havia alguma razão para morrer e ter a chance de voltar a vida assim... – ele parou.
– Você encontrou sua resposta? – perguntei.
– Se eu tivesse morrido naquela época em vez de ter me transformado em agma – ele coçou a ponta do seu nariz ao falar, seus olhos estavam distantes – acho que teria realmente apenas um arrependimento. Quero dizer, nos envolvemos em algo realmente muito maior do que nossa própria cidade, seria uma vergonha não ver como isso acaba.
– Como acaba? – Yukio falou um pouco irritado – Não gosto de como soa isso, Tatsuo.
– Além disso – Tatsuo apenas sorriu para ele – Yukio mal sabe qual o caminho certo agora. Ele vai estar preocupado com a sua nova velha amada. Não posso abandoná-lo quando ele está tão vulnerável. Alguém tem que cuidar dele.
Lidy riu baixinho e Tashiro caiu na gargalhada ao ver Yukio perder levemente a compostura. Todos estávamos no mesmo caminho, mas de certa maneira, ninguém queria deixar de falar tudo o que sentia antes de nos separarmos. Foi triste, com certeza, acho que me sentiria bem se soubesse que todos estavam no complexo, cuidando de suas vidas, mas por outro lado, eu gostava de saber que eles estavam ali comigo.
– Lidy, o que você fará? – Yukio perguntou para ela com certo carinho na voz que eu desconhecia.
– Ficarei com as forças principais, minha família se aliou e nos comprometemos a garantir que qualquer inocente ficasse de fora, acredito que aqui será nossa melhor opção – ela sorriu para ele.
– Luh? – eu a chamei. Ela estava quieta, triste – Luh, tenho um pedido para você.
– O que você quer? – sua expressão estava vazia, aquela mesma expressão de quando ela foi forçada a se despedir de Lucca.
– Tem como você cuidar do meu irmão por mim?
Sua expressão mudou instantaneamente. Ela me olhou arregalando os olhos.
– O quê? – ela perguntou quase engasgada.
– Alguém precisa cuidar daquele desleixado. Ele não sabe nem fazer a própria comida – falei com um sorriso triste – Seu lugar não é aqui. Seu lugar é com as divindades.
– Mas, eu... – ela começou a dizer com lágrimas nos olhos.
– Sem "mas" – fiquei séria – não quero divindades nessa luta. Estou te dispensando de suas obrigações comigo.
Ela primeiro me olhou atônita demais, depois pareceu me estudar para ter certeza de que não havia nenhuma pegadinha e quando por fim entendeu que eu estava falando sério, seu sorriso se alargou.
– Obrigada – ela se jogou em um abraço apertado me surpreendendo, afinal, ela rara vez demonstrou qualquer afeto – promete que vai se cuidar, Ambar.
– Não posso prometer – falei sorrindo – afinal sou eu, a criança mimada que sempre se mete em confusão.
– Sem dúvidas a mais problemáticas de todos os meus discípulos. Acho que vou indo então – ela me deu um pequeno croque na cabeça, se levantou e correu porta afora sem se despedir de ninguém mais.
– Selina – falei olhando para ela, ela também estava triste – O que você quer fazer?
– Quero vingar Keiko – ela tinha a voz contida, mas havia raiva ali – Sei que eu não teria a menor chance contra Saikhan, mas ficarei onde você estiver subindo minhas barreiras protetoras, assim qualquer um que atravessar o seu caminho morre. Keiko morreu por esses homens, vou garantir que tenhamos a vitória aqui.
– E você, Ambar? – Yukio me perguntou – O que você vai fazer? No fim, eu deveria mandar você sentar a bunda em uma cadeira e ficar em segurança por aqui, mas sei que você não vai me obedecer.
Luh havia dito anteriormente que invadir o castelo seria suicídio e Yukio, apesar de pensar o mesmo, acreditava que era nossa melhor cartada. Tínhamos poucas chances de vitória, mas eu confiava nele. Se eu fosse, poderia muito bem morrer, então, novamente, o mesmo poderia ser dito para Saito, Satoru e Natsu. Se eu escolhesse ficar, talvez nunca pudesse ver Saito novamente. Sabia que era irracional, mas entre um povo que eu mal conhecia e Saito não havia dúvida.
– Eu irei para o castelo com eles.
Vários pares de olhos surpresos se viraram para me encarar. Os mais atordoados foram os de Saito. Algo parecia ter quebrado dentro dele e as lágrimas que ele segurou tanto anteriormente simplesmente saíram. Ele ainda não havia dito nada, mas a pergunta não feita em seu rosto era claramente "Por quê?"
– Você ouviu tudo, certo? – Yukio disse enquanto todos se levantavam – Aquele lugar pode se transformar em um matadouro.
Como se Tashiro entendesse perfeitamente o que Yukio iria fazer a seguir, ele lentamente levou todos para fora da sala de reuniões deixando-me apenas com ele e Saito. Yukio seguiu.
– Se você for, há uma boa chance de você sofrer uma morte horrível. Você tem certeza disso?
– Sim.
Seria mentir dizer que eu não estava com medo, poderia dizer que estava apavorada, mas a ideia de nunca mais poder ver Saito de novo... Não, eu não suportaria isso. Para mim havia apenas uma escolha.
– Acho que não devo perguntar o porquê – Yukio suspirou.
Seus olhos se voltaram para Saito, que simplesmente ficou em silêncio me olhando feio.
– Certo – Yukio concluiu – Vocês dois conversem. Se você mudar de ideia ainda temos tempo, afinal.
Ele me deu um tapinha no ombro, depois se virou para Tatsuo que seguia a meio caminho do salão e o levou para fora. Saito esperou até que seus passos tivessem desaparecido pelo corredor antes de começar a falar.
– Por que você fez isso? – eu não o ouvia falar tão friamente há muito tempo. Eu encolhi com o gelo em sua voz, mas não recuei – Não é tarde demais. Você ainda pode decidir ficar aqui, basta falar isso para Yukio.
– Não... – falei baixo, mas firme.
– Você estava ouvindo o que ele disse a você? – sua voz esfriou ainda mais – Não há garantias de que a emboscada funcione e a chance de sobrevivermos é baixa. Se você for, você morrerá em vão. Você não tem que governar esse lugar afinal?
Eu olhei para ele e de repente meu medo desapareceu.
– Saito, você estava planejando morrer lá, não é?
Em vez de responder, ele se inclinou para trás e me olhou com uma expressão que eu não conseguia decifrar. Eu não achei que ele fosse mentir para mim, a desonestidade não estava na sua personalidade, mas eu não tinha certeza do que ele faria.
– E se eu te dissesse que sim?
Eu não tinha ilusões sobre a conexão entre Saito e eu, qualquer fio que possa ter nos ligado um ao outro era muito, muito fino. Não tínhamos feito planos ou promessas sobre o futuro, e para ser honesta, eu nem sabia o que ele pensava de mim. Mas eu sabia que tínhamos conversado em algumas ocasiões e durante aqueles breves momentos, senti que havia visto algo do seu coração. Eu não sabia se isso me dava o direito de dizer o que eu estava prestes a dizer, mas eu tinha pouco a perder e sabia que essa poderia ser a minha última chance.
– Então, eu diria que definitivamente iria. Eu quero estar com você até... até o fim. Isso tudo aqui não faz sentido para mim se você não estiver.
– Por que eu salvei a sua vida? – o gelo voltou ao seu olhar – Eu estava apenas fazendo o que Yukio me ordenou. Esse era o meu dever, nada mais. Você seria uma criança tola se colocasse a sua vida em risco por isso. Agora vá e diga que ficará aqui. Volte para aquele que se diz seu pretendente e siga a sua vida.
Estava claro o que ele esperava que eu fizesse, mas eu me mantive firme.
– Não. Eu não quero ficar com você apenas porque você salvou a minha vida ou por você alguma vez ter lutado por mim.
– Então, por quê?
Eu deixei suas palavras pairarem no ar antes de falar.
– Você realmente não quer que eu vá? Realmente não me quer por perto?
Olhar dentro daqueles olhos frios e raivosos não foi tarefa fácil, mas eu precisava saber. Saito me disse uma vez que ele poderia olhar nos olhos de alguém e saber se as palavras que falaram eram verdadeiras e eu estava buscando desesperadamente a resposta dentro de seus olhos. Ele olhou para mim por segundos que pareceram horas antes de ele finalmente se afastar. Quando ele falou, sua voz saiu em um sussurro rouco sufocado pela dor.
– ... eu... eu não quero que você morra.
Meu coração disparou. Algo no fundo do meu coração dizia que ele estava falando a verdade, talvez não a verdade completa, mas era a verdade.
– Eu também não quero que você morra, mas, eu entendo que você pode morrer. Esta é uma batalha desesperada, sei disso porque é a minha batalha. Eu também entendo que se você abandonasse essa luta agora, você nunca se perdoaria, não depois de suas perdas. Então... eu quero ficar com você. O que quer que aconteça nessa luta, quero compartilhar do mesmo destino que você. Eu sei que estou sendo um pouco atrevida, quer dizer, eu nem sei como você se sente...
Por um longo tempo, Saito não disse nada. Suspeitei que ele estava pensando em todas as maneiras que ele poderia tentar me convencer a mudar de ideia, mas por fim, ele apenas suspirou e desviou o olhar.
– Eu não sou um homem tão forte quanto você pensa que eu sou. Eu não sei como descobrir o que é certo e o que é errado. Mesmo agora, há uma parte de mim que quer esquecer disso tudo e correr até Yukio dizendo que mudei de ideia. Se eu falasse, provavelmente Yukio entenderia. Não sei se serei capaz de manter o controle quando me machucar, ou encontrar a morte me encarando, ou sentir aquele mesmo desejo violento que tomou Isao. Mas eu quero dar meu último suspiro como guerreiro. Eu quero ir bravamente dessa vida, assim como Tanizake fez. Se eu devo ter alguma esperança de fazer isso, então devo fazer o que meu coração me diz que está certo. É por isso que escolhi seguir para o castelo.
Havia emoção em sua voz e ele parecia quase confuso, como se não estivesse acostumado a falar tão livremente. "Este deve ser o verdadeiro Saito", pensei.
– Porém, se para você eu pareço um guerreiro perfeito que não tem fraquezas. Então não há nenhuma razão para você ir e ver o quão feio eu posso ficar. Melhor nos separarmos agora. Fique aqui, você não deveria ter que ver a verdade.
Sua voz estava um pouco acima de um sussurro, mas me atingiu com toda a força de um grito. Eu não me mexi.
– Eu nunca esperei que você sempre estivesse certo – falei por fim – se você sofreu com a agonia de sua escolha e ainda seguiu, então isso é o suficiente para mim. Aconteça o que acontecer, seja da maneira que for, minha maneira de te ver não mudará. Então, por favor, me deixe ir com você.
Eu podia ver a frustração em seu rosto, assim como a surpresa. Eu pensei que talvez ele simplesmente me agarraria pelo pulso e me arrastaria até um local dali onde pudesse me deixar presa até tudo acabar, mas ao invés disso ele se inclinou em minha direção e de repente, sua mão segurou meu ombro e me puxou para perto dele.
Olhamos nos olhos um do outro com os nossos rostos apenas alguns centímetros de distância. Eu podia sentir sua respiração irregular contra a minha pele. Seus braços tremeram e quando olhei para ele, senti frio na barriga.
– Essa é a sua resposta, então? – seus olhos perfuraram os meus, e sua voz pairou em cada palavra que ele falou – Você jura que não vai se arrepender dessa escolha? Que as palavras que você falou são as que você acha que estão certas?
Seus olhos eram tão profundos, e eu podia senti-los absorvendo cada parte de mim, procurando qualquer sinal de que o que eu dissesse a seguir não seria a verdade. Eu nunca o tinha visto olhar para mim assim antes.
– Sim. Eu quero estar com você – eu olhei nos olhos do homem que eu amava e sorri.
Seus olhos brilharam de repente com lágrimas não derramadas, e por um momento ele parecia estar rindo e chorando ao mesmo tempo.
– Seus olhos dizem a verdade – sua voz era quase um sussurro, e a cada palavra meu coração palpitava mais rápido – Você falou de coração. Não, com a alma.
Ele soltou um longo suspiro de alívio e se inclinou para mais perto. Eu podia sentir sua respiração enquanto a distância diminuía, mas o momento antes de que nossos lábios se encontrassem, ele hesitou. Talvez ele estivesse se lembrando das palavras que acabamos de falar, eu não poderia dizer. Mas ele pareceu se decidir e fechou a última pequena distância entre nós. Por fim nossos lábios se encontraram. Nunca tinha beijado com um amor tão profundo cravado em mim. Meu coração batia tão forte no peito que senti dificuldade para respirar, mas era bom. Seus lábios tremeram enquanto pressionavam os meus, mas não com medo ou raiva. Eu queria acreditar que esse beijo prometia grandes coisas para nós, mas o futuro ainda era um mistério. Diante de nós estava a batalha, mas talvez, depois disso...
Seu calor encheu todo o meu corpo e eu senti meu amor por ele refletido de volta com igual intensidade. Nossas almas eram uma. Só isso já nos fez felizes o suficiente para esquecer a morte que muito provavelmente nos aguardava.
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