31 - JULHO 1865 - PARTE 3
Não sei quanto tempo fiquei desacordada, parecia haver passado horas.
– Saito, Ambar. Ainda bem que estão vivos! – Yukio falou de um lugar que eu não conseguia identificar.
– Peço desculpas por preocupá-lo, comandante – Saito respondeu se curvando educadamente, mas sua conversa acabou por aí e ele acabou se afastando.
Por vários longos minutos, pude ver Saito olhando para as árvores quebradas, sem dizer nada. Embora eu pudesse sentir um tumulto de emoção por trás daquele rosto plácido, ele não demonstrou o que poderia ser.
Me levantei, olhei para as roupas que eu estava vestindo, que claramente não eram minhas. Pela quantidade de sangue seco da roupa, imaginei que fosse de algum soldado morto.
Saito tinha me trocado?
– Precisamos sair da montanha pela manhã, ou vamos dar de cara com mais problemas – a voz e maneiras de Saito eram as de sempre, nada sugeria que ele tinha acabado de passar por uma provação tão grande.
Senti meu coração subir à garganta e me afastei antes que a visão dele me fizesse chorar. Isao e Tatsuo já haviam desistido de sua humanidade e agora Saito havia se juntado a eles, sem contar o pacto de Tashiro. Meu coração parecia um chumbo.
– Droga – murmurei para mim mesma – Se eu tivesse morrido logo, isso tudo não teria acontecido.
– Não me lembro de te dar permissão para fazer isso – me sobressaltei com a voz de Yukio atrás de mim – E eu não ligo muito para pessoas que não podem seguir ordens.
– Oi, Yukio – sorri tristemente para ele.
Eu senti as lágrimas brotarem dos meus olhos novamente. Queria que tudo aquilo não passasse de um sonho ou de uma alucinação. Yukio ficou ali parado na minha frente, me estudando por um tempo antes de falar.
– Droga. Tive a sensação de que vocês estavam em apuros, mas... – ele parou quando a sua voz estava prestes a falhar, e simplesmente olhou para o corpo de Takashi com seu rosto contorcido pela tristeza.
A mandíbula de Yukio se contraiu e sua respiração tremeu como se ele fosse chorar. Eu sabia que o que estava prestes a dizer o machucaria, mas ele tinha que ouvir.
– Takashi me pediu para te dizer uma coisa. Ele disse que – havia um nó na minha garganta e meus olhos ardiam, mas eu tinha que continuar – disse que queria se desculpar por sua incompetência. E ele esperava que você o perdoasse por não ter ficado com você até o fim. Ele disse que não tinha palavras para te agradecer por dar a um homem como ele a chance de fazer parte de algo, e que – respirei fundo uma vez mais – que ele nunca se esqueceria do que você fez por ele.
Enquanto sufocava as palavras finais, comecei a soluçar. Yukio não disse nada e lentamente, como se estivesse rezando, ele abaixou a cabeça. Quando ele a ergueu novamente, seus olhos estavam mudados, eles brilhavam de uma maneira raivosa. Com um propósito firme e deliberado, ele agarrou um frasco que estava com ele e eu não tive coragem de falar nada. Ele sussurrou.
– Pegamos os frascos quando os ataques começaram – apesar de haver me explicado, eu sabia que ele não estava pedindo desculpas. Ele virou o frasco e terminou – Eu irei vingá-lo.
Ele seguiu com os olhos até o corpo inerte de Tanaka e murmurou para si mesmo "Tanaka... por que...?"
– Ei, Yukio, Tanaka, Takashi! – a voz de Natsu ecoou pela floresta a alguma distância e senti o peito apertar novamente enquanto o via chegar correndo – Onde vocês estão? Ei, aí está você, Yukio. O que diabos está acontecendo?
– Há homens mortos por todo o lugar, além de ter um que parece que teve seu corpo carbonizado e sua cabeça arrancada – Satoru falou chegando logo atrás e eu senti meu estômago revirar – Você encontrou mais agmas?
– Venham auxiliar o Tanaka – Yukio falou firme tentando esconder as próprias emoções e a dor que possivelmente estava sentindo – Ele ainda está respirando.
– O que? – Natsu olhou com horror e pesar para o corpo inerte de Tanaka e elevou um pouco a voz pela preocupação – O que aconteceu aqui?! Vamos, Tanaka, aguente firme! Alguém tem um pano limpo? E bebida! Qualquer coisa alcoólica serve.
– Aqui – Satoru disse com pressa entregando uma bebida e um pano que eu não sei de onde tirou.
– Obrigado, Satoru – ele falou sem tirar os olhos de Tanaka.
Olhei-o sabendo que não havia saída para ele, mas me ofereci para ajudar, pelo menos poderia aliviar o sofrimento dele. E com isso passei a trabalhar ao lado de Natsu e Satoru, fazendo tudo o que eles me pediam.
– Saito – Yukio o chamou em voz baixa, mas Saito nem parecia ouvi-lo – O que exatamente aconteceu aqui?
– Nunca pensei que veria alguém sacrificar sua própria vida para que eu pudesse sobreviver – Saito resmungou para si mesmo.
– Sacrificar? – Yukio falou abrindo um pouco mais seus olhos com isso.
– O corpo de Takashi está ali – Saito seguiu – Você pode me dar uma mão para enterrá-lo?
– Sim – a voz de Yukio parecia querer consolar o amigo – Faz muito calor nessa época do ano. Não podemos deixá-lo no sol, afinal, ele sempre detestou os dias muito quentes.
Eu sabia que Yukio queria desabar e chorar tanto quanto Saito, mas vendo que seu amigo precisava dele, ele se esforçou para sorrir e brincar, isso foi demais para mim. Senti o soluço chegando na minha garganta, mas não suportaria chorar na frente daqueles que haviam se sacrificado por mim e assim que fiz o que pude por Tanaka, voltei para perto de uma das árvores, enterrei meu rosto nas mãos e deixei as lágrimas fluírem silenciosamente.
Takashi havia dado a sua vida para me salvar. Saito se transformou para lutar contra o nefilim que estava me perseguindo e teria morrido se não o fizesse. Tanaka havia levado um golpe que com o tempo acabaria com a sua vida para tentar proteger Saito. O que eu poderia fazer por eles? Como eu poderia expiar tantos pecados que se acumulavam em cima de mim? Pensei muito nisso, mas nenhuma resposta veio.
Durante a noite eu soube que Isao e Tatsuo caçaram e mataram diversos agmas e aparentemente foram mais bem sucedidos do que eles mesmos esperavam, mesmo assim, nossa perda foi devastadora e nossos aliados desmoronaram rapidamente. O corpo de Tashiro foi levado por Tatsuo e enterrado junto com Takashi.
Algum tempo depois, chegamos a um castelo, um local já abandonado, que servia como ponto de reencontro para os Koasenshi. Havia alguns sobreviventes das divindades, mas muito menos do que eu esperava e alguns outros soldados rasos também. Enquanto estávamos escondidos ali, provavelmente não encontraríamos inimigos e eu era grata por isso.
– Yukio – Natsu falou se virando para o comandante – Vamos levar Tanaka para o Dr. Rael Matter, ok?
– Certo – Yukio parecia cansado – Vá em frente.
Tanaka gemeu de dor durante todo o caminho. Mesmo sabendo do inevitável, eu seguia esperando que ele ficasse bem.
Eu também estava preocupada com Yukio, que havia tomado o sangue de Erebus e não havia reclamado por nenhum momento, mas eu imaginava que o sol provavelmente estava sendo doloroso para ele e para Saito.
– Yukio, como você está se sentindo?
– O quê? – ele falou tentando sorrir – Surpresa ao ver que algum agma esteja bem durante o dia?
– Sendo você, não estou surpresa. Mas estava me perguntando se alguma coisa havia mudado.
Eu não havia tentado impedi-lo e de alguma maneira sabia que tentar não resolveria, mas ainda assim, me sentia responsável.
– Não, nada – ele respondeu dando de ombros – Ainda assim, suponho que provavelmente será muito doloroso para mim tomar um pouco de sol futuramente. É melhor aproveitar enquanto posso. Não sei o que se passa nessa sua cabeça, mas apenas uma pessoa tomou a decisão de beber aquilo: eu. Tinha a sensação de que isso iria acontecer eventualmente. Não se culpe.
Não era fácil não me culpar. Eu não poderia simplesmente acreditar em sua palavra e me livrar de toda a culpa que eu sentia, ele olhou para as paredes do castelo e continuou.
– Eu irei me vingar – ele parecia determinado a vencer.
Preferi guardar qualquer palavra para mim mesma, para não estragar aquilo e pude até sorrir. Ele não tinha perdido as esperanças, mas então, de repente, algo estalou dentro dele e seu rosto voltou a ficar sombrio e ele gritou incapaz de conter sua frustração, ele chutou a árvore mais próxima uma e outra vez. Por fim, ele parou, e ligeiramente sem fôlego, tentou recuperar sua calma anterior, ele inspirou e expirou lentamente e pouco a pouco eu vi o fogo da determinação em seus olhos retornarem.
Me virei para onde Saito estava, ele não havia se movido. Seguia em silêncio. Saito e eu não havíamos trocado uma única palavra e a situação estava realmente me incomodando.
– Saito – o chamei baixo ao ver o sol alto no céu – Como você está se sentindo?
– O que você quer dizer? – sua voz havia voltado a ser fria como sempre.
Percebi de repente que não podia falar abertamente sobre sua transformação com tantas pessoas ao redor dele e por conta disso, murmurei. Ele adivinhou onde eu queria chegar e olhou para mim por um ou dois segundos antes de responder.
– Até o momento, me sinto bem.
– Sério? – falei me sentindo aliviada momentaneamente, até me dar conta de que ele poderia simplesmente estar me escondendo isso – Não é difícil estar acordado durante o dia?
– Minha condição não é da sua conta – ele respondeu afiado – Fui eu que optei pela transformação, não você.
Senti um nó no estômago, sua resposta havia sido muito parecida a de Yukio, mas de algum modo, vindo dele, me doía ainda mais. Não tinha muito que eu pudesse dizer em resposta a isso. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde, ele sofreria sintomas dolorosos pela escolha que havia feito. Ainda assim, mesmo que sofresse, eu não tinha dúvidas de que ele permaneceria tão estoico como sempre, e insistiria de que estava bem. Mesmo o mero pensamento disso me fez sentir como se meu coração fosse parar.
– Ei, Saito – a voz de Natsu chegou até nós enquanto ele e Satoru saiam novamente – Fala aí Saito, como você sobreviveu?
– Natsu – Satoru falou rindo – Isso não é lá algo muito educado de se perguntar.
– Olá Natsu, oi Satoru – falei mordendo o lábio por conta da pergunta a Saito – Como vocês estão? Desculpa não ter perguntado antes.
– Estamos bem – Natsu falou cruzando o braço e sorrindo – Você realmente acha que esse bando de idiotas é o suficiente para derrubar Natsu Sakai? E olha isso. Apesar de tudo Saito está sem nenhum arranhão. Exatamente o que você esperaria de um mestre espadachim, hein?
Natsu estava tentando agir normalmente, como se nenhuma fatalidade tivesse ocorrido. Vi a boca de Saito se apertando, mas ele não disse nada. Não havia como Natsu saber o verdadeiro motivo da aparente boa saúde de Saito.
Para alguém como Saito, alguém com fé absoluta em sua espada e sua habilidade, seria difícil admitir fraqueza e assumir que havia se transformado em um agma. Eu só podia imaginar o quão torturante devia estar sendo para ele.
– Saito, Ambar. Vocês estão bem? – a voz irreconhecível de Tanizake chegou ao meu ouvido.
Quando ele havia chegado? Como ele havia recebido todas as notícias? Sem pensar duas vezes corri em sua direção e o abracei como uma filha assustada abraça seu pai.
– Eu sinto muito, eu sinto muito – repeti inúmeras vezes sem ter coragem de olhá-lo.
– Oras – ele acariciou a minha cabeça – Não vamos nos preocupar com isso agora, está bem? Eu estive procurando por você em todo o castelo. É bom ver que você voltou bem.
– Vamos lá, senhor Tanizake – Satoru sorriu levemente – Ela estava com Saito. Você realmente achou que ela não voltaria?
– Certo – ele falou com um meio sorriso – Ainda assim, estou feliz em vê-los.
Ele rapidamente enxugou as lágrimas de seus olhos com o punho e sorriu para nós me afastando um pouco de seus braços para me ver e seguiu.
– Soube o que se passou com Tashiro – eu me encolhi um pouco ao ouvir isso, mas ele pareceu não notar – Também soube o que aconteceu com Takashi e Tanaka – a expressão de todos ficou um pouco mais sombria – Rael Matter está cuidando de Tanaka no momento, mas, ele está com febre alta e está preso na cama por enquanto. Para ser honesto, não sabemos se ele vai sobreviver.
Senti meu estômago apertar de pavor enquanto torcia para que Tanaka sobrevivesse a essa provação. Queria que o senhor Tanizake risse disso, que sorrisse e me tranquilizasse dizendo que ele ficaria bem, mas ele não falou nada. Minha garganta se apertou e eu pude sentir novamente as lágrimas subindo aos meus olhos. Lembrei de Takashi falando que um samurai nunca voltaria atrás com sua palavra e que eles jamais fariam nada para deixar uma garota triste.
– Takashi – sussurrei para mim mesma – Eu pensei que um samurai nunca faria nada que deixasse uma garota triste. Então, por que... por que você morreu?
Engoli a força o choro e senti minha garganta doendo. Foi horrível suficiente pensar na dor que ele sofreu enquanto era morto para me salvar, mas era ainda pior saber que no fim ele não teve a vingança por seus homens. Será que ele teve medo quando percebeu que sua vida estava terminando? Enxuguei uma lágrima que havia insistido em sair e segui Natsu e os outros enquanto Natsu falava seriamente e baixo:
– Precisamos voltar, todos os sobreviventes já devem estar reunidos.
– São todos os sobreviventes, então? – Yukio falou olhando ao redor da sala quase vazia.
– Sim – Satoru respondeu e apesar do sorriso, suas palavras foram duras – Eu acho que você poderia dizer que... Certo, preparem-se para uma reunião tática sem esperança.
– Ah, eu me lembro como era o otimismo – Natsu deu de ombros – é melhor você se agarrar a esse sentimento Ambar, não vai durar muito mais tempo.
– Cala a boca, Natsu – Yukio o repreendeu – Mas, não adianta mentir, estamos em uma posição ruim dessa vez. Perdemos muitos homens nessa batalha e a maioria dos nossos aliados se recusam a nos enviar reforços por não saberem quem são nossos inimigos. Até mesmo as famílias que nos apoiavam estão tirando os apoios atualmente.
– Não é como se pudéssemos culpá-los – Satoru disse de uma maneira moderada, mas claramente estava irritado – Quem mandaria seus homens para morrer sem saber contra quem estão lutando?
– Nós realmente perdemos tantos homens? – Saito perguntou, mas acho que ele já sabia a resposta.
– Os agmas são realmente difíceis de lidar. São como armas frias e cruéis – Yukio cruzou os braços pensativo – Eles possuem uma rapidez superior a qualquer uma que vimos antes e disparam com tanta fúria que é difícil acompanhá-los. Eles cortaram nossos homens como grama. Acho que espadas não serão suficientes nessa guerra.
Saito olhou para baixo e não disse nada. Ele havia construído sua vida em torno da espada e agora, isso não significava nada.
– Fica pior – Isao disse em um canto da sala – Nossos inimigos possuem uma espada especial.
– Espada especial? – falei de repente ficando alerta – Como?
– Sim, acho que são espadas como a sua, Ambar – Tatsuo disse frustrado e só então eu vi que ele estava com bandagens nas mãos.
– Nós podemos curar quase qualquer ferimento, mas através dessas espadas, parece que nosso corpo nega essa cura – Isao seguiu – Nossa vantagem vem da nossa capacidade de nos recuperarmos rapidamente, tanto quanto de nossa força sobre-humana. Sem nossa cura rápida, somos um pouco diferentes de um ser humano normal. Não conseguimos antecipar essas armas – ele falou olhando para baixo – Não temos certeza do que fazer a seguir.
Após isso Saito finalmente falou.
– Comandante. Há algo que eu preciso lhe contar.
– O quê? – ele falou olhando para o amigo.
Saito olhou diretamente nos olhos do comandante e falou em uma voz calma e uniforme.
– Eu tomei o sangue de Erebus. Agora sou um deles.
– O quê? – Yukio pareceu surpreso. Ele também havia tomado e todos já sabiam, mas aparentemente ele não esperava que mais algum de seus homens houvesse feito o mesmo.
Todos os rostos na sala se voltaram para Saito, chocados.
– Por que diabos você fez isso? – Natsu perguntou com a voz meio brava e meio preocupada.
– Não tive escolha, mas não me arrependo da minha decisão.
Yukio ficou em silêncio por um bom tempo antes de falar baixo.
– Então, você também, hein – seu semblante havia caído.
– Você tomou uma excelente decisão, Saito – Isao disse sorrindo e algo nesse sorriso fez minha pele arrepiar – Bem-vindo ao redil.
Tatsuo por outro lado, desviou o olhar e pareceu extremamente triste.
– Isso tudo está tornando nosso futuro emocionante, não é? – Natsu disse falando mais para ele mesmo que para todos
Tashiro e Takashi haviam morrido. Tanaka estava ferido. Embora fossem os que eu mais conhecesse, não tinha dúvidas de que muitos outros homens haviam morrido ou estavam tão feridos quanto Tanaka.
– Ainda assim – Yukio seguiu – Seguiremos lutando com honra.
– Sim, você está certo – Saito falou acenando com a cabeça com seu rosto plácido como sempre, mas em seus olhos eu podia ver a derrota e o desespero.
Incapaz de lidar com o clima e com o sorriso distorcido de Isao pedi para me retirar da sala. Após um tempo com Yukio me encarando com os olhos apertados, ele acenou e me liberou.
Fui até onde as divindades estavam, eles estavam sentados em fileiras, talvez esperando novas ordens. Olhei um por um e falei entredentes.
– Podem descansar, ficaremos aqui por um tempo – vi seus corpos relaxando e segui caminho.
Atrás do castelo abandonado, havia pedaços de pedra que algum dia formaram uma parede, fiquei ali olhando para aquilo, passei as mãos no cabelo, lembrando de Kai e de tudo o que ele tinha me feito passar e então, novamente, cenas do incêndio, do homem sem rosto. A morte do meu irmão, que até onde eu sabia não tinha nada a ver com Kai, mas naquele momento me pesava da mesma maneira. Minhas perdas recentes e por último, Saito ensanguentado. Sem conseguir conter a raiva eu comecei a esmurrar as pedras, uma, duas, três vezes. Gritava e esmurrava sem parar. Mesmo com a mão ensanguentada, eu seguia fazendo isso uma e outra vez.
Senti uma mão firme segurando meu pulso para que eu não batesse de novo.
– Sabe – Natsu falou sério e seu aperto ficou um pouco mais forte – Você acabou liberando essa coisa que você chama de ruah e isso está prejudicando algumas pessoas.
– Me solta, Natsu – falei ainda com raiva e quando eu tentei me soltar Satoru me segurou pelo outro lado.
– Você não precisa passar por essas coisas sozinha – ele olhou minha mão ferida e ensanguentada, mas não a soltou – Pare de se culpar. Não é sua culpa e ninguém aqui pensa assim.
Eu tremia. Eles ficaram me segurando até que meu corpo voltou a relaxar.
Nessa noite, apesar do desespero, eu dormi.
Poucos dias depois, a ferida de Tanaka piorou e ele faleceu. Sua morte foi realmente muito dolorosa, mas parecia que para Saito e Yukio estava sendo pior. Ele foi enterrado em uma cerimônia curta, assim como haviam feito com Takashi e Tashiro. Tanizake falou algumas palavras em memória de Tanaka e de seus serviços e as lágrimas rolaram por seu rosto enquanto ele falava. Mikah estava morto, a senhora Tanizake estava morta, Takashi estava morto, Tashiro estava morto e agora Tanaka também. Nossos amigos estavam morrendo um por um. Saito, Isao, Tatsuo e Yukio ainda tinham suas vidas, mas haviam sido forçados a sacrificarem sua humanidade para isso e meu próprio pai havia dado o sangue que os transformou em monstros. Já havia tristeza suficiente, mas o frio no meu estômago dizia que ainda era apenas o começo. Seguir depois destas perdas, seria doloroso.
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