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(𝙩𝙬𝙤.) midnight risks

───── RISCOS À MEIA-NOITE.









ERA MAIS DO QUE TARDE quando Morgana, Stella, Terra, Aisha e Musa vagaram para fora da barreira. Ela preferia e tentava, a todo custo, pensar apenas em Bloom e em encontrá-la, porque olhar para Stella naquele momento seria repugnante.

─ Vai me ignorar? ─ A loira pergunta, uma esfera de luz projetada por ela conduzindo o grupo até o suposto portal.

─ Enquanto eu puder. ─ Anuncia, sem qualquer emoção na voz.

Ela tinha a ciência de que as fadas em treinamento eram instáveis, principalmente quando impulsivas, mas não esperava que a amiga fosse tão longe apenas para provar sua autoridade. Com Farah e as outras atrás delas, ela implorava mentalmente para que deixasse aquela conversa para depois.

─ Estamos chegando. ─ Terra diz, sobre seu sobretudo esverdeado. Quando finalmente alcançam o cemitério, a diretora toma a frente e as encara.

─ Aguardem aqui. Vou precisar que levem Bloom de volta para a escola caso algo aconteça. Morgana ─ Ela chama, rapidamente recebendo a atenção da mais velha. ─ Cuide delas.

Quando, com um gesto de cabeça, a mulher recebe a confirmação, ela adentra ao local, séria e ríspida enquanto as meninas passavam a teorizar sobre o mais recente acontecimento.

─ Isso foi tão infantil, Stella. ─ Ela solta, baixo o suficiente para apenas a fada da luz escutar.

─ O que foi? Esse é um daqueles seus sermões comportamentais?

─ Talvez. ─ Ela se vira para a amiga, furiosa apesar de não precisar de muito para demonstrar. ─ Ela é um caloura, e pra piorar, uma terráquea. Ela mal tem contato com a magia e você simplesmente a condena a isso... por um garoto?

─ Não é por Sky. ─ Ela procura justificar, abraçando os braços diante do frio.

─ Então pelo o que é? Convenhamos que não é pelo estilo, certo? Vai me dizer que ficou com ciúmes do cabelo dela?

─ Sarcasmo não combina com você.

─ E nem maldade com você. ─ Ela solta, o queixo erguido inconscientemente quando ela percebeu ter chamado a atenção das outras. ─ Mas pelo visto, eu me enganei, certo?

Quando não recebe resposta, ela volta a atenção para o interior do que parecia ser um galpão, visível graças a porta aberta. E quando uma figura pequena corre na direção delas, a primeira coisa que Morgana realmente percebe é a criatura de frente para Farah.

Enorme e esguio, ele era visivelmente asqueroso apesar da pouca iluminação, e a pele queimada e chamuscada fazia jus à denominação que recebeu através de décadas. Um queimado. Morgana nunca vira um, apesar de imaginá-los de forma menos macabra. Tinha o corpo próximo de uma anatomia humana, se os braços não parecessem mais alongados. Felizmente as terras e o clima úmido de Andros não favorecia a presença destes seres, que pouquíssimas vezes foram flagrados nos interiores da superfície. Mesmo assim, as histórias do pai nunca fizeram tanto sentido.

O Rei Teredor fora um dos três únicos de toda a realeza que presenciaram um Queimado em toda a história do reino. Ainda era jovem, despreparado e, consequentemente, houveram perdas para que a linhagem continuasse intacta. Mesmo que Morgana nunca tivesse visto a avó paterna, a enxergava como uma guerreira pelo sacrifício que fez. Pelo bem do filho. E pelo bem do povo.

E agora, ela podia sentir, pela primeira vez em toda a sua jornada até Alfea, uma sensação desagradável e que, certamente, lhe causaria pesadelos: medo. Pois ela não sabia se era sortuda ou amaldiçoada por presenciar um Queimado, e torcia para que Farah não morresse tentando detê-lo.

Sua raiva por Stella havia aumentado em trezentos por cento naquele momento.

─ Você está bem? ─ Terra pergunta, arrancando Morgana de seus devaneios pessoas.

Bloom, claramente assustada, balança a cabeça para elas.

─ É, acho que estou. ─ Ela respira fundo, mesmo que, diante da falta de fôlego, o ar lhe parecesse faltar aos pulmões. ─ O que era aquela coisa?

─ Chamam de Queimado. ─ A Roux responde.

E então, a ruiva encara Stella, e era como se elas tivessem algum assunto pendente e pessoal.

─ O quê? ─ A loira pergunta, com uma única sobrancelha erguida e sugestiva.

─ Aquela coisa pegou o seu anel.

─ Como!? ─ Quando ela dá um passo à diante, Morgana a para, bloqueando sua passagem.

─ Vamos encontrar. ─ Diz, tirando o braço de sua frente.

Cada família real possuía ao menos uma relíquia delicada, mas muito poderosa, que era passada aos sucessores ao trono. Apesar de, muitas vezes, ser preferível deixar o objeto no Reino e em segurança, alguns herdeiros se arriscavam a levar o pertence consigo, pois podia estar além de um objeto raro, além de qualquer status ou poder que ele poderia fornecer. Era estar conectado com alguma parte de seu reino e família, mesmo que pequena.

Quando Morgana viu o olhar aflito de Stella, ela sabia exatamente como se sentia, e a mão rapidamente tocou seu colar, uma relíquia de Andros que fora perdida antes pela Roux e só devolvida quando completou seus dezessete anos.

─ Precisamos voltar. ─ Ela anuncia, pedindo que Bloom se aproximasse com a mão.

𖤍

─ Falarei com a diretora Farah sobre hoje, podem ir descansar tranquilas. ─ Morgana diz, vendo as meninas se afastarem. ─ Ah! E Bloom ─ Ela chama, vendo a ruiva se virar freneticamente para ela. ─ Se precisar de alguma coisa, pode me chamar, está bem?

─ Obrigada. ─ Ela sorri, balançando a cabeça em confirmação antes de entrar.

─ Vamos achar o anel. ─ Ela se vira para Stella, cruzando os braços em seguida. ─ Sei o quão importante é pra você.

─ Ainda está com aquela cara...

─ Não posso fingir que o que fez não foi errado. Você não deveria ter esse tipo de comportamento.

─ Às vezes você parece uma mãe. ─ Ela retruca, revirando os olhos.

─ Apenas... Vá descansar, está bem?

─ Não posso passar a noite lá dentro. Elas me odeiam. ─ A fada procura se defender, abraçando os braços mais uma vez.

─ Elas não te odeiam, Stella.

─ Você viu como me olharam enquanto voltávamos.

─ Elas não têm o direito de ficarem bravas? Você quem influenciou Bloom a voltar para sua casa com o teletransporte. Ela podia ter morrido.

─ Eu não pensei nisso, está bem? Eu só... ─ E então, era como se tivesse perdido as palavras. No fundo, talvez, não houvesse outra justificativa para fazer o que fez se não a ameaça que Bloom representou, mesmo que por um momento. ─ Não é apenas Sky, posso ver o quão obcecada está ficando com ela.

─ Eu fui a instrutora dela, Tella. Só queria que ela se sentisse segura, pois nem no próprio planeta ela está! ─ Mesmo que com um tom baixo, era possível ver toda a raiva que a Roux sentia no momento. Gesticulando, ela apontou para a porta. ─ Nunca poderíamos saber como ela está se sentindo, e eu ia fazer o possível para que ela não desistisse de si.

─ Você e a sua mania de não julgar as pessoas. Ainda me pergunto como somos amigas. ─ Ela revira os olhos, o tom zombeteiro apesar de estar séria.

─ Pois é, não é? Eu ultimamente tenho me perguntado muito sobre isso. ─ A outra responde, passando a mão pelos cabelos cacheados e escuros. ─ Tenho que ir encontrar Farah. Faça o que quiser, eu já não me importo mais.

Anuncia sem qualquer ânimo na voz, afastando-se em seguida. Morgana sabia muito bem quem Stella era, apesar das controvérsias teorizadas por estranhos. Stella era exatamente o oposto do que muitas pessoas acreditavam, mas não podia deixar que suas inseguranças fossem o suficiente para esquecer o que fez. Ela simplesmente tinha que encarar o problema e agir.

E naquele momento, ciente de que poderia demorar até que isso acontecesse, Morgana apenas respirou fundo e continuou, as botas colidindo com o chão em sons discretos enquanto procurava a diretoria. Ela estava cansada.

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