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Capítulo 2

•° 2 °•

Ano de 2008


Laura, mais uma vez, escapou do trabalho para ir ao Forte Santo Antônio da Barra, esquecendo-se de que prometera, a sua avó, chegar mais cedo em casa naquele dia. Cerca de uma hora. Bastava isso para Laura observar o tímido Museu Náutico dentro do antigo Forte. Diferente de todo mundo, ela lia cada descrição de miniatura e não somente isso, colocava sua imaginação para funcionar e enxergava com os olhos fictícios, cenas dos momentos de glória que cada embarcação deve ter tido nas águas salgadas e acinzentadas da Ilha do Amor. Mais do que um transporte, significavam cultura e estilo de vida do povo maranhense. Isso fez a moça pensar que muitas vezes, algo que não parece ser tão importante assim, guarda um valor inestimável.

Não eram simplesmente barcos, eram a cara de um povo.

Laura sempre se perguntava o que se precisa fazer para vencer o mar. O casco daqueles barcos era tão rígido assim? Quando as ondas chicoteavam a costa, parecia mais uma mensagem codificada de que quanto mais distantes estavam, mais furiosas eram. Elas batem em quem estiver pela frente e quando estão de ressaca, verdadeiramente, destroem qualquer um que entrar no seu caminho. São capazes de alterarem as formas dos rochedos com sua insistência. Laura nunca tinha saído de São Luís, mas jurava até a morte que o mar dessa cidade era o mais violento de todos. Ela poderia ficar para sempre olhando as marés subindo e descendo ao longo dos dias, mas havia uma vida que precisava conquistar.

Mesmo que dois dos seus empregos fossem na beira-mar, Laura pouco tempo tinha para olhar as ondas. Os dois quiosques eram cheios o tempo todo. Ela estava sempre tão focada nas mesas lotadas de gente e nos pedidos que saíam da cozinha com uma velocidade que vencia o recorde de Bolt. Sem contar as vezes em que ainda tinha de atender o caixa quando sua colega de trabalho, Lorena, resolvia fumar atrás do quiosque 1, o que era sempre. Retira, limpa e coloca de novo. Era o ciclo laboral de segunda a sexta-feira. Aos sábados pelo menos fazia uma coisa diferente que era ser tutora de francês básico do filho da amiga de sua avó. A cada dia que passava, mais ela se sentia exausta e vencida pela vida. A face tão bela e jovem ganhava marcas do tempo. Bem no meio das sobrancelhas, um vinco de preocupação já se formava sem muito esforço e as listas da testa existiam ali, até mesmo quando ela não esbanjava nenhuma expressão.

Parece que vencer o mar é o mesmo que vencer a vida.

A jovem maranhense saiu do Forte da Barra e se dirigiu à sua casa depois de um dia exaustivo. O vinco de preocupação estava maior naquele fim de tarde, pois o dia de comprar os novos remédios para diabetes da sua avó tão logo chegaria e ainda faltava metade do dinheiro.

Laura não tinha nenhum transporte, nem mesmo uma bicicleta, ela sempre pegava um coletivo para voltar para casa. O bairro Anjo da Guarda, aquele em que morava, não era tão longe do local de trabalho, porém. Após descer no ponto de ônibus, ela caminhava cerca de dez minutos até avistar o prédio velho e mal estruturado do seu apartamento minúsculo (mesmo). Ficava no terceiro andar – e era a pior parte do dia subir as escadas até lá –, a sala era tão apertada que mal cabia o sofá de dois lugares e a estante que apoiava uma tevê pré-história e gigantesca que Amélia tinha desde que se casara. A cozinha não ficava para trás em tamanho, a tímida geladeira se exprimia num canto e o fogão, no lado oposto, disputava espaço com uma pia de cuba quadrada e pouco menor que uma passada. No quarto, foi necessário colocar uma beliche, assim era mais fácil transitar pelo espaço entre ela e o guarda-roupa. O cômodo mais arrumadinho era o banheiro, com tapetes de tricô e um espelho arredondado sobre o lavatório de mármore, além de um vaso de barro com uma jiboia sobre a caixa de descarga, descendo seus ramos até quase o chão.

Em todo o apartamento só havia uma janela, na sala, escondida por cortinas roxas, e a sua vista fazia valer a pena morar naquele lugar inóspito. Laura amava-a.

Após entrar em casa, Laura jogou os tênis com a sola bem gasta e se espreguiçou no sofá.

– Chegou? – Ouviu sua avó gritar da cozinha. Na verdade, ela nem precisou falar muito alto, pois só uma parede separava as duas.

– Cheguei. – Laura respondeu, exausta.

– Tem janta pronta. Acabei de fazer. – Amélia disse vindo a sala. Com carinho, guardou os tênis da neta no único quarto do apartamento.

– Estou sem fome, eu só quero dormir.

Laura fechou os olhos. Não era bem verdade isso, ela tinha fome, mas não tanta assim, poderia ficar de jejum e economizar comida. Desde que a avó se aposentou devido a saúde, ela vinha pagando sozinha as contas da casa e cada centavo significava muito.

– Você sabe que não precisa fazer isso, não sabe? – Amélia diz sentando ao lado de Laura.

– O quê, vó?

– Agir feito uma doida.

As duas ouviram um barulho no andar de cima e olharam na direção do som. Possivelmente, era dona Rosa, a vizinha encrenqueira do prédio, que estava fazendo mais uma de suas faxinas, mesmo sendo quase à noite. A mulher nunca se contentava com a disposição dos móveis de sua casa e os mudava, quase todos os dias, de lugar. Se alguém deveria ser chamada de doida, com certeza não seria Laura.

– Eu não faço isso. – A mais nova sorriu, pela primeira vez no dia.

– E deixar de comer pra não gastar comida da dispensa é coisa de gente sã?

Laura gargalhou, logo em seguida abraçou a vó e depositou em sua face um beijo singelo, a sua forma de dizer "eu te amo". Cedeu, por fim, ao pedido de Amélia e comeu um prato de arroz com carne frita. Naquela noite, mal percebeu quando dormiu, descansou ali pela sala mesmo e amanheceu o dia.

+++


Ano de 1627

Dos anos que viveu na fazenda do Capitão, o que se pode destacar todos, Eulália nunca, em hipótese alguma, o viu entrar na cozinha. Nem mesmo para pedir um copo de água. É certo que entre os empregados havia um burburinho persistente de que ele, às vezes, vinha pela madrugada pegar comida e levar para o quarto, porém, era a primeira vez que a jovem escrava via com seus próprios olhos o Capitão naquele ambiente, cheirando a carne cozida e cereais crus.

A madrinha Luanda não estranhou muito esse fato, talvez por quase nunca esbanjar outra reação senão a seriedade. Ela simplesmente parou de remexer a panela com a carne de caldo do almoço daquele dia e fitou o Capitão. Por trás do balcão com panelas de barros limpas, hortaliças e pratos de alumínio esperando serem postos na sala de jantar, estava ele, usando suas roupas de serviço, de um linho azul escuro com botões dourados que iam desde o tórax até a barra da camisa. Calçava suas famosas botas de couro preto e escolheu um cinto com fivela do mesmo material. Eulália notou que uma das mangas dele estava desabotoada, mas não quis destacar esse fato ante a grande euforia que lhe despertava interesse.

– Luanda, tudo já foi preparado? – O Capitão ignorou Eulália, jogada ao pé da mesa, cortando batatas, e falou só com a governanta do casarão.

– Sim, Capitão. Toda a casa já está limpa e organizada.

– Ótimo! – Eulália pôde jurar que viu o homem dando pulinhos de excitação – Ele deve chegar a qualquer momento.

– Quem, Capitão? – Eulália soltou sem perceber.

Quando ela se deu conta da intromissão, torceu o bico e abaixou a cabeça. Como sempre, muito curiosa. Tão logo que o Capitão saísse, com certeza sua madrinha iria lhe arrancar as orelhas por tamanha ousadia. Mas Eulália não podia se conter. Ela tentava imaginar quem poderia ser tão importante para o seu patrão ao ponto dele mandar limpar toda a casa e vir pessoalmente conferir se tudo corria bem para a chegada da visita. Nem mesmo quando a mãe do Capitão vinha a fazenda era necessário tanto cuidado assim.

– O que você disse? – O patrão perguntou, confuso. Eulália pensou que talvez ele não tenha compreendido por ser um europeu de nascença que ainda não havia aprendido completamente o português tão misturado com termos africanos e tupi-guarani. Ou talvez fosse só surpresa mesmo, por ela ter se intrometido na conversa.

– Desculpe, Capitão, ela não falou por mal. – Luanda soltou a colher de pau e correu para perto da enteada. Curvou-se minimamente e encarou o chão todo o tempo.

Eulália se perguntou que tipo de reação foi essa ante uma pergunta tão inofensiva quanto a que tinha feito. Luanda sempre ficava nervosa perto do Capitão e odiava quando a enteada deixava sua curiosidade falar mais alto. Eulália não sabia explicar a razão e isso a deixava demasiadamente intrigada. A garota olhou para o rosto do homem a sua frente, buscando algum sinal de raiva ou desaprovação que demostrasse perigo para elas, porém, encontrou o mesmo sorriso ansioso de quando ele entrou na cozinha.

O Capitão olhou a pequena jovem com a cabeça um pouco torta e Eulália achou graça disso, do lugar onde ela estava – no chão – a visão ficou bem peculiar.

– O meu sobrinho chegará, Eulália.

A jovem se iluminou. Olhou para a tia, eufórica, com pensamentos que atropelavam uns aos outros em sua cabeça. Ela não sabia se sua animação se devia ao fato do Capitão ter lhe chamado pela primeira vez pelo nome ou se por ele ter lhe respondido uma pergunta. Se sentiu uma pessoa, não uma escrava objetificada, e isso nunca houve antes. Ainda mais, Eulália sempre gostou de gente nova na casa, era um verdadeiro banquete para a curiosidade deglutinadora dela. Quem ele era? Seria novo ou velho? Pançudo ou lânguido? Eulália apostaria dois cruzeiros (se ela tivesse algum) que o sobrinho era feio e barbudo, tendo em vista a genética notória da família.

Família. De quem ele era filho? Por que veio visitar logo um tio que vive no Novo Mundo? A jovem observou o Capitão.

Ele não se sentiu ofendido pela curiosidade da escravinha. Isso só fortificava dentro de Eulália a concepção de que ele era bom, acima de tudo. Quase nunca alguém era açoitado na sua fazenda e isso diminuía, só um pouco, o peso da maldade sobre suas costas. Todavia, a moça sabia que comprar a liberdade de alguém nunca é passível de perdão.

Enquanto a escrava mais velha observava a mais nova, o Capitão se retirou da cozinha.

– Vosmecê não tem jeito mesmo! – Luanda repreendeu a enteada.

– Desculpe, madrinha, a senhora sabe que eu não me controlo.

– Trate de se comportar com esse tal sobrinho do Capitão. Não venha me arranjar problemas, menina.

Luanda voltou a mexer o caldo de carne, com uma mão na cintura e a outra na colher de pau. Ficou murmurando baixinho e Eulália sorriu. A tia dela sempre fazia isso quando estava preocupada. Logo tratou de se levantar, largou a faca que usava para descascar as batatas e abraçou por trás a sua madrinha. Esta, reagiu surpresa ao gesto e, mesmo emburrada, não desfez o contato.

– Eu vou ficar bem. – Eulália assegurou – O Capitão é bem compreensível, não é como se ele fosse me açoitar só porque eu lhe perguntei algo.

– Eu sei. – Luanda suspirou – Mas eu ainda temo. Não quero que você passe por isso.

– Madrinha, a senhora acreditando ou não, o Capitão é um homem bom.

– Não acredito mesmo. – Ela soltou um risinho contido.

Eulália sabia que isso também tinha um significado. Luanda escondia algo. Na verdade, disso a menina já desconfiava de muito tempo, o fato é que, naquele dia, ela teve a certeza de que o segredo da madrinha tinha a ver com o Capitão.

Agora tudo, ou quase tudo, fazia sentido.

| G L O S S Á R I O |

Vosmecê: (contração de "vossa mercê"). Pronome pessoal de dois gêneros. Forma de tratamento informal que se dirige a pessoas que não são tratadas por tu e que obriga à concordância com o verbo na terceira pessoa. O mesmo que "Você". [Fonte: Dicionário Priberan]

O MUSEU NÁUTICO dentro do Forte Santo Antônio da Barra, em São Luís-MA, existe de verdade e eu deixarei fotos dele aqui caso você queira ver!

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Saiu mais um capítulo finalmente né kkkkkk

Espero que vocês tenham gostado. Obrigada pelos votos e comentários de incentivo ❤
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