CAPÍTULO 16 - UMA DOR
Que dia é hoje mesmo? Domingo? Droga, está tarde e eu não estou entendendo o que esse fedelho imbecil está berrando... Eu preciso ligar para aquele gordo idiota para agradecer algumas conexões que fiz para pegar aquele trio de otários. O novo dono deles deve ser um amigo desse gordo de ejaculação precoce, que tive que ir pra cama mais uma vez para conseguir ligação com o outro... Espero que aqueles imbecis tenham aprendido a lição.
Mais uma vez tentei entender o que o fedelho estava gritando. Eu estava sentado em minha cama com um vestido curto e amarelo, ele estava de shorts e camiseta... O short que o emprestei para dormir, bem feminino. Emerson já estava de pé então... E eu, levantando.
-Cala a boca fedelho! – disse pondo a mão na cabeça, devo ter bebido.
-É minha mãe! É minha mãe – ele gritava desesperado.
Ah, entendi. Algo aconteceu com Dona Damiana.
-Ela que lute, eu preciso dormir mais um pouco, não vê? – disse deitando novamente.
Eu fechei os olhos e senti alguém me puxar de forma agressiva, pelos pés. O que me fez cair no chão.
Abri os olhos e Emerson estava pingando lágrimas em meu rosto...
-POR FAVOR, ALEX... – ele falou sem conter o desespero – É A MINHA MÃE, ALGO ACONTECEU DE ERRADO... LIGARAM DE UM HOSPITAL... POR FAVOR ALEX...
E ficou me encarando como se sentisse uma dor de cem lâminas atravessando o seu peito. Bem, não sei quantas, mas no meu eu senti algumas também.
-Está bem, tomemos banho primeiro – disse empurrando ele para sair decima de mim.
-NÃO TEMOS TEMPO – ele falou levantando.
-Temos sim, se sua mãe faleceu, não vai adiantar esse desespero, ela estará nos esperando afinal.
Eu senti sua mão indo em minha direção, pelas costas. Desviei, puxei o peso de Emerson e usei para derrubá-lo no chão... Reflexo.
-Minha mãe... – ele ficou choramingando no chão se apertando.
-Fedelho – eu disse me agachando e fazendo cafuné em seus cabelos desgrenhados – Precisamos tomar banho, e comer alguma coisa... Não podemos ir em um hospital de qualquer jeito... Ninguém sabe o que poderá acontecer... Esse pode ser o último banho ou café da manhã que você tomará com paz, ou não... E eu não vou te levar a lugar algum enquanto não nos aprontarmos do jeito que estou te falando... Agora pare com essa cena, e vamos tomar um banho.
Ele choramingou mais baixo e se levantou em direção ao banheiro. Fui à uma das gavetas enquanto isso... Se vamos entrar em um hospital, é melhor que eu coloque algum cadeado de plástico em sua grade rosa, que deixá-lo entrar com um de metal, tenho receio que dê algum problema.
-Vamos logo – Érik me dava pressa...
Nós comemos... Eu troquei o cadeado dele... E fiquei bastante intrigado com essas coisas, estava indo com a maré, mas confesso que não queria ter que ir levá-lo ver sua mãe... Eu poderia simplesmente mandá-lo ir só... Mas... Se ele fugir...?
Não que eu tenha prendido ele em casa, como um gatinho particular meu... Mas... Se bem que seria bem interessante. Estou até rindo com a ideia.
-Eu já fiz o que você queria, quando poderemos ir ver minha mãe? – ele indagou cortando meus pensamentos
-Calma, calma... Eu nem sei que hospital foi... – o respondi.
-SE FOSSE A SUA MÃE VOCÊ NÃO...
-SE FOSSE A MINHA MÃE EU DEIXARIA PARA MORRER, FEDELHO! – gritei com ele – SE VOCÊ SOUBESSE QUEM EU SOU, NÃO ESTARIA ME TRATANDO DESSE JEITO. Se você for me tratar assim, esqueça... eu não irei a lugar algum.
-Não... me desculpe – ele disse voltando a chorar.
É... a mãe dele o desestabiliza. Eu me senti mal em gritar com ele... Pela primeira vez... Ele já perdeu o pai... E ninguém diz o que aconteceu com a mãe, apenas que deveriam comparecer ao hospital... Eu poderia ligar para alguém, e procurar saber do que se trata.
-Qual o hospital afinal? – perguntei a ele.
-Hospital Metropolitano – ele me respondeu.
Era um hospital público da região próxima a seu bairro, todavia mais próximo ao centro.
-Ok, vamos lá. Traz uma garrafa de água, precisamos nos hidratar.
O percurso foi silencioso. Ele respirava de forma pesada e arrastada. Nem parecia se incomodar com a grade ou a calcinha que o fiz colocar. Isso tudo era entediante... Tsk. Mas pra que é que eu deveria ajudar esse criminoso?
-Ali, chegamos – ele disse apontando para um prédio antigo.
Eu mal estacionei e Érik saiu correndo do carro. Aquele fedelho mal me esperou... Eu fui atrás dele, e à recepção ele estava já tremendo falando com as atendentes. Nos mandaram procurar o serviço social... E lá a assistente social enfim disse o porquê de sua mãe estar internada.
-Tentativa de suicídio – Ela disse.
-Mas como? – Érik perguntou.
-Eu acho que eu devo chamar o psicólogo para falar com você – ela sinalizou.
-Não, não precisamos – eu intervi estupefato – pode me falar o que houve.
-E você é...? – ela me perguntou me desafiando.
-Eu sou amigo da família, e o único, além do filho desestabilizado dela, que virá, então creio que seria bom você me falar o que houve – disse a desafiando.
-Calma senhor...
-Eu estou calmo, bastante! – disse me irritando mais ainda – Tão calmo que ainda não peguei meu telefone para ligar para o vereadorzinho de merda que apadrinhou essa espelunca. Então diga...
-Mas... Talvez não seja bom falar a ele – ela apontou para Érik com os olhos vazando lágrimas como o céu em dilúvio.
-Tem razão – eu disse – Mas foi a mim que você desafiou, Moça... Senhora... Assistente Social.
-Valentina...
-Esse país está cheio de latinos, hein?! – Falei mais descontraído, querendo muito que ela fosse latina... O nome era Valentina, mas poderia ser a única coisa latina nela, além da cara, óbvio.
-Si, si, signore, italiana – ela respondeu – Latino?
-Descendente – disse a ela passando a mão no cabelo – É difícil latino ter cabelo liso, ralo e claro assim, não é?
-Si – ela respondeu mais fria.
-Mi mamá es hija de holandês com venezuelana.
-Você puxou o lado holandês – ela riu – Olha, eu não deveria dizer isso... mas... – ela me chamou mais perto e falou no meu ouvido – A mãe dele tentou se matar com vários litros de liquor e medicamentos sedativos para ansiedade... Porque o filho dela era gay, disse ela. E você não me parece ser o "amigo da família", se é que me entende.
-Ora – eu disse escondendo uma tonelada de culpa – Mas eu sou, foi por isso que ela pediu para eu cuidar dele... Ele está dando trabalho para ela, apesar de ter um grande amor pela mãe.
-Certo, mas vão ter que falar com o psicólogo mesmo assim... Ou a psicóloga...
Eu me levantei cheio de calafrios. Olhei para a cara de Érik que não entendia nada do que estava acontecendo... Minha culpa começou a aumentar... Mas eu não saberia que sua mãe tentaria se matar por conta do que viu... Digo, eu me vinguei dos meliantes, e de Érik... Ele não pode entrar no bairro, tem fotos – borradas – de como ele esteve, sua mãe o rejeitou... E foi por isso que... Ela...
Demônios! Merda Damiana, precisava tentar se matar?
Fomos procurar o psicólogo, que iria falar do estado de Damiana, e se poderíamos ou não visitá-la, mas um médico acabou nos permitindo a entrada... E Érik entrou, sem me esperar. Eu fiquei à porta, não queria entrar... Queria apenas... esperar mesmo, ali fora... Queria que acabasse aquilo. Eu ainda não estava aceitando que a mãe dele tentou se matar por conta do filho dela ser "gay"... Por conta d'eu ter feito o filho dela caminhar pelas ruas do bairro, ser ridicularizado, apenas por vingança dele ter combinado com os coleguinhas de ir me bater... Ele merece isso tudo, na verdade... Ele merece... Eu deveria parar de me culpar! A sua mãe está viva, está bem.
-Vamos – Érik falou sem expressão no rosto e caminhando na frente...
-Espera, moleque – disse a ele quase correndo nos corredores do hospital.
Ao entrarmos no carro o perguntei como havia sido lá dentro. Ele apenas disse que era culpa minha, e dele...
Voltamos em silêncio pelo percurso inteiro.
Droga... Não me venha com "culpa sua"... Você que quase me matou... Me expôs... Seus amiguinhos me estupraram... Não me venha com "culpa sua", seu fedelho.
Entramos em casa e Érik apenas caiu ao chão sem fazer nenhum movimento.
-Levanta... seu... merdinha – disse puxando ele pelo braço.
Eu o pus no sofá, fui à cozinha e preparei algo para ele beber.
-Toma – eu falei colocando o copo na sua cara.
Ele não respondeu.
-Ei, eu estou falando com você – disse a ele de forma mais ríspida.
Ele não se mexeu.
-TOMA SEU IDIOTA – falei empurrando o copo
O suco de limão com água de coco derramou um pouco sobre seu rosto e roupa. Eu sai resmungando até a cozinha e peguei um pano para enxugar. Ele estava da mesma forma.
Tive que tirar suas roupas... E o levar para a cama, para não ocupar lugar em minha sala.
-Droga, fedelho, você dá muito trabalho! – disse o cobrindo.
-... – ele disse algo inaudível.
-O quê? – perguntei alto indo pra perto de seu rosto, tentando ler seus lábios.
-... – ele mal falou novamente.
-Seu imbecil acha que tenho ouvido superpotente? Fale com a boca idiota! A mamãe quase morreu e você está desistindo da vida é? Vai conhecer a minha vai, te juro que você não vai conseguir mais amar mãe alguma depois disso...
-É TUDO CULPA SUA! – ele berrou com raiva.
-Mas o quê?! – perguntei assustado.
Érik sentou na cama chorando e esboçando uma expressão de raiva...
-É culpa sua... é culpa sua... é tudo culpa sua... Minha mãe... É culpa sua... – ele repetia olhando para mim.
-Não é minha culpa você ter conspirado contra mim com três criminosos, você teve o que você mereceu, seu fedelho idiota! – disse de forma ríspida e categórica, tentando não pensar em culpabilidade nesse momento.
-É culpa sua dela ter tentado se matar! Você é um demônio, Alex, você está acabando com minha vida! – ele disse.
-ENTÃO SUMA DA MINHA VIDA, PORQUE VOCÊ É UM IMPRESTÁVEL, EMERSON! NEM GATIDÃO VOCÊ TEM! – gritei de volta.
Ele se levantou em um pulo, e jogou seu corpo sobre mim. Caímos ao chão... Érik me desferiu alguns socos na cara... Eu finalmente consegui me defender. Prontamente dei uma joelhada em suas costas, e no momento que ele hesitou, eu acertei um soco em sua mandíbula que o fez ficar atordoado.
Eu consegui saí de seu domínio, e o puxei pelo cabelo... Bati sua cabeça contra a parede... Pelo barulho que fez, eu tive medo de ter quebrado alguma coisa da parede... ou dele. Mas ele estava inteiro ainda... Com sua cabeça dura.
Érik avançou sobre mim projetando dois socos em minha direção, como um lutador... Eu consegui me desviar de ambos, e chutei seu estômago, o que o fez cair longe de mim e ficar tossindo.
-Você acha que pode alguma coisa contra mim? – o perguntei caminhando em sua direção – Você acha que pode me vencer mano-a-mano? – Disse chutando seu rosto – Você é um imprestável Érik, por isso sua mãe te rejeitou... ela não te quer desde que seu pai faleceu, ele importava para ela, idiota, não consegue perceber que você é a maçã podre da árvore? E ainda me culpa?!?!?!
-CALA A BOCA – ele gritou seguido de outro grito inteligível e choroso.
Eu chutei seu estômago mais uma vez, o fazendo se virar para cima.
-Você é um imprestável – disse pisando em sua cara – Seu pai morreu e você só dá desgosto... sua mãe não te quer... e sua queda por homens mais cedo ou mais tarde apareceria... Mal sabe fazer sexo, mal sabe trabalhar... Você é imprestável garoto. Aceite isso!
O deixei chorando no chão do quarto. Fui até a cozinha e enchi um copo de whisky, nem quis saber quantas doses deram. Subi com a mão tremendo e algumas gotas sendo derramadas do copo... Entrei em meu escritório e tranquei a porta.
-Mas que...
Foi o que eu disse com os olhos embaçados e as mãos tremendo.
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Ai céus, daqui a uns dois dias é natal... esse capítulo triste e destruidor de famílias, nada a ver com natal... credo... doeu pra escrever... até porque estive sendo interrompido o tempo inteiro pela família e amigos, aff...
Enfim, espero que gostem, falem aí o que estão achando... falem de tudo! Vejo vocês na próxima! Beijos
Tkey-kun
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