01. Sentir
03 de novembro, noite.
Ele estava sobre mim, nossas respirações se cruzavam e eu estava completamente mole em seus braços. Arfei alto quando ele adentrou mais fundo, minhas unhas se cravaram na pele macia de suas costas, eu estava chegando ao ápice. Ele continuou fazendo movimentos de vai e volta, com precisão e suavidade. A cada segundo dele em mim, a cada respiração entrecortada, a cada palavra carinhosa que eu ouvia sair de sua boca, mais me apegava a ideia falha do "para sempre".
O calor que seu corpo emanava, o suor descendo por suas costas, os olhos brilhantes que me encaravam sem pudor, os lábios rosados e macios. Tudo nele era perfeito, tudo me remetia ao paraíso e ele, com certeza, me levou ao céu, em todas as suas tonalidades púrpuras e brilhantes.
Me senti satisfeita primeiro, mas continuamos. Suas mãos me agarraram sem medo, sua boca mordeu o lóbulo da minha orelha, sugou o meu pescoço com ardor e beijou com delicadeza os meus seios. Todas essas ações em seguida me fizeram contrair o corpo de prazer, uma sensação que só ele me fazia sentir, e pela segunda vez eu cheguei ao ápice, mas, desta vez, ele chegou junto.
Estávamos exaustos e ele se deitou ao meu lado, passou as mãos por baixo do meu pescoço e me puxou para mais perto do seu corpo. Depositei minha cabeça em seu peito nu, enterrei meu rosto em sua pele e respirei fundo o seu aroma. Inebriante e sensual, esse era o seu cheiro, o perfume que eu mais gostava de sentir. O beijo que depositou em minha testa, me fez relaxar e, inocentemente, quis congelar aquele momento por toda a minha vida
De todas as noites que passamos juntos, aquela foi a mais carinhosa, tudo foi perfeito. Acho que meu aniversário fez com que ele fosse mais lento do que o comum, mais atencioso do que realmente era e mais calmo do que sua habitual brutalidade na cama. Eu gostava da intensidade, mas quando íamos suavemente, com delicadeza, parecia fazermos amor, não apenas sexo. Isso me assustava.
Eu adorava tê-lo ao meu lado, me fazendo carinho, depositando beijos sobre a minha pele, falando palavras bonitas, porém aquilo não duraria muito, não seria frequente e, mesmo que eu quisesse parar o tempo, jamais conseguiria conservar aquela ilusão para sempre. Ele não era assim e eu não podia fingir que não sabia.
Nosso relacionamento não se enquadrava em nada considerado normal pela sociedade conservadora. Não éramos namorados, nem tínhamos apenas relações casuais, nossa relação eram uma espécie deturpada de relacionamento em aberto/amizade colorida, mas a única pessoa que se dava bem era ele.
Eu não tinha nenhum outro homem em minha cama, não beijava ninguém além dele; já havia tentado ter outros, mas quando chegava o momento de tentarmos ir além da conversa, eu inventava um milhão de desculpas para me livrar da pessoa, da situação.
O sono entorpeceu meus sentidos, não demoraria muito para ser transportada para a terra dos sonhos confusos e, muitas vezes, amedrontadores. Não senti medo, não naquele momento. Ele estava ali, me abraçando, me protegendo - eu poderia descansar tranquila.
***
Acordei com o barulho estridente do despertador. Tatei o pequeno móvel ao lado da cama e finalmente senti o retângulo frio e fino que era meu celular, desliguei de forma desajeitada o alarme. Após alguns segundos, abri os olhos e encarei o teto branco do apartamento; o tempo de quase um minuto se passou, um minuto de lembranças embaraçadas e cheias de sensações. Eu precisava revivê-las, remontá-las, e saber que não eram um sonho os acontecimentos da noite passada.
Foi real - cheguei a conclusão. Então, como um pequeno suspiro exalado, olhei para o lado, para espaço vazio da cama. Um redemoinho de lençóis - o sinal definitivo de que ele havia passado a noite comigo.
Senti um vazio preencher meu peito, sim, o vazio podia preencher espaços - pelo menos quando o assunto era ele. Era estranho e confuso, mas principalmente contraditório - digo de forma geral, bem abrangente. Ele, eu, nossa relação, nossas atitudes, meus sentimentos. Estranhamente confuso e contraditório.
Lentamente, me sentei à beirada da cama; olhei para a porta aberta do outro lado do quarto e sufoquei bem ao fundo do meu coração a esperança - que despontava sempre sem permissão - de ele ainda estar no apartamento. Ele não estava.
Me levantei e fui direto para o banheiro. A água quente - como as mãos dele, na noite anterior - em contato com a minha pele; era tudo que eu precisava para começar meu dia, ou melhor, meu início de tarde. Estava próximo às 14 horas.
Me arrumei de maneira habitual, roupas confortáveis e largas. Eu teria uma quinta-feira longa e cansativa no estúdio. Um grupo de trainees adolescentes estavam agendadas para o hoje. Longas horas de ensaio, de práticas repetitivas de dança, de erros e acertos - mais erros do que acertos.
Eu odiava participar de aulas assim, era angustiante ver meninas que poderiam ser minhas irmãzinhas se esforçarem tanto até saírem como corpos massacrados em um campo de batalha. Eu não podia fazer muita coisa, eu era apenas a auxiliar da coreógrafa líder, não ditava o ritmo dos ensaios, o que não faria diferença, já que a empresa contratante exigia resultados rápidos.
Caminhei sem pressa até o metrô, eu tinha que estar no estúdio apenas às 15h30. A distância do meu apartamento ao estúdio era de no máximo 40 minutos, contando o trajeto à pé e o metrô. Cheguei com meia hora de antecedência, eu não costumava me atrasar.
Cumprimentei Yoon Min-ho que estava na recepção - ele havia começado há dois meses como estagiário. Me encaminhei diretamente para o vestiário dos professores no térreo.
O estúdio era um prédio de quatro andares, localizado numa avenida movimentada de Gangnam-gu - uma construção diminuta se comparada aos arranha-céus que a rodeavam. Apesar de ser relativamente pequeno, o estúdio tinha uma boa fama no ramo do entretenimento; muitos artistas solicitavam os serviços dos nossos coreógrafos principais e algumas empresas, ligadas ao agenciamento de idols, mandavam seus trainees para se aprimorarem na dança.
Guardei minha mochila no armário e peguei o que precisava para o ensaio - o vestiário estava vazio. Me sentei e calcei meus tênis surrados de dança, tirei a blusa grande que vestia, ficando apenas com um top e, por fim, dobrei as barras da calça.
Quando me levantei para sair, Ye-jin apareceu. Um sorriso malicioso brotou automaticamente em seus lábios. Ela estava curiosa, eu sabia disso, mas não revelaria nada, ela sabia também. Nós nos conhecíamos o suficiente para compreender as atitudes uma da outra sem precisar dizer muito, às vezes nada.
- Lee Hye-su, não me olhe assim! Eu ainda nem perguntei nada, você é tão injusta! - uma reprimenda, ela odiava não saber das coisas.
- Não sou injusta, apenas reservada, Kim Ye-jin - imitei seu tom de voz.
- Me diz apenas se foi bom! - Ela chegou mais perto de mim e me capturou num abraço lateral. - Não estou falando do sexo, é claro que vocês transaram; estou falando da noite em geral. Era seu aniversário! Ele fez algo especial?
- Foi bom. - Aquela não era resposta que ela queria, porém, seria a única que eu daria.
- Você é uma pedra mesmo! - Se resignou a falar.
Ye-jin sempre tentava tirar informações de mim - mesmo sabendo que eu não daria nenhuma - ela chamava isso de "jogar à sorte". Era um tipo de loteria, mas em vez de dinheiro, ela esperava que algum dia ganhasse respostas. Não simples respostas, mas respostas diretas e reveladoras sobre suas perguntas para mim, sobre mim.
Não é que eu não quisesse me abrir com ela, lhe contar todos os detalhes da minha vida e lhe pedir conselhos, eu apenas... não conseguia. Era difícil demais falar qualquer coisa, fosse à qualquer pessoa. Falar dele, era ainda pior.
- Você, algum dia, vai ao menos me falar o nome dele? - Ela me soltou, mas não saiu do meu lado; caminhamos juntas até o elevador. - Parece até que se falar seu nome, vai trazer uma catástrofe para à Terra. Ele é, por acaso, o lorde Voldemort? - sussurrou a última parte como se me contasse um segredo.
- Engraçadinha. - Apertei o botão. - Eu já disse que não gosto de comentar minha vida amorosa - se é que eu poderia chamar meu relacionamento com ele de algo amoroso; essa palavra não parecia combinar conosco.
As portas do elevador se abriram, entramos com mais cinco jovens dançarinos, alunos iniciantes, ao que parecia. Apertei o botão do terceiro andar. Eles desceram no segundo.
- Quer saber? Um dia você vai querer me contar as coisas e eu não vou nem te dar ouvidos. - Chantagem, ela sempre fazia a mesma coisa.
- Tem certeza? Você sairia correndo num dia chuvoso, da sua casa até a minha, se eu resolvesse apenas revelar o nome. - Sua testa franziu, juntamente com a boca; uma perfeita careta de desgosto se formou no seu rosto.
- Você tem razão, eu não me aguentaria. - Admitiu e em seguida deixou escapar um sorriso sapeca nos lábios. Ela não estava brava.
"3° andar". O painel do elevador mostrou e as portas se abriram. Fomos diretamente para a última sala do corredor - Sala Espelhada N° 2.
Ye-jin e eu, tínhamos a mesma idade, mas ela havia se formado primeiro na universidade - eu havia entrado atrasada, dois anos depois dela - "por isso ela era a coreógrafa líder e eu a auxiliar", poderia usar essa desculpa para justificar nossa hierarquia no trabalho, mas não seria justo.
Kim Ye-jin era realmente talentosa, de uma maneira única, diferente de mim. Eu tinha minhas habilidades, porém ela parecia ter nascido para a dança, como se dançar e respirar, para ela, fossem uma coisa só. Eu a admirava. Me sentia feliz por trabalhar ao seu lado e me inspirava através de sua força.
Comecei a verificar se a sala de prática estava preparada para receber as alunas. Os colchonetes estavam empilhados no canto, organizados e limpos; cordas, fitas, pesos - materiais para melhorar o condicionamento físico -, cada qual no seu respectivo lugar. O som estava devidamente conectado e a TV localizada na parede esquerda, oposta a entrada, brilhou quando apertei o botão vermelho do controle.
Uma série de imagens apareceu na tela, vídeos de coreografias famosas que criamos, apresentações internacionais... Uma propaganda mostrando a grandiosidade do estúdio na indústria artística sul-coreana. Já tinha visto um milhão de vezes, desativei o áudio, era irritante demais ver aquilo diariamente.
- Sabe... - a voz mansa de Ye-jin ecoou pela sala vazia - entendo que não queria falar muito sobre seu relacionamento, sua vida - ela não entendia, não de verdade, éramos muito opostas nas personalidades -, mas se o que vocês têm, de alguma maneira é desvantajoso para você, talvez vocês devessem conversar sobre isso.
Terreno perigoso. Um alarme soou na minha mente, na dela também, eu acho. Ye-jin se preocupava comigo, como uma verdadeira amiga. Ela não achava normal eu não poder falar sobre ele, de algum jeito, ela se sentia incomodada quando pensava com que tipo de pessoa eu me relacionava.
- Não é desvantajoso. - Respondi rápido, uma mentira que eu desejei ser verdade.
- Tudo bem - ela expirou -, eu só queria que pudéssemos fazer algumas coisas juntas, tipo saída de casais; nos tornarmos amigos, todos nós. - Uma justificativa e um desvio de conversa, ela me conhecia ao ponto de saber até onde poderia levar aquele assunto sem me pressionar.
- Você está saindo com alguém? - Me agarrei ao desvio que ela deixara, o assunto agora era ela.
- Mais ou menos. - Ela começou a se alongar de frente ao espelho, vi um sorriso involuntário refletido. - Não é nada sério, mas talvez vire. Nós já... nos envolvemos.
"Se envolver", numa cultura como a nossa, em que o contato físico era bem restrito, poderia significar desde um beijo até dormir juntos. Não a questionei sobre o grau do envolvimento.
- Você parece feliz. - constatei, mas logo percebi uma exitação em seu olhar, não comentei, não tinha direito de me intrometer.
- Eu estou, mas parece errado...- seus braços caíram ao lado do corpo e então ela se sentou no chão com as pernas esticadas - não ser feliz, ser feliz e aproveitar a situação, o envolvimento, é a melhor parte de tudo isso - inclinou o tronco para frente na tentativa de encostar o máximo possível as duas partes do corpo, como se pudesse realmente se dobrar como uma folha de papel. - O que me incomoda é se sentir feliz com alguém que eu não deveria, isso que parece errado.
Uma sensação de compreensão me ocorreu. Estar feliz com quem eu não deveria; eu e ele não deveríamos ficar juntos, eu não deveria ficar feliz com pequenos pedaços de amor, paixão, que me era concedido. Mesmo com nossas essências diferentes, desta vez, entendi Ye-jin.
- Eu o conheço? - Deveria perguntar o porquê de ele ser inadequado, mas eu me excederia, não segundo os padrões dela, mas os meus.
"Não fazer perguntas que eu mesmo não responderia". - repassei mentalmente.
- Conhece. - Respondeu depois de um longo período de silêncio enquanto terminava sua sequência de alongamentos, comecei a minha logo em seguida. - Eu não deveria fazer isso, mas preciso contar a alguém, preciso falar para você - encarou meu reflexo no espelho ansiosa, indecisa.
Fechei meus olhos e acenei com a cabeça para que continuasse, puxei meu corpo todo para cima, sentindo cada articulação acordar com um leve dolorido; eu estava cansada da noite anterior e a semana havia sido mais movimentada do que eu esperava.
Um período de silêncio e depois...
- É o Park, estou saindo com ele - senti um choque percorrer meu corpo e me desequilibrei enquanto massageava a perna direita suspensa, cai de bunda no chão. - Você está bem? - ela foi rapidamente ao meu encontro e estendeu sua mão para mim, a ignorei e me levantei sozinha.
Fiquei calada enquanto continuei a me alongar.
Park. Repassei na mente todos os caras com sobrenome Park que eu e ela conhecíamos, era um sobrenome comum. Uma lista grande foi se reduzindo ao passo que eu os eliminava mentalmente por inúmeros motivos, então sobrou apenas um.
Park jimin.
Meu Park Jimin.
Não tão meu.
Senti como se uma pedra fosse jogada no meu pé enquanto eu dançava, como se eu tropeçasse durante uma coreografia especialmente difícil e caísse de cara no chão. Foi complicado segurar o ardor na garganta e pronunciar as palavras como se eu não me importasse.
- Isso é surpreendente. - falei assim que terminei meu alongamento.
Seus olhos me encararam com temerosidade. Ela esperava um julgamento, uma bronca, mas como eu poderia fazer isso com ela? Ye-jin não sabia nada sobre meu envolvimento com Park Jimin, não imaginava ser ele quem eu escondia de suas intermináveis perguntas, era por ele que eu mentia de modo a dissipar suas suspeitas. Seu medo vinha de outro lugar, com outros motivos.
- Eu sei. Sei que não devia me envolver com ele. Relacionamentos no trabalho nunca dão muito certo, ainda por cima com o chefe - começou a se justificar, pois, eu não falara mais nada. - Mas aconteceu, está acontecendo. Não sou burra de pensar que ele quer algo sério, você o conhece tão bem quanto eu, - e como conhecia, talvez até mais - "nada de relacionamentos sérios", ele não gosta de expor a vida.
- E você acha que pode ser a mulher que vai mudá-lo - a interrompi, talvez de maneira gélida demais.
- É engraçado pensar assim. Mudar alguém. Não acredito que seja possível, ninguém muda sem querer; eu não conseguiria nem se tentasse com a minha vida. - Sincera. Ye-jin era alegre e sonhadora, mas também sincera e pé no chão quando precisava. - Acredito que eu e ele temos coisas em comum, talvez nos adaptemos um ao outro. Quero tentar com ele, mais do que com os outros; mesmo que seja arriscado dormir com o chefe, mesmo que o profissional e o pessoal não devam, nunca, serem misturados.
Tentei não me desestabilizar com o que ela disse. Eu gostava mais de Kim Ye-jin do que admitira em voz alta. Escutar aquilo era como ser acertada inúmeras vezes seguidas no estômago, sem intervalos para recuperar o fôlego, sem piedade alguma. Porém, ela não tinha culpa. Nenhuma ínfima culpa por estar me machucando assim.
Meu dia pareceu nublado a partir dali.
Com certeza doía ouvir isso dela - já havia conhecido outras mulheres com quem ele ficou, mas com ela era diferente - era diferente ouvir de uma amiga, ou o mais perto de uma amiga que eu tive na vida.
Me senti traída, sem realmente ter o direito de chamar aquilo de traição.
- Espero que não se machuque - fui sincera. - Não tenho direito de te julgar, ninguém aqui tem - eu principalmente, pensei. - Apenas se cuide. - toquei seu ombro e dei o melhor sorriso que consegui. Ela relaxou.
- Sei que ninguém tem, mas eu considero muito a sua opinião. Queria saber o que pensava sobre isso. Obrigada. - Franca e gentil, eu não sabia como odiá-la, nem se quisesse.
O assunto foi encerrado.
- Esqueci minha blusa no vestiário, vou buscar - acenei com a cabeça para a saída, as trainees despontavam na entrada, um burburinho preenchia o espaço gradativamente. - Volto antes que elas botem fogo na sala.
Saí sem esperar que ela falasse alguma coisa, eu precisava me afastar um pouco dali, dela. Estava quase sufocando.
Não peguei o elevador, desci pelas escadas de emergência. Precisava de tempo, precisava pensar. Eu acabaria tendo uma crise no elevador, mas ter uma crise parecia ser uma opção mais agradável do que sentir conscientemente aqueles sentimentos me tomarem por completo.
Eu não queria sentir, eu odiava sentir. Sentir tudo, qualquer sentimento, mas principalmente o amor que eu tinha por Jimin e por Ye-jin. Amores diferentes, mas igualmente pesados no meu coração.
Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava o corrimão. Um passo de cada vez. Me demorei para chegar ao térreo. Passei pela recepção sem olhar para Min-ho. Desviei do vestiário e fui direto para o banheiro, me tranquei e então, senta ao lado do vaso, finalmente, me permiti chorar. Baixo, como um sussurro.
Me lembrei da noite passada, do meu aniversário, das carícias, da ilusão que eu montei dele...
Me lembrei das suas mãos pelo meu corpo, das palavras bonitas sussurradas ao pé do ouvido, do vinho que tomamos, do sexo...
Me lembrei do seu cheiro, inebriante, intenso, me lembrei de tudo e...
vomitei.
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