You talk too much
"Você conhece meu tipo
Sou uma corda bamba,
Um risco em qualquer lugar
Eu nunca deixo nada por falar
[...]
Você sabe que eu falo demais, querida
Então junte seus lábios aos meus e me cale
Podemos culpar a natureza humana por isso depois"
Talk Too Much - COIN
Catherine's P.O.V
Supernova
Los Angeles, CA
Terça-feira, 22h
Pior noite da minha vida. Poderia jurar isso pelo simples fato de que só estava aqui por obrigação. Maldito foi o momento no qual concordei em participar dessa missão, tudo por café de graça - um vício meu a ser revisto.
Mal fazia trinta minutos que entrara na boate, logo me dirigindo ao bar central, e eu já odiava o lugar. Quer dizer, talvez não odiasse em si - a decoração se mostrava até convidativa - o problema era quem teria de encontrar. Uma coisa é participar de missões envolvendo convivência normal com possíveis criminosos, outra é ser forçada a flertar com um. Boa hora para rever minha escolha de trabalho.
Eu lembro quando comecei, àquele tempo apenas como uma estagiária numa delegacia qualquer. Porém, uma mulher vira potencial na universitária desbocada (vulgo eu) e decidiu efetivá-la, levando-a para o 1º Departamento de Polícia da cidade. Essa mulher era ninguém menos que a capitã da central mais importante de todo o distrito. Em resumo; terminei a faculdade e continuei nesse caminho. Havia me interessado pela linha tênue dividindo o legal do criminoso. Logo mais minha irmã se juntaria a mim, iniciando na área médico-farmacêutica e conseguindo um emprego no mesmo lugar. Coincidência? Nem tanto, eu fora uma das pessoas a indicá-la, do mesmo modo como seu melhor amigo - James - apesar do pouco tempo de amizade na ocasião. Nada posso fazer se a garota era merecedora de reconhecimento por sua maestria.
Eu possuía orgulho dela. Um futuro promissor a aguardava. Futuro esse que, de preferência, não envolvesse missões assim. Ela nem deveria estar aqui, para início de conversa, mas parecia ser mais fácil mandar duas mulheres da mesma família para se dispor ao bel-prazer de dois homens (criminosos), à opção montar toda uma operação. Sortudo era James, o qual deveria estar curtindo suas "férias" da função de detetive. Enquanto ele relaxava, a maior parte do trabalho sobrava para Edward.
E por falar no dito cujo carinhosamente apelidado de girafa, esse era outro que nem deveria estar envolvido nessa história toda. A especialidade de Edward residia na área médico-forense, mas, como até mesmo o maior departamento de Los Angeles sofria com déficit de funcionários qualificados, funções acumulavam-se sobre seus ombros e ele não podia fazer nada para mudar isso. Aparentemente, resignava-se a tanto por gostar de realizar cada trabalho com primazia. Neste ponto, éramos iguais - tirando certas obviedades, como: a paciência com certeza superior à minha e o fato de, comparado a qualquer outro de lá, ser ele quem mais sofria.
Nota mental: eu deveria pegar um pouco mais leve com ele.
Muita coisa estava errada no 1º Departamento de Polícia, mas eu já havia aceitado a realidade de que isso não mudaria. Restava-me (tentar) acatar as ordens e manter meu emprego. Há tempos Sarah deixara de me ver como uma "promessa" e notara alguns defeitos meus; como por exemplo minha forte tendência a atrasos e problemas em me submeter a situações das quais negava veementemente participar. A Capitã atualmente via em mim um caso quase perdido, despertando nela o desejo de salvação. Na realidade, talvez ela só quisesse "me salvar" para sair como mártir da história.
Idiotice.
Estávamos longe do mundo das fábulas infantis e a corrupção nunca faria parte de meu metiê. Eu tinha minha moral, não querer me dispôr a certas missões só a consolidava. Vender-me por café... É, nem tanto, mas todos têm suas falhas. - Se ao menos ela percebesse isso... - pensei alto, suspirando ao apoiar os cotovelos sobre o balcão. Mal ligava para quem pudesse ouvir meus pensamentos. Eles eram os únicos a me acompanhar num momento como este, onde jazia sentada de frente a um bar no meio do barulho ensurdecedor da boate. Se para continuar sozinha, como pretendia, eu precisava aceitar que alguns julgassem-me doida, o risco era válido.
Vamos aos fatos: eu não queria procurar o bendito sócio muitos menos tentar seduzí-lo. Independente de ser uma tarefa simples a qual poderia performar com primazia, o prospecto nada me animava. Não hoje, ou amanhã... Quem sabe na semana que vem quando eu finalmente aceitasse a complicação na qual me meti por amor à cafeína. Quantas chances tinha de meu algoz nem estar aqui esta noite? Qual a probabilidade de elaborar uma desculpa plausível para não contactá-lo? E a porcentagem efetiva de acreditarem em mim? Ah, como gostaria de ser boa em matemática...
Minha discussão mental foi interrompida pelo bartender estendendo-me uma bebida de coloração vermelha, provavelmente carregada de licor. - Com licença... Eu não pedi isso. - chamei-o, apontando para a taça à minha frente.
- É por conta da casa, senhorita. - o bartender deu de ombros, mal me dando atenção, como se isso fosse normal.
- Okay... Mas, afinal, o quê é isso?
- Apenas licor não alcoólico de cereja com água gasosa.
Estranho. Muito, na verdade. Tanto que me dei o benefício da dúvida ao aproximar o nariz para verificar se havia algum cheiro suspeito na mesma (truques aprendidos com Edward). Nada. Tudo normal, suficientemente confiável para tomar e chegada em boa hora pois eu definitivamente precisava de uma bebida. Era bom. A gaseificação dava um ar sofisticado e deixava o gosto próprio a meu paladar. Não que eu fosse uma grande degustadora, afinal minha frescura para com comidas fazia-me parecer uma criança (sem comentários sobre a altura aqui). De qualquer modo, a bebida fora agradável o bastante para me dar vontade de pedir mais uma. Se era "por conta da casa", deveria aproveitar. - Hey! - sinalizei ao funcionário de antes. - Você disse que a bebida era de graça, então, por favor, me vê mais uma.
Ele apenas assentiu em resposta e se virou para a prateleira, toda em vidro, buscando uma garrafa com o líquido avermelhado. Diversas coisas me intrigavam, a principal delas sendo: quem está me oferecendo as bebidas? E por quê? Minha curiosidade fez-me abrir a boca. - Você poderia me dizer quem está pagando as bebidas para mim? - perguntei, quando o rapaz voltou para me entregar a nova dose.
- Aquele senhor ali. - apontou rapidamente, fazendo-me seguir a direção com o olhar enquanto rodopiava o canudo no líquido da bebida-sem-nome-específico.
Cabelos escuros, cacheados, um pouco acima da altura do ombro, arrumados mas com a impressão de que logo se bagunçariam, terno preto, camisa social branca com os primeiros botões abertos em formato V. O "senhor" responsável pelas minhas bebidas gratuitas era um dos donos, aquele quem eu preferia chamar de algoz, e de repente minha vontade de tomar qualquer coisa diminuíra 80% (os outros 20% ainda estavam com sede). Para piorar, o mesmo parecera notar meu olhar sobre ele e portanto se aproximava com um sorriso confiante, desdobrando os cantos da boca.
Tornei minha atenção à bebida, concentrando-me em rodopiar o canudo e torcer para que ele se perdesse no meio do caminho, ou sei lá, um lustre caísse na cabeça dele. Uma jovem pode sonhar.
- Se está preocupada com um possível envenenamento, fique tranquila. As bebidas são livres de qualquer substância. - a voz responsável por interromper os desejos de meu subconsciente era diferente do esperado. Naturalmente rouca, grossa mas com certa cadência, o quê dava-lhe um delicado charme. "Boa de se ouvir...", afastei o pensamento antes que o alongasse, procurando focar nas palavras em si.
- E por quê eu deveria acreditar em você? - perguntei casualmente, dirigindo-lhe um olhar apenas de canto, mas não pretendia dar-lhe tempo para responder. - Por que "se você quisesse me envenenar, já teria feito"? - cogitei, valendo-me de uma frase a qual já ouvira muito semelhante.
Ele pareceu gostar de minha suposição, ampliando o sorriso como se eu tivesse, de repente, falado algo super interessante. - Você sabe das coisas né, garota?
Forcei um riso sem humor, decidindo lhe dedicar o olhar. - Depende de qual tipo de coisas está falando, garoto. - desafiei, inclinando-me no banco onde sentava para ficar de frente ao mesmo.
Ele apenas riu, mas algo nele me fez ter certeza de que não prosseguiria o assunto. - Eu te conheço de algum lugar.
Suas palavras me deixaram na dúvida quanto à intenção, mas, de qualquer modo, acabei por disfarçar qualquer confusão minha com um revirar de olhos. - Se esta frase for algum tipo de cantada mal feita, nem precisa se preocupar em me pagar nada pois eu vou embora.
- Hey, calma lá! Estou falando sério, eu te conheço de algum lugar. Não da boate, claro. Acredite, eu saberia se tivesse te visto por aqui antes. - seu tom adquirira certa convencimento à medida que se apoiava no cotovelo, invadindo meu espaço no balcão.
- Eu não duvido.
Bufei ao responder mas ele parecia tão absorto em seus pensamentos que duvido ter percebido. - ... O casamento de Jeremy. - declarou, do nada, sorrindo com o a descoberta, o quê só me fez arquear uma sobrancelha. - Eu fui convidado por ser um amigo, você era uma das madrinhas da esposa dele. - elaborou.
- Da Belle? Ah... Sim, eu era uma das madrinhas dela. - "Que maravilha! Eu já tinha estado no mesmo lugar que a peste e nem sabia...", contive a frustração para não revirar os olhos mais uma vez.
- Então estava certo, eu te conhecia de algum lugar. - gabou-se.
- E...??? Isso não muda nada entre nós. Somos completos desconhecidos. Eu não sei sobre você, você não sabe sobre mim.
- É claro que sei sobre você. O suficiente, eu sei. - mais um sorriso convencido, e eu desejando arrancá-lo da cara dele com um soco. Porém, a situação não me permitiria. - Por exemplo; sei que você não é o tipo de garota a frequentar boates, e sei que você gostou dessa soda italiana - apontou para minha bebida, ainda na metade. - Então posso agradá-la com isso e convidá-la para um drinque. - concluiu, reclinando a cabeça para ficar na altura de meus olhos.
Tive vontade de rir do coitado. - Um drinque? Eu passo. Se fosse café, até poderia pensar.
- Boa escolha. - nada me irritava mais que o fato dele nunca perder a compostura. Duas opções: ou ele estava muito afim de me conquistar, ou era idiota. Provavelmente os dois. - Posso considerar um encontro, então?
Destinei-lhe um curto sorriso, forçado, daqueles que só disponibilizava por pena. A cena era ridícula: meu algoz, um cara de seus 35 anos e 1,83m de altura, sujeitando-se a foras. Pelas informações da ficha, já era pra ele ter desistido.
- Ah, eu quase esqueci... Meu nome é Tyson, sou um dos donos deste paraíso aqui. É um prazer... - ofereceu-me a mão, esperando que eu me apresentasse.
Tomei um gole da tal soda italiana antes de lhe estender a minha, em retorno. Na real, eu não pretendia informar meu nome. - Apesar de eu já ter ouvido falar de você, é um prazer. - respondi, digerindo a surpresa que fora ele me depositar um beijo sobre a mão esquerda. Era só um clichê de falso cavalheirismo, nunca me deixaria levar por isso. - Mas, se me permite... Por quê lhe interessa saber meu nome?
- Como posso chamar uma bela garota se não sei seu nome?
- ... Não é minha resposta, mas esquece. Eu só queria saber pois caras como você, Tyson, não parecem ser do tipo de se apegar a nomes.
- "Caras como eu"? Hum, você é observadora pelo visto. - comentou, levando na brincadeira. - Se importaria de dizer qual é meu tipo, Miss Esperteza?
Fixei um sorriso plastificado em meu rosto, controlando-me para não desperdiçar o resto do líquido derramando-o em sua camisa. Se ele queria uma opinião sincera, assim teria. - Nenhum problema. Vamos ver... Dono de boate, rico, desleixado... - observei-o de cima à baixo. - Alto, com músculos aparentemente definidos, pele levemente morena; o quase típico clichê que se aproveita da boa aparência e fama para atrair quem quiser, o quê inclui mulheres. Você gasta tempo dando em cima de quaisquer na esperança de conseguir um alívio pela noite. - voltei a sorrir, dessa vez contente comigo mesma e em deboche. – Gostou?
Ele finalmente pareceu um pouco desconcertado. - Impressionante. - ... mas não o bastante. - Mas você fez uma análise muito fria, e cometeu alguns erros.
- A intenção era ser fria. - revirei os olhos, tomando o quê sobrara da bebida num gole. - Você fala demais pra um cara que só está interessado em conseguir "se dar bem" comigo. - pontuei, sabendo que entenderia.
- Engano seu, espertinha. - e, mais uma vez, ele parecia muito agradado com isso. Que irritante. - Eu não vim aqui só por isso. Na verdade, não imaginava que conseguiria algo contigo. Diferente do seu provável pensamento, ao meu ver... - começou a falar mais pausadamente, inclinando-se para próximo de meu ouvido. - Você não é uma qualquer. - murmurou, dando um mero segundo de tempo antes de voltar ao normal.
Resisti ao arrepio que me subira a espinha, mantendo-me impassível. Não seria eu a lhe dar o gostinho da vitória, nunca, meu plano ainda era acabar com sua arrogância - e, de preferência, estraçalhar-lhe a cara. - Eu nunca me considerei uma qualquer, nem me consideraria. - readquiri a compostura. - Eu apenas prefiro quando os caras que só estão interessados em beijar ou me levar pra cama, não ficam de joguinhos e são sinceros. - se ele tinha ao menos um pouco de neurônio, a carapuça serviu.
- Hey, hey... Calma! - ergueu os braços, querendo atestar inocência. - Você interpreta mal minhas intenções... Se bem que, se você considerava que falo demais, poderia ter me calado com um beijo. Eu aceitaria. - piscou para mim, atentando um charme.
Não pude conter o riso. - Eu passo. E você já perdeu sua chance.
- É uma pena. Acho que terei que aproveitar melhor meu momento na próxima vez.
Antes que eu pudesse retorquir e perguntar como ele poderia ter tanta certeza que haveria uma próxima vez, as luzes se apagaram e deixaram o ambiente praticamente todo no escuro. A única iluminação estava por conta de holofotes vermelhos, distribuídos bem ao fundo da boate, e leves filetes de vindos de lâmpadas (de luz amarela) espalhadas pelas paredes, em pontos específicos. Franzi o cenho, me acostumando à mudança. - O que aconteceu? - abri a boca, sem pensar.
- Ah, devem ser apenas os preparativos pro show. - ele parecia neutro, pelo que conseguia ver.
- Show?
- Sim, de uma cantora iniciante. Acho que foi Thomas quem arranjou... O nome dela é Anne.
O nome atingiu-me como um soco no estômago, impedindo-me até de engolir em seco. Anne. Se havia momento pior para estar no mesmo ambiente que ela, eu desconhecia. Respirei fundo, pedindo por uma calma já perdida, e busquei meu celular na pequena bolsa - que eu fora obrigada a trazer (mais um motivo para odiar vestidos).
Digitando uma mensagem rápida para minha irmã, levantei do banco onde estava, sentindo-me interromper por um leve toque contra meu pulso. - Já vai embora? - Tyson. Eu quase esquecera que ele ainda estava aqui.
- Tenho um compromisso, não posso ficar. - desculpei-me, internamente torcendo para ter soado convincente o bastante.
Sua feição adquirira tons estranhos ao meu olhar. Não sei se era algo em mim ou puro resultado do contraste da luz, mas eu podia jurar que seus olhos, de repente, observavam-me com maior intensidade.
Entretanto, para minha sorte, ele nada comentou, contentando-se apenas em aproximar seus lábios de minha mão para novo beijo - desta vez, nas juntas dos dedos.
- Espero lhe ver de novo. - meu cérebro mal registrou suas últimas palavras, preocupado apenas em me desvencilhar e fazer caminho (rápido) até a porta principal. A iminência de um show convencera as pessoas a se tumultuarem nos confins da boate, facilitando a saída, e eu agradecia mentalmente por isso.
Uma vez do lado de fora, peguei meu celular mais uma vez e procurei o contato de Ed, dedicando-me a mexer na alça de minha bolsa à tiracolo enquanto rezava, nervosa, para ele responder.
Ele atendeu depois de três toques.
- Deu merda, você precisa nos buscar. - precipitei-me, nem o dando tempo para falar.
- ... Por que? - sua voz estava estranha do outro lado da linha, acompanhada por um barulho abafado. - Como assim deu merda?!
- Só pra saber, você tava dormindo ou transando? - deixei a curiosidade falar mais alto, logo me arrependendo ao me dar conta do quê perguntara. - Esquece, ignora, eu prefiro não descobrir. Só apareça decente para buscar eu e Lizzie, e, por favor, não questione. - emendei rapidamente antes que ele fosse capaz de processar uma resposta.
- ... Mas o que a-
- Desculpas antecipadas. - interrompi-o, findando a ligação e soltando o fôlego que nem sabia ter prendido.
Eu só precisava sair daqui, o mais rápido possível.
{...}
Estranhamente, eu tô cumprindo essa coisa de atualizar a cada fim de semana. WOW, impressionante, mas não esperem muito. Enfim, alguma opinião sobre o capítulo? Comentários? Perguntas? Sintam-se à vontade para o quê quiserem...
Ps* Cat e Tyson ainda darão MUITO o quê falar
Ps²* Edward tá aí pra sofrer mesmo (pode nem mais fazer as coisas em paz...)
Ps³* As curiosidades sobre quem é Anne serão respondidas no próximo capítulo
Até a próxima & that's all folks!!!
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