Capítulo 10.
Samy colocou a calda de laranja no bolo do mesmo sabor, sentiu o cheirinho, depois o cobriu, deixando-o na mesa. Fez um pouco de café, o dia estava nublado com aquele ventinho frio, colocou um pouco numa xícara e sentou no sofá, para esperar Rodrigo.
Ela ia sair com Ana e Dandara. Receberam ligação dela pela manhã dizendo que tinha algo para contar. Só que, quando já estavam quase saindo, Rodrigo ligou para Samy, e pela voz dele, precisava mesmo vê-la.
Então ela disse que ficaria, que se ele pediu para ir lá, provavelmente o namoro havia terminado, como previsto que Raiane falaria com ele na volta da viagem. Então Ana foi sozinha encontrar Dandara.
Assim que ligou a tv, ela viu a ligação dele ativa no celular, e foi abrir o portão central. Ele tinha deixado o carro na calçada, a rua era tranquila.
Ele a abraçou, só disse — Valeu por me receber.
— Vem, meu bem. – Segurou a mão dele depois que fechou o portão, e seguiram enquanto ela disse — A casa é simples, mas tem carinho por aqui. – Quando chegaram na porta da casa delas, mandou ele entrar e se sentar no sofá.
Ofereceu água, ou suco, ele aceitou a primeira opção. Ela serviu numa taça que as vezes ela e Ana usavam em almoços "mais chiques".
Rodrigo a olhou — Deixe de frescura comigo, viu. – Bebeu o conteúdo e devolveu.
Ela fez som de risada — Você é visita. - Levou a taça na pia, voltou. Se sentou de lado, por cima da perna um pouco dobrada, para ficar de frente para ele. Apoiou-se no recosto do sofá, mas pegou uma almofadinha e pôs a frente de si. — Agora me conta... que houve meu bem?
— Queria te ver. – Ele virou o rosto para direção dela, deu um sorrisinho e voltou a atenção a tv ligada, mas com volume baixo. Naquele momento ele pensou que ela foi a pessoa para quem ele ligou, e não sua galera. Vicente tinha viajado a trabalho, mas ele poderia ter ligado para o amigo. — Tá tudo bem, so vim te fazer companhia.
— Eu sei, que bom que veio. Descobriu onde me escondo. Ana saiu, então somos só nós agora.
Ele deu um meio sorriso. Aquela frase sendo dita por outra pessoa, causaria pensamentos, mas era a Samy. Ela disse num tom tão calmo, sem nenhuma percepção de que se ele estivesse um pouco a fim dela, entenderia além do que ela disse.
— Você chegou quando? – "Já vi que vou ter de amaciar, para saber..."
— Hoje. Só passei no apartamento pra deixar as coisas, tomar banho e saí pra encontrar Raiane no apartamento dela. Conversamos e terminou.
O jeito como ele falou não era raiva, era como quem ainda assimilava as coisas.
Depois de um pouco de conversa, ela mudou a posição que estava sentada, se aproximou mais dele e encostou a cabeça em seu ombro. — Eu sinto muito meu bem.
— Você fez bolo foi? – Ele perguntou e ela riu.
*
Quando Ana chegou na porta, já foi dizendo que tinha uma novidade, e Samy fez sinal para ela mão fazer muito barulho. Ela estranhou, e a amiga gesticulou e foram até a porta do quarto dela. Rodrigo estava deitado de bruços, na cama.
Ana segurou o riso e se afastou. Quando Samy sussurrou "o que foi? " Ela explicou — Primeiro macho que dorme na tua cama, e nem foi porque dormiu contigo. – Deu aquela risada com som abafado.
Samy alinhou um riso, depois disse — Essa foi boa.
— Qual foi aí? – Ana perguntou enquanto se sentavam no sofá.
Ela respondeu baixinho — Eles terminaram. Veio como quem não queria nada, mas vi que ficou pensativo. Fiz macarrão com salsicha, a gente não fez mercado ainda, era o que tinha pra hoje. Ele disse que o cheiro tava bom, comeu. E tava comendo bolo enquanto eu tava fazendo comida. Tá triste tadinho...
— Se bem que ele pra comer, não precisa tá triste não. Como ele consegue ser gostosinho comendo tanto?
— Ah se ele ouve você chamando ele de gostosinho.
— Mas ele é. Porém, não é meu estilo não, fique tranquila.
— Você vai tomar banho, ou vai comer? Ou já comeu? – Teve a resposta que ainda não, e que iria tomar banho. — Então vai que o teu tá na panela, vou esquentando pra você.
Enquanto almoçou, Ana contou que Dandara queria se despedir, iria embora em alguns dias, com aquele espanhol que conheceu no carnaval. — A maluca vai casar. Eles vão levar a mãe e a irmã dela. Ela tá feliz, então tô feliz por ela.
— Nossa... tomara que dê tudo certo.
— Ninguém me acorda pra comer, é isso mesmo... Eu já prestei mais. – Rodrigo disse logo atrás.
— É o que presepeiro? Sente aí vá. Eu sei que você já comeu. Sente aqui. – Apontou para a cadeira vazia. —Vou fazer um café pra gente devorar o resto do bolo. – Ana disse, levantando e levando o prato na pia. Depois ela pôs a água para ferver, enquanto Samy perto dele, fez carinho em seu braço e perguntou se ele estava bem.
— Obrigado por me deixar cochilar, precisava. – Pegou a mão dela e beijou o dorso.
— Sempre que precisar, meu bem.
Ana deu a volta, ficou atrás dele e o abraçou, passando o braço em volta do pescoço.
— Estamos aqui. – Deu um beijo no alto da cabeça dele e fez carinho.
Ele e Samy se entreolharam, e ele perguntou "espantado" só para sacanear — Que foi isso?
Ana fingiu indignação, o soltou e voltou para perto do fogão — Por isso que não dou carinho a ninguém.
Eles riram, depois ele disse — Obrigado lindona. – E como um suspiro, falou —É... embora.
— Vai nada. – As duas falaram ao mesmo tempo, e Ana tocou no pano de prato que tinha imagem na cor verde, pendurado numa das portas do armário.
Samy não queria que ele fosse logo. — Oxente, depois você vai, começou a escurecer agora.
Ana completou — Seu carro tá bem, já olhei. Aqui é tranquilo, fica em paz.
— Não é isso... Pode ser que vocês tenham compromisso. Hoje é domingo...
As duas se olharam e depois gargalharam. Ana comentou — Queria eu, tá por aí esbanjando essa beleza. Quem sabe beijando... Mas me diga uma coisa... Cadê os amigos... os solteiros... os bonitões? Mais importante... os legais.
— Fique na sua, o seu não tá aqui não. Ah, queria mostrar a vocês as fotos do jantar. – Pegou o celular no bolso.
— Você foi pra onde mesmo? – Ana indagou.
— Oxe não falei, foi? – Ele deu um risinho e aproveitando que elas comentavam que sabiam pouco dele, ele disse — Então como vou ficar um pouco mais... – Desbloqueou a tela do celular — Vou pedir pizza pra nós. Tem o número de alguma aqui perto que vocês gostam? Querem de quê?
Elas se animaram, e ele pensou - "Dá tempo de eu pensar em outra distração antes de contar sobre nós".
— Então não vou fazer café mais não. Pede refri também. – Ana disse enquanto desligou o fogo e Samy apontou para um imã na geladeira. Ele levantou, olhou e discou, depois quis passar para ela, que apontou pra Ana.
Que pegou o aparelho enquanto disse — Me dá que eu peço, ou a gente não come hoje. – Os dois riram, depois ele disse qual ele queria, depois Samy falou, e Ana emendou com a dela — Camarão. – Ele pediu para perguntar se eles tinham algum vinho, ela fez uma careta feliz, perguntou e sinalizou que sim. Ouviu as opções, escolheu um e finalizou o pedido.
— Se bem que se eu beber, não vou poder dirigir. Vocês bebem. – Ele pegou o celular que ela devolveu e as chamou para o sofá. — Vou mostrar a vocês.
Ana, enquanto se sentou do lado direito dele comentou. — Vamos ver se tem mais alguém bonito.
— Obrigado por dizer que sou bonitão.
Ela fez uma careta — Não foi essa palavra não... – Meneou a cabeça.
— Agora você verá seu pretendente. – Ele disse a Samy, fingindo que não tinha escutado o que Ana disse. Estava sentado entre elas.
Samy explicou a ela — Ele veio com essa história quando foi lá na loja, levar seu presente. Não sei de onde tirou isso.
— Eu apoio, se ele for legal mesmo. – Ana disse.
— Ah, você vai participar é? – Samantha respondeu enquanto ele retrucou que o irmão dele era um cara bom.
Mostrou primeiro, ele com a mãe. Elas elogiaram Marcela, ficaram impressionados dela ter filhos adultos e parecer irmã praticamente. Ana comentou — Coroa enxuta.
— Igual dona Laura. – Olhou para Rodrigo. — A mãe dela.
Ele gesticulou que entendeu — Madá. – Disse quando mostrou a próxima. — Cuida da familia desde antes de me entender gente. As vezes ela fica lá com meu irmão e minha mãe, as vezes as duas ficam comigo, ou então só ela vem.
Samy comentou que ela parecia ser uma senhora amorosa.
Ele riu tipo "hum", mas explicou que ela era sim, só se lembrou de alguns casos, em que ela ficou de cara fechada por causa de algumas situações. — Ela da resposta na bucha viu, se achar que merece. Observa, observa, dá uma respirada intensa enquanto bate de leve algumas vezes as pontas dos dedos na coxa, e diz o que achou. Ou então fala: Eu digo é nada.
Elas sorriram e Ana perguntou — Eles tão onde mesmo? – Como quem não queria nada. – "Você sempre foge".
— Estão fora da Bahia. Resolvendo assuntos de familia. – "Melhor que dizer, estavam em Londres, mas já foram pros Estados Unidos, depois voltam. "
Ana sacou que ele estava evitando, talvez não quisesse parecer soberbo. Mas ela já tinha notado que ele tinha posses, só não sabia dar a sugestão de quanto.
— Aqui está... – Disse ao mostrar a foto dele com o irmão. — Seu pretendente.
"Misericórdia, que homem bonito! " – Samy pensou, depois pôs a mão na boca para abafar o riso. Ele perguntou o motivo, e ela respondeu — É esse que você brinca que vai me apresentar?
— Brinco, não. Eu vou!
— E tá contando que serei sua cunhada? – Ela deu outro risinho. — Nunca que seu irmão vai olhar pra mim desse modo. Ele pode até ser simpático, por você ser meu amigo, mas desista meu caro.
— Não gosto quando você fala como se fosse pouco. – Ana resmungou.
— Eu também, não. – Rodrigo concordou.
— Não é se achar pouco. – "Sei o que é o olhar de reprovação, não queria ganhar um dele, só por ele pensar que tô dando em cima. "
— Meu irmão é normal, ôh garota. Oxe, ele um cara legal, não tem nada de supremo não. Mas ele é o cara. – Riu como quem está brincando – Todos os caras dessa familia, são: Os caras.
Samy tentou de novo — Deixa pra lá, você não entenderia. Mas acredito sim, que ele é muito bacana.
Ana olhou para ele — Deixa pra lá, Rodrigo, hoje não. Ela vai ficar nessa, mesmo que no fundo sonhe com romance. – Fez a expressão de "sei o que tô dizendo", depois prosseguiu — E seu irmão? Vocês se dão bem? Eu sou filha única até ter conhecido a Samy. A gente as vezes tem uma chateação, mas nada num nível de brigarmos. E vocês?
Um sorriso brilhou no rosto dele, enquanto confirmava com a cabeça e dizia: — Sei como é, mas nunca brigamos também. A gente se fala com frequência. – Ele pareceu levar a mente para longe. — Quando nosso pai morreu em 2011, Nik passou a carregar o peso de tudo nas costas, como se fosse pra não pesar em mais ninguém. Ele ainda ri, mas não é a mesma coisa. Ele ainda é família, mas precisa viver a "coisa familia", ter uma. Ele acha que só nossos pais, e os pais de Vicente e Tyler, tiveram isso. Diz que talvez eu seja o sortudo fora deles.
— Sinto muito, pelo seu pai. – As duas disseram. — Foi nesse ano que mudamos pra cá. – Samy disse e depois continuou. — Que pena que seu irmão esteja tão sobrecarregado, ele deve sentir falta do pai de vocês, tanto quanto você. – Fez carinho no braço dele.
— É. Mas sério, vocês vão adorar conhecer todo mundo. Ele e você tem o coração parecido, mesmo com alguma tristeza, ajuda quem precisa.
Samy pensou em algo — Que tal se da próxima vez que se verem, você sugerir fazer algo que vocês faziam na infância? Pode parecer besteira, mas a lembrança pode trazer mais paz pro coração dele. – Corrigiu o que disse — Não que ele não esteja em paz, não foi isso que quis dizer, eu só quis...
Ele nem esperou ela terminar e na maior calma disse. — Entendi. E quer saber... boa ideia. Você pode estar certa. – "Nosso pai reunia a familia pra assistir filmes do Jackie Chan, Steven Seagal ou Van Damme. "
— A lembrança vai trazer aquele quentinho no coração, fazer ele desacelerar um pouco. Respirar mais... pode ser, não sei.
— Obrigado, não tinha pensado nisso. Agora, seguindo... – Ele olhou pra Samy e piscou, e então passou a foto seguinte.
Ana até se achegou mais. — Opa, opa... O que meus olhinhos estão vendo...
Rodrigo e Samy riram. Ele respondeu — Esse é o Lalo.
— Me dê o nome desse povo aí, pra eu seguir nas redes. "Délicia! "
— Sem redes. – Ele fez aquela expressão como quem diz "Sinto muito". — Ah, minha mãe não vai demorar para voltar, disse que quer conhecer vocês. Vou marcar um jantar ou almoço, no apartamento.
As duas concordaram e o celular dele tocou. Era o irmão.
Rodrigo pediu licença, e foi para o pátio, atender, num dos bancos de madeira. Nikolai explicou que mesmo num domingo, estava trabalhando numa planta baixa, mas naquele momento tinha parado para descansar um pouco, e ligar para ele. Perguntou se tinha acontecido mesmo o que ele suspeitava sobre o namoro, e teve a resposta que sim.
Dentro de casa, as duas no sofá, ainda comentavam sobre a beleza da família. Ana disse que sentiu uma coisa boa ao ver as imagens, e a amiga concordou. Mas depois Samy falou — Rodrigo fica com as brincadeiras dele, de me juntar com o irmão eu me iludo... as vezes o cara até já tem alguém e ele não sabe. Ou então não olharia pra mim desse jeito, e você sabe que é verdade.
— Se o irmão dele fosse desse tipo babaca, ele não estaria com essa conversa, pra começo de conversa. – Viu Samy concordar com aceno, depois continuou — Mas mesmo não concordando com você, entendo sim. Apesar de você se enxergar mais gordinha do que o que é mesmo, já disse isso a você. Porém, sabemos bem como é não ser padrão que o povo acha que é padrão. Mas, o mundo é muito grande para só toparmos com os babacas. Tem gente que presta por aí.
— Isso é verdade. Já disse que você vai viver um romance do jeitinho que merece. Um cara te pegando meio bruto meio fofo. – Samy riu com a mão na boca, sentindo que ficou vermelha. — Será que é Lalo?
Ana ergueu um pouco a mão, para enfatizar o que diria a seguir — Se vai ter romance eu não sei, mas sei que vou sentar nesse homi ainda. Isso há de acontecer... – Ela bateu na perna com a outra mão, como quem determina para a vida, enquanto disse a frase seguinte — Eu vou sentar nesse homi algum dia.
Samy bateu palmas enquanto confirmou — Vai sim, meu bem.
As duas riram novamente, com as coisas que a própria Ana ia dizendo, até que o celular dela tocou, era o cara da entrega. Elas não pediam sempre, por questão de grana, mas quando faziam era desse lugar, então no cadastro já tinha informação de contato delas.
Ana pegou o dinheiro que Rodrigo já tinha deixado separado acima do hack da tv, e foi até o portão central.
Samy foi avisar a Rodrigo. — Meu bem, Ana foi buscar. – Parou de falar e se sentou ao lado dele, que ouvia o que o irmão disse sobre ele ainda encontrar alguém que seria exatamente para ele. Mesmo ele achando que não viveria um.
— Você já está em companhia feminina é? – Nik perguntou.
— São amigas. Essa que está do meu lado, ficou comigo a tarde toda, dizendo o mesmo que você acabou de falar. É dela que falei aí.
— Deve ser boa pessoa. Agradeça a ela por mim, por fazer companhia a você.
— Não estou mal assim, vocês parem. E já chega de conversa, vou comer pizza. E você, come algo e dorme. Te amo irmão. – Ele desligou e levantou rápido para ir ao encontro de Ana, entrando em casa com a caixa, pizza tamanho família, para não ter guerra entre os dois. Samy era mais tranquila.
Ela se levantou, sorrindo e no segundo passo olhou para céu, as estrelas. Respirou fundo e fez aquela pergunta de sempre ao olhar para o céu, só que dessa vez não foi um sussurro, foi de forma mental: "Será que alguém está olhando pro mesmo lugar agora e querendo encontrar um amor? "
Nesse momento, Nikolai, na varanda do hotel, apoiou os braços no parapeito e ficou admirando o céu por alguns segundos.
"Será que mais alguém ainda olha para as estrelas, e fica imaginando coisas que não vai viver? "
Depois abaixou o olhar - "A amiga dele parece legal. Não vai demorar ele começar a namorar com ela". – Pensou.
Voltou para dentro do quarto, abriu a garrafa do vinho que tinha pedido, dispôs um pouco numa taça, e voltou para sacada. Pôs Eros Ramazzotti para tocar baixinho no celular, tomou um gole, sentou e recostou na espreguiçadeira, para continuar admirando as estrelas.
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Postado dia 13/10/2024.
Curtam, comentem... Bjs amores.
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