Sobre o piano dela tem flores e velas,
Como se fosse um templo da música
Ela manuseia o instrumento com perfeição,
Sua voz e timbre vem do útero do universo,
Seu cantarolar é como uma oração;

Como um rouxinol que estava engaiolado,
Ela se liberta e me faz desabar por inteiro,
Tantas coisas presas ela consegue libertar,
Por toda vida eu estive esperando isso,
Por algo sem pretensão que me salvasse;

Podemos chamar isso de deus por acaso?
A Torre de Babel que se torna seus shows,
Não será derrubada dessa vez, eu creio,
Pessoas de todos os lugares, jeitos e índoles,
Se reunindo como uma peregrinação;

Pelas flores em seu cabelo, eu peço:
Por favor não nos abandone também,
Todos precisamos de alguém para contar,
Alguém que seja humano como somos,
Para nos inspirar e ter um laço fraterno;

E tudo o que acredito sobre divindades,
Eu quero alguém para acreditar agora,
Anseio por alguém semelhante a cantar,
Das coisas que se passam em meus olhos,
Que seja poesia e som, nunca vou contestar;

Tenho atravessado noites perpétuas,
Nunca estive mais sozinho e tenho errado,
Criamos deuses para não caminharmos sós,
Se eu clamar seu nome e sua arte, eu sei
que possivelmente vão dizer algo ruim,
Porém aqui eu encontro motivos ficar;

(Data: 18 de Março de 2018)