CAPÍTULO 27 - BRIGAS (I)
-Pronto! - Disse checando minhas finanças pelos meus apps - Tudo está dentro de seu devido lugar.
Hoje é sexta, entreguei o apartamento vazio, paguei a mudança das coisas do meu apartamento antigo para o novo apartamento da Gabi, de presente ao noivado corrido que ela estabeleceu com Gael. Tsk… Esse relacionamento deles não parece ser certo… E ela não quer me contar o que aconteceu quando o Hadil se encontrou com ela para dar as coisas desse usurpador de lares que ela namora…
Decidi me meter menos na vida dos outros, pois tenho muito o que fazer nessa nova gestão; muito com o que me preocupar nessa nova fase financeira de minha vida, que apesar d’eu ter feito tudo que podia, hoje até o início do mês eu estou sem dinheiro e com dívidas… - financiamento desse apartamento, que dei uma grande amortizada com parte do dinheiro da venda do antigo; o curso de Érik e seu karatê; e algumas coisas que eu estou esquecendo. Além de tudo, tenho um próprio fedelho para me preocupar.
E por falar em Érik… Depois de tanto que nós passamos, eu não consigo entender esse idiota! Estamos brigando todos os dias… Ele já está tendo aulas… Ao chegar em casa mal faz alguma coisa… Eu disse a ele que não colocaria nenhuma diarista para organizar a casa… Ele limparia tudo, colocaria as roupas na lavanderia - eles lavam e passam, o único trabalho seria levar para baixo, no próprio prédio… meu Deus, eles têm até farmácia lá embaixo, e esse moleque não pode fazer nem isso? - e eu cozinharia… O que é o pior, pois leva tempo… Muito tempo.
Érik, desde que se sentiu morador de MEU apartamento triplex, mal mexe um dedo… Ele prefere ficar sem comer, se chegar meio dia e não encontrar comida separada… Ele prefere ficar sem tomar banho se faltar água - como interromperam o abastecimento durante 24hs na quarta para limparem o reservatório de água da torre.
Eu juro que estou tentando não xingar, até em pensamento.
Eu juro que estou tentando não me estressar, até em pensamento.
Mas esse imbecil…
Temos brigado todos os dias desde que ganhei meu apelido fofo que ele me dera.
-Chefe - Rodrigo interrompeu meus pensamentos - Preciso ir… Mais alguma coisa?
-Não, seu fofo, pode ir… Cuidado com a rua, está perigoso sair à noite sozinho, não quer que eu te leve até a estação? - disse a ele.
-Isso poderia ser entendido como assédio - ele falou rindo.
-E eu ganharia o quê? - disse a ele - Moro próximo do trabalho, destruiria minha família para assediar meu secretário, que aliás é novato no cargo que nem eu? Pense como gratidão por seus serviços.
-Você se daria bem no Brasil, com esse tipo de posicionamento - ele me disse.
-Você pensa em voltar? - perguntei a ele.
-Não! - Rodrigo me falou assustado.
-Diga-me, como conseguiu visto de trabalho aqui em USA?
-Eu… erh…
-Favores sexuais? - perguntei invasivamente
-Chefe… isso
-Então foi favores sexuais - falei me aproximando - Você é brasileiro, sua cara não nega… É mais… Latino que eu… Vamos, não vou deixar você ir sozinho para a estação, principalmente por ter ficado comigo até tão tarde.
-Isso não vai ser preciso - ele disse
-Eu não vou te assediar, e vai ser preciso sim… - eu disse - Brasileiros são ladrões e putas, imagine você andando sozinho com esse estereótipo nessas ruas… tsk, tsk, tsk. Jovem bonito de vinte e cinco anos, nível superior, pós graduando, primeiro emprego, empregado no exterior, e bonito desse jeito… Não me entenda a mal, eu REALMENTE estou preocupado… e… Grato - disse me estranhando…
Grato? Mas que merda estou falando? Esse mijão deveria entender minha posição e aceite o que estou oferecendo…
-Mas eu não…
-Onde você mora - disse me aproximando mais - Ah, não precisa, eu vou checar aqui no sistema, só tenho dois secretários e uma secre…
-Não será necessário - ele falou se afastando e pegando suas coisas - Eu moro em DownTown Hall Square, e eu posso ir para casa sozinho.
Com essa carinha fofa? Rodrigo é claro, para um brasileiro. Ele é loiro escuro, cabelo mais escuro que o meu, corte pompadour, barba e bigode aparados, mas com rostinho de um adolescente, com menos de um metro e setenta e sete de altura, só tem cabeça e braços, pois todo o resto parece miniatura.
Olhos castanhos, nariz comprido e redondo, quadril fino, traseiro bem redondo… Eu sinceramente não gostava de olhar ele de costas… Bem desenhadas sob aquele pano, imagina sem… E sua bundinha… Tsk… Eu sou comprometido agora…
-Tchau che-che-chefe - ele disse assustado e suando, com sua voz sensível e baixa, e suas mãos delicadas.
-Ei, espere - falei.
-Chefe, eu vou me complicar se você me ajudar… porque…
-Você é comprometido? - perguntei - Alguém está te vigiando? Por que você, dentre todos os outros, não quer receber ajuda?
-É complicado…
-Não, não é… Latinos precisam se ajudar, nesse país de merda… Você mora em uma bomba relógio… Não vou deixar mais sair daqui nesse horário…
-Me desculpa - sua personalidade educada e submissão me estourou o coração…
-Não se desculpe… venha, vamos chamar um motorista para você
-NÃO, EU NÃO POSSO CHEGAR EM CASA DESSE JEITO…
-Mas o quê? quem é que mora com você, garoto? - perguntei estressado indo em direção à porta de minha sala, com o celular nas mãos pronto para chamar um Uber.
-Eu não posso dizer…
-Falta de confiança? Eu digo quem mora comigo… Alguém que chamamos de meu noivo… - disse sem pensar.
-O chefe é noivo… e de… um cara? - ele perguntou.
Eu sou CEO agora… nada mais importa tanto…
-Sim, e ele é muito mais novo que eu… não posso… Erh… conceber o fato de que você, mesmo sendo jovem, vá cruzar a cidade para entrar em uma bomba relógio assim… Lembra de meu… erh… noivo - disse inventando qualquer desculpa que me surgiu…
-Nossa… se você trata ele assim, chefe - Disse ele - Ele tem muita sorte.
MAS É CLARO QUE AQUELE FEDELHO TEM!
-A gente briga as vezes, mas a gente sabe que ambos somos sortudos… - disse esboçando um sorriso que me assustou no reflexo da porta… Não costumo sorrir e nem falar coisas delicadas e gentis assim…
Mal me reconheço. O dinheiro não deveria nos fazer mais arrogantes?
Talvez seja aquele sentimento… que temos com um outro… que nos deixe mais… gentis…
-Brigas sempre há, sabe? É da relação, aprendi isso - disse ele sorridente.
Mas que fofo.
-Sim, você não me falou o que se passa chico? - disse enquanto esperávamos o elevador.
-É português - ele disse rindo com todos os dentes de uma forma singela - Não espanhol…
-Desculpa - disse dando um peteleco em sua testa, apenas para medir nossa diferença de tamanho… pois ele era mais baixo.
-Ouch! - ele reclamou - Assédio! Agressão! Departamento do trabalho! - disse ele rindo.
-Mal virei CEO e vão me matar?!
Rodrigo riu…
-Me diz por que você não pode…
-Algumas coisas… Não posso dizer… Eu não posso chegar em casa de motorista… E… só…
-Mas então vem lá em casa, Érik não se importa, e você não vai para casa uma hora dessas… - disse entrando no elevador.
-NÃO, MAS… NÃO, EU TENHO QUE IR PARA CASA - ele disse desesperado…
-Mas…
-Eu TENHO que ir para casa, me desculpa.
-Certo… Mas eu vou te levar na estação de metrô…
-Não, obrigado… - ele disse saindo correndo do elevador…
-Amanhã é meu bônus, então até segunda chefe - ele disse sorrindo assustado e olhando para os lados…
E Rodrigo saiu correndo até alcançar a rua e sumir.
É uma pena para um rapaz tão alegre, gentil e…
Merda… as pessoas são imprestáveis, vocês ficaram presos até quase oito da noite por incompetência de Rodrigo, que desempenhou 99% de seu trabalho de forma brilhante e…
MAS QUE MERDA, O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO?
Fui para casa o mais rápido possível… Caminhando como se estivesse em uma prova de marcha olímpica.
-Droga! - falei comigo mesmo apressando os passos…
Hoje era o almoço com Rachel, Sorália, Gael e Gabi, comemorando o apartamento novo de… vocês sabem quem, dos casais… E seria lá em casa…
Merda! Eu mal aprontei algo, e pedi para Gabi e Gael darem conta de tudo… Mas eu tinha planos de chegar mais cedo e ajustar os detalhes para não ferrassem com o jantar… E pra quê infernos eu topei fazer isso?
Subi o elevador e dei de cara com Érik no corredor.
-Você está atrasado, não percebeu que eu estava te ligando? Eu já ia te buscar - disse ele com revolta.
-Me deixa, garoto. - falei me esbarrando nele e caminhando em direção ao apartamento.
-Tsk - ele veio reclamando atrás de mim - é sempre assim, não é? Não temos uma semana oficialmente com algum tipo de relação amorosa e estamos brigando como se fossemos casados há anos com um relacionamento arruinado.
-Olha aqui Érik, essa lucidez não é sua, me diz quem está te ensinando esses pensamentos difíceis - disse olhando para ele sem parar de caminhar - E eu SOU de sair tarde do trabalho quando estou rodeado de incompetentes, ou você se esqueceu?
-Eu… erh… - ele começou a gaguejar… - Você não precisa mais mostrar serviço, você pe CEO… Não precisa sair tarde, e é só demitir quem não está andando direito na linha…
-Ah, como é fácil…
-Mas não era fácil antes? - ele me puxou pelo braço perguntando.
-Me solta que eu tive um dia estressante e eu… não… devo… descontar em você, ou você quer? - o avisei.
Érik me soltou… Virou o rosto para o outro lado…
-Eu estou aqui há horas… todos estão aqui… Isso é humilhante depois do que aconteceu… - ele disse abaixando a voz.
-Ah, é isso… - disse desdenhando - Vamos, qualquer coisa eu te penetro na frente de todos, e você enterra sua vergonha…
-É fácil para você falar, não foi você que estava em uma posição arquetípica passiva com… aquilo na boca e sem roupas - ele sussurrou.
-Uma semana em aulas e você já me apresenta uma lógica total diferente, inovadora, gostei de ver o crescimento do garoto mijão - disse cutucando ele com meu dedo indicador enquanto ele ria das cócegas.
-Idiota, me deixa em paz.
-Não sei se está rindo, não sei se está me dando carão… Não sei dizer… traduz suas emoções pois não sou obrigado - disse sorrindo e enchendo ele de cócegas.
-PARA! - ele falou gargalhando.
-Ah, vocês chegaram - Gael disse abrindo a porta.
-Droga garoto, você tem que sempre ser o mensageiro da vergonha? - perguntei com ódio na cara.
-Me desculpa - ele disse levantando as mãos em um sinal de rendição.
Érik estava vermelho… Então entramos no apartamento, e eu ouvi um sussurro de Gael para Érik, algo como “pelo menos não foi a vergonha de ter um pênis na boca na frente de todos”, e meu noivo ficando mais vermelho ainda.
-Você não envergonhe o garoto não, pois se não eu listarei todas as peripécias de seu tipinho encubadinho, Gabriel - disse a Gael puxando Érik pelo braço, que ria.
-Ah, chegaram enfim, vamos, estamos com fome - disse Rachel me abraçando como se fosse minha mãe.
-Eu preciso tomar banho - reclamei
-Não! Vamos comer, pois não tenho a noite toda - disse ela sorridente e autoritária.
-Tsk! - reclamei - Não tenho escolha, não é?
Rachel sorriu de volta. Me puxou até a mesa, onde Dália e Gabi estavam conversando. Assim que nos viram, deram as boas vindas e saíram para a cozinha para pegar a comida e levar para a área da piscina, onde montaram uma mesa provisória no meu jardim para o jantar.
A mesa estava posta enfim… Havia frango, peixe, frutas, massas, sobremesas… Quem quisesse poderia começar da sobremesa à entrada, pois estava tudo ali, em menos de cinco minutos.
Foi um momento solene, eu pensava sobre Érik, sobre meu trabalho, sobre Rodrigo… mal falava, apenas sorria, tentando aguentar a exposição… Eu precisava muito trocar a calcinha, e isso estava me irritando… Mas eu prometi a mim mesmo que tentaria ser mais agradável… Eu não tenho mais desculpas, afinal… Como Érik disse, já sou CEO de uma empresa… Tenho uma boa vida, ao menos essa semana me indicou isso… Meu salário era alto, e eu poderia fazer uma reserva nova, maior que a anterior, em pouco tempo…
Ah… Mas eu não estava estressado e fingindo o tempo todo… Érik apertava minha mão todas as vezes que tentava falar… E estava cheio de vergonha… Dália tencionou nosso relacionamento… Falou da grade de Érik… Disse que ele gostava e estava bem com aquilo tudo, e mudei de assunto, para não levantar e meter o pé na fuça daquela vagabunda… A ex de Érik… Eu não tenho tempo pra ficar brigando com ex… mas eu odiei o fato dela ter sido a ex dele, e dela estar enfiando opinião desnecessária alheia na relação dos outros…
Rachel falou sobre ajudar Érik, contratar ele como estagiário quando ele entrar na faculdade de arquitetura, mas ele disse que não tinha planos para essa área… E não queria voltar à empresa… Rach ficou muito triste, se sentiu culpada em ter sido aquela quem o demitiu.
Encerramos a noite perto das dez… elas foram embora, falando sobre o triplex, sobre sonhos pro futuro…
-Vão se casar, sapatão? - perguntei como forma de vingança pelo que Amália disse na mesa.
-Não somos um casal - disse Rach - Ela é prima de minha mãe, praticamente… De um segundo casamento da tia… eu não sei direito, mas somos família, praticamente.
Ah, sei.
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