CAPÍTULO 22 - OUTROS RUMOS (I)
-Você está demitido – Ela disse da mesa de Alex
-Mas o quê? – Alex disse quase gritando – Quem é você para...
-Você não é mais gerente, meu senhor... O RH tem uma surpresinha para você – Rachel disse – Já você, Érik... o RH não quer mais seus serviços... Eles não querem uma pessoa que não tem diploma de Ensino Médio trabalhando aqui, e no cargo que você está.
-Mas justamente o programa da empresa... – comecei a falar.
-Programa de quê? – Ela perguntou.
-Que programa, Érik – Dália perguntou também.
-Eu vou para o RH, me acompanhe e me espere à porta, Emerson. – disse Alex
No caminho para o RH eu tentei perguntar a Alex se ele sabia de alguma coisa, ele tentava desviar o assunto... Eu não sou bobo... Alguma coisa ele fez... Mas o quê? Ele mentiu para mim e minha... falando sobre programa da empresa? E o que foi que eu assinei afinal? Ele quem está pagando o curso? E se ele que está, ele ainda não esfregou em minha cara... Eu não... não quero pensar no que está acontecendo, eu apenas quero... Estudar logo para essa prova, não aguento mais todos falando que não tenho ensino médio... Não quero depender de ninguém!
Alex entrou no RH e ficou quase meia hora falando com o coordenador de RH. Eu mal ouvi a voz dele... Ele não berrava, não... fez nada... praticamente... Nem... parecia... erh... ele mesmo.
Não sei o que está pra vir, mas eu não gosto de ficar parado... Eu lembro de minha mãe, e de como ela se matou, ou melhor, lembro que ela se matou, com a desculpa d’eu ser gay. Talvez não tenha sido uma desculpa, afinal de contas. Eu a decepcionei e... eu não gosto de ficar pensando essas coisas...
-Ei, porque você está chorando? – ele me perguntou saindo da porta do RH e se agachando.
-Eu não estou... eu só... – na medida em que falava as sílabas de minha frase-resposta a Alex, eu percebia as lágrimas rolando em meu rosto – Não é nada – eu disse.
-Eu não vou deixar nada de errado acontecer com você... seu... Érik – ele disse.
Jurava que iria ouvir “fedelho”.
-Não é nada, eu já disse – retruquei.
-Bem – disse ele se levantando – deixe-me oferecer uma “carona” a você – disse ele dando ênfase em “carona” – tenho uma novidade boa para falar.
Andamos pela empresa sem trocar uma palavra sequer. Ele estava sorridente... E eu não sabia o que sentia... Só quero chegar em casa e estudar, apenas.
Casa? Mas que casa? A de Alex, afinal de contas, eu não tenho casa... Nem a herança está liberada ainda... Me pergunto se eu terei que avisar à justiça que minha mãe faleceu.
No carro Alex colocou uma música alta, desabotoou o paletó, pôs seus óculos escuros.
-Qual é a ocasião? – o questionei.
-Como assim? – ele perguntou sorridente.
-Vamos, o pouco que te conheço é o suficiente para saber que você está de excelente humor, e com certeza aconteceu algo dentro daquele RH, Alex... – o respondi
-Ainda é “Senhor Marinho”, para você, ao menos enquanto você não estiver dentro de mim – disse ele – E sim, o que ocorreu foi o seguinte.
Alex me contou...
Eles me demitiram por conta do ensino médio... Alex não fez nada de mal, as cláusulas da empresa haviam mudado, antes poderiam deixar em determinados cargos pessoas apenas com o ensino fundamental, mas não no meu. Eles iriam me relocar, mas Rachel sabe da gente, e sabe também que eu não iria me adaptar com nenhum outro gestor, apesar de que eu discordo dessa parte... Qualquer um é mais fácil de lidar que Alex.
Então, Rachel foi para o lugar de Alex, juntamente com sua secretária, a Dália, e o seu lugar vagou... Isso porque Alex estava sendo testado pela empresa, ele foi indicado a ser o CEO do site de LongTown, que fica no outro lado da cidade, praticamente... Num centro comercial. Num prédio imenso e novo. E por isso, Alex esteve trabalhando feito um condenado, segundo ele... Alex queria ser visto e recompensado de alguma forma, ele esteve os últimos cinco anos trabalhando muito duro pela companhia. Oportunidades como essa são raras, segundo ele. E ele aceitou... E me disse que nosso lance ficou mais clichê, pois ele quer me contratar quando eu tiver o diploma de ensino médio.
Eu disse não, e nós brigamos até chegarmos em casa.
Entrei em casa, troquei de roupas e enfiei minha cara nos livros... Eu não tenho para onde ir, quando Alex for CEO eu tenho certeza que ele me colocará para fora, pois ele está determinado a se mudar...
Eu não tenho para onde ir... Minha mãe faleceu... Eu não quero ficar com minha família... E Alex assume o cargo dia 13, o mesmo dia que o resultado das provas saem... Era a vida me apontando que eu devo me esforçar! Que eu devo ficar atento!
Passei a tarde inteira estudando naquela casa... Mesmo com a voz de Alex gritando e rindo do seu escritório... Desgraçado, se ao menos tivesse me deixado com o controle de minha vida... Eu não estaria aqui. Eu só estou um pouco confuso... Apenas isso... Minha mãe ainda ronda minha cabeça... O estado que ela ficou no dia em que acordei daquele jeito... O estado que ela ficou quando meu pai faleceu. Eu não fui forte o suficiente para ajudá-la, e caí sob o inferno desse chefe de merda.
Se ao menos eu não tivesse me candidatado àquela vaga... Se ao menos eu ficasse cuidando de minha mãe, mesmo passando por certas necessidades depois do falecimento de meu pai... Ah, que falta ele fez... Mãe ficou devastada... Ela não podia aguentar a morte do marido e nem seu filho aparecendo naquele estado... Puxa mãe, eu não sou gay... Não de fato... Deve haver outra... outro nome para isso... Eu estou sendo abusado mãe, por que é que você não entendeu? Não foi culpa minha... Foi culpa daquele desgraçado...
Antes que eu me desse conta, eu estava na cozinha com uma faca na mão, riscando o pulso, e Alex parado no meio da sala, ofegando com olhos confusos e um sorriso cheio de dentes se desfazendo...
Eu senti um ódio me consumindo, da planta de meus pés até as pontas dos fios de meu cabelo. Alex começou a se aproximar lentamente, derrubando no chão o telefone. Eu estava paralisado, mas podia sentir as expressões de minha face se arqueando para expor toda a raiva que eu estava sentindo, e ao mesmo tempo, meus olhos ficaram embaçados.
-ME DÁ ISSO AQUI! – gritou Alex dando um impulso para frente.
-SAI DE PERTO DE MIM! – eu gritei de forma repetitiva e confusa.
Alex me alcançou em segundos, e eu não consegui fazer nenhum ferimento em meu pulso, de tanto que tremia. Apenas me virei de costas, senti um golpe em meu pescoço e me senti tonto. A faca caiu no chão, e eu cai nos braços de Alex. Por um momento eu pensei que ele estava chorando, pois uma gota pingou em minhas bochechas, e não veio de mim.
Apaguei.
Não sei por quanto tempo fiquei apagado, mas acordei com Alex me balançando e falando:
-Até quanto tempo você vai ficar aí dormindo, seu preguiçoso? – ele perguntou.
-Cala... a boca... – eu disse com a garganta seca, e tossi.
Alex me trouxe um copo de água, resmungando alguma coisa. Eu sentei para beber, e então percebi que estava em sua cama.
-Eu preciso sair, e você vem junto – ele disse enquanto eu bebia água, demarcando o poder e a importância de minha escolha em sua casa... nulos.
-Eu vou para a aula – eu o respondi devolvendo o copo.
-Não, hoje você não vai para aula coisa nenhuma – ele disse – Eu consegui vender o apartamento enquanto você roncava para espantar os clientes... E preciso chegar no estande de vendas do LongTown Residencial Club antes das 20:00... Isso significa que tenho quase meia hora... E você não vai estragar meu momento, fedelho.
-Seu momento?!? – perguntei com ódio – Se você não percebeu, eu...
-CALA A BOCA! – ele gritou me dando um tapa no rosto, o mais forte que eu senti até então – Ingrato... Você vai comigo até a merda do estande de vendas... E eu vou enfiar todas as minhas economias para comprar um apartamento triplex lá... E ponto final... Depois eu aplico o dinheiro da venda desse apartamento aqui.
Eu abaixei a cabeça com raiva do Alex... E tentei mudar de assunto para não chorar, mas nada saia de minha boca. Então ele jogou algumas roupas contra mim.
-Se vista... e rápido – disse ele – Meu Deus, hoje é o melhor dia de minha vida... A segunda imprudência do ano... já estou sentindo a adrenalina no sangue...
-E qual foi a primeira? – perguntei impulsivamente.
Alex me olhou com ódio, desprezo e pena... E saiu do quarto. Eu não esperava que ele me respondesse...
No caminho para o lugar, ele ficou o tempo inteiro com a corretora no telefone... Eu peguei algumas informações que não possuía, aparentemente ele está confiando no salário de um CEO para manter-se em condições tão elevadas, e o prédio é menos de dez minutos a pé do trabalho. Ele não vai precisar se preocupar com horários e distância. E não tinha nada que o impediria para a mudança...
-E seu noivo, já sabe? – a voz da corretora soou pelo carro e eu choquei minhas costas no assento da frente, quase mordendo a boca.
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