Capítulo Único
Lohan Manobal, um jovem de 26 anos, busca desde então encontrar paz. Infelizmente, isso é algo raro quando se é uma pessoa transgênero. Apesar das dificuldades, ele sempre tenta se virar sozinho, sem pedir ajuda à família, que o rejeitou ao descobrir que sua filha, na verdade, era um homem.
Além disso, sua namorada terminou com ele. Antes de se assumir, Lohan estava em um relacionamento de anos com uma mulher, que decidiu terminar ao saber de sua transição. Segundo ela, não poderiam continuar juntos, pois Lohan agora era um homem, e ela era lésbica. Por um lado, Lohan compreendeu e ficou feliz pela honestidade, mas ele a amava profundamente, tornando a separação difícil. Mesmo assim, tentou se afastar. No entanto, a distância não durou, e ambos acabaram voltando como amigos próximos.
Desde então, Lohan tem sido alvo de relacionamentos superficiais, usado como uma válvula de escape para a carência de outras mulheres. Isso o fez desacreditar no amor e na possibilidade de ser realmente feliz, acreditando que essa rejeição constante está ligada ao fato de ser trans. Mesmo contando com o apoio de sua ex-namorada, agora sua melhor amiga Minnie, ele ainda tem dificuldade em acreditar que será amado de verdade.
Na véspera de Natal, Lohan decidiu dar um tempo de sua rotina e viajou para o exterior. Na manhã do dia 24 de dezembro, embarcou em um voo para a Coreia do Sul. Ao chegar, seguiu para o apartamento que já havia alugado, planejando ficar em Seul por um bom tempo, sem pressa de retornar à Tailândia.
Mais tarde, naquela noite, ele recebeu uma videochamada de Minnie.
— Como foi a viagem? — perguntou ela.
— Bom, tirando o fato de que uma mulher quase vomitou em mim — disse ele, jogando-se no sofá. — Foi razoável.
Minnie franziu o cenho, imaginando a cena.
— E o que você pretende fazer aí? Seu coreano é péssimo. Tem certeza de que vai sobreviver dois meses?
— E acha que eu trouxe celular pra quê? Eu me viro com o Google Tradutor, tá legal? — respondeu, arrancando uma risada leve dela. — Eu só precisava de um lugar onde não tivesse minha mãe, meu pai ou meus irmãos. E a Coreia do Sul parece perfeita pra isso.
— Entendi... Mas vai conseguir ficar tanto tempo longe da sua melhor amiga? — provocou, fazendo um beiço.
— Nossa, eu tinha esquecido disso... — ele fez uma cara de tristeza, mas logo abriu um sorriso enorme. — Eu volto em quatro meses. Tchau, Minnie!
— Ah, seu desgraçado! Eu te odeio, seu mer... — ela foi interrompida quando Lohan desligou a chamada.
Ele jogou o celular no sofá e ficou olhando para o teto, sentindo o estômago roncar. Levou a mão à barriga, pensando onde poderia pedir comida àquela hora. Foi então que lembrou: Seul não dorme.
Vestindo um conjunto de moletom branco, ele pegou uma jaqueta preta e calçou um tênis branco. Ao se olhar no espelho, viu o cabelo desarrumado e cheio de frizz. Sem outra solução, colocou um boné branco e saiu.
Logo ao sair do prédio, ouviu gritos. Olhou para o lado e viu uma mulher correndo pela calçada, seguida de perto por um carro. O veículo parou em frente ao prédio, e um homem idoso, todo agasalhado, desceu rapidamente.
Enquanto isso, o celular de Lohan vibrou no bolso. Ele o pegou e começou a olhar uma foto enviada por Minnie: seu cachorro vestido de rena. Nesse momento, a mulher que corria esbarrou nele, fazendo seu celular cair no chão.
A moça gritou ao tropeçar, quase caindo, mas foi segurada por Lohan. No entanto, assim que ele percebeu o estado de seu celular — com a tela completamente rachada e sem ligar —, soltou o braço dela, deixando-a cair no chão com um gemido de dor.
— Meu celular! — exclamou ele, pegando o aparelho inutilizado. — Ah, merda! — murmurou, lançando um olhar irritado para a mulher no chão.
— Kim Jennie! — o velho que saiu do carro gritou, avançando furioso em direção à mulher. — Kim Jongin me disse que você fugiu do encontro. Por que fez isso, garota? — perguntou, parando ao ver Jennie se levantar enquanto limpava a poeira da roupa.
— Ai, papai, eu acabei de cair e é só com isso que você se importa? — reclamou, massageando a nuca. — Eu não gostei daquele homem, por isso fugi — completou, dando de ombros.
— Jennie, estou há anos tentando arrumar um marido pra você! Sua irmã, na sua idade, já estava grávida e muito bem casada, sabia disso?
— Não sei se percebeu, mas quem está aqui na sua frente é Kim Jennie, não Kim Jisoo — respondeu com um tom brincalhão, o que só deixou o pai ainda mais irritado.
— Ora, sua...
— Não quero interromper a briga de vocês, mas meu celular não está mais funcionando — Lohan interveio, mostrando o aparelho rachado e olhando fixamente para Jennie.
— Quem é você? — Kim Yeongsu perguntou, franzindo o cenho.
— Eu sou...
— Meu noivo! — Jennie interrompeu, sorrindo amplamente enquanto recebia olhares confusos de Lohan e do pai.
— Noivo? — os dois disseram em uníssono, a entonação de surpresa idêntica.
— Isso mesmo! — Jennie rapidamente correu para o lado de Lohan e agarrou o braço dele com firmeza.
Lohan tentou se afastar, mas Jennie aproximou-se de seu ouvido e sussurrou, sem deixar o pai perceber:
— Finge que é meu noivo, e eu te compro um celular novo e ainda te pago por isso.
Lohan parou de resistir. Não era louco de recusar um celular novo, especialmente considerando o estado do seu.
— A verdade é que eu o amo, papai. Por isso fugi do encontro com Kim Jongin — mentiu Jennie descaradamente, olhando para Lohan.
— E qual é o nome do seu noivo? A família dele vive bem? Ele trabalha com o quê? — o pai questionou, desconfiado.
Jennie lançou um olhar desesperado para Lohan, torcendo para que ele respondesse.
— Me chamo Lohan Manobal, senhor — disse ele, curvando-se educadamente.
— Manobal? Não parece ser daqui.
— Não sou, senhor. Sou da Tailândia, estou na Coreia apenas pra passar minhas férias.
— E como vocês se conheceram, já que Jennie nunca foi para a Tailândia?
— É... — Jennie começou, mas gaguejou ao tentar inventar algo.
— Sou advogado, senhor. Tenho minha própria empresa na Tailândia, mas às vezes sou contratado por clientes coreanos, o que me traz até aqui. Conheci Kim Jennie durante uma dessas visitas — disse Lohan, segurando a mão de Jennie de maneira convincente. — Nos esbarramos no shopping.
— Hum... Entendi. Bem, vamos marcar um jantar em breve. Assim nos conhecemos melhor e já discutimos a data do casamento. Quero conhecer seus pais antes, Lohan Manobal!
— Ah, claro! — exclamou Lohan, forçando um sorriso. — Vou providenciar isso, senhor Kim.
O velho assentiu, satisfeito, e caminhou de volta para o carro. Eles esperaram o veículo sair de vista antes de se soltarem.
Lohan virou-se para Jennie, furioso.
— Kim Jennie, né?
— Você é advogado mesmo? — perguntou, com medo de que ele a processasse.
— Não. Eu menti! Eu trabalho como secretário.
— Ah, sim! Costuma vir bastante aqui? — encarou Lohan, com um pingo de esperança de que ele afirmasse a pergunta.
— Não — respondeu, friamente.
— O que acha de sairmos pra comer e conversar sobre o celular? Podemos também decidir a quantia que você quer que eu te mande.
— Eu só vou aceitar porque estou com fome. Eu não conheço nada aqui, então me leve pra algum lugar com comida boa.
— Tem que ser comida mesmo? É porque tem uma conveniência aqui perto.
— Tá bom. Tanto faz — deu de ombros.
Eles compraram algumas coisas e Jennie resolveu levar Lohan até o terraço do prédio onde morava — o mesmo prédio que Lohan estava ficando —, pois a vista de lá era linda. Ambos sentaram em dois banquinhos que Jennie levou, e observaram a paisagem enquanto comiam onigiri — uma bola de arroz no formato triangular com algas envolta — e bebiam leite de banana.
— Já conversamos sobre o celular e sobre a quantia que você deseja, mas... E se eu te oferecer um pouco mais de dinheiro? — Jennie perguntou.
— Por que você me ofereceria mais dinheiro? O que quer em troca disso? — ele encarou Jennie, que mordia os lábios, um pouco nervosa.
— É que... Talvez... Só talvez você possa me ajudar com meu pai, sabe? Fingir ser meu marido... — pediu, sem jeito. — Podemos até fazer um contrato, onde esteja escrito que podemos ficar com quem quisermos, que o casamento é apenas uma farsa — sugeriu, sorrindo e tentando não tremer tanto a perna.
— Acho que não vai rolar. Eu aceitaria fazer isso, já que eu não acredito no amor verdadeiro. Mas eu nem tenho grana pra trazer meus pais pra cá.
— Dinheiro não é um problema, eu pago as passagens.
— Se esse fosse o único problema... — murmurou, bebendo seu suco de banana. — Eu sou um homem trans que não é aceito pelos pais, e isso fez com que eu me afastasse deles, Kim Jennie — falou, sem se importar com a reação que ela teria.
— Entendi... Mas o que seria um homem trans?
Lohan encarou-a com o olhar indignado, mas lembrou que na Coreia do Sul não era muito comum encontrar pessoas transgênero, então suspirou pesadamente e tentou explicar calmamente.
— Homem trans é quando você não se identifica com seu gênero biológico. Por exemplo: eu nasci mulher, mas me identifico como um homem. Pros meus pais, eu sou a filha deles, mas pra mim, eu sou o filho. Entendeu?
— Acho que entendi... Mas isso não é um problema. Eu não ligo!
— Você até pode não ligar, mas o seu pai com certeza vai — baixou a cabeça, mas, ao raciocinar o que Jennie disse, levantou seu olhar e rapidamente encarou a mulher, que o encarava também. — Você disse que não liga?
— Sim. Eu não ligo se você é um homem trans. O importante é que você é um homem — sorriu. — E eu gosto de homens.
— Ok... Eu não tenho aquilo que os homens que nasceram homens têm, sabe?
— E daí?
— E se algum dia seu pai te pedir um neto? O que você vai fazer? — deu uma mordida no seu onigiri.
— Inseminação artificial. Eu tenho dinheiro suficiente pra pagar. Então ele não vai nem desconfiar — deu de ombros, saboreando sua bebida.
— Por que quer tanto que seja eu?
— Não sei. Acho que é porque você é bonito e mais alto que eu. Deve ser por isso — Lohan a encarou com desdém. — Por que você disse que não acredita no amor verdadeiro?
— Eu já namorei muitas garotas que me usaram apenas pra amenizar a carência. E, depois, elas me despachavam e falavam que queriam ter uma família no futuro, e eu era incapaz de dar isso pra elas. Então, no final, eu acabei aceitando que um homem trans nunca vai ser amado de verdade. Ou, pelo menos, eu nunca vou ser amado...
— Elas são umas filhas da puta — Jennie xingou, com raiva. — Lohan, se você aceitar se casar comigo, eu te mostrarei que você pode ser amado.
Lohan a encarou com a sobrancelha arqueada, rindo enquanto via seu olhar determinado.
— Aí, garota, a gente se conheceu há alguns minutos. Como vai provar que eu posso ser amado sendo que nem nos amamos? Hum? — terminou de comer seu onigiri.
— Eu não sei — murchou os ombros e fez beiço. — Mas — sorriu e endireitou a postura. — Nós não sabemos o que o destino preparou pra gente. Vai que, talvez, a gente se apaixone um pelo outro?
— Você é otimista, né? Tudo isso só pra se livrar do seu pai?
— Em minha defesa, ele só arranjava homens chatos pra mim. Todos eles eram iguais, sabe? Não faziam uma piada sequer sem ser machista.
— Nossa! E por que acha que eu sou diferente?
— Intuição, talvez — deu de ombros, pegando seu celular para ver o horário.
Lohan encarou a tela do aparelho de Jennie e viu que o relógio marcava 00:00, ou seja, 25 de dezembro. Já era Natal. Ele sorriu, bebendo seu suco de banana, e olhou para o céu.
— Feliz Natal, estranha! — desejou, fazendo Jennie encará-lo e rir enquanto desligava o celular e o guardava no bolso de sua calça.
— Feliz Natal, estranho! — falou, num tom sarcástico e brincalhão, fazendo Lohan rir também.
Ambos passaram o Natal juntos, uma data que, na Coreia do Sul, é comemorada em casal. E, para ajudar mais, o universo resolveu dar um empurrão, e a primeira neve caiu junto com vários outros flocos brancos.
Jennie sentiu que Lohan era o homem certo para ela, principalmente depois da primeira neve. Mas, então, ela apenas fechou os olhos e torceu internamente para que Lohan aceitasse sua proposta e ela descobrisse se realmente era ele.
A imagem acima foi feita com IA, qualquer erro, é culpa da inteligência articial!
FELIZ NATAL!!!
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