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33 - SETEMBRO DE 1865 - parte 1

Acordei suando, sentindo uma presença conhecida. Estava mudada, mas era a dele sem dúvidas. Ele sempre havia sido muito inteligente e por mais irracional que fosse, pensei que talvez ele pudesse me ajudar a amenizar a dor de Saito. O sol já estava começando a nascer e para ser sincera eu não sabia de quem era o turno daquela noite e nem me preocupei, apenas sai, com as mesmas roupas na qual dormi.

Saí pelas ruas correndo, procurando a todo custo de onde vinha a presença e parei na frente de uma casa. O quintal estava uma bagunça e parecia que ninguém pisava ali há anos. Não havia dúvidas, a presença vinha dali. Entrei devagar na casa e procurei no primeiro quarto e logo no segundo eu parei na porta. Prendi a respiração e tentei ver melhor.

– Quem está aí? – a voz grossa de homem retumbou pelo ambiente. De jeito nenhum que eu poderia confundir aquela voz.

– Pai, é você? – falei sentindo um aperto no peito, no fim, talvez ele não tivesse enlouquecido.

Ele se virou lentamente e caminhou em minha direção. Eu sabia da transformação, mas naquele momento, tudo o que eu via na minha frente era o meu pai se aproximando.

– Ambar, já faz muito tempo.

– Pai! – corri para ele e o abracei. Sua roupa cheirava a amaciante. Cheiro que eu havia sentido tantas vezes.

– Deixe-me ver seu rosto – ele olhou para mim sorrindo – Você sai de casa por um tempo e, de repente, você se transforma em uma linda mulher.

Meu coração estava acelerado e as lágrimas saltaram dos meus olhos. Ele acariciou meus cabelos suavemente. Parecia que todo o tempo que havíamos passado separado desapareceu, mas a dura realidade precisaria vir à tona.

– Pai – falei abraçando-o novamente – O que você está fazendo aqui?

Sua mão parou e me separou do corpo dele com suavidade e ele sorriu, um sorriso aconchegante e familiar.

– Eu estava com... – ele começou e pareceu mudar de ideia – Não importa. Me fale sobre você, o que tem feito?

– Eu... – senti que apesar da felicidade, algo ia mal – eu estou bem, estou apenas terminando minha prova. Conheci algumas pessoas e eles passaram a cuidar de mim.

– Entendo – ele seguia sorrindo e eu comecei sentir um mal-estar no estômago – Parece que você está me escondendo muita coisa, mas não tem problema, sei que você tem passado por muita coisa desde que chegou aqui.

– Oh... não... não foi tão ruim – menti me afastando um passo, como eu pude ser tão ingênua a ponto de pensar que meu pai seguia ali?

Eu queria perguntar, mas estava assustada. Ficamos ali em um silêncio constrangedor por vários minutos. Seu sorriso seguia intacto. Apesar da semelhança, do mesmo cheiro, o homem que eu chamava de pai já não existia.

– Mesmo não tendo o seu sangue – ele seguiu sorrindo – Eu sempre pensei em você como minha filha. Criei você com dedicação e muito amor.

O calor de sua voz havia desaparecido quase por completo. Senti sua mão ficando tensa ao redor do meu braço. Seu sorriso desapareceu e em seu semblante havia algo distinto.

– Você percebe? – sua voz ressoou, distorcida por uma maldade interna – Você é valiosa para mim, pois você concederá poder ao lorde Saikhan, nos permitindo restaurar a força dos nefilins.

– Pai... – tentei soltar minhas mãos das dele, mas ele segurava com força – Pai, por favor, você não é um nefilim. É uma divindade.

Mas ele não estava me ouvindo. Ele parecia um completo estranho. Meu pai já havia usado um sorriso tão horrível antes?

– Uma grande guerra logo consumirá esse mundo junto com Himura e o caos e a desordem governarão. Após esses humanos tolos morrerem, nós tomaremos de volta o que é nosso por direito! Esse é o seu propósito, Ambar!

Seus olhos, cheios de insanidade, cravaram-se nos meus. Meu coração bateu forte em meus ouvidos. Sua boca se torceu em um sorriso mais largo e ele riu. Um arrepio percorreu minha espinha e dei mais um passo involuntário para longe dele. Ele não era meu pai. Durante a transformação, algo aconteceu com ele e ele não era mais o homem que havia me criado.

– Venha comigo agora! – ele disse com uma voz áspera – Ajude-nos a construir um novo mundo, livre desta praga de insetos.

– Não. Nunca!

Através do meu medo crescente, algo no fundo da minha mente falou "corre". Soltei com força o braço que ele seguia segurando, o empurrei para longe e corri. Corri para a entrada e correria o máximo que eu pudesse. Meu pai havia sido corrompido e não dava mais ouvidos à razão. Eu tinha medo de voltar para os rapazes com o meu pai ainda me perseguindo, mas para onde mais eu iria?

– Aí está você, Ambar – ele já havia chegado até mim – Eu realmente te criei para ser tão desobediente?

Ele me agarrou e me jogou no chão com foça e eu o chutei para tentar escapar. Me levantei rapidamente e sem que eu pudesse sentir, ele já havia chegado a minha frente de novo. Seus olhos faiscavam.

– É hora de corrigir esse descuido. Crianças desobedientes devem ser punidas! Agora venha comigo. Vamos ajudar lorde Saikhan a fazer um novo mundo.

Minha mente girava enquanto ele tentava me atacar; eu me esquivava e tentava correr, mas ele sempre fora muito rápido, e agora era realmente impossível escapar.

– Ter sangue de um nefilim correndo nas veias é incrível, não é? – ele seguia falando sem mesmo perder o folego enquanto me alcançava uma e outra vez – Graças a lorde Saikhan minha força aumentou cem vezes.

Ele tentou me golpear com um soco que por poucos segundos eu desviei.

– O sangue dele só te corrompeu – eu falei já completamente cansada.

– Vamos, Ambar. Lorde Saikhan e seu paraíso estão esperando.

O monstro que uma vez foi meu pai conseguiu me pegar e apertou com força meu pulso, eu quase sentia os ossos apertando junto.

– Não! – gritei tentando desesperadamente me livrar de novo dele.

– Ambar, abaixe – escutei alguém falando por trás de mim.

Era a voz inconfundível de Saito. Sem pensar duas vezes e nem um segundo depois de onde minha cabeça estivera, ouvi o horrível ruído úmido de uma espada atingindo um corpo. Eu vi a expressão de surpresa aparecer no rosto de Viter Anhely, e ele lentamente se virou para enfrentar seu agressor. Olhei para Saito que seguia com os olhos fixos em seu adversário.

– Por que você saiu sem permissão? – ele perguntou friamente.

– Saito! – falei em um misto de alívio e medo – Como você me achou?

Ele não respondeu a minha pergunta, mas me lançou um olhar furioso e se virou para Viter Anhely. A mão dele apertou no punho de sua espada.

– Fique para trás – Saito falou – Eu vou lutar contra ele.

– Mas... – comecei a falar ainda tremendo.

– Apenas fique quieta e fique para trás – sua voz soou firme, alta e estava claro que ele tinha pouca ou nenhuma paciência comigo naquele momento.

Dei vários passos para trás. Ele ficaria bem? Me perguntava olhando horrorizada o homem que eu amava contra um homem que levava a aparência do meu pai. Eles haviam tomado sangue de entidades noturnas e estávamos no meio do dia. Saito não estava com dor? Como Viter conseguia manter um ritmo tão bom a essa hora?

– Este foi um momento poderoso e emocionante – Viter Anhely disse, claramente irritado com a interferência – O reencontro tão esperado entre um pai e sua filha querida. Foi de extrema grosseria nos interromper dessa maneira.

Percebi um vislumbre de surpresa no rosto de Saito, mas qualquer pensamento que ele tivesse foi rapidamente suprimido. Viter suspirou e deslizou a mão pela manga, revelando o brilho metálico ao sacar seu par de facas de lâmina dupla. Estremeci, eu conhecia a implacabilidade com que manejava aquelas armas e sua estratégia de combate. Um sorriso sinistro cortou seu rosto.

– Muito bem – ele falou sorrindo ainda mais – Você terá a chance de testar a minha força.

Em segundos a luta começou e entre um golpe ou outro, outras facas voavam na direção de Saito.

Viter sempre havia sido muito bom, mas Saito também era e os dois haviam se transformado em agmas. Saito desviou as pequenas facas e conseguiu se defender dos ataques de Viter e em pouco tempo já havia descoberto uma abertura e saltou para frente levando sua espada para baixo em direção a Viter. Cortes se abriram no corpo do meu pai e o sangue jorrou. Queria fechar os olhos, me sentia incapaz de assistir, mas não o fiz. Não importava o que ele havia se tornado, o homem que Saito estava lutando ainda tinha o rosto e a voz do pai que me criou. Percebi, com uma sensação de náusea, a ferida recém-aberta de Viter se fechando rapidamente.

– Ufa – ele riu – Essa foi por pouco. Ter sangue de nefilim é realmente muito bom, eu já me curava rápido antes, mas agora eu mal sinto a dor. Se eu fosse um simples inseto já estaria morto.

– Se essa é a extensão de sua suposta força – Saito falou sem um pingo de cansaço na voz e até mesmo eu me surpreendi com isso – Seria sábio você recuar.

Mesmo após anos treinando e agora com o sangue de um nefilim, Viter claramente estava em grande desvantagem. Ele não poderia seguir lutando com Saito e aparentemente, Saito queria deixá-lo ir, mesmo assim, parecia que ele não tinha a intenção de desistir.

– Recuar? – ele riu ferozmente – Eu estava apenas me aquecendo. Um dia todos os seres de todos os mundos se ajoelharão aos meus pés. Por que eu deveria temer um mero humano?

Seu corpo tremeu com uma gargalhada insana e ele soltou outra leva de facas.

– Idiota – Saito falou se desviando com facilidade de todas elas e agarrou apenas uma para lançar novamente direto no peito de Viter.

Um pequeno jato de sangue jorrou, mas Viter seguiu rindo. Ele tirou a faca e com a mesma técnica que Saito havia usado, ele jogou a faca em mim. Senti a ponta da faca perfurar meu ombro, Saito fez uma careta e seu rosto ficou pálido.

Ele mal havia se movido durante a luta, mas de repente sua respiração ficou rápida e pesada, e eu podia ver gotas de suor se formando em sua testa.

– Oh – Viter olhou achando graça – Algo errado? Já está começando a ficar cansado, pelo visto. Mas tenho que admitir que você não parece o tipo que fica exausto tão rapidamente. Ah. Acho que entendo.

Seu sorriso era cruel e ele rapidamente soltou outra faca na minha direção. Me desviei por pouco, mas raspou meu braço me tirando um pouco mais de sangue. Saito pareceu sentir ainda mais dor.

– Sabe por que você deseja o sangue dela? – ele sorriu – Ah, parece que não. Simples, porque você não passa de um escravo. Nefilins precisam de servos para servi-los e para isso eles usam dois métodos simples, um deles é o pacto e logo que a pessoa morre, ele passa a servir o nefilim por toda a eternidade, em troca de algo que ele queira em vida. A segunda é a transformação de agmas, você sempre precisará do sangue dela e ela poderá te cobrar altos preços para isso. Só como dado de curiosidade, o sangue dela ou de sua descendência servirá, mas se a linhagem dela acabar, você morrerá.

Saito gemeu com a dor. Curei minha ferida com rapidez, porém o sangue que manchou minhas roupas ainda lhe causava sofrimento. Ele não tinha recebido um único arranhão durante o combate, mas agora, o rosto de Saito se torcia em agonia.

– Como você se sente agora? – Viter seguiu falando – A sede de sangue deve estar deixando você louco. Estou errado? Me fala, você a odeia agora que sabe que não passará de um fantoche em suas mãos? Como se sente sabendo que para obter o sangue delicioso dela você terá que pagar?

– Não! – eu gritei – Saito, não dê ouvidos a ele!

Saito continuou gemendo de dor. Com sua respiração irregular, ele cambaleou para trás tentando colocar distância entre ele e seu oponente. O cheiro do meu sangue era insuportável e pude ver que tanto seu corpo como sua vontade estavam enfraquecendo lentamente. Sua espada ainda estava firme na mão, mas eu podia ver a ponta começar a vacilar. Estava dolorosamente claro que ele não estava em condições de lutar contra ninguém.

– Qual é o problema? – Viter seguiu provocando-o – Você estava tão cheio de energia um minuto atrás!

Ele sorriu enquanto perfurou Saito com uma faca. As feridas de Saito começaram a cicatrizar quase imediatamente. Ele permaneceu de pé e ergueu um braço trêmulo para apontar sua espada para Viter. Estar ao sol devia ser doloroso o suficiente, e agora a minha própria presença piorava a situação. De onde vinha essa incrível força de vontade? Havia algo lindo e horrível em assistir um homem manter seu corpo quebrado em pé com nada mais do que determinação.

– Isso não foi muito sábio da sua parte – Viter falou e eu comecei a sentir a raiva crescendo – Beber o sangue de uma entidade faz coisas horríveis para um humano. Seus corpos são mais frágeis do que os nossos. Sim, isso lhe concedeu poder, por um tempo, mas vai comer sua mente até que não haja mais nada. Eventualmente, você se tornará uma fera irracional que pensa apenas na violência e no derramamento de sangue. Estou surpreso que você tenha escolhido esse caminho. Não há nada para você agora além da miséria e da morte. Que tolice. Você nunca será humano novamente, e você nunca encontrará paz.

– Isso não é verdade. Saito, não o escute – gritei incapaz de me conter – O que uma divindade sabe sobre isso, afinal? O que você, com todos os seus séculos de vida sabe sobre ter uma determinação grande? Na primeira provação se tornou um verme imprestável incapaz de pensar por conta própria! Que mente patética a sua! Na maneira como está agora, não serviria nem mesmo de alimento para Cérbero. Você é o único que realmente se transformou em monstro aqui. Virou a vergonha para qualquer divindade, pensei que um guerreiro não podia tirar o foco de seu objetivo mesmo diante da morte, foi isso que você me ensinou a vida inteira! Talvez você devesse aprender com os "humanos fracos" que você está desprezando tanto agora. Eu realmente fiquei triste quando te vi, mas agora... Agora só tenho vergonha de um dia ter sido sua filha!

Viter fez uma leve careta ao olhar para mim, mas voltou logo a sua atenção para Saito. Saito olhou para o rosto de Viter, seu rosto estava mortalmente pálido, mas sua voz parecia mais firme.

– Nunca busquei a paz na batalha, só há matar ou morrer. Se eu quisesse uma vida de paz, nunca teria segurado uma espada.

A luta recomeçou, mas dessa vez não houve outras facas, era apenas o par de facas das mãos de Viter contra a katana de Saito. Em pouco tempo Viter caiu e Kiyoshi apareceu agarrando Viter pela gola da camisa.

– Você recebeu ordens estritas para não agir por conta própria, e você está proibido de ver Ambar se quiser receber mais sangue – o rosto de Viter empalideceu – Vamos voltar imediatamente antes que você tenha maiores problemas.

– Mas – Viter falou com um misto de medo e raiva na voz – Se não lidarmos com esse homem agora, ele vai causar problemas para nós mais tarde! Tenho certeza disso!

– Tenho ordens de te levar de volta e não vou dizer isso de novo. É hora de ir – seus olhos se voltaram para Saito e sua voz ficou baixa – De qualquer jeito, este homem logo se destruirá, se vai ser seu lado humano ou seu lado agma que acabará com ele, eu não sei dizer. E Viter, se lorde Saikhan descobrir que você fez alguma coisa desnecessária para a garota, saiba que ele não é tão misericordioso quanto eu.

Viter Anhely olhou para Kiyoshi forçando a mandíbula pela raiva, mas não disse nada. Kiyoshi nos deu um leve aceno com a cabeça e então, os dois desapareceram.

Saito cedeu o corpo para algo perto do alívio, e deslizou sua espada de volta para bainha.

– Saito – me apressei em sua direção – Você está bem?

Ele se virou para mim com a cara mais carrancuda que eu já vi nele.

– Eu vou ficar bem. Agora, explique. Por que você saiu sem permissão?

– Meu pai... – comecei, mas não terminei.

– Se eu não tivesse vindo atrás de você, e se Kai estivesse aqui, então você teria sido capturada. Por que você acha que eu fico acordado durante o dia? O sol não é agradável para mim, você sabe.

Seu tom era tão áspero que recuei instintivamente.

– Me desculpa por colocar você em tantos problemas – falei baixo.

– Eu não estou pedindo que se desculpe. Estou mandando que se explique.

Eu hesitei.

– Senti a presença do meu pai. Não falei nada porque você tem se exigido e sei o quanto está difícil estar próximo a mim.

– Por que você acha isso? Isao falou? Alguém mais falou isso para você?

– Não, não é isso – falei tentando olhar para ele, mas instintivamente levei meu olhar para o chão – Eu só... você parecia não estar bem e não quero te causar mais dor. Quando senti a presença do meu pai, lembrei que ele sempre estudou sobre os nefilins e por isso tive a mais remota esperança de que ele poderia me ajudar a encontrar uma solução para isso. Queria que alguém pudesse te ajudar.

Saito pareceu surpreso, como se a ideia de que alguém estaria preocupado com seu bem-estar nunca sequer tivesse lhe ocorrido e ele respondeu tentando ocultar a surpresa.

– Eu nunca disse que não estava me sentindo bem.

Parecia uma coisa especialmente irônica para ele dizer quando seu rosto tinha tanta cor quanto neve fresca.

– Você até pode falar isso, mas você demonstrou algo completamente diferente quando eu fui ferida.

– Mesmo que eu esteja me sentindo assim, o que isso tem a ver com você?

– É sério isso? – me senti menos envergonhada e mais perplexa  com essa pergunta – Tem tudo a ver comigo! Foi o sangue do meu pai que te transformou. É a sede do meu sangue que você sente e além do mais é minha culpa você ter se transformado em um agma.

Saito não respondeu a isso, em vez disso, ele olhou ao redor da rua, endireitou os ombros e falou:

– Deixei nosso quartel-general sem vigilância. Devíamos voltar.

Eu sabia que já havia causado problemas suficientes para Saito, então eu simplesmente assenti e o segui rua abaixo. Tínhamos caminhado apenas alguns metros quando ele gemeu e se dobrou de dor. Seu rosto ficou tenso e sua mandíbula apertou.

– Saito...

– Não é nada. Eu só preciso de um momento. Vai passar.

Sua respiração foi interrompida por gemidos dolorosos. Eu sabia que certamente era algo. Ele estava começando a suar muito e suas mãos agarraram seu corpo desesperadamente.

– Você... – pensei antes de falar, mas eu já havia começado – você quer meu sangue, não é?

Ele não disse nada, apenas agarrou o peito enquanto seu rosto se contorcia de dor de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Tatsuo disse que as capsulas poderiam amenizar a dor, mas que nem sempre funcionava, então, provavelmente, o meu sangue fresco neutralizaria melhor isso. Não precisava nem pensar, se ele quisesse brigar comigo, que o fizesse depois quando estivesse melhor. Peguei a faca que meu pai havia jogado em mim e que por nenhuma razão em particular eu havia guardado, fechei os olhos com força e passei a ponta próximo ao meu pulso. Sangue vermelho e espesso gotejou do ferimento até a palma da minha mão. Com a mão tremendo, fiz uma espécie de concha para acumular um pouco de sangue e estendi para Saito.

– Por favor, beba – ele olhou para mim, vi a curiosidade e confusão por trás da dor de seus olhos – Está tudo bem. Sou um nefilim, este corte vai sarar em apenas alguns momentos.

– Mas... – sua voz deixou transparecer sua dor.

– Se você não beber, vai sentir muita dor por muito tempo. Vou ficar bem. Só... por favor...

Estendi minha mão para mais perto e então, por fim, com relutância, ele começou a beber. Com cada gota de sangue que ele engolia, eu podia sentir sua respiração começando a se acalmar. Senti sua boca seguir até a ferida e eventualmente, ele parou e seus lábios se afastaram do meu braço.

– Você parece muito melhor – falei com um sorriso fraco e extremamente aliviado.

Ele desviou o olhar, envergonhado, e perguntou em um tom completamente tímido.

– Sua ferida ainda dói?

– Nem um pouco – respondi ainda sorrindo e era verdade – Já está fechada. Acho que ser um nefilim pode ser muito útil.

Tentei ser o mais alegre possível, para animá-lo e fazê-lo se sentir menos culpado, mas não tinha certeza se havia funcionado. Ele olhou para mim por um tempo, quase como se quisesse dizer algo, mas no final ele se virou e quando falou, sua voz era monótona e profissional.

– Vamos embora.

Sem mais cerimônias, ele se levantou e começou a andar. Não parecia que ele estava particularmente confortável em beber meu sangue, mas eu não via outra maneira. Não poderia ser evitado.

Natsu nos encontrou enquanto caminhávamos de volta para a mansão.

– Olá Saito, Ambar. Aonde vocês foram?

Olhei-o por um segundo. Eu não tinha certeza de como deveríamos responder, mas Saito falou antes que eu tivesse a chance de abrir minha boca.

– Ela tinha alguns negócios urgentes que precisavam de atendimento, então saímos por um momento. Parece haver uma agitação lá dentro... aconteceu alguma coisa?

– Tanizake está prestes a iniciar uma reunião, então ele enviou algumas pessoas para reunir todos os capitães – Natsu disse suspirando.

– Entendo. Muito bem.

Quando chegamos ao salão principal, Tanizake e Yukio já estavam lá, cercados pelo resto dos líderes e entre eles, Lucca.

– Lucca?! – falei sem conter a surpresa na voz – O que você está fazendo aqui?

Inicialmente imaginei que ele soubesse o que havia acontecido mais cedo com o nosso pai, mas logo descartei como sendo uma ideia ridícula, ele não me respondeu. Ele estava sério e nada caloroso.

– Já que estamos todos aqui, então acho que podemos começar – Lucca começou – Acho que não é novidade de que tem ocorrido inúmeros assassinatos noturnos pela região.

Prendi a respiração e em poucos segundos entendi aonde ele chegaria e eu não deixaria isso acontecer.

– Antes de seguir – falei em voz alta – por favor, não me sinto muito bem, deixe-me só tomar um pouco de água.

– Você tem 5 minutos – o senhor Tanizake respondeu suspirando.

Sem dizer uma palavra saí sentindo um nó no estômago e quando cheguei na porta corri até a cozinha e de lá corri um pouco mais longe. Teria que ficar o mais longe possível se não Lucca notaria. Enviei uma mensagem para Himura através do meu ruah e voltei.

– Me desculpa por ter interrompido – falei retornando, ninguém havia se movido. Todos tinham seus olhos virados para mim e todos pareciam de certa maneira, tensos.

– Então – Lucca falou baixo parecendo triste – Você finalmente escolheu um lado.

– Você percebeu - falei também em tom triste, mas minha voz era firme. Podia sentir a tensão crescer

Nos encaramos um pouco e ele seguiu.

– Posso ao menos explicar? – ele perguntou com uma voz fraca.

– Vá em frente – respondi, mas não relaxei o corpo.

– O responsável pelas mortes foi considerado prejudicial para a humanidade e por ordem dos conselheiros das divindades, deverá ser eliminado.

Caminhei até onde Isao estava e me coloquei entre ele e meu irmão.

– Lucca – falei olhando-o fixamente – Você não é meu inimigo, nunca foi e independente do lado em que estamos, você nunca será. Mas não posso deixá-lo fazer isso.

– Você sempre foi diferente de nós, Ambar – ele sorriu tristemente – Nunca nem mesmo se identificava como uma de nós, por mais que insistisse em dizer que queria ficar ali. Fugia dos treinamentos e quando não estava na terra média, estava na terra. Você é um verdadeiro ser de Himura. Incontrolável e com um grande dom para quebrar as regras.

– Obrigada pelo elogio – respondi com o corpo tremendo um pouco.

Ele me fitou, parecia buscar a coragem que faltava para terminar o trabalho que havia iniciado.

– Isso mesmo, Ambar. Vamos mostrar o quão forte somos – Isao respondeu se levantando, mas ninguém mais fez menção de se mover.

Sem aguentar a raiva, me virei e com todo o impulso do meu corpo lhe dei um murro que sem dúvidas quebrou seu nariz.

– Cala a boca! – gritei – Você é o único culpado por isso. Não pense que estou te defendendo por gostar de você ou algo assim.

– Maldita! – Isao levantou segurando um nariz ensanguentado e avançou para cima de mim.

Antes que ele chegasse três fendas se abriram. Luh, Selina e Keiko apareceram e seguraram Isao.

– Você também, Luh – Lucca falou com a voz entrecortada.

– Meu dever sempre foi e sempre será servir a princesa – Luh falou sem nenhuma emoção na voz – Se para segui-la eu precise renunciar às divindades, assim o farei – ela se virou para mim – Enviaremos um pedido ao rei.

– Sinto muito, Ambar – Lucca falou puxando sua espada – Mas não posso deixar.

– Hoje eu encontrei nosso pai – falei fixando meus olhos nos dele e ele paralisou – Aprendi muita coisa sobre os nefilins, sabia? Me pergunto se você sabia o que é exatamente essa transformação? Não sei por que, mas tenho certeza de que o rei autorizou ciente de que eu sabia a verdade e obviamente, como você sabe, eu não sabia de nada. Quando fui para Himura, encontrei um ceifeiro que me ajudaria em um pacto e ele ficou surpreso por eu não saber de praticamente nada sobre um nefilim. Ele pacientemente me explicou o como o ser que faz esse pacto comigo ou com algum antecessor meu me serviria, resumindo se tornaria um escravo. Isso me abriu um pouco mais a mente para entender o porquê Keiko não me desafiava, nunca entendi quais eram os males que isso causaria a ela.

Pude ver seu rosto pálido e gotículas de suor em sua testa e eu ri nervosamente enquanto segui.

– Acho até engraçado, porque a ameacei sem nem saber da dor que eu realmente poderia causar nela. Kiyoshi está sob pacto com lorde Saikhan, ele deixou isso claro também e nesse dia também me perguntei o porquê ele não se rebelava se ele achava tão ruim o que seu mestre faz.

– Onde você quer chegar, Ambar? – ele perguntou e eu pude notar sua espada tremendo.

– Verdade – assobiei – Saí um pouco do rumo. A questão é que eu tenho muitos servos, sabia? Herança do meu pai, do meu pai de verdade. Sabe qual a outra maneira de eu conseguir servos? – senti meus olhos faiscando – Eu pensava que essa sede de sangue que eles tinham, poderia ser facilmente contornada depois que eu voltasse e os deixasse. Não entendia o porquê o sangue de Erebus que corre no meu corpo os chamava, apenas sabia que isso acontecia porque aprendi enquanto estava com vocês, mas você sabe o motivo?

– Sim – ele falou tão baixo que mal pude ouvir e então, meu sorriso desapareceu.

– Por que me escondiam essas coisas?

– Você é um nefilim. Apesar de ser protegida do rei, continua sendo um nefilim e as divindades não confiam nos demônios. Queríamos que você optasse apenas pelas divindades.

– Eu tentei inúmeras vezes escolher apenas as divindades, vocês mesmo dificultaram a minha escolha, vocês mesmo me jogaram no fogo cruzado. Vocês nunca me esconderam sobre o que eu era, só me esconderam fatos sobre a minha raça.

– Tínhamos ordens de não ocultar isso de você, mas não tínhamos ordens de te ensinar a ser um monstro.

– Entendo – falei séria – Diga a mamãe que eu a amo, mas infelizmente não voltarei. Lucca, o que eu falei antes é verdade, você nunca será meu inimigo.

– Nem você será um inimigo para mim, Ambar – ele tinha o rosto triste, mas apertou o punho da sua espada.

– Selina, você é a única que eu conheço que consegue fazer barreira de proteção. Qual é o seu alcance?

– 800m é o meu limite para barreiras fortificadas, o ideal seria nos garantir com 750m para que sejam mais fortes.

– Está bem – falei tentando imaginar o quanto de poder eu poderia soltar – Proteja todos que você conseguir, irei me controlar.

– Sim, senhora – ela fez uma reverência e com o corpo flutuando levemente puxou inúmeras barreiras transparentes.

– Luh, acho que temos muito o que acertar depois – estremeci – me perdoa por ser uma discípula tão indisciplinada. Certifique-se que a barreira deles permanecerão intactas.

– Sim, senhora – não havia emoção na voz de Luh e isso me abalou um pouco.

– Vocês – olhei para todos os capitães que mal haviam se movido – Não se intrometam. Isso é apenas uma pequena briga entre irmãos – tentei sorrir.

– Você está louca? – o senhor Tanizake falou se levantando.

– Por favor – falei em tom de súplica – essa foi a escolha mais difícil que fiz na vida. Me deixe acertar isso.

Ele ficou quieto e pude ver seu rosto cair em um semblante derrotado.

– Keiko, leve Isao daqui e por favor, leve isso – ordenei entregando as capsulas com o meu sangue – leve-o para casa e garanta que ele irá tomar. Se ele tentar algo estranho, impeça-o, mas não o mate.

– Sim, senhora. Garantirei que ele não sairá da linha, não precisa se preocupar.

– Tudo bem, estou contando com você.

Olhei para Isao um tempo e notei que ele tinha a testa molhada de suor. Medo, talvez?

– Não posso deixar – Lucca falou enquanto atacava em um golpe direto, golpe que foi rapidamente defendido pela espada de Luh. Se não fosse pela situação, tenho certeza de que todos se impressionariam com a frieza e perfeição de sua técnica.

O choque entre as duas espadas produziu um som ensurdecedor e percebi um suave tremor no prédio.

– Luh, acabei de perder minha irmã e junto com ela estou perdendo a mulher que amo – os olhos do meu irmão encheram d'água, mas Luh não alterou seu semblante e notei que com a minha decisão, algo dentro dela havia rompido.

– Lucca – falei sentindo um nó se formando na minha garganta – Não te deixarei encostar no que é meu.

Rapidamente Keiko arrastou Isao por uma fenda enquanto ele gritava que não iria.

– Ambar – a voz de Lucca saiu tremida e eu podia notar a força que ele estava fazendo para não chorar – por sua interferência em uma ordem direta dos conselheiros e por proteger um assassino, você a partir de hoje é uma traidora e será considerada inimiga pública das divindades.

Lucca finalmente me olhou, permitindo que as lágrimas caíssem, e percebi que eu também chorava. Me arrastei para fora da casa, sabendo, sem olhar, que todos haviam saído juntos.

– Te amo, Lucca.

– Te amo, Ambar – ele disse com um sorriso, fechando os olhos lentamente e, ao reabri-los, atacou.

– Nyx, preciso do seu poder.

Percebi a mudança na cor dos olhos e dos cabelos, que agora ondulavam em um tom de azul escuro. Nyx, assim como eu, não sorria; ela chorava. O vento se alastrou pelo local, fazendo nossos cabelos voarem em todas as direções. Nyx retirou lentamente a espada da bainha, segurou firme o cabo e permitiu que as chamas a cobrissem antes de avançar contra meu irmão. Com cada golpe e bloqueio, lembranças da nossa infância se fazia presente. Nyx criava fendas no ar, assim como Lucca. Ambos usavam suas habilidades e continuavam o combate incessantemente. Ouvi portas e janelas quebrando sob a pressão do combate, até que Nyx encontrou uma brecha, envolveu a espada em chamas novamente e atingiu meu irmão do ombro ao quadril; ele caiu, e no instante seguinte, Nyx desapareceu.

– Ambar, tenho um recado para você – meu irmão falou com dificuldade tentando estancar o sangramento da melhor maneira possível.

O ar voltou a se normalizar, ajoelhei ao lado de Lucca e peguei a sua mão, mas ninguém ousou sair do lugar.

Levei sua mão quente até meu rosto e deixei que com a outra ele tirasse um pedaço de papel agora manchado de sangue e me entregasse. Logo após isso, ele fechou os olhos.

Deixei as lágrimas rolarem pelo meu rosto e abri uma fenda.

– Sobreviva – falei com a voz rouca – Sei que você pode fazer isso.

Envolvi o corpo do meu irmão em uma pequena quantidade de ar e o enviei de uma maneira delicada até o lugar que um dia havia sido minha casa. Antes que seu corpo desaparecesse por completo ele abriu os olhos e sorriu antes de sussurrar: "Te amo, Ambar".

Eu sabia que se meu irmão quisesse ganhar, ele o teria feito. Nyx não queria lutar e não se esforçou para isso e meu irmão era superior a mim na técnica da esgrima, eu só havia ganhado, porque foi isso que Lucca quis.

Fiquei ali, caída naquele mesmo lugar e senti pouco a pouco meu corpo ir caindo com o peso da escolha que eu finalmente, havia feito. Eu era a rainha dos nefilins.

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