(𝙛𝙤𝙪𝙧𝙩𝙚𝙚𝙣.) before u go
───── ANTES QUE VOCÊ VÁ.
CONFORME OS CÁLCULOS DE Morgana, Stella tinha vinte e duas horas até suas carruagens reais chegarem até Alfea e a levarem para sua torre. Literalmente. Stella tinha a sua própria torre. E, se Morg se aprofundasse nas próprias teorias matemáticas de tempo, então ela tinha de três a quatro horas para tentar se despedir da princesa de Solaria e talvez, apenas talvez, esclarecer as discussões inacabadas.
A negra virou um corredor do colégio, evitando esbarrar em dois alunos com uma graça incomum, como se já tivesse praticado por tempo suficiente aquele simples movimento. Continuou andando, sentindo o espaço entre seus pés se esticando e tornando-se intermináveis. Algo em sua barriga borbulhava em ansiedade.
Ela não sabia o que falaria para Stella.
E seria provavelmente um grande momento de narcisismo onde ela falava muito mais sobre ela do que a loira gostaria de ouvir. Também falaria sobre o tratamento que a princesa deu para Terra, Musa, Bloom e Aisha e, como o grande final para algo que poderia se tornar ainda mais caótico, ela falaria de Sky. Sobre Sky. Sobre os sentimentos que carregava pelo ex de sua melhor amiga.
Seu estômago deu outro aviso. Ela ignorou. Estava a poucos metros do quarto das fadas e se recuasse agora, talvez nunca tivesse a chance de retomar e finalizar aquele assunto.
Ela parou. Quarto Winx 18. No corredor que se estendia aos seus lados, nenhuma única alma adolescente passava pela passarela. O silêncio pareceu convidativo. Morgana respirou fundo e entrou, vendo um quarto vazio. A porta de Stella estava fechada, e ela bateu algumas vezes, de forma melódica e secreta, como se fosse um código que apenas a princesa de Solária entenderia.
─ Quatro batidas. ─ Ela disse, quase que num sussurro. ─ Uma para cada...
A porta se abriu.
─ ... Criança insuportável nas torres. ─ Stell encarou a amiga a poucos metros de distância. Morgana percebeu que ela usava mais maquiagem que o comum, mas não achou viável comentar sobre.
Não era algo que Stella gostava que percebessem: quando ela disfarçava um momento de choro e melancolia com camadas extra de corretivo.
─ Mas em Alfea só tem três. O que é, com todo o respeito, formidável.
─ Você deveria tentar se acertar com a minha prima.
─ Não... ─ Ela arrastou a voz, forçando um sorriso, e abriu espaço para que a outra passasse. Quando o fez, fechou a porta com pressa. ─ Irei embora daqui a algumas horas. Ninguém parece se importar muito.
─ Eles não têm noção de todas as coisas que estão acontecendo. Deve ser a dádiva da ignorância, ou algo assim. ─ Morgana deu de ombros, abraçando os próprios braços em seguida.
─ Se veio me dar algum sermão sobre tudo o que fiz, saiba que estou pagando por isso.
─ Stella, eu... ─ Ela parou, olhando para os cantos. ─ As coisas que você fez...
A loira revirou os olhos.
─ Lá vamos nós.
─ Talvez não caiba a mim dizer. ─ Morgana diz, tão surpresa com as próprias palavras quanto a amiga.
Por algum momento, ela achou que aquilo era responsabilidade dela. A intromissão e a sensação de precisar defender Bloom e as outras. Mas elas não estavam sendo a fonte da maturidade naquele exato momento.
─ Sabe onde elas estão?
─ Provavelmente festejando a minha partida. ─ Stella gesticula com as mãos, sentando-se em sua cama em seguida.
Era maior que as outras, Morgana percebeu.
─ Talvez você mereça um pouco disso. ─ Ela deu de ombros, sentando-se ao seu lado. ─ Quer dizer, toda aquela implicação com a Bloom? É como se ela fosse a sua nêmesis.
─ Eu só acho que ver ela com Sky não foi fácil. Ela mal havia chegado e já parecia ser o centro de tudo. Sem se esforçar. E ainda reclamava disso. Como a pobre protagonista. ─ Ela fala pausadamente, com frustração na voz.
─ Ainda sente algo por Sky? ─ A de cabelos cacheados pergunta, encolhendo os ombros por um instante. Depois, a postura retorna ao natural. Rígida e ainda sim, graciosa, como o equilíbrio perfeito entre beleza e poder.
─ Só é difícil ver alguém seguir em frente tão depressa. Ou talvez seja porque se tratava sobre uma desconhecida, alguém que eu não sabia se era boa o bastante para ele. ─ Ela relaxa a postura, debruçando as costas sob a cabeceira de madeira. ─ Quer dizer, quando a teoria era de vocês dois estarem juntos, eu tinha ficado mais tranquila.
─ Por quê?
─ Porque é você! ─ Ela expira, como se fosse óbvio. ─ Inteligente, altruísta, sincera e intensa na medida certa. Você sabe quem é. Não existe drama ou mistérios nas suas origens que possam afundar alguém.
Morgana sorri, aproximando-se da amiga.
─ Sky sabe disso? Quer dizer, é bem gentil da sua parte.
─ Ha! ─ Ela ironiza, e a face sarcástica se torna séria no segundo seguinte. ─ Acho que ele não se importa mais com o que eu penso, ou falo, ou como me sinto. Não depois do lance da "trocada".
─ O que foi uma merda de se fazer.
─ Acha que eu não sei? ─ Ela balança a cabeça. ─ Eu não percebi o que estava fazendo. Só me dei conta de toda a situação quando estava concluída. E ele não quer um pedido de desculpas. E Bloom também não vai querer, pois deve estar muito ocupada com seu próprio drama pessoal. Não que eu me importe.
─ Na verdade, eu acho que você se importa sim. ─ Ela faz um gesto quantitativo com o dedo indicador e dedo polegar, como se medisse algo. ─ Só um pouquinho.
Stella ri, breve e verdadeiramente, e empurra com o pé descalço o ombro da negra. Ela sorri.
─ Por que veio aqui?
O sorriso sumiu.
─ Eu... Hã...
─ Diga logo. Pense que tem um relógio sobre nossas cabeças, marcando o tempo restante. E você não gosta de pendências, então acho que essa é a hora ideal de...
─ Eu gosto do Sky ─ Ela disse, uma letra atropelando a outra, tornando a frase quase incoerente.
Durante esse processo, ela não se atreveu a encarar Stella. Ao invés disso, olhava para as unhas curtas de sua mão, que começavam a crescer. E a partir disso, um silêncio curto se instala no quarto, revelando a tentativa de compreensão por parte de uma das princesas.
─ Fala alguma coisa. ─ A especialista pediu, quase implorando, ainda sem olhar para a fada.
─ Lukkie sabia?
─ O quê?
─ O Lukkas sabia?
─ Eu contei pra ele há pouco tempo...
─ Inacreditável. Confia mais naquele cretino do que em mim?
─ Ele só soube hoje, Stella! Essa é a única coisa que tem a dizer sobre isso?
Ela parou.
─ Ariel também sabe?
─ Pelo amor de Poseidon! ─ Morgana levanta da cama, gesticulando com certa raiva e confusão. ─ Por que eu contaria sobre isso para a minha prima? Ela está em Andros.
─ Você quem fez a batida secreta na porta. Isso sempre significou: "vou falar algo importante pro grupo". E eu fui a última a saber sobre isso!?
─ Se serve de consolo, Ariel não sabe.
─ Menos mal.
Silêncio. Morgana se questiona se deveria cobrar outra reação da loira, mas ela parece perdida em vários pensamentos. Então ela espera e, em dois minutos, seu devaneio acaba.
─ Sky sabe? Digo, você já se declarou para ele ou...?
─ Eu não pretendo. ─ Ela encolhe os ombros, e logo se senta na cama, apenas para abraçar as pernas e se encolher ainda mais.
─ Se isso é por causa de mim...
─ Não é. ─ Ela interrompe, levantando a cabeça. ─ Quer dizer, também, mas não é apenas isso. Acho que tudo está tão caótico, e não quero que "um coração partido" entre para a lista de caos de Alfea. Não acho que seja recíproco.
Por um momento, as íris castanhas buscam pelas azuis de Stella com alguma esperança. Talvez ela soubesse de algo. Talvez tenha percebido algo. Mas a fada balança a cabeça negativamente, com alguma tristeza na face que trouxe um mínimo de conforto para a Roux.
─ Eu realmente não tenho falado com ele. Sinto muito por não poder ajudar.
─ Tá tudo bem...
─ Mas, se serve de consolo, eu ficaria feliz de ver ele com você. Eu sei que tem todo esse lance de superação, mas pelo menos ele estaria com alguém legal. E não ruiva.
─ Precisa trabalhar essa rivalidade com a Bloom, sério.
─ Como você não fica irritada? Tem tantos motivos quanto eu.
─ Um garoto? ─ A Roux sugere, como se fosse algo muito pequeno para ser considerado. ─ Stella, ela não pode controlar o que sente por Sky, ou o que ele sente por ela. Descontar nela não adiantaria nada.
─ Viu? Esse lance de altruísmo todo. É a sua cara.
─ Não estou sendo altruísta. ─ Ela riu, sentando-se agora na posição de uma flor de Lótus, e chamando Stella para seu colo. Assim ela faz, deitando a cabeça nas pernas da amiga, os cabelos loiros se espalhando como raízes sem fim. ─ Só não vale a pena. Eu tenho muito mais para me preocupar neste momento. Tipo, falar com a minha melhor amiga sobre eu gostar do ex dela.
Stella ri.
─ Você está mesmo de boa com toda essa situação? Não quero que sinta que deva agir de um jeito.
─ Como eu disse, é legal pensar que ele poderia ficar com alguém como você. Eu não amei o Sky, Morg. Não desse jeito. Só não quero deixar de ser uma prioridade na vida dele.
─ Não vai. ─ Ela tenta confortá-la, passando as mãos nos fios dourados da fada. ─ Só tem que deixar ele refletir sobre toda essa situação. Deve estar sendo difícil para ele.
─ Espero que você esteja certa.
Ela então se levanta, encarando Morgana com olhos brilhantes e tristes.
─ Tem alguma chance de seu pai me aceitar em Andros?
─ Não sem sua mãe iniciar uma guerra. ─ Ela tenta sorrir. ─ Não tem algum jeito de você ficar?
─ É arriscado demais. Segundo ela, Solaria não pode correr o risco de perder sua futura rainha. É claro que é uma fachada. Ela não gostou de ver o quão pouco eu progredi aqui.
─ Você aprendeu muito. Os métodos de Luna que são...
─ Horríveis? ─ Ela sugere, com a voz ríspida. ─ Ela é um monstro, mas é cruel falar disso de sua própria mãe. A mulher que todos adoram.
─ Eles não sabem o que você passou.
─ E nunca saberão. Ela não arriscaria prejudicar a sua imagem. Ama os seus súditos e todos que a adoram. Talvez mais do que tudo.
─ Stell...
─ É verdade. E eu não quero saber como seria ter todo esse afeto manipulativo dela. Por isso, detesto a ideia de ir para lá. Aquele castelo soa como uma prisão.
─ Queria poder te ajudar.
─ Na verdade, tem algo que talvez você possa fazer. ─ Ela se aproxima, a boca perto do ouvido da especialista enquanto lhe confiava o que só poderia ser um segredo.
Quando ela se afasta, Morgana assente.
─ Por favor, apenas faça isso por mim, está bem? Eu posso dar um jeito no resto.
─ Fala como se os guardas solarianos fossem aparecer agora. ─ Morgana ergue uma sobrancelha, desconfiada, apenas para que algumas batidas atingissem a porta segundos depois, firmes e indiferentes.
─ É. É porque eles realmente estão aqui.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro