Alegria - KTH
Parceria com amorices
Natal – Tarde
Eu teria resmungado bastante sobre uma garota bonita e feliz, acompanhada do namorado desgraçadamente lindo, ter se esbarrado em mim. Mas mordi minha língua quando ela pediu desculpas. Respondi ao seu "feliz natal" e continuei meu caminho.
Poderia ter sido um natal melhor, mas não havia sobras de ceia para o almoço, até porque não teve ceia. Meu irmão foi comemorar o natal com sua namorada, papai saiu para beber com os amigos como se fosse um dia qualquer, e mamãe acabou participando da comemoração dos vizinhos. Eu fiquei em casa assistindo o Grinch, e eu era o Grinch, a diferença é que ele foi salvo.
Nem quis comer o pedacinho de bolo que mamãe disse que tinha trazido para mim. Só dormi até meio dia. Natal era só mais um dia qualquer na minha casa.
Quando acordei já não tinha ninguém em casa novamente. Suspirei em ver a geladeira vazia e resolvi comer um ramyeon na loja de conveniências. Chutei os pacotes que estavam impedindo a porta de abrir direito, um deles era até da casa ao lado e o carteiro entregou errado, mas ninguém havia percebido e eu cogitei ficar com o pacote para mim.
Caminhei até a loja chutando o que viesse ao meu caminho, ou seja, neve e uma garota bonita com seu namorado. Havia tido uma tempestade na noite anterior e o frio estava extremo.
A loja estava aberta, como sempre, até porque as lojinhas de conveniências foram criadas para salvar pessoas fracassadas como eu.
Empurrei a porta e não me surpreendi em vê-la vazia. Havia uma nova pessoa como atendente. Um garoto esquisito usando gorro de papai Noel. O que será que aconteceu com a velhinha mal humorada? Será que ela tinha se demitido ou... Partiu para uma melhor?
Peguei o ramyeon e alguns chicletes. Tentei não levar a sério o atendente me seguindo com os olhos enquanto eu passeava pela loja.
- Vou preparar aqui. – Avisei ao atendente enquanto ele somava o valor na máquina registradora.
Ele assentiu com a cabeça e pegou o dinheiro em minha mão. O garoto sorriu um pouco enquanto pegava meu troco. Levantei a sobrancelha. Pessoa estranha.
- Fique a vontade. – Ele disse me apresentando uma voz grave. – Feliz Natal. – Tentei formar um sorriso em meu rosto para não deixá-lo no vácuo.
Me afastei já indo ao microondas. Eu poderia comer em casa, mas preferia estar fora de casa. Encostei no balcão esperando o ramyeon ficar pronto e espremi os olhos em perceber que o garoto sorridente estava me rondando. Sinceramente, eu não estava nem um pouco a fim de dividir meu almoço.
Cruzei os braços quando ele se aproximou de frente.
- Qual seu nome? – Perguntou sorrindo no segundo seguinte.
- Na Eun. – Respondi apenas sem desfazer minha barreira invisível.
- Sou Taehyung. – Disse, mesmo que eu não tenha perguntado, ajeitando o gorro em sua cabeça.
Concordei com a cabeça sem uma reação muito gritante. Eu só queria ficar na minha.
- Você mora nesse bairro? – Ele continuou puxando assunto. Assenti com a cabeça. – Eu me mudei recentemente para cá.
- O que aconteceu com a Srª Kim? – Perguntei séria.
Taehyung piscou um pouco me observando. Ele pressionou os lábios formando um bico. Talvez ele não tenha chegado a conhecer a Srª Kim.
- Ela trabalhava aqui. – Expliquei e sua expressão se iluminou.
- Aaaah. – Estalou os dedos. – Srª Kim? – Sorriu mostrando os dentes. Que sorriso diferente, pensei. – Ela não quis trabalhar no dia de natal, e eu consegui o emprego. Por hoje.
- Só hoje? – Levantei a sobrancelha.
- E nos finais de semana. – Mudou o lado da bolinha fofa do gorro.
O microondas apitou avisando que o tempo que coloquei havia acabado. Peguei meu ramyeon e me dirigi à única mesinha que lá havia, para os clientes comerem suas comidas de pessoas solitárias e tristes.
Observei o Taehyung puxar a outra cadeira e sentar de frente para mim. Ele sorriu como se não percebesse que eu não queria uma companhia.
- Daqui vai ser ruim ver os clientes chegando. – Falei abrindo o pote e recebendo o vapor em meu rosto.
- Ninguém virá. – Ele sorriu. – Você foi a primeira pessoa que apareceu aqui hoje.
Olhei para o relógio em meu pulso e dei de ombros. 14h.
- As pessoas não precisam de lojas de conveniência no Natal. – Taehyung disse apoiando o rosto nas mãos. – Estão todos comendo as sobras da ceia.
- Não é? – Dei de ombros misturando meu macarrão.
Taehyung ficou me observando comer, o que foi bem intimidador. Eu nem entendia porque ele parecia feliz, ainda mais trabalhando no dia de natal.
- Na Eun, você é uma super fã de ramyeon? – Ele perguntou quebrando o silêncio.
- Aaah, sou. – Brinquei sem querer explicar que não tinha almoço em casa. – Para que aquelas comidas gordurosas de Natal quando se tem isso aqui? – Apontei para o pote.
Ele negou com a cabeça e torci a boca.
- Não se come as coisas de Natal todos os dias. – Disse. – Ramyeon podemos comer todos os dias. Eu espero o ano todo pelo menos pelas comidas.
- Você acredita em papai Noel também? – Perguntei lhe causando uma risada.
- Tudo que recebi hoje de manhã foi um abraço da minha mãe. – Contou. – Talvez o presente não seja nada físico.
- Como o que? Você está perdendo seu tempo aqui numa loja vazia.
- Você apareceu. – Disse e sorriu.
Franzi as sobrancelhas. Eu não sabia bem o significado daquilo, e soube menos ainda o que responder. Então continuei comendo.
Taehyung levantou e eu me virei para observá-lo. Sabe quando alguém te fala a maior idiotice, e aquilo fica vagando pela sua mente e se batendo nas paredes do seu cérebro causando um incômodo?
Me ajeitei rapidamente quando ele voltou. Taehyung colocou um suco na mesa e sentou-se novamente.
- Por minha conta. – Disse. – Meu presente de natal para a desconhecida do bairro.
- Por quê? – Perguntei alternando o olhar entre ele e a caixinha. Eu talvez dissesse que tinha dinheiro para pagar, mas aquele garoto estranho estava me deixando estranha também.
- Isso importa? – Tirou o gorro e sacudiu os fios.
Mordi a bochecha. Legal. Aquele era realmente a única coisa que ganhei naquele natal.
- Obrigada. – Falei pegando a caixa. Ganhei outro sorriso. Será que as mandíbulas deles ficariam doloridas até o final daquele dia?
Talvez ele tivesse bons motivos para estar tão feliz. Taehyung se tornou um garoto muito bonito depois que olhei muito para ele. Bebi o suco de uva em silêncio.
- Eu nem tive uma ceia de natal. – Contei colocando a caixinha na mesa. Ele me encarou com o bico de mais cedo. – Na minha casa nunca comemoramos nada, pelo menos nada em família.
- Aaah. – Suspirou e abaixou o olhar por um segundo. – Sabe, achei que estivesse tão chateada porque havia brigado com seu namorado.
Levantei as sobrancelhas e ele me olhou parecendo envergonhado. Acabei rindo enquanto negava com a cabeça.
- Papai Noel poderia me dar um de presente. – Brinquei ainda rindo. – Mas você disse que ele não dá coisas físicas. Quebrou minhas esperanças.
- Às vezes vem de outra forma. – Respondeu abrindo seu sorriso outra vez.
- Eu ainda não entendi. – Apoiei a bochecha na mão. – Por que você parece tão feliz. Pensa só no saco que é ficar preso aqui, sendo que poderia estar em qualquer outro lugar fazendo algo legal.
- Você não acha que já ficamos tristes muitos dias? – Taehyung imitou minha posição, e sua bochecha ficou espremida em sua mão. – Poucos momentos do ano dá prazer de viver. Em todos os meses temos dívidas, obrigações, estresse... Mas agora é natal. – A última frase saiu quase num sussurro. Me senti hipnotizada pela sua explicação e não consegui abrir a boca para contestar. – Em algum dia você precisa estar alegre, para a vida fazer sentido.
Eu não sei. De repente estava conversando com o completo estranho sobre comidas de natal. Ele cogitou preparar um arroz instantâneo e jogar passas secas dentro. Eu o impedi, mas fez minha barriga doer de rir.
Realmente, ninguém apareceu, e foi bom, porque não atrapalhou nosso jogo. Passamos boa parte da tarde jogando UNO.
- Feliz Natal, Na Eun. – Taehyung disse pendurado na porta enquanto eu saía com algumas sacolas, acabei comprando mais do que um ramyeon.
Já estava querendo escurecer, e eu pensei em preparar o jantar naquele dia. Taehyung me fez refletir com simples palavras e caramba! Tudo bem que ninguém estava fazendo, mas por que eu não fazia por mim?
- Feliz Natal, Taehyung. – Respondi com um sorriso bobo.
- A gente se vê. – Ele acenou e confirmei com a cabeça.
Quando cheguei em casa quase tropecei nas caixas outra vez. Coloquei as compras no chão e resolvi ajeitá-las. Me senti estranha quando peguei a caixa da vizinha. Destinatário: Nam Kyu. Deveria ser um monte de maquiagem que eu não tinha, mas talvez aquela caixa guardasse algo mais importante que isso.
É, deveria me esforçar, pelo menos naquele dia.
Saí rapidinho de casa e coloquei a caixa na porta da vizinha. Deveria ter entregado antes.
Prendi meus cabelos antes de colocar meus poucos ingredientes na bancada da cozinha. Bem provavelmente eu estaria sozinha, mas me sentia animada de alguma forma.
"A alegria não está nas coisas, está em nós." (Johann Goethe)
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