Capítulo 12.
2017...
Quando Samy chegou em casa, encontrou Ana no sofá, com o celular na mão. Disse que havia acabado de conversar com os pais, e queria falar com ela.
Samy perguntou se dava para ir para o chuveiro antes, o ônibus estava lotado, e ela precisava sentir que tinha chegado em casa. — Prometo não demorar. – De fato, não demorou. Se sentou ao lado dela, pensando também em como daria a sua noticia descoberta naquele dia.
Ana, ao ser incentivada a falar, começou — Lembra daquele conhecido de Marcela, que deu me aquele temporário final de ano, por coincidência, irmão de um dos meus professores?
— Hum... – "Você conseguiu alguma vaga? Sei como quer, e merece. "
— Ele me ligou essa tarde, pediu a Marcela meu contato, pois tinha perdido. Me disse que pode me indicar para uma vaga numa agência famosa. Não precisa eu ser expert em inglês, eles querem brasileiro na área, que saiba ao menos se virar.
— Ah meu bem que notícia boa. – A abraçou. — Meu Deus que coisa boa. E você se entristecendo... Tá vendo? O primeiro semestre já vai terminar bem. – "Se bem que veio com notícia que a livraria vai fechar. O marido da dona está doente. "
— Mas tem um, porém... – E vendo que ela aguardou, prosseguiu. — Não sei se posso aceitar.
— Por que não?
— Não é aqui. – Ela suspirou. — Nova Iorque.
Ficaram alguns segundos em silêncio, até que Samy o quebrou — Meu bem, a vida te preparou desde cedo pra você ter coragem de ir. Você mais do que ninguém sabe que as vezes mudar de cidade faz bem. Imagina de país?
— Mas aí é bem longe de todo mundo. – Ana sentiu as lágrimas descerem.
Ana não era de chorar à toa. Samy a abraçou de novo. — Ôh amore, todos vamos sentir sua falta também, mas essa é uma chance muito boa. Mas veja direitinho, se você se sente bem. Por questão de saudades a gente tem telefone, todos os dias se possível for, vamos conversar ou trocar alguma mensagem rápida. – "Não chora não Samy, se não vou acabar pedindo pra ela não ir. Não queria ficar longe de você amiga. Mas isso é muito importante para você".
— Tava falando com minha mãe. Se empolgou, mas senti que também acha que é muito longe. Meu pai começou a chorar, disse que se fosse preciso até pra meu currículo, ele aguentava eu estar tão longe. Realmente eu sozinha não conseguiria essa vaga lá... eles só pegam galera que já tem estrada. De certa forma, ter sido ligada a Marcela deixou uma marca, ele pensou em me indicar.
— Até entendo o que quer dizer, mas além dela, seu trabalho falou por si. Se você não se destacasse, duvido que ele lembraria só por causa de uma amiga ter indicado. – Samy falou, mas foi aí que viu que já estava chorando.
Ana se afastou um pouco ao sentir o tom da voz embargada da amiga, e depois se abraçaram novamente. Sentiu medo, apesar de ter ficado com uma certa expectativa. — Tenho de dar a resposta até as 16hs de amanhã. Parece que um rapaz vai também.
O celular dela vibrou, era mensagem do cara que ofereceu a vaga. Ele estava mandando algumas informações, também o contato do rapaz que foi indicado e iria com ela.
Uma das informações era que teriam acomodações pagas pela empresa, e o local não seria longe do trabalho. Ela limpou o rosto, e clicou para mandar mensagem para o número do rapaz. Talvez fosse bom ver a reação do outro.
Na mesma hora o rapaz visualizou e logo estava ligando para ela. Ele estava com o tom de voz alegre, se mostrou mais simpático ainda. Ana perguntou e ele disse que foi chamado aquele dia também, que mal tinha as roupas, mas teriam três semanas para organizar. Faria empréstimo se necessário.
Quando ela perguntou: — Você não está nervoso? – Ele respondeu que sim, e muito. Não estava pensando em ficar tão longe da familia (pais, avós) mas aquela chance não pintaria duas vezes. A empresa pagaria passagem e mesmo que fosse descontado depois, ele iria. Reforçou que seria bom para o currículo.
— Vamos. Lá a gente se ajuda. – O rapaz falou, e ela até deu um pequeno sorriso. Ele continuou — Minha mãe não para de chorar, mas eu disse a ela que apesar da distância, não podemos perder essa chance. 1 ano numa agencia em Nova Iorque. Vamos pensar um ano à frente. Iremos dizer que vivemos isso, ou ficar aqui a ponto de procurar emprego que nem da nossa área é?
Ana soltou o ar pela boca, como um peso — Você tem um ponto.
— Tenho sim. A chance parece muito boa. – Ele expirou o ar — Olha, preciso falar com algumas pessoas que chegaram aqui, mas, pensa direito. Ao menos seremos dois se ajudando lá. Faz assim, amanhã as 10 da manhã a gente se fala, e vemos enfim.
Samy que estava perto, ouvindo, balançou a cabeça em concordância. — Ele deu vários pontos a favor. – " Não posso deixa-la desistir se será bom para ela. E olha que eu ia chegar com uma notícia chata. "
Aquela madrugada, Ana mal pôde dormir. Quando cochilava, sonhava que estava no aeroporto, ou que estava lá, no meio de um monte de gente que não conhecia e falando estranho.
Quando Samy acordou, antes mesmo do despertador, pois não teve uma madrugada muito boa de sono, viu Ana deitada ao lado dela. – "Deve ter vindo depois das 4. Antes disso eu mal dormi, depois disso o corpo cansou. " – Pegou o celular, era 5:55 da manhã, então ela desativou o alarme que tocaria as 6h.
Levantou sem fazer movimentos bruscos, para não acordar a amiga. E foi para a cozinha, fazer café, para depois de um gole rápido, ir para o banho.
*
No fim da tarde, Ana e Rodrigo foram a livraria. Ele tinha ido a casa delas, a pedido de Samantha, conversar com Ana sobre a chance.
Estavam lá, pois ele disse que iriam para o cinema. Logo depois da informação sobre o passeio, ela perguntou o que a amiga tinha decidido, e ela respondeu que aceitou.
***
Dias após, ela ganhou uma mala nova, de Rodrigo. Que também lhe deu um envelope.
Ela abriu, tinha 5 mil dólares. Olhou para ele e disse — Nem pensar. – Dando o envelope de volta. – "Oxe, isso é o quê? Uns 15 mil contos? Tá doido? "
— Por todas as vezes que fiz vocês de assistentes nos sábados à noite, e domingo. Foram meu socorro. Não se esqueça que reclamava. – Ele fez sinal de aspas, e depois repetiu — "Esse putanheiro cheio de assistente e vem encher a gente de serviço que eu nem entendo. " – Ele imitou o jeito dela falar, e ela riu.
— Eu não falo assim não. – O viu confirmar com a cabeça. Sorriu — Você sabe que eu só tava te perturbando, a ajuda era de coração.
— Eu sei... eu sempre respondia: "Menos conversa e mais trabalho".
— Aí eu fechava os olhos, contava até 3 e dizia que a vontade era de "dar na cara".
Eles deram uma risadinha, ele a abraçou, deu um beijinho no rosto dela. — Você e Samy foram minha "mão na roda". Aceita. Digamos que é uma prevenção, para o caso de alguma pegadinha com o primeiro pagamento. Agora abre as sacolas que dona Marcela te mandou.
— Ela me ligou antes de você e Samy chegarem, disse que eu não recusasse. Ele já vai embora em dois dias né? – Perguntou e teve a confirmação dele.
Samy saiu do banheiro (vestida) e foi estender a toalha na corda, na área de serviço no fundo. Depois voltou a tempo de ver Ana retirando de uma das sacolas, um sobretudo. Depois um casaco. Duas blusas elegantes, duas calcas jeans e bota.
— Vai precisar. Além do que vai levar. – Rodrigo disse.
Samy elogiou, e disse que realmente quanto mais apresentável estivesse, melhor. — Mas ela vai comprando mais, lá.
Ana agradeceu, o abraçou novamente. Ele disse que tinha de ir, precisava dar uma olhada em alguns documentos em casa.
Pouco depois que ele saiu, sentou-se com Samy, olhando novamente os presentes, então escreveu mensagem para Marcela, agradecendo. Perguntou a amiga — Menina, como ela acertou o tamanho?
— Ela me ligou para perguntar. – Samy deu um risinho. — Hei... – Chamou a atenção dela. — Vou te dar o valor da passagem, pra você ir ficar semana que vem com seus pais. E... não reclame, é minha contribuição pra sua viagem. Olha quanta gente torcendo por você... Vai dar tudo certo. – Bateu palminhas, e fez dancinha mesmo sentada.
— Mas a livraria vai fechar.
— Já estou deixando currículos em alguns lugares. Vai ficar tudo bem. Agora mesmo é que tem de ir. Quando voltar o currículo estará melhor ainda, e você muito mais experiente.
***
Ana se despediu de Rodrigo e Samy. Os três com os olhos cheios de lágrimas.
Os pais iriam com Elisa para se despedir no aeroporto, mas ela disse para evitar mais gasto com gasolina. Tinha se despedido de todos eles, passando aquela semana lá. Ficou por uma tarde com dona Elisa, ligaram por video para Samy. Ana trouxe biscoitos e geleia quando voltou.
João, se despediu da familia dele, e embarcaram. Sentaram juntos, e nervosos pois era a primeira viagem de avião dos dois.
Quando desembarcaram, tinha um motorista com uma plaquinha com o nome dos dois. Uma moça estava ao lado deles, e falou em português, o que já foi alívio até para João que sabia mais de inglês do que ela.
O carro parou em frente a um prédio de cinco pavimentos. Evelyn saiu do carro, e eles acompanharam depois de pegar suas malas.
Evelyn mostrou o apartamento dele, depois o dela, no mesmo andar. Apresentou o responsável, que falava três idiomas, inclusive português, pois já tiveram vários brasileiros morando lá. Ela e o senhorio, explicaram algumas regras básicas, enquanto ela entregou aos dois um folheto – com as regras escritas – relacionadas a moradia. — Pego vocês amanhã as 7:30h, Okay? Em ponto. Okay?
— Sim, Evelyn. – Os dois responderam, e a moça se despediu.
O senhorio deu algumas instruções sobre o apartamento de cada um, e depois que ele se despediu, Ana trancou a porta e respirou fundo. Depois foi até a janela do seu quarto, a abriu, olhou o beco que separava os dois prédios.
Fechou a janela e deu aquela olhada "rápida" de novo pelo lugar. Não era imenso. Sala pequena, quarto, cozinha menor ainda, banheiro.
Se sentou no sofá, pegou o celular para conectar e mandou mensagem para todos de forma resumida:
"Cheguei, estou bem. Já estou no apartamento, está trancado, estou sozinha. João está no mesmo andar. Vou desarrumar as coisas e me preparar pra amanhã, a Evelyn vem cedinho pegar a gente. Até! Amo vocês! "
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