CAPÍTULO 31 - EM SESSÃO (II)
-Quase não viríamos - Disse Alex - Esse horário não é atrativo… Bem, fazemos atividades físicas, que é muito importante.
-Que bom, que é importante - Eu pontuei - Quem sabe assim não conseguiríamos Ajustar um outro horário para a terapia que não choque com suas outras atividades, pois não é viável marcar duas atividades importantes no mesmo dia e horário.
-TSK - reclamou o CEO
-Alex, para - Érik tentou amenizar a situação, seguido de seu noivo levantar contrariado para observar a janela.
-Vocês estão mesmos decididos a continuar um processo terapêutico? - questionei - Me pareceu que na sessão passada, que foi prolongada por sinal, apenas em contar as queixas e a história de vocês houve extrema mobilização, por exemplo o luto de seus pais, Érik.
-É - respondeu o jovem olhando para baixo.
-Um rapaz desses, com esse porte físico, mas bem rebaixado… me pergunto como você deve estar lidando com seu luto - comentei.
Alex tirou a atenção da janela e começou a olhar para Érik, relaxando a postura e as expressões faciais. Se esse CEO se importa com Érik, não estão se comunicando de forma saudável para que isso esteja em qualquer pauta. Além do mais, a codependência será um assunto para além da comunicação desse casal e seus modelos de relacionamentos que repetem consigo.
-Bem, não precisa falar disso se não estiver no tempo - comentei quebrando o silêncio.
Eu preciso fazer o genograma, mas ainda há muitas questões que não ficaram claras para mim…E a coisa da calcinha… Eu não consigo lidar com isso, merda… Ao menos não ainda.
-Alex, você quer falar sobre seu problema de ereção? - perguntei a ele imaginando que seria impactante para o mesmo.
Bem, ele usa calcinha… de que impacto é que eu estou falando?
-Eu estou curado - disse ele rindo e sentando na poltrona - Não é? - perguntou ele para Érik enquanto fazia um cafuné agressivo no rapaz, que começara a rir.
Alex: Agressividade -> Alegria, prazer
-Como assim? - questionei
-Esse rapazinho me curou, oras - começou Alex a responde - Bem, estou penetrando ele mais que o normal, e ele até está gozando com o cinto de castidade que eu dei a ele - disse Alex.
Alex: Perversão - pervesidade -> outro = espanto e horror.: outro espantado/horrorizado -> Alex feliz e satisfeito.
-Mas como assim cinto de castidade? - perguntei - Vocês falaram disso na sessão passada e…
-Eu uso um cinto, Kayle, que Alex me… fez usar - disse Érik tímido.
-E… você gosta? - perguntei de forma descabida, parecendo um leigo.
Silêncio.
-Ele goza assim… - Alex disse.
-É verdade, Érik? - perguntei
-É, mas não só assim…
Temo perguntar como é o sexo desse casal.
Érik: manipulação do outro - Érik (eu) -> prazer ?
-Mas você… é obrigado a usar?
Silêncio…
-Ele não é obrigado a usar - disse Alex - Ele só usa… eu gosto.
-Você gosta de usar, Alex, ou você gosta que ele use? - perguntei enquanto eles se olhavam
-Ele gosta que eu use… - disse Érik - Eu…
-Você…?
-Não gosto de ficar usando isso… sempre… Isso puxa meus… pe...pe… isso belisca… dói… Já não é o suficiente usar roupas femininas quase sempre, pois não tem nada muito masculino pra usar debaixo das calças lá em casa, e eu tenho que ficar usando isso… Me sinto uma fêmea… que eu não sou…
-Mas você gosta de ser passivo também… - disse Alex - E tem cuecas em casa, ele está mentindo Kayle - disse Alex.
-Mas você não quer que eu as use! - Érik gritou.
-Eu nunca disse isso - Alex disse rispidamente - Eu comprei shorts masculinos para você, inclusive.
-Mas quando eu uso a grade, você… prende minha ejaculação, e me faz ir… gozar… daquele jeito e você… - Érik começou a falar suando, tremendo e nervoso.
-SEU FEDELHO IDIOTA, você vai dizer que eu te obrigo a usar aquilo todos os dias e te faço de passivo? Você é quem é o ativo.
-NÃO SOU, É VOCÊ… E EU NÃO SOU UMA MULHER PARA NÃO TER PÊNIS - gritou Érik.
-ABAIXE SUA VOZ COMIGO, SEU FEDELHO! - gritou Alex se levantando, apontando o dedo na cara de Érik.
Eu comecei a repensar minha profissão enquanto eles estavam brigando, trocando acusações, se agredindo verbalmente e um empurrando o outro. Eu queria ser… Sociólogo? Não, minha mãe disse que era coisa de comunista… Médico? Não… meu pai era médico e parecia um facista… Pior exemplo pra a profissão linda que ele tinha. Acho que algo como fisioterapia, ou animação 3D para o mercado do entretenimento… Eu estaria ganhando mais que um psicólogo clínico para casais.
Por falar em casais, eu preciso separar o leite para levar para casa… Eu esqueci de comprar, meu amor já mandou mensagens me acusando novamente de desleixado com a nossa filha… Eu preciso levar o daqui…
-Café? - perguntei aos dois enquanto quase trocavam socos…
-NÃO! - eles gritaram uníssono.
Eu levantei, liguei a cafeteira, fiz uma xícara grande de café e pus leite. Seria minha janta…Aproveitei e guardei o pacote de leite em minha mochila, enquanto os dois estavam no chão socando a cara um do outro. Tentei desviar para não ser pego nos golpes.
Sentei em minha poltrona e comecei a beber meu café. Amanhã pela manhã eu tenho médico… Eu ainda não sei o que está me fazendo roncar tanto… Já estou dormindo na sala por causa disso… Já não sou gordo, ainda malho sempre que dá, emagreci 10 quilos, sendo que sete foram de gordura… Minha porcentagem de gordura está a de um atleta… Não era a gordura que fazia fechar a garganta, e roncar à noite… Eu sabia que não deveria confiar em certos sites de saúde… Tem tanto tempo que eu não bebo… Droga… Queria apenas uma dose de Martini, ou vinho seco… ou pró-seco… E eu aqui, nessa dieta estranha… Passando fome… Olhando um casal de gay se matar em minha frente…
Sigh!
Terminei de beber o café… Levantei minha xícara, joguei com toda força para trás de minha poltrona, o que fez um barulho alto, provocando a parada da luta de Alex e Érik, que estavam olhando para mim assustados…
-Vocês vão pagar pela sessão, vocês estão sabendo, não é? - disse
Eles começaram a se levantar, se ajeitaram e voltaram a sentar, cada um em uma poltrona, virados para lados diferentes…
-Se querem se matar, sugiro que faça isso sobre a ponte… Além de não ser aqui no consultório, na minha presença, seria elegante uma luta sobre a ponte… Sei que filmarão e colocarão na internet… Seria emocionante - falei sarcasticamente.
Silêncio…
-Eu adorava tanto aquela xícara… - disse lamentando.
Silêncio.
-Bem, eu deveria escutar mais vocês, mas como ambos não tem limites… Parece que alguém terá que assumir o controle… - comecei meu monólogo - Vocês ficam quanto tempo juntos?
-Parte da noite e fins de semana, não o tempo todo - disse Érik.
-A rotina é…
-Trabalho, casa, aulas de karatê separados e bar alternativo - disse Alex.
-Curso, casa, aulas de karatê separados e bar alternativo - disse Érik.
-Sexo? - perguntei
-Quase três vezes por semana… Pois não estamos nos vendo sempre e estamos cansados ultimamente - disse Alex.
-Você sabe que você vai ter que tirar essa grade do pênis de Érik - falei se escrúpulos - Visivelmente ele não gosta.
-Eu gosto de vê-lo gozar com meu pênis enfiado dentro dele, e isso consigo alcançar às vezes ele com uma semana sem gozar, só sendo passivo - disse Alex.
-Vocês são gays, não é?
-Sim - respondeu Érik
-Não - respondeu Alex…
-Quer dizer… - disse Érik - eu acho que eu não sou gay, só estou em um relacionamento gay.
-Isso - disse Alex - Talvez ele seja bi… Parabéns fedelho, por refletir sobre isso - disse Alex falando de forma amorosa e virando-se para Érik.
-Não são vocês que falam que a próstrata dá prazer? - perguntei.
-Onde você quer chegar? - questionou Alex.
-Que precisa segurar o orgasmo de Érik por uma semana pra poder vê-lo ejaculando, ou tendo orgasmos, apenas sendo passivo? Quantas vezes vocês ejaculam ou tem orgasmos em uma… em um sexo afinal?
-Geralmente duas vezes - disse Érik.
-Talvez a gente devesse parar em uma, Érik - disse Alex
-Mas a gente não consegue - sussurrou Érik com vergonha.
-Eu não consigo com você… - falou Alex ficando vermelho…
-Ou seja, vocês quando fazem sexo é até a exaustão ou perto disso? - perguntei…
-Perto disso - disse Alex…
-Eu não sei por onde começar… Se é prejudicial a Érik, vocês precisam conversar e rever suas estratégias sexuais… estudar o próprio corpo, estudar o corpo do outro… Testar o corpo do outro, dentro do que o outro permita, ou até onde o outro permita… respeitar o corpo do outro… Érik, se você não gosta, então diga a Alex para tirar… Alex, se você gosta, converse com Érik para saber quais são os limites… E vocês fazem sexo de forma agressiva às vezes, não? Tem… palavra de segurança para saber onde cada um pode ir? Tem… acordo escrito ou acordo conversado? Vocês CONVERSAM????
Ambos ficaram se olhando por um tempo…
-E…?
-Não conversamos - disse Alex
-Foi o que eu pensei. - respondi - Todas as vezes que vocês me mostraram estarem bem, foi quando saiam do ambiente da casa e do ambiente do trabalho, e por esses tempos não estão mais saindo… Nem ao bar alternativo, se não me engano… Saiam, vão curtir… Vocês gostam do quê? Viajar? Sorvete? Cinema? Praia? Campo? Futebol? Erh… Show de Drag Queen? Vocês sabem o que o outro gosta? Você sabe o que o outro comia antes da relação? Quem são os amigos dos dois, o passado… Erh… Meu Deus… quer dizer, se vocês são teístas… Meu Deus. E SIM, VOCÊS SÃO TEÍSTAS???? Qual a religião de vocês? Vocês conhecem a religião do outro? Ateu? Vocês não se conhecem… Vocês não tem a mínima ideia de quem seja o outro… Vocês não conversam, não saem, não se conhecem, não fazem testes idiotas de internet para ver a compatibilidade, não fazem tag, não tem canal na internet, não postam fotos juntos… ou postam?
-Não… - respondeu Érik…
-Vocês tem a rede social um do outro? Vocês… Percebem o que estou falando?!?! - falei histericamente - Vocês vieram a um psicólogo, e nem ao menos se conhecem para poder de fato apresentar um problema plausível!
Ficamos quase dez minutos de silêncio até que alguém falasse alguma coisa…
-Nosso horário acabou, quinta-feira nos encontramos no mesmo horário. Quero sugestão de novo horário para a partir da semana que vem podermos seguir em um horário correto… E quero definição de quantidade de sessões por semana, para seguirmos a semana que vem em diante ajustados. Vocês precisam de controles.
Alex realizou o pagamento e saíram do consultório. Droga… não era assim que eu queria conduzir a sessão… Tsk…
Ao sair da clínica, o mais rápido possível para não me deparar com o desnecessário… Eu fui para casa… Lá, achei um recado de que foram passar dois dias na casa de minha sogra… Eu não sei se isso foi bom ou ruim… Eu deixei o leite e saí pela noite… Queria muito mesmo uma gota de álcool para esquecer que eu existia…Mas a maioria dos Pubs estavam fechados…Então entrei em um lugar que alguns estavam abertos ainda, às 09:00 pm.
-Sua carinha é nova aqui - disse o bartender.
-Me vê uma taça de martini - falei com ele deixando o valor na mesa.
-Que grosso - ele respondeu pegando o dinheiro.
-Desculpa, fica com o troco para a gorjeta adiantada - eu falei suspirando - eu só quero beber.
Ele ficou me encarando e foi enfim me servir a maldita taça de martini. Eu bebi em um gole. Meses sem álcool… Eu nunca fui beberrão… Mas devo admitir… não dá para viver a vida sem uma pílula… E essa era uma das minhas.
-Você… errou de lugar moço - o Barman falou.
-Me dá uma dose de pinha colada - disse em resposta, pagando logo após.
-Vai misturar destilado com…
-Eu sei o que estou fazendo, mas agradeço a preocupação - disse tentando sorrir.
-Se quiser que ninguém te cante, faça esse sorriso horroroso mais vezes - pontuou o Barman sério.
Bebi em um gole… Suspirei e comecei a olhar ao redor… Muitas luzes acesas, coloridas, pessoas dançando… Mulheres estranhas, homens desinibidos e alguns beijos, poucos demais… As pessoas dançavam como se estivessem sendo batizadas… como se fosse a melhor coisa que alguém pudesse fazer na vida.
-Mas que tipo de nightclub é esse? - perguntei ao barman.
-Moço, você realmente é novo aqui… e errou de lugar - ele disse gargalhando.
-Deixa de brincadeira bro, e manda uma dose de vodca pura.
-Moço, não se embebede demais… será o último drink da noite… Você é hetero, está numa boate gay.
Eu engoli saliva à seco, e parecia ter colocado um litro de plasma para dentro de tão quente e ardido que essa deglutição foi.
-MERDA! - falei alto enquanto o barman gargalhava e aprontava uma vodca.
-É melhor ir para casa antes que as coisas fiquem complicadas com você - ele disse me passando a dose.
-Eu só quero beber… o problema será apenas se alguém…
-Oi, você é tão sério - disse um rapaz sentando de meu lado com dez sorrisos na cara.
-NÃO - disse curto, grosso e seco.
-Viado desgraçado - disse o rapaz saindo.
-Viu - falei voltando meu rosto ao Barman - Ele foi embora, entendeu o recado… o problema será se insistirem, ou ficarem passando a mão em mim.
-Mesmo assim moço - disse o Barman… Vai pra casa depois dessa vodca, sério. Ou então, vai acabar virando hétero flex.
-Ninguém merece hétero flex… Só os eleitores de Trump acham isso bom - eu disse com cara de desgosto - Não azede minha vodca bro.
-Perdão, ninguém merece Hetero flex… - disse ele.
-Oi Carlos! - disse uma voz conhecida
-Oie chico - o barman respondeu para o rapaz mascarado.
-Eu quero sex on the beach, duas doses - disse ele feliz
-Só se for com você - disse Carlos quase no assédio
-Tinha que ser brasileiro mesmo, eu gosto de vocês - respondeu o rapaz ao meu lado.
-Você está tão radiante, primeira vez que te vejo assim… - Carlos continuou falando - E olhe para essas roupas… Essa gola V, esse cabelo cheio de pomada…
-Você sabe como ele é… Eu deixei… A gente… teve uma conversa depois da terapia e… estamos estranhamente bem…
-ÉRIK?!?!?!?!?? - berrei fazendo ele pular para trás.
-KA-KA-KA-K-AK-AKAKAK-KAYLE?!?! - disse ele…
Era mesmo ele…
-Mas a… terminou - continuou ele espantado.
-O que tá demorando tanto hein?! - a voz mandona de Alex ecoou por de trás de mim.
-Achei onde vocês se escondem - falei entornando a dose de vodca até o fim.
-MEU DEUS, DOUTOR?! - disse ele espantado.
-Doutor é quem tem doutorado - corrigi
-Sempre com uma pedra pra jogar na nossa cara… Eu estou acostumando… mas aqui vamos só nos divertir - disse ele sorrindo amarelo por debaixo de roupas de uma mulher.
-Você fica bonito assim - falei me odiando
-Obrigado - ele me respondeu pegando seu drink - Mas o que faz em um bar gay?
-Boate gay - disse Carlos - Ele errou de lugar, queria apenas beber.
-Não sabia que você era chegado a um etanol, Kayle - brincou Alex.
-De vez em quando, e estou de saída.
-Espera - disse Érik me puxando.
-É que foi até bom você estar por aqui… - Alex continuou a falar - Quinta que vem nos não iremos… Bem, vamos fazer uma pausa na terapia.
-O quê? - falei espantado.
-É, vamos… viajar… e estamos ajeitando tudo… Bem, amanhã começaremos a ajustar… E iremos ao Brasil… Um funcionário me contou sobre uma cidade ótima para ir, que não é destino da maioria dos turistas internacionais nessa época, só no carnaval… Vamos para… Você lembra o lugar? - ele perguntou a Érik.
-Salvador, do estado da Bahia… - respondeu Érik - Queremos fugir do inverno para… uma lua de mel…
-Que ótimo, mas vocês vão voltar, não é? - perguntei pensando no impacto que será nas minhas finanças - E pensaram nisso tão rápido assim?
-Duas sessões foram o suficiente - disse Alex - mas não se preocupa, porque a gente vai voltar para ocupar seu tempo.
-Certo - falei - Vocês tem meu número, espero vocês de volta… Boa lua de mel - disse.
Nos despedimos e saí de lá direto para casa. Será que meu amissíssimo frequenta aqui? Espero que não.
Me sinto relaxado depois de tudo… Nada como uma Barterapia de vez em quando… E os pacientes? Bem… Pacientes vão, pacientes vem… e você segue seu caminho.
-------
Capítulo grande, não é? Eu sei, sorry. Mas tive que aglutinar alguns acontecimentos, que praticamente seriam mais capítulos, e eu estou voltando a ficar sem tempo, férias acabam... Mas já já estarei escrevendo mais um capítulo, aguardem!!
Bjs
Tkey-kun
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro