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Capítulo 3

•° 3 °•


Ano de 2008

Laura sabia que aquela sexta-feira seria a mais agitada da temporada praiana em São Luís. Já se esperava isso, visto que a abertura do festival de música da capital começava naquele dia. Muita gente de outros estados vinha participar dessa festa popular, mas os estrangeiros eram os maiores admiradores e a maioria deles não passava de marinheiros que procuravam diversão fora do convés.

Ela estava de partida para o trabalho, antes mesmo, sofrendo por antecedência devido ao grande cansaço que sentiria. Laura suspirou longamente enquanto trancava a porta do apartamento e ajeitou a alça da bolsa nas costas. Naquele dia ainda teria de trabalhar no outro quiosque e estava levando o uniforme de lá para trocar no período entre turnos.

Enquanto Laura descia as escadas, dona Rosa subia. A senhora estava com cara de poucos amigos, reclamando sem parar que estava velha demais para subir e descer "quatrocentos mil" degraus e não tinha ninguém para colocar para fora o lixo dela. Laura ouviu as reclamações da senhora e fez uma nota metal de que a partir daquele momento faria aquela tarefa para sua vizinha encrenqueira. Talvez a mulher fosse assim só porque ninguém nunca era gentil com ela.

Além disso, concordava com o fato de que nenhum idoso poderia ser submetido a uma vida escrava de escadas infindáveis daquele jeito. Ela se lembrou, assim, de sua avó e que ela também passava pelo mesmo dilema de Dona Rosa. Laura quis procurar outro lugar para elas morarem, precisava oferecer uma qualidade de vida melhor para Amélia.

Foi entre esses pensamentos que ela chegou no trabalho. Como havia imaginado, as pessoas começavam a aparecer na Ponta da Areia como formigas se juntando ao redor do torrão de açúcar, mesmo sendo cedo do dia. As ondas batiam devagar nas pedras que sustentavam a passarela de madeira e ferro. O vento estava favorável naquela manhã.

Mais turistas chegaram ao decorrer das horas, muitos estrangeiros nacionais – aqueles que eram de regiões diferente do Brasil e pareciam povo de outra terra – e os estrangeiros internacionais. Tanto linguajar diferente em um mesmo lugar deixava Laura extremamente confusa, mal entendia, às vezes, o pedido do cliente. Havia uma agitação sem fim naquele mar de pessoas, indo e vindo como a maré constantemente. Era difícil acompanhar a dinâmica deles, todos tão ligeiros e cheirando, muitas vezes, à areia e sal. Toda aquela gente deixava o ambiente muito perigoso, era bem mais fácil de um delito passar despercebido.

– O mar não está pra peixe hoje, hein? – Lorena comentou, lá do caixa.

Laura tinha acabado de deixar uma pilha de pratos sujos na cozinha e se preparava para buscar mais. Ela olhou para o mar acinzentado de São Luís e deu um leve sorriso de preocupação. Findava o dia e ele estava de resseca. Com tanta gente na praia, era perigoso alguma fatalidade acontecer também.

– Não mesmo. – Laura comentou, olhando Lorena tirar do bolso um maço novo de cigarro.

– Olha o caixa aqui pra mim. – Ela respondeu já colocando um cigarro na boca.

– Por favor, Lorena, não deixe o caixa para mim! Hoje está uma loucura e eu não vou conseguir fazer tudo sozinha.

– Relaxa, Laurinha, vai dar tudo certo.

Ela odiava quando lhe chamavam de "Laurinha", aos seus ouvidos, sempre era um termo pejorativo. Porém, Lorena não se importou muito com a cara zangada da colega de trabalho, pelo contrário, saiu correndo para os fundos do quiosque e abandonou, mais uma vez, o caixa. Laura bufou de raiva e foi limpar uma mesa que os clientes tinham acabado de deixar. No entanto, bastou dois minutos para uma catástrofe acontecer. Ela mal deu as costas e um larapio de praia, que não devia ter mais que doze anos, roubou a caixa registradora. Laura conseguiu ver a tempo o ladrãozinho enfiar o dinheiro no bolso e sair correndo.

– Manny, roubaram o caixa! – Só deu tempo de dizer isso para o cozinheiro.

Laura largou a bandeja no balcão e correu atrás do jovem larapio. As pernas longas lhe deram uma vantagem, mas com mal trinta metros percorridos ela já se sentia cansada, Laura não era do tipo atlética. Enquanto perseguia o garoto, ela gritava para as pessoas "segura o ladrão", mas ninguém se compadecia da situação, apenas olhavam sem se importar, talvez no fundo dizendo: "ainda bem que não aconteceu comigo".

Quando pensou que perderia de vez o jovem ladrão, alguém resolveu salvar a pátria. Na verdade, foi uma tremenda má sorte do larapio. Ele se chocou violentamente com um cara robusto, talvez maior que um armário. Ele estava acompanhado de outros armários e logo perceberam o que estava acontecendo. Um total de seis homens, todos brancos como a neve, foi a única coisa que Laura conseguiu observar naquele primeiro momento.

– Pega o ladrão! – Laura tentou mais uma vez.

O armário maior segurou o larapio pelo braço e o encarou com os olhos arregalados. A julgar pela experiência de Laura trabalhando em um lugar que passa todo tipo de nacionalidade, ela poderia apostar – e ganhar – que aqueles caras eram estrangeiros. Ela só não sabia se entendiam a sua língua. Talvez sim, pois a urgência da situação também era nítido no rosto deles.

Laura deu alguns passadas rápidas até o grupo de homens que "capturou" o jovem larapio e apoio as mãos no joelho, se inclinando um pouco. Ela estava sem ar, sentindo as pernas tremerem, por medo e por sedentarismo. Pediu um segundo e respirou fundo três vezes. Recompôs sem demora sua postura ereta e majestosa de sempre e encarou a eles, que agora tinham uma outra características notória, os olhos claríssimos como cristais.

– Vocês me compreendem? – Sem cordialidades, Laura perguntou.

– Eu conheço poucas palavras da sua língua. – O armário maior e que detinha o ladrão respondeu, com um sotaque muito carregado, nitidamente francês. Aquela frase parecia ensaiada, como se ele tivesse aprendido apenas esperando algum brasileiro falar com ele.

– Ãn... Okay! – Laura responde, com um sorriso nervoso. Ela tentaria explicar a situação com seu francês básico, pois aqueles homens não pareciam dispostos a colaborar com ela tão fácil. Apontou para o ladrãozinho e disse: – Voleur!*

Os homens arregalaram mais ainda os olhos e dirigiram seus olhares para o ladrão. Laura caminhou até ele e revirou os seus bolsos. Tirou de lá todas as notas que ele havia roubado e guardou no compartimento interno do seu avental. Laura era alta demais, então teve que se abaixar para olhar diretamente nos olhos daquela criança marginalizada, pelas oportunidades. Pela vida.

– Mesmo que eu te entregue aos policias – Laura disse ao garoto – eles não farão nada com você, porque não se pode prender uma criança. Mas isso não quer dizer que eu vou te poupar.

O larapio lhe olhou com o medo estampado na face. Laura achava que aquela deveria ser a primeira vez que tinham lhe pegado em flagrante. Pensou em quantas coisas poderia estar passando pela cabeça do pequeno e sentiu uma complacência infundada no coração. O armário ainda o segurava e Laura notou que a região do braço dele estava ficando avermelhada. Ela então desfez o contato entre eles e repreendeu com o olhar a dureza do estrangeiro.

Ao retornar seus olhos para o larapio, ela suavizou a expressão, se agachou e segurou os ombros do menino. Lhe olhou de baixo para cima; o menino estava usando um chinelo tão velho que era capaz de sentir o solo através da sola, suas roupas estavam maltrapilhas e sujas e o cabelo crespo necessitava de uma lavagem. Quem poderia deixar ao acaso um garoto tão lindo com este? Foi o que ela pensou.

– Você não precisa viver essa vida, mesmo que pareça não haver outra alternativa. – Ela disse, quase chorosa – Sempre há algum anjo por aí disposto a nos ajudar.

Laura viu os olhos lindos do garoto brilharem com lágrimas.

– Anjos existem? – A inocência daquele garoto foi denunciada nessa frase. Como ele teve a "malícia" de roubar algo sendo tão puro?

– Sim, eu sou um anjo. – Laura respondeu, meiga.

– Você não vai me denunciar, então?

– Claro que não, mas só se você me disser quem são seus pais.

O garoto pareceu num beco sem saída. Laura sabia que provavelmente aquele garoto estaria em dois tipos de situação: ou não tinha pais ou os seus pais lhe obrigaram a fazer aquilo. Em qualquer uma das hipóteses, ele não tinha culpa do delito.

– Não posso moça, não posso! – O garoto começou a chorar e se soltou de Laura.

Ela o viu se perder na multidão de pessoas. Todos tem um ponto fraco e o daquele pequeno larapio era esse. Laura não teve tempo de suplicar que ele ficasse.  A ideia maluca de ser um anjo para aquele garoto passava na sua cabeça. Poderia talvez, tirá-lo desse mundo horrível de crimes ou pelo menos lhe dar roupas limpas e comida. Mesmo que Laura fosse tão pobre quanto ele, o sentimento de ajudar aquela criança era maior. Ela daria um jeito, sempre dava.

E naquele dia, em especial, ela estava muito caridosa.

Já Manny... O cozinheiro do quiosque chegou esbaforido, com seus cem quilos envoltos numa roupa branca devido uma promessa que fizera pela saúde da esposa, e já foi gritando com Laura:

– Por que você deixou que roubassem o caixa?

– Eu não deixei! Nem ao menos estava vendo. – Laura se defendeu – O caixa é responsabilidade da Lorena, não minha!

O cozinheiro engoliu o ódio amargamente por ver que Laura tinha razão.

– Onde está o ladrão? – Ele perguntou, orgulhoso.

– Não consegui detê-lo, mas recuperei o dinheiro.

Laura tira do bolso do avental o dinheiro que estava com o larapio e coloca na mão de Manny, com um olhar de cansada.

– E esses aí? – Manny pergunta, apontando com o queixo os estrangeiros.

Laura havia se esquecido dos estrangeiros. Os pobres homens estavam assistindo aquilo tudo sem entender nada pelo visto. Praticamente pegaram o ladrão, mesmo que sem intenção.

– Foram eles que pararam o larapio. Pague um jantar para eles em forma de gratidão se você quiser ou não. – Laura se desfez da curiosidade do cozinheiro e começou a voltar para o quiosque – Tenho que trabalhar.

Em uma última cena, voltou-se para os armários e disse em francês:

Merci de votre aide!*

+++


Ano de 1627

Ele havia chegado. O sobrinho do Capitão, com toda certeza, já estava na fazenda e, prestes a adentrar a sala do casarão. Eulália sabia disso porque espiava das escadas a família toda reunida na sala, parados em pé diante da porta.

O Capitão usava o seu mesmo uniforme de sempre e a Sinhá*, um longo vestido rodado com cara de novo. O filho mais velho do casal vestia calças de linho preto, presas por suspensórios de couro, e uma camisa branca sobreposta por um casaco de botões. O outro filho estava mais simples, apenas vestindo shorts que iam até o joelho, também presos por suspensórios, um sapato ilustrado, inclusive por Eulália, e meias brancas que iam até a panturrilha. Ele amava usar boinas quadriculadas e naquele dia não era diferente. Os garotos não tinham muita diferença de idade, um tinha doze anos e o outro dez.

Todos na sala sorriram ao encarar a porta e o visitante tão esperado transpassou o portal de madeira. Ele carregava debaixo do braço uma maleta marrom que imitava couro de vaca e vestia um uniforme parecido com o do Capitão, só que o dele era branco, enquanto que o do seu tio era azul. Eulália sabia que a altura da porta de entrada não podia ser tão grande assim, mas aquele rapaz tinha uma estatura tão alta que se levantasse o braço, ultrapassaria com facilidade o portal.

No entanto, o que mais chamou a atenção de Eulália foi o fato de que sobrinho do Capitão não era nem de longe como havia imaginado, isto é, um velhote pançudo e careca. Ele sem dúvidas era o rapaz mais lindo que já tinha visto na vida. Seus cabelos loiros faziam o par perfeito com os seus olhos esverdeados. O seu queixo anguloso dava a ideia de alguém que sabia conversar. Os doces lábios pincelados no rosto formavam o que se pode dizer como o melhor sorriso do mundo.

No peito de Eulália, algo fervilhou, como uma estranha sensação de mergulhar no mar.

– Meu sobrinho, você chegou! – O Capitão disse, eufórico, lhe abraçando e dando tapinhas nas costas.

– Que saudades, tio. – O jovem respondeu.

Era uma bela voz, Eulália julgou. Uma voz que reverbera entre seu corpo e provoca cócegas nas suas entranhas. O tipo de voz que, ao ordenar, todos obedecem, não por ser autoritária, mas por ser calorosa. Naquele instante, Eulália percebeu que gostava de vozes.

Os dois caminharam para o centro da sala e logo atrás, dois escravos apareceram puxando baús e mais baús, provavelmente, do sobrinho do Capitão. Eulália se perguntou "para que tanta coisa?" e em seguida desceu as escadas e se dirigiu as escadarias, onde estavam as coisas. Ela pretendia ajudar os escravos, Petre e Marcone, tanto porque não se conformava em vê-los carregando tudo aquilo sozinhos, quanto porque estaria de um ponto da sala que pudesse continuar a olhar o visitante.

– Para onde devo levar? – Eulália pegou maletas menores que pudesse carregar sozinha.

– O quarto do sobrinho do Capitão. – Petre explicou.

Como Eulália sabia onde era o quarto, já que foi ela mesma que o preparou, somente seguiu o seu caminho. Enquanto isso, pensava em Petre, o segundo escravo comprado pelo Capitão. Ele e a madrinha Luanda era como os pais de todo mundo na fazenda, mesmo não sendo os mais velhos entre eles. O fato é que estavam a mais tempo por ali e cuidavam de cada novo escravo que chegava na fazenda.

Petre tinha um valor sentimental importante para a jovem Eulália. Foi ele quem cuidou da mãe dela quando chegou à Fazenda. Aparentemente os Capitães do mato a encontraram na praia e venderam-na ao Capitão. Petre contava que ela era muito nova e uma mulata*, e ele não entendi o que uma mulata fazia fora de um engenho. Ninguém nunca soube de onde a mãe de Eulália surgira. Tal como foi seu aparecimento, foi seu sumiço: a praia. O seu corpo se desintegrou com os grãos de areia e sua essência dissolveu-se com a brisa, sem que ninguém ao menos presenciasse isso.

– O que está fazendo? – Alguém perguntou, assustando Eulália.

– Madrinha, vosmecê ainda vai me matar do coração!

A jovem já estava prestes a entrar no quarto do sobrinho do Capitão quando Luanda apareceu repentinamente no corredor.

– Pretendes o que entrando aí?

– Eu só estou ajudando Marcone e Petre com as malas do visitante. – Eulália justificou com um sorriso inocente.

– Cuidado, menina. Eu já lhe disse para não chegar perto desse rapaz. Pode arrumar confusão não só para você, mas para mim também.

– O que há de mais nisso, Madrinha? Oras, eu vou me comportar.

Ela entrou no quarto e deixou as maletas perto do armário, para facilitar quando for arrumar as roupas nele. Ao sair, a madrinha agarrou o pano velho da manga de seu vestido e lhe carregou escada abaixo.

– Me ajude a colocar a mesa para o jantar, antes que o sobrinho do Capitão apareça! – Luanda ordenou.

Toda essa restrição deixava Eulália cada vez mais curiosa. O efeito oposto disso poderia trazer certos problemas, mas o que ela podia fazer? Riscos são irresistíveis.

| G L O S S Á R I O |


*Voleur: em francês, “Ladrão”.

*Merci de votre aide!: em francês, “obrigado pela ajuda!”.

*Sinhá: forma de tratamento com que os escravos designavam a senhora ou patroa

*Mulatos: que ou aquele que é filho de pais de etnias diferentes, sendo um negro e outro branco. Naqueles tempos, era comum os senhores de engenhos, os patrões, se deitarem com as escravas a força. Infelizmente, uma verdade dolorosa em nossa história é que nos mostra que a etnia tal qual conhecemos hoje do Brasil, de vários jeitos e cores, foi fruto de violência sexual contra escravas.

(Na mídia do início desse capítulo tem a foto de Milena Mendonça, finalista do Festival Canta São Luís. Vou colocar outras fotos do festival pra vocês caso queiram conhecer)


(Sarau contando a História maranhense)



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