CAPÍTULO 35 - UM PASSEIO PARA RECORDAR (especial parte 3)
Érik
Droga, eu ainda não fui procurá-lo na praia. Eu deveria, mas eu queria fazer algo que o deixasse espantado. Sempre era Alex que ajustava algo para nós, ele sempre está no controle, mas dessa vez eu quero fazer algo especial, que eu possa fazer, que ele não se sinta o dono do mundo... Mas claro, eu não estou apenas pensando nisso... eu quero... curtir com ele...
Eu saí do balcão do hotel, com duas passagens de ônibus Salvador Tour, nós iríamos passar a tarde na parte superior do ônibus, recebendo informações dos lugares, da história de Salvador, e muito mais. Eu espero que ele goste, mas sinto que ele vai pôr defeitos e isso me deixa ansioso.
Bem, eu vou no quarto guardar esses tickets, esperar por ele, é mais fácil que procurá-lo na praia. Só espero que ele não demore.
Para minha surpresa, eu entrei no corredor e o vi entrar no quarto.
É, ele não vai demorar.
Corri pelo corredor, me esparrando nas copeiras e pedindo desculpas. Há uma possibilidade de ser olhado por ele e aquela cara que ele faz quando despreza algo que você fez... mas há uma possibilidade dele simplesmente fingir que não ouviu... Essa segunda opção que eu queria.
O horário do passeio eram às 13:50, nós poderíamos levar lanches para comer, ou ir de barriga vazia, pois o ônibus, que viaja pela cidade até às 16:00, para em locais para turistas tirarem fotos ou experimentarem comidas. Eu pensei até nisso.
Ainda não é meio dia, conseguiremos nos aprontar e ir até o ponto de partida do Salvador Tour.
- Alex! - entrei no quarto ofegante de minha pequena corrida.
- Ah, aí está o fedelho frustrador de planos - ele disse sarcástico.
Fechei a porta enquanto ele estava tirando as roupas. Seu corpo estava vermelho, ele havia estado na praia... Quando a vermelhidão passar, ele vai ter um bronzeado de dar inveja...
Mas que homem... Nem musculoso é, e eu o desejo vestido de qualquer jeito, ou nu...
- Erh... - estava nervoso - Eu tenho uma surpresa pra nós.
-Hã!? - disse ele incrédulo - O quê?
- Eu vou falar de uma vez - falei chamando sua atenção - Eu estava pensando em irmos para o Mercado Modelo, pois lá perto, tem um ônibus sem teto, para a gente conhecer lugares e sabores de Salvador, é nossa primeira vez aqui, assim acho que deveríamos ir, eu comprei os tickets com meu dinheiro e...
- Fedelho - disse ele se aproximando apenas de calcinha - Você tomou a frente de algo... interessante.
Ele estava mais venenoso. Suas mãos apertavam meu queixo, e eu não sabia se receberia um beijo ou um tapa... Por favor céus, eu quero muito que Alex aceite... Ainda não consegui falar com ele sobre aqueles caras, eu preciso de mais tempo, e quero que Alex aceite.
- Você fica tão sexy quando está com medo - ele disse beijando meus lábios.
- Você...
- Você falou sabores, não foi? Então quer dizer que podemos pular o almoço e comer durante a tarde? Caso sim, eu preciso apenas de uma barra de cereais - ele disse se afastando, indo ao banheiro - É melhor você vir, não cheira bem. Aqui é muito quente, e você vai suar muito. Nós resolvemos deixar seus pêlos, então vai ser uma bagunça suada e nojenta.
Ele disse chamando para o banho.
Alex não gritou...
Alex não brigou...
Alex só me humilhou pouco...
Alex aceitou o convite e o programa que eu fiz...
- Isso! - comemorei
- Você está comemorando a bagunça suada?! - perguntou ele confuso.
- Não... - disse rindo para disfarçar - Vamos tomar banho sim!
- Se você acha que eu vou tirar sua castidade... a gaiolinha rosinha, você se enganou. Não venha tão feliz para o banho - advertiu ele - seu fedelho.
- Não é isso, é que vamos passear... - o respondi entrando no chuveiro.
Alex puxou minha cabeça e nos beijamos. Um longo, prazeroso e demorado beijo.
- Eu deveria te prender em uma caixa o dia inteiro, por dormir até tarde e por não ir para a praia comigo - ele disse.
- Desculpa.
- Ontem você me desapontou, hoje você só me frustrou. Eu estou tentando seguir seu fluxo, mas está difícil - ele disse - Agora mesmo eu quero fazer você sofrer, mas não posso me estressar por essa coisa boba...
- Desculpa - disse gemendo enquanto ele mordia meu pescoço.
- Eu realmente estou tentando ser diferente, mas não vou conseguir...
- Não precisa ser diferente... só precisa me dar um pouco de crédito - falei gemendo.
- É o que estou tentando. Está sendo difícil. Já meditei várias vezes hoje, para não cometer homicídio.
- Estamos em Salvador, Alex, você vai relaxar... Prometo que paro de frustrar seus planos - disse retribuindo beijos.
- Às vezes você parece o mais velho - riu ele.
Não entendi o que ele quis dizer, mas apenas segui o momento para não estressá-lo.
-Alex... eu...
- Não, de noite faremos coisas especiais, alguma hora, mas não vou te permitir ter orgasmo agora - ele respondeu como se lesse minha mente - Você goza quando eu quero, e no momento, está de castigo.
Pus uma cara de contrariado, mas engoli minha revolta... Estávamos tentando ficar em paz...
Bem, ao menos eu não estou gaguejando ou me culpando por... Eu não quero pensar naquilo. Depois do que aqueles três fizeram, eu não os vi. E não me lembro, mas parece que Alex fez algo... Meu cérebro não quis lembrar, mas ele me disse algo à respeito.
- Pare de sonhar garoto, vamos! - disse ele já saindo do banheiro enxuto.
- Mas pra quê tanta pressa - eu retruquei saindo do chuveiro e pingando água para todos os lados.
- Eu quero andar nesse Mercado Modelo antes de subir no ônibus... - explicou ele enquanto enxugava seu cabelo - Me disseram que o lugar vende várias coisas, inclusive lembrancinhas da Bahia... Quero uma para lembrar.
- Mas a gente poderia fazer alguma coisa aqui ainda - falei abraçando ele por trás, o molhando bastante.
- Eu vou te matar, seu fedelho maldito! - ele disse contrariado.
Eu gargalhei. Era aquele Alex que eu conhecia.
- Me solta se não te jogo aqui nessa merda de chão - ele falou sendo ríspido, mas sem gritar - Fedelho maldito! O que você acha que está fazendo?!
- Irritando você! - falei em seu ouvido - Tira, vai - disse excitado, porém apertado demais, por conta da gaiola.
- Eu sei o que vou tirar de você - ele disse enfiando sua mão em meus testículos.
- Não, aí não - eu estava desesperado...
Do jeito que Alex é, ele era capaz de machucar meus testículos... Suas unhas ainda estavam crescidas, e ele segurava cravando suas unhas em mim... Seria um estrago... Merda! Eu só queria... Só um pouquinho...
- Eu estou levemente irritado - ele falou me apertando mais, e com uma sobrancelha mexendo sozinha.
- Você parece... ouch... muito... irritado - disse de volta - Por favor, era só brincadeira.
- Eu não sei não - disse ele me apertando a cada frase - Olha, está tudo molhado, fedido a fedelho sujo... o quarto, a cama, eu...
- Por favor Alex, foi só brincadeira - falei mais sério, sentindo suas unhas entrarem e suas mãos quase me estourarem.
- Tsk...
Alex soltou, o que aliviou minha alma.
- Você já está todo peludinho, talvez fosse a hora de arrancar seus pelos - disse ele voltando a se enxugar.
Nós ficamos em silêncio. Alex colocou um vestido amarelo e pôs uma peruca. Ele usava um salto baixo e branco. Colocou também uma maquiagem minimalista: Estava pronto, iria sair de mulher.
- Eu fiquei sabendo que esse lugar é muito homofóbico... - disse preocupado.
- Se você falar mais uma palavra, eu faço você descer montado e com esse bigodinho ralo junto - ele disse com ódio nos olhos.
Eu engoli à seco e comecei a procurar minha roupa.
- Ponha aquela lingerie roxa, trouxe pra você - ele disse.
- O quê?!
- Tsk, moleque você me irrita com tanta facilidade... - ele retrucou - ok, só use a calcinha e o lacinho dela, tá bom assim? Mas na volta você vai por essa merda pra dormir, entendeu? - ele gritou.
Não respondi, só coloquei. Eu não queria mais contrariá-lo, depois da ameaça iminente de arrancar meus testículos, eu não sabia o que poderia vir.
Não deveria confrontá-lo, não aqui, em nossa lua de mel...
Nós entramos em um Uber, que ficou sem entender o que era Alex. Eu ria por dentro, ao menos essas cenas eram perfeitas de se ver... Principalmente porque eu não estou mais nessa condição de confusão.
Ao Mercado Modelo, entramos. Era quente, mas arejado. Tinha restaurantes, bancadas vendendo produtos, iguarias, temperos, lembranças, fitas, artigos de religiões sul americanas híbridas com africanas. Eu simplesmente estava tonto.
- Você é uma gracinha mesmo - disse Alex ao meu lado.
- Ca-Cala a boca! - falei me envergonhando.
- Nossa, o que foi isso? - Perguntou ele pondo a mão no rosto - Quer me agradar demonstrando vergonha? Que fofo.
Eu mordi os lábios sem saber o que estava sentindo, ele entrelaçou seu braço comigo e começamos a andar.
Eu estava contrariado com a atitude dele, mas não podia levantar a voz no meio de um mercado cheio. Não queria chamar mais ainda a atenção dos clientes, principalmente porque eu não sei se na multidão alguém poderia os agredir, ou nos furtar.
- Não se preocupe, ambos lutamos - falou Alex em meu ouvido, como se ele estivesse lendo minha mente.
Magicamente isso me fez relaxar e prestar atenção em seu perfume doce e floral. Eu sei que gostos de perfume são ruins, mas... Queria lamber seu pescoço com aquele cheiro bom.
Minha barriga reclamou.
- Eu disse que deveria comer ao menos uma barra de cereais, Emerson - ele disse.
- Eu... Ah, droga. Estou com fome.
- Quer comer algo daqui? Vamos, tem uma coisa que eles chamam de acarajé, bastante oleoso, com pimenta... massa de feijão, e os acompanhamentos são esplêndidos - comentou como se fosse guia turístico.
- Eu não sei...
- Eu divido com você, até porque é muito pesado, e nosso organismo não está acostumado com tanto óleo - completou.
- Tá ok, eu quero - disse a ele.
Nos aproximamos de uma bancada e havia uma mulher linda, sobrepeso, com a cor da pele retinta e bem uniforme. Ela sorria para nós e nos tratava como se fossemos seus primos mais novos. Eu me senti muito bem...
Alex que estava conversando com ela, e ela não estranhou a voz grave que ele fazia para tentar falar em português. De vez em quando ele pegava o tablet para ajudá-lo. Ela fez o que ele queria, dividiu um acarajé ao meio, para cada um de nós comermos, e agradeceu alegremente.
- Ela achou que eu era trans - disse Alex sorrindo.
- Hum...
- Disse a ela que eu era gênero flúido - completou ele - É o que acho, sabe...
- Hum... - resmunguei enquanto comia aquela belezinha.
- Pus um pingo de pimenta apenas, ela disse que iriamos sofrer caso colocasse a quantidade de pimenta que um baiano de verdade come - explicou ele.
- Hum... - eu mastigava cada pedaço imenso, com vontade de comer uma bandeja só de acarajé.
Era composto por essa massa de feijão, frita num óleo diferente, acho que era um azeite de dendê, uma fruta que cresce pela Bahia. Tem uma salada quase vinagrete, mas sem cenoura e frango. Tem uma pasta mole e doce e salgada ao mesmo tempo... Um vegetal viscoso e com bolinhas... Além de camarões... Aquilo não foi inventado nesse mundo...
- Ela gostou de você também, te achou fofo - ele disse.
- Hum...
- Eu disse que era meu noivo - ele disse, e eu engasguei.
Alex estava preocupado, mas depois que consegui desengasgar, voltei a comer com um sorriso imenso no rosto.
- O que é que você tem? - ele me perguntou.
- Hum... - respondi comendo o último pedaço e sorrindo para ele.
Meu noivo então passou guardanapo em meu queixo, meus lábios e nariz.
- Você faz uma bagunça comendo, só devia ser um fedelho mesmo - ele falou sorrindo.
Andamos de mãos dadas pelo mercado, Alex achou uma boneca chamada de baiana, ele comprou... parecia ser de barro e decorada. Ele queria me dar algo, mas eu não queria nada extravagante. Compramos quatro fitas, que chamavam de "fitas do Senhor do Bonfim", eram fitas em que você amarrava no portão da Igreja do Senhor do Bonfim, e também em seu braço. Eu amarrei uma no braço de Alex, pedindo a esse Senhor que nos fizesse entender um ao outro. Ele fez o mesmo, mas não sei o que pediu.
Na verdade eram três nós, e cada nó era um pedido, e deveria ficar no braço até a fita se desfazer naturalmente. Era um amuleto. A dele era preta e vermelha. A minha, branca. Iríamos amarrar as duplicadas no portão da Igreja, pois o ônibus iria passar por lá.
- Agora lembraremos desses momentos aqui por uma eternidade - ele disse sorrindo e me puxando para onde os ônibus de turismo saem.
Eu corei e sorri de volta. Iríamos guardar essa memória, e as fitas iriam representar esse momento mágico. Confessamos nosso amor para a Bahia.
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