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35 - SETEMBRO DE 1865 - parte 3

– Tatsuo – chamei-o – Onde está Saito? Você o viu?

– Sim, após a reunião ele se trancou em seu quarto e não colocou a cabeça para fora desde então. Deve estar se preparando para irmos, mas estou preocupado. Ele parecia extremamente pálido da última vez que o vi.

– Eu vou ver como ele está, então – Tatsuo e eu nos despedimos rapidamente e eu fiz meu caminho em direção ao quarto de Saito.

– Saito? Você está aí? – chamei na porta, mas não obtive resposta.

Eu estava prestes a me virar, presumindo que ele já havia saído de lá quando escutei um gemido alto de dor.

– Saito! Estou entrando! – abri a porta desesperada e corri para dentro.

Ele estava curvado em cima de sua mesa no fundo da sala. O suor escorria pelo seu rosto e eu podia ouvir seus dentes sendo forçados horrivelmente enquanto ele os rangia.

– Saito!

– Eu vou ficar bem. Apenas saia daqui.

– Mas... – comecei, mas ele me cortou.

– Isso vai passar, a qualquer momento. Não se preocupe.

Ele passou os braços em volta dos ombros e apertou até que os nós dos dedos ficaram brancos. Sua respiração estava ofegante e ele estremeceu como se estivesse com febre. Era personalidade do Saito se recusar a mostrar qualquer dor, ou mesmo qualquer emoção e quando o fazia, era sempre o mínimo possível. Apesar de já tê-lo visto com dor, ainda era insuportável assistir. A dor devia ser inimaginável. Novamente estava com a mesma dúvida, eu havia entregado as capsulas para Keiko e mesmo se eu desse uma, seria uma solução temporária. Novamente me peguei pensando, ele não iria querer que eu desse meu sangue a ele, mas se não o fizesse, ele seguiria com dor. O que eu deveria fazer? Puxei novamente a pequena faca que eu havia mantido comigo desde aquela tarde, eu não aguentava vê-lo sofrer.

– Não... Não faz isso – ele disse ainda se contorcendo de dor.

Sem dar atenção ao que ele falava, deslizei a faca no mesmo lugar que da primeira vez e senti a dor do corte, mas fiz o possível para não demonstrar isso, uma faixa de sangue espesso se formou. Dessa vez eu não falei nada, apenas estendi o braço.

– Eu não posso fazer isso – ele falou com a voz fraca.

Suas roupas estavam encharcadas de suor e ele tremia muito. Eu não recuei. Queria fazer algo por ele, eu simplesmente não conseguia vê-lo sofrer nem mais um pouco.

– Não se preocupe comigo – falei quase em um sussurro – Por favor...

Embora ele tentasse desesperadamente não o fazer, seus olhos foram atraídos para o corte, para o sangue vermelho espesso que lentamente escorria para a palma da minha mão. Seus dentes cerraram e suas mãos flexionaram, mas ele não conseguiu resistir. Passaram-se apenas alguns segundos antes de ele ceder. Então, ele pegou minha mão e bebeu o sangue, logo ele lambeu o caminho que o sangue havia percorrido até onde estava o corte. Sentia a suave carícia de sua língua enquanto percorria o comprimento da ferida, e então senti a pressão suave de seus dentes e lábios enquanto ele puxava mais algumas gotas para a sua boca. Sua respiração já havia começado a se acalmar. Através de sua mão em meu pulso, pude sentir seu tremor diminuindo também. Alguns momentos depois, sua mão escorregou para baixo e vi que corte já estava curado.

– Me desculpa pelo atrevimento – falei baixo, mas ele não levantou a cabeça para olhar para mim.

– Sinto muito – ele falou e eu não soube se ele realmente estava falando comigo.

Distraidamente toquei com os dedos o pulso onde Saito, poucos minutos antes, estava segurando. Quase pensei que ainda podia sentir seu calor ali. Sorri, mas ele não me via. Me levantei e fui até a porta, mas antes de sair eu agradeci.

– Obrigada – ele me olhou confuso, sem saber o porquê eu havia agradecido, mas eu não dei chances a ele de perguntar.

 – Temos dois canhões, uma série de armas pequenas e algum dinheiro para o ataque – Tanizake disse já com todos reunidos novamente no salão.

Quando ele começou a traçar detalhes do plano, eu vi seus olhos cintilando de excitação.

– É bom que você esteja excitado assim Tanizake, mas temos chances de ganhar uma luta direta? Entendo que inicialmente não faremos isso, mas temos que admitir que a chance de isso ocorrer é realmente grande – Natsu falou cruzando os braços.

Tanizake franziu a testa.

– Ainda assim – Tanizake disse com um pouco de calor na voz – Essas são ordens direta. Sabemos que nossa situação não é a ideal, mas que não se trata apenas de ganhar ou perder. Se Saikhan seguir transformando as pessoas a seu bel prazer, logo não teremos mais um país para defender. Não é nosso dever como guerreiros, então, dar tudo o que podemos para essa luta? Você não concorda Natsu?

– Você realmente vai tentar usar um discurso psicológico? Eu sou um capitão Koasenshi, mas não sou seu servo.

Tanizake pareceu chateado com a resposta de Natsu, mas Satoru falou antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.

– Ei, Saito, qual é a sua opinião sobre tudo isso?

– Farei tudo o que o chefe e o comandante me ordenarem.

Todos os olhos se voltaram para Yukio.

– Devemos reunir mais alguns homens se vamos entrar realmente em mais uma batalha contra eles. Se fizermos isso bem, talvez nossas antigas alianças enviem reforços. Infelizmente há guerras que não podem ser evitadas. Quero dizer, se perdermos, então todas essas pessoas estarão perdidas. Acho que não podemos simplesmente esquecer disso.

Yukio não falava com a voz do "comandante demônio" que todos conhecíamos, ele falava com a voz de alguém que sabia que estava indo para a morte, mas que faria de tudo para impedir que outros sofressem.

– Sim – Natsu disse suspirando – Acho que você tem razão.

Após isso, todos os capitães foram revisar seus subordinados, os poucos que haviam sobrado e alguns poucos que haviam sido recrutados em lugares estranhos. Apenas Yukio ficou para trás.

– Yukio – falei com medo da minha própria voz – Eu queria que tudo ficasse bem. Você acha que realmente existe essa possibilidade?

Ele suspirou e largou o mapa que estava estudando.

– Lembra quando Selina nos avisou sobre alguém matando as pessoas? – ele falou sem responder a minha pergunta.

– Sim... – falei em voz baixa.

– Eu soube desde aquele dia que era Isao. Sabe por que não te impedi quando você o levou?

– Não... – falei sem querer seguir aquele assunto.

– Ele é um ótimo guerreiro e somos amigos desde muito jovens, mas não posso permitir que ele assassine pessoas nas ruas só para satisfazer seus desejos violentos, estou contando que agora, fiquem de olho nele até resolvermos esse problema. Durante nossa última batalha, usaram essa espada sagrada contra eles, o que nos deixa em desvantagem. Precisaríamos descobrir como neutralizar esse problema e por isso, decidi deixar Tatsuo fora da luta, ele ficará responsável pelo lugar e coletará armas para um contra-ataque se necessário.

– E Saito? E você? – falei agora um pouco mais surpresa.

– Saito é um ótimo guerreiro e seguirá qualquer ordem que eu der, não me preocuparia com ele no seu lugar e eu... não entro em uma luta com medo de morrer. Essa próxima luta vai ser grande, provavelmente não deveríamos levar você, mas se eu deixar você aqui, Kai poderia aparecer para te levar. Afinal, nada garante que ele estará no castelo. Então, estou levando você junto, mas você se cuida e não se meta em encrencas. Se eu disser para você pular, você diz "de que altura?". Entendeu?

– Está bem – sempre havia brincado com ele, era cínica ao chamá-lo de comandante, mas o respeitava. A verdade era que eu realmente o via como meu superior e, portanto, estava disposta a obedecê-lo.

Eu podia sentir um nó nervoso se formando em meu estômago, mas Yukio devia estar à beira de um ataque de nervos já. Quando o sol saiu, partimos para Kofu.

Eu parti com Saito, e apesar dos acontecimentos anteriores, parecia que nada havia mudado.

Parávamos para acampar sempre que escurecia para logo retomar nosso caminho pela manhã. Acampar não era a palavra ideal, já que dormíamos no chão sem nada para nos proteger. Meu corpo estava começando a reclamar.

– Faz um tempo que eu não vejo Tanizake por aqui. Ele foi a algum lugar? – perguntei para os rapazes.

– Ele provavelmente ainda não nos alcançou – a voz de Natsu era amarga – Aposto que ele está ficando bêbado com alguns daqueles caras novos. Droga, o que ele está pensando? Nós vamos para a guerra, não de férias!

– Ei – Satoru disse como um irmão mais velho faria com o mais novo – Deixe-o um pouco, certo? Tenho certeza de que ele só quer despejar a mente, faz pouco tempo que ele perdeu sua mulher, é difícil imaginar quanto tempo ele precisará para superar um casamento de tantos anos.

– Ele tem todo o direito de se sentir assim – Natsu falou em um tom um pouco mais irritado – Mas acho que há momentos melhores para se afogar na bebida, sabe? Também sofremos perdas aqui.

Todas as vezes que resmungavam sobre essas coisas, alguns outros soldados seguiam por esse mesmo rumo e eu, me sentindo incomodada, sempre saía de perto; nesse dia não foi diferente. Olhei para Saito o mais discretamente que pude para tentar avaliar o que ele pensava da explosão de Natsu. Ele não disse nada, é claro, mas sua testa estava franzida e era óbvio que estava pensando profundamente. Eu estava prestes a perguntar para ele o que aconteceu quando Yukio falou, talvez percebendo que eu estava começando a me afastar deles.

– Você está bem, Ambar? Cansada?

– Ah, não – falei em um suspiro – Estou bem.

– Desculpe por trazer você – Yukio disse com um sorriso amargo.

– Não é como se eu não fizesse parte de tudo isso no fim das contas – retribuí o sorriso – Então, não se preocupe.

Parei por um momento, então decidi perguntar uma coisa, afinal, ele havia começado a conversa.

– Acha que foi realmente o melhor eu ter vindo? – perguntei um pouco sem graça – Eu estou preocupada em atrapalhar se uma luta acontecer.

A boca de Yukio se apertou. Ele acariciou o queixo por alguns momentos, pensando, antes de responder.

– Te expliquei a situação inicialmente. Eu realmente queria ter deixado você lá, mas seria muito perigoso. Provavelmente é mais seguro para você estar no campo de batalha, por mais irônico que isso possa parecer. Trazer você junto não foi o ideal, mas foi melhor do que a alternativa. Desculpa se tem sido difícil para você.

– Não, de jeito nenhum – falei em tom de desculpas – Eu não estava reclamando. Eu realmente estou bem, por favor, não se preocupe comigo.

Pensei em seguir conversando, mas Yukio parecia ter muito em mente e provavelmente não seria o melhor momento para distraí-lo.

– Comandante – Saito se aproximou – há algo que preciso lhe contar.

– Hum – Yukio de repente saiu de um de seus pensamentos – O que foi, Saito?

– Natsu e Satoru expressaram algumas preocupações sobre a batalha em Kofu. Especialmente em relação às ações do chefe Tanizake.

– Preocupações? Essa é uma maneira educada de dizê-lo. Sim, eu vi isso também – Yukio sorriu amargamente – Estamos prestes a ir para a guerra, e o chefe está fora de combate? Parece bastante natural ficar puto. Mas com a nossa situação atual, não conseguiremos novos homens apenas colocando uma placa dizendo que estamos procurando sangue fresco. Às vezes você precisa de um suborno, às vezes você precisa recorrer a tomar uns copos e algumas dicas sobre toneladas de dinheiro. Conseguir homens para lutar contra inimigos desconhecidos não é nada fácil.

Eu entendia seu ponto, ninguém lutava por nada, mas achava difícil que homens que foram subornados aguentassem uma luta contra tantos agmas da mesma maneira que os Koasenshi.

– Me perdoe ser tão ousado – Saito parecia preocupado – Comandante, você acha que podemos vencer aqui?

– Droga – outro sorriso amargo – Você fica me perguntando coisas que eu não quero responder. Queria que cada vez que alguém me perguntasse isso, nossas chances aumentassem. A julgar pela forma como perdemos da última vez e a moral do outro lado agora, eu diria que temos muito trabalho para nós. Conseguimos armas e canhões, mas, pelo que Selina me falou eles possuem armas que trouxeram da Europa e de outros tantos universos que desconhecemos. Não sei o quão eficazes nossas armas serão contra as deles. Não podemos saber que tipo de arma eles usarão.

– Então – Saito em segundos voltou para sua calma habitual – Essa batalha já está perdida?

– Nós vamos dar o nosso melhor e eu com certeza não quero que Tanizake perca mais uma batalha, mas eles são mais fortes e têm armas melhores. Os fatos não parecem bom para nós – Yukio olhou para o céu por um momento, seus olhos pareciam vazios – Não posso dizer isso para Natsu ou Satoru, certo? Tenho certeza de que eles já sabem, mas eles nunca diriam isso. Mesmo eu não sou cruel o suficiente para esfregar isso na cara deles – ele deu uma risada seca e sem humor. Nunca o havia visto tão completamente desprovido de confiança. Esperava-se que eles lutassem e vencessem, mesmo quando a vitória era impossível.

– Entendo o que você quer dizer – Saito acenou com a cabeça calmamente – Você é bastante talentoso em interpretar o vilão.

– Este é o meu trabalho – Yukio seguia com seu sorriso triste – Mas, vamos ser sinceros, após tudo o que soubemos nesse último ano, seria difícil imaginar que estaríamos lutando por uma realidade tão singular. Olhe só para ela – ele acenou com a cabeça para mim – No fim, não será tão ruim perder se for por ela e se ganharmos, pensa na rainha fantástica e problemática que ela seria.

– Não tem graça – murmurei olhando pra baixo sentindo o rosto queimar.

Tive problemas para dormir naquela noite, minha mente não parava de repassar o que Yukio havia dito. Depois de uma boa quantidade de reviravoltas, percebi que Saito havia se levantado silenciosamente e escapado do acampamento. Sei que o ideal seria apenas deixá-lo em paz pois, como eu, ele tinha muito o que pensar, mas depois de alguns minutos não aguentei e decidi ver o que ele estava fazendo e se precisava de algo. Afinal, não era uma característica minha não entrar em confusões.

Não demorou muito para encontrá-lo. Ele se afastou o suficiente do acampamento para não ser visto, e então parou para olhar para o céu. O céu estava estrelado, as estrelas iluminavam muito, elas eram tão visíveis que só era possível ter tal visão aqui. Seu rosto estava tão inexpressivo como sempre, mas de alguma forma ele parecia triste. Hipnotizada pela cena diante de mim, eu tinha esquecido do meu sigilo e minha mão roçou em um arbusto próximo e pude ouvir o farfalhar de suas folhas.

– Quem está aí? – Saito perguntou agora olhando para a direção em que eu estava. Sua voz era fria como aço – Vou te dar dez segundos para se mostrar antes de te cortar na metade.

Ele pensou que eu fosse um inimigo? Possivelmente sim. Estremeci com a simples possibilidade de enfrentá-lo de novo. Saí do meu esconderijo com as mãos levemente para cima.

– Espera! Sou só eu!

As sobrancelhas de Saito se ergueram e logo ele franziu a testa.

– Por que você está aqui sozinha? Achei que você tivesse aprendido a lição, mas claramente me enganei.

– Desculpa – falei me sentindo um pouco envergonhada – Eu não conseguia dormir, tenho tantas coisas na cabeça. Vi você se levantar e sair, então... – não terminei, como eu poderia simplesmente ter admitido que o havia seguido?

Ele olhou para mim com sua expressão ilegível. Eu me preparei para outro sermão, mas em vez disso ele ficou em silêncio e voltou para o céu noturno.

– Você está bem? – perguntei ainda esperando pelo sermão. Ele não respondeu.

Seus olhos se estreitaram, quase como se a luz das estrelas fosse muito forte para ele olhar. Eu tinha certeza de que seu coração estava cheio de sentimentos que ele não conseguia expressar em palavras, e ele estava lutando para resolvê-los consigo mesmo. Parecia errado interromper sua calma, mas havia algo em minha mente que eu precisava perguntar.

– O que você acha? Sobre o que Yukio disse antes? – perguntei olhando para as estrelas também.

– O que você quer dizer?

– Isso vem sendo dito faz tempo, mas se ele estiver certo, então vamos perder esta batalha.

– Não tenho dúvidas de que ele está certo.

Estreitei os olhos, afinal, eu já sabia a resposta, mas escutar Saito falando com uma simplicidade dessa fazia esse sentimento de derrota piorar. Ele seguiu.

– Nossas armas são velhas e desatualizadas, não são páreas para armas modernas vindas da Europa ou de outros lugares, além do mais, eu sei a força do nosso inimigo e sei que simples espadas não são capazes de derrotá-los. Os novos homens que recrutamos mal sabem como disparar uma arma, são quase inúteis.

– E quanto as espadas? Eles não sabem manejar uma?

– Você realmente acha que um homem que matou estaria livre para vagar pelas ruas como quisesse? Talvez você seja capaz de balançar um pedaço de madeira na sala de treinamento, mas isso é de pouca utilidade no campo de batalha. Habilidade é irrelevante, o que importa é a capacidade de matar outro homem.

Ele estava certo, mesmo sendo agmas, ainda tinham aparência humana e muitos não seriam capazes de carregar o fardo da morte de outro. Nenhum número de soldados inexperientes poderia compensar a falta de um ou dois veteranos em uma batalha. Meu coração voltou a apertar da mesma maneira que ocorreu quando Yukio disse que não achava que poderíamos vencer.

– Você não está com medo, Saito? Quer dizer, você está entrando em uma luta que não pode vencer. Você pode morrer – falei a última frase abafando um sentimento de angústia tão grande, que senti que fosse desabar.

Eu não sabia se valia a pena perguntar a ele. Saito tinha visto inúmeras batalhas, e cada uma delas poderia ter sido a última. Embora eu não pudesse entender o porquê, o olhar em seu rosto sugeria que ele não temia nem a batalha que se aproximava e nem a morte.

– Morrer, por si só, não me assusta – seu tom era indiferente como sempre – O que eu temo é perder de vista aquilo em que acredito.

– O que você quer dizer com isso?

Ele ficou em silêncio por alguns minutos antes de se virar para olhar para mim.

– Você sabe qual é o outro nome para um guerreiro?

– Você quer dizer samurai? – perguntei sem entender o que um nome poderia significar. Ele acenou com a cabeça.

– Um guerreiro carrega sua espada à esquerda do corpo. Um samurai carregando sua espada sempre andará do lado esquerdo, não importa o quão estreita seja a rua. Eles fazem isso para evitar que qualquer um toque em sua espada. A alma de um guerreiro está em sua espada.

– Oh, céus – de repente fiquei sem graça por algum dia ter tomado a espada de Yukio quando Keiko apareceu pela primeira vez no complexo, mas Saito pareceu não notar – Mas, o que tem isso?

A espada de Saito estava pendurada em seu quadril direito, como sempre fez. Eu nunca tinha pensado com atenção antes, mas Saito era a única pessoa dali que carregava sua espada no lado direito e a puxava com sua mão esquerda. Ser canhoto em uma luta era algo vantajoso para uma divindade, portanto, nunca pensei em como poderia ser ali.

– Nasci canhoto e nenhum dojo me aceitava, tampouco recebi algum certificado de esgrima. Sempre que eu empunhava o bastão, diziam que me faltava talento e tentavam corrigir meu modo de segurar a espada. Isso ocorreu repetidas vezes, mas nenhum daqueles que me criticaram conseguiu me vencer, nem os alunos avançados ou seus mestres. Independentemente do prestígio de seus títulos, todos foram derrotados por mim, um herege sem nome. O que, então, define a verdadeira força? Refleti muito sobre isso na época.

A voz dele havia mudado, eu podia ouvir a emoção dele fluir por suas palavras, algo que ele raramente deixava transparecer.

– Quando Luh me treinava – falei olhando direto para ele – ela sempre me disse para jamais enfrentar um canhoto, pois estes eram os guerreiros mais difíceis de se derrotar. "Quando você encontrar um canhoto, opte por lutar com a sua manipulação", escutei isso durante a minha vida inteira. Ser canhoto, de onde venho, não significa ser um herege, significa apenas que você usa a mão esquerda para lutar e não há vergonha nenhuma nisso. Enfim, se você não pensa mais nisso, isso significa que você encontrou uma resposta?

Saito ficou em silêncio novamente. Ele puxou a espada da bainha e a observou brilhar ao luar.

– É fácil. Você duela com espadas reais, e o homem que vence é mais forte. Simples.

– Em uma luta não há golpes sujos, existe apenas a sobrevivência – falei o que tantas vezes havia escutado de Luh, Saito apenas acenou com a cabeça.

– Cada vez menos samurais desejam duelar, mesmo assim eu senti que a alma do samurai só poderia ser encontrada na batalha, e sem guerras, isso significava que era preciso duelar – os olhos de Saito refletidos na lâmina de sua espada eram como piscinas na noite. Senti um leve arrepio percorrer minhas costas – Descobri rapidamente que estava sozinho, ou quase isso, em minhas opiniões. Antes dos Koasenshi ser formado, fui desafiado para um duelo por um aprendiz em um dos dojos. Aceitei e o matei. Fui desafiado para um duelo. Venci. Ele perdeu. Mas essa vitória aparentemente não significava nada, porque fui tratado como um assassino e forçado a deixar Edo. O propósito de um guerreiro é matar, mas quando ele cumpre esse propósito, ele é chamado de criminoso. Como essa contradição pode ser resolvida? Passei muitas horas pensando nessa questão.

– Talvez você tenha mais a ver com Himura que com Garig afinal – murmurei mais para mim mesma que para ele.

Para Saito, a palavra guerreiro tinha um grande significado, mas ele lutou para encontrar outros homens que compartilhassem de sua crença. Eu havia crescido ao redor de pessoas como ele e sabia que em Himura esse conceito era algo comum. Ele tinha um comando incrível de uma técnica rara e poderosa, mesmo assim todos que ele conhecera se recusaram a reconhecer sua força antes dele chegar na posição que estava. Todas as rejeições o forçaram a questionar exatamente o que significavam suas crenças mais íntimas: O que era a verdadeira força? O que, no fim, significava ser um guerreiro? Eu senti que finalmente estava conseguindo começar a entendê-lo. Não sei se ele me ouviu, se ouviu não comentou nada, apenas seguiu.

– Deixei meu domínio e escapei para Kyoto. Lá, finalmente, encontrei um lugar onde poderia me tornar um guerreiro. Os Koasenshi estavam dispostos a matar aqueles que estavam contra eles. Eles lutaram para que pudessem sobreviver. Isso era o que eu sentia que um guerreiro deveria ser. Foi a primeira vez que encontrei alguém que senti que poderia falar com um companheiro e guerreiro. De todos os homens que os Koasenshi tiveram que lidar, Tashiro ou eu mesmo, matamos a maioria. Mas não importa quantos matemos, vemos apenas medo ou ressentimento nos rostos daqueles que protegemos, nenhuma vez mostraram gratidão, até você chegar. Passei muitos anos afiando minhas garras, mas agora elas serão inúteis, posso ver isso claramente. Elas serão inúteis com a primeira pessoa que nos viu como somos.

No fim, eu podia entender o porquê esse grupo significava tanto para ele, afinal, durante muito tempo eu também busquei um lugar que fosse realmente meu. Ele girou a espada várias vezes em suas mãos, seus olhos estavam fixos na lâmina. Essa lâmina era mais fina do que a das espadas da maioria dos guerreiros. A espada de Saito tinha visto mais uso do que a da grande maioria deles, e ele a seguiu afiando incessantemente. Eventualmente, a lâmina se tornaria muita fina para usar e ele seria forçado a comprar uma nova. Por mais que eu quisesse saber por quantas pessoas essa lâmina passou, no fim, não importaria.

– O fio bem afiado desta espada é a prova de todas as minhas vitórias. Uma arma sangrenta que nunca havia sido derrotada.

Saito não havia se transformado em agma somente para me proteger no fim, havia muito mais do eu isso. Para ele, perder significava muito mais do que apenas a sua morte. Isso significaria que a habilidade que ele trabalhou tão duro para desenvolver e o respeito que ele lutou tanto para ganhar não significariam nada.

– Os tempos mudaram. Os homens abandonaram as espadas em favor de atirar em seus inimigos com armas ocidentais. Ao colocarem de lado suas espadas, os guerreiros desta era deixarão de lado suas almas. Em breve, o caminho do guerreiro estará perdido – ele franziu os lábios e colocou a lâmina de volta na bainha.

Para Saito, sua espada era a prova de que ele estava vivo e de que sua vida tinha algum significado, mas havia uma nova era no horizonte, onde a habilidade de um homem com uma espada pouco importaria. Logo, lutas de espada passariam apenas a ser um esporte em competições como as olimpíadas. Isso era o que ele temia, mais do que se transformar em um agma, mais do que a própria morte. Eu não poderia dizer que ele estava errado, isso de fato aconteceria e eu sabia muito bem disso. Ele temia que sua vida como um guerreiro estivesse terminando e compreensivelmente, isso parecia estar deixando-o inquieto.

– Talvez você tenha razão – falei mais ou menos no mesmo tom solene que ele havia usado até aquele momento – Talvez chegue um tempo em que os seres humanos não precisem mais de guerreiros. Armas serão fabricadas cada vez com mais frequência e serão cada vez mais fortes, armas impossíveis de serem derrotadas por um homem armado com espada. Na verdade, um dia haverá armas que nem outras armas de fogo serão capazes de derrotar – vi o semblante de Saito ficar ainda mais triste – Mas mesmo que aqui guerreiros e espadas não sejam mais necessários, eu não acho que isso signifique que você não será mais necessário.

– O que você quer dizer?

– Você disse que sua espada é apenas para cortar pessoas, mas eu não acho que seja isso. Acho que está muito além de matar alguém. Ela também serve para ajudar as pessoas. Afinal, você me salvou tantas vezes. Contra o homem sem rosto ou quando encontramos meu pai. Se você não estivesse lá, tenho certeza de que teria morrido. Até chegar aqui eu nunca havia enfrentado a morte com uma espada na mão como você faz e por isso sei que minhas palavras podem não ser suficientes para você, afinal, o que eu sei sobre ser um guerreiro? Fugia dos treinos praticamente todos os dias e se você não estivesse no dia em que eu cheguei aqui, temo que aquele wendigo teria acabado comigo. Entendo tudo o que você disse até agora, sei como é lutar para encontrar seu lugar, não sei se te conforta saber, mas Himura... quero dizer, o lugar de onde venho, é um lugar onde a luta pela espada segue sendo a maior honra de um soldado – eu sorri tristemente – no fim, talvez isso tudo não signifique nada para você, então... Espero pelo menos que saiba o quanto eu aprecio tudo o que você fez por mim. Não posso fazer muito, mas posso agradecer. Então, obrigada. Mesmo se algum dia esse mundo decidir que guerreiros são inúteis, eu nunca acharei isso de você, você é um verdadeiro guerreiro para mim e além do mais, você salvou minha vida.

Saito me olhou com uma expressão que eu não conseguia decifrar. Olhamos um para o outro por vários segundos antes que ele se virasse e voltasse para seus pensamentos. Eu não sabia dizer se havia dito algo errado ou não, afinal, que um guerreiro não seja inútil em um lugar que não é o seu, não deve ser um bom argumento no fim das contas. Enquanto eu repassava essas coisas na minha cabeça, senti as mãos frias e musculosas de Saito em minhas bochechas, ele virou meu rosto para que pudesse ver meu rosto, olhou nos meus olhos, olhos que me hipnotizaram desde o primeiro dia, olhos que para mim eram tão profundos quanto uma noite sem estrelas.

– Alguma coisa errada, Saito? – perguntei gaguejando todas as palavras.

Ele não respondeu, simplesmente ficou lá, olhando nos meus olhos como se estivesse procurando por algo até que por fim falou.

– Não vejo mentiras em seus olhos.

– Quê? – perguntei sem graça.

– Não vejo mentiras em seus olhos. Você falou de coração, com a alma. Quando eu cheguei no pequeno dojo de Tanizake, ouvi muitas vezes que eu era forte, quando eles falavam, tinham os olhos parecidos com os seus agora. Quando vi a honestidade deles, pensei que talvez tivesse finalmente chegado a um lugar onde pudesse encontrar meu verdadeiro caminho.

Sua voz estava calma e monótona como sempre, mas em seus olhos eu vi uma leve faísca de alívio. Sorri para mim mesma.

– Então, talvez você deva confiar mais neles. Eles viram força em você quando ninguém mais viu. Mesmo que você não possa carregar mais espadas, eu não acho que eles vão abandonar você, do mesmo modo que eu não pretendo fazer.

Seus olhos se arregalaram um pouco enquanto seguia olhando para mim por mais um momento antes de sua boca se torcer em um sorriso.

– Sim – ele falou – é simples assim, não é?

– Quê? – senti meu rosto ficando quente com a sua aproximação.

– Obrigado, Ambar. Acho que você me ajudou a vislumbrar algo que eu não pude ver antes. Ainda está escondido, mas está lá.

Gratidão soava estranho para ele, mas não havia dúvida de que era genuína. Suas mãos permaneceram no meu rosto por mais um momento, e então, lentamente ele as puxou de volta e seguiu.

– Poucos homens estão dispostos a colocar suas vidas em risco hoje em dia, mesmo quando lhes é ordenado.

Era verdade, mas dificilmente se poderia colocar toda a culpa nos soldados, afinal, muitas vezes seus líderes os abandonavam no primeiro sinal de problema, eu já havia visto isso muitas vezes em outros universos e sabia que ali não era diferente.

– Mas no último ataque, Natsu se ofereceu para liderar o ataque, sabendo muito bem que isso poderia significar sua morte. Tashiro trocou algo com você para que pudesse lutar uma última vez nas linhas de frente e Yukio se prepara agora mesmo para lutar uma batalha que ele sabe que não pode vencer. Nem Yukio, nem Tanizake possuem sangue de samurais, e ainda assim eles são guerreiros mais verdadeiros do que muitos que receberam esse título formalmente. Talvez sejam os feitos que fazem um guerreiro. Um modo de vida, não uma posição a ser conquistada.

Sua voz não tinha o mesmo tom indiferente que eu havia escutado tantas vezes antes. Havia algo mais enquanto ele falava, como se por apenas um momento sua máscara tivesse caído e o coração sincero e pulsante do homem chamado Saito pudesse ser finalmente visto. Desde que eu o conhecia, eu via Saito como um homem sério e obstinado, o tipo de homem que nunca se perdia ou questionava seu propósito, mas agora, eu estava começando a ver o lado humano dele.

– Está quase amanhecendo, devemos voltar – ele falou deixando a última faísca de seu tom sumir e dar lugar ao seu eu habitual.

– Está bem – falei me virando para voltar.

Os insetos zumbiram nas árvores enquanto caminhávamos de volta para o acampamento. Estávamos quase lá quando Saito parou de repente com o rosto contorcido pela dor.

– Saito – corri para ele enquanto ele se apoiava pesadamente contra uma árvore próxima, seus dedos cavavam com força sua casca. Seus dentes cerraram e sua respiração pareceu estrangulada. Enquanto eu o observava, ele começou a suar. Meu estômago revirou quando percebi o que era e apesar de ser uma pergunta estúpida, a fiz mesmo assim.

– Você quer sangue? – eu já estava desesperada para fazer com que sua dor parasse novamente – Saito, por favor, beba meu sangue.

Ele balançou a cabeça em silêncio, já que a dor era intensa demais para que pudesse falar. Ele acenou para mim com a mão trêmula, como se quisesse comunicar que o episódio doloroso passaria logo, mas a dor era tanta que eu não podia ficar sem agir.

– Por favor – falei com a voz trêmula – Eu vou ficar bem!

Não havia sentido em discutir. Saquei a mesma faquinha e quando ele a viu arregalou os olhos.

– Não faz isso. Me dê isso – sua voz estava entrecortada por toda a dor que ele sentia.

– Não! – falei o início firme, mas logo minha voz foi se afogando – se você não beber, você...

– Eu cortarei – ele falou ainda entre uma dor e outra – Dê... para mim...

Não era isso que eu esperava ouvir, mas confiei nele. Ele pegou a faca e se aproximou. Eu podia ouvir sua respiração e podia jurar que escutava até mesmo seu coração batendo em seu peito. A lâmina pressionou próximo a minha orelha. Ele deve ter querido cortar em algum lugar onde mal fosse visível. Senti uma pontada de dor ao romper a pele, e então, seu rosto se aproximou tanto do meu que pude sentir sua respiração em meu ouvido. Seus lábios pressionaram contra a minha pele. Eu estremeci, Saito parou e se afastou.

– Isso dói? – sua voz era quase um sussurro, mas soou alto no meu ouvido.

– Não – falei sinceramente – Estou bem. Apenas, faz um pouco de... cócegas – disse ao não encontrar palavra melhor para descrever.

Senti seu corpo ficar tenso. Não conseguia ver seu rosto, mas houve um longo momento em que não tive certeza se ele voltaria a beber ou não. Quando senti sua língua tocar meu pescoço novamente, uma onda de alívio percorreu meu corpo. Enquanto ele bebia, sua respiração se acalmou e seu tremor começou a diminuir. Depois de algum tempo, ele lentamente deu um passo para trás.

– Minhas desculpas.

Seu rosto ainda estava pálido, mas pelo menos a cor estava começando a retornar.

– Não se preocupe comigo – falei ainda com a sensação de seu corpo próximo ao meu – Isso vai sarar em um momento.

– Ferir e beber sangue da pessoa que eu deveria proteger... – curiosamente ele deu uma risada curta e sem humor – Parece que inverti alguns valores.

– Não, não é bem assim – falei tentando não parecer mais nervosa do que eu realmente estava – Quero dizer, se você pensar sobre isso, é minha culpa que você esteja assim em primeiro lugar.

– Não. Se eu fosse forte o suficiente para derrotar Saikhan, isso nunca teria acontecido – ele deu as costas para mim e ficou parado por alguns segundos – Devemos voltar, os homens vão se levantar logo.

– Certo – respondi seguindo-o.

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