(𝙛𝙞𝙫𝙚.) burned
───── QUEIMADO.
LUKKIE E MORGANA PUDERAM avistar três membros daquela improvável equipe não muito longe de onde estavam, quando alguns trovões ameaçavam o início de uma chuva e quando o céu se tornou um tanto cinzento. Mesmo assim, ainda era dia, e com uma visualização melhor do ambiente ao seu redor, poderiam encontrar o Queimado ─ e o anel ─ antes de Silva e sua equipe.
─ Chegamos. ─ Morgana anuncia, próxima o suficiente para que Bloom, Aisha e Stella as escutassem. Pareciam perdidas em uma outra energia antes de enxergarem os dois. ─ Está tudo bem?
─ Estaria, se não fosse pelo fato de que Bloom está fazendo um mau uso de sua magia.
─ Emoções negativas? ─ Lukkie sugere, mas a ruiva não responde. Ao invés disso, o mede de cima a baixo, e era como se se perguntasse quem ele era. Ele então se aproxima da melhor amiga, próximo o bastante para, em seu ouvido, sussurrar desconfortável: ─ Acho que é uma ótima hora para você me apresentar.
─ Meninas, esse é o...
─ Lukkie. ─ Stella interrompe, encarando o loiro. ─ Quanto tempo, fadinha.
─ Digo o mesmo, Barbie. ─ Ambos sorriem um para o outro, deixando Aisha e Bloom um tanto confusas.
Para Morgana, a relação dos dois era uma das coisas mais peculiares com as quais já lidou na vida. Eles pareciam ter, no fim das contas, uma harmoniosa energia a compartilhar, apesar de sempre fazerem isso através de ironia e insultos, ao invés de simplesmente contarem mais um do outro. Esse trabalho acabou ficando para a Roux, mas mesmo assim, era gratificante ver os dois próximos à sua maneira, mesmo em um momento onde a mais velha estivesse brigada com Stella.
─ Estão todos tão serenos, principalmente essas três. ─ Musa aponta com deboche, enquanto ela e Terra finalmente as alcançavam.
─ Finalmente! ─ Stella exclama, e todos parecem se aglomerar longe do clima úmido.
─ Tive um imprevisto, mas estamos prontas agora. ─ Terra afirma, olhando momentaneamente para Lukkie. ─ Você deve ser o Lukkie.
O loiro então sorri, saudoso quando Stella revirou os olhos.
─ Sabemos onde o estábulo fica?
─ Sim, ao norte. ─ O loiro e a fada da natureza dizem em sincronia, e talvez se não fosse pela passagem na barreira, todas as outras teriam os olhado com um singelo espanto.
─ Isso foi estranho. ─ A Roux afirma, sorridente enquanto se certificava de que apenas ele havia escutado.
─ Você é insuportável. Vamos meninas, não está muito longe. ─ Ele afirma, tomando a frente junto de Terra.
𖤍
─ Chegamos. ─ Terra anuncia, e quando todos olham, um há estábulo camuflado entre as árvores, enorme e igualmente amarronzado.
─ Vamos nos separar ou algo assim? ─ O Castello pergunta, mas ao invés de receber qualquer resposta, ele e Morgana podem ver Musa e Terra seguirem uma direção, enquanto Stella, Aisha e Bloom seguem em frente.
─ Vá com elas. ─ A Roux pede, com um curto movimento de cabeça em seguida, apontando para a fada das emoções e a da natureza. Quando ele concorda, ela se vira para as outras e adentra ao caminho do estábulo junto a elas.
─ Prontas? ─ Bloom pergunta, empurrando a enorme porta logo em seguida.
No interior, o local parecia tão mal cuidado que elas diriam estar abandonado. O chão era o solo natural da floresta, com folhas mortas espalhadas aos montes, tão antigas que nem mais tinham cor, e uma grande parte dos metais parecia enferrujada demais para qualquer uso, assim como diversos outros materiais largados à própria sorte naquele lugar. Mesmo assim, o que mais chamou a atenção das quatro foi uma pilar de madeira, resistente e intacta, diferentemente dos outros objetos ali. Continha junto dela correntes em um estado muito melhor que as outras, mas estas não prendiam nenhuma criatura, tão menos aquela a qual as meninas estavam procurando.
─ Eles já levaram. ─ Morg deduz, apesar de estar se preparando para qualquer possível surpresa.
Conforme Aisha se aproximou, era possível ver que o local estava realmente desabitado. Aquela busca parecia ter acabado tão rápido como quando começou, mas nenhuma das princesas pareciam felizes com isso.
─ Não... ─ Stella sussurrou, aproximando-se das correntes, procurando por alguma pista.
Apesar de Morgana formular frases de conforto em sua mente, nenhuma parecia realmente apropriada naquele momento. Na verdade, nada que nenhuma delas dissesse poderia provocar qualquer euforia ou consolo na fada da luz.
─ Minha mãe vai me matar.
─ Daremos um jeito. ─ Morgana tenta, mas que fosse em vão.
─ E você sabe como? ─ Ela se vira, e a negra pode capturar fúria e medo em seus olhos até serem interrompidas.
─ Gente! Temos um problema.
Entreolhando-se, não demorou até que Stella e Morgana corressem para a área externa, e em harmonia, perguntavam-se como que aquela situação poderia piorar. Para seu azar ou sorte, ela realmente podia.
─ Não... ─ A Roux solta, levando as mãos à boca diante do choque. Da forma mais assustadora possível, elas encontraram à sua frente diversos solarianos feridos, se não mortos, caídos ao solo fértil e verde da natureza. Alguns corpos estavam jogados nos carros, enquanto outros marcavam rastros sangrentos até o encontro de suas atuais posições. Com roupas rasgadas, rostos manchados e semblantes desesperados, eles revelaram o que havia causado tudo aquilo, afinal.
─ O Queimado. ─ Terra soltou, sem qualquer entusiasmo na voz enquanto todos encaravam a cena.
─ Ele ainda está por aqui. ─ Aisha diz, paralisada, quando Lukkie passou a procurar por algo.
─ Não éramos sete? ─ Ele pergunta, olhando aos arredores.
E então todas fazem o mesmo, sentindo falta de alguém.
─ Bloom.
─ Está bem, Lukkie vai com Stella e Aisha atrás de Bloom, e eu e as meninas cuidamos do senhor Silva. ─ Morgana diz, olhando fixamente para os olhos claros de Stella quando a mesma concorda, partindo com o loiro em seguida.
Respirando fundo, ela encara as fadas, balançando a cabeça.
─ Vamos.
Cautelosamente, elas se aproximam. Morgana podia ver em alguns breves momentos a relutância de Musa e deduziu que ela deveria ser a que mais sofreria com todo o evento, apesar de procurar se manter forte. Precisavam terminar com aquilo o quanto antes, pois a especialista não tinha ideia do quanto a fada iria suportar.
─ Professor Silva, somos nós. ─ Ela diz, cuidadosa, quando ele estende uma espada em sua direção, trêmula em sua mão, apesar de ele agarrá-la com força. ─ Morgana Roux, Terra Harvey e Musa.
─ Sei quem vocês são. ─ Diz com esforço, a voz arfando em aparente dor enquanto a negra percebia seus olhos se tornando acinzentados. ─ Voltem, por favor.
─ O senhor foi infectado, mas vamos ajudar. ─ Terra afirma, afastada o suficiente da lâmina afiada.
No segundo seguinte, suas mãos gesticulam de modo a indicar o uso de suas habilidades , e uma viga abraça o antebraço do professor antes que ele perceba, forçando-o a soltar a arma.
─ Tudo bem, tenho zambak aqui. Vai acalmar a infecção e o levaremos à escola. ─ Ela se vira para Musa, cujas íris dos olhos se encontravam num tom intenso da cor magenta. ─ Eu seguro a cabeça, você derrama na boca.
─ Há algo que eu possa fazer? ─ A Roux pergunta, encarando os arredores.
Não haveria o porquê da criatura voltar ali, uma vez que seu trabalho estava feito. Seguiria adiante, e com certeza aquele risco nenhuma delas correria novamente. Mesmo assim, se sentiria culpada de simplesmente abandoná-las sem que se sentissem seguras para tal.
─ Vá ajudar os outros. ─ A de cabelos curtos sugere, sem tirar os olhos de Silva por uma única vez.
Quando verifica Musa, ela parece focada no uso de sua magia, e Morgana deduz que o melhor a se fazer é não interferir em seu processo. Então se despede de Terra com um aceno e vai, seguindo de volta para o estábulo e, posteriormente, pela mata, apunhalando sua espada e procurando por algum som que denunciasse a localização dos amigos.
No interior da floresta, um tom azulado recaía sobre os troncos nus, indicando que logo iria escurecer. As árvores deixavam a trajetória um tanto confusa e os galhos pareciam prestes a prender Morgana numa armadilha cruel. Mesmo assim, a única coisa que a assustava era a possibilidade de chegar tarde demais.
Então apressou os passos e prosseguiu, prendendo a respiração por um momento e esperando por algum sinal.
─ Vamos logo, Stella. ─ Ela ouviu, não muito longe a julgar pelo modo como a frase foi pronunciada, e sorriu aliviada. Não estava longe deles, afinal, e só precisava se apressar.
─ Achei vocês.
─ Mas não achamos Bloom. Pelo menos poderemos utilizar da magia da Stella ao anoitecer. Finalmente será útil. ─ Aisha solta, o julgamento ríspido na voz enquanto Lukkie e Morgana, atrás dela, encararam sucintamente à loira. ─ Vai, acende.
Eles logo desaceleram, aguardando pela ação de Stella quando nada aconteceu. Ela repetiu o gesto então; um rápido estalar de dedos que não gerou nenhuma faísca de luz sequer.
─ Sério? ─ Aisha indaga, inconformada.
─ Espera um pouco, okay? ─ Ela tenta se defender, gesticulando as mãos por um momento antes de tentar de novo.
─ Não tenho tempo pra isso.
─ Okay, não precisamos disso. ─ Morgana intervém, olhando para o amigo. ─ Lukkie?
─ Deixa comigo. ─ Ele fecha o punho, a mão próxima de seu peito quando pressionou os dedos contra si e os abriu novamente, liberando uma chama ardente e viva em sua palma. ─ Vamos. ─ Ele indica, tomando a frente enquanto a fada da água rodava os olhos para a colega de quarto, logo prosseguindo junto do outro.
─ Vem. ─ Morgana chama, abaixando a espada e permitindo que a loira se aproximasse. ─ Está tudo bem?
─ Não quero falar sobre isso agora.
─ Certo. ─ Ela não insiste, levantando a espada novamente. ─ Talvez seja um assunto para outra hora. Vamos encontrar aquela ruiva.
─ Por aqui! ─ Lukkie chama, e depois de alguns bons passos, todos podem ter um vislumbre de movimento à sua frente, apesar de não ser nada agradável.
Bloom estava dentro de uma trilha improvisada, na mira de uma ameaça centenária e completamente imóvel.
─ O que ela está fazendo? ─ Stella questiona, e Aisha logo toma a frente, posicionando-se num canto e, a julgar pela cor de seus olhos, concentrando-se para sua magia.
─ Atrás de mim, Stella. ─ Morgana manda, uma mão se desvencilhando brevemente da espada para empurrar a princesa para um canto mais seguro e afastado da criatura.
Lukkie faz o mesmo, correndo até Bloom e a encarando com um pequeno sorriso no rosto antes de mirar uma única mão no Queimado. Para o êxito de ambos, seus poderes combinaram com glória e distraíram o monstro, que em um segundo seguinte foi atacado por Aisha, com sua rajada de água sendo forte o suficiente para cravar o corpo da fera numa estaca natural de madeira.
─ Você está bem? ─ Morgana perguntou, se virando para a amiga mais nova quando ela confirmou que estava, afinal de contas.
─ Estou.
─ Ele está...? ─ A ruiva sugere, chamando a atenção do grupo e aproximando-se da coisa assim como os outros.
─ Bem, demos uma porrada nele. ─ Lukkie afirma, orgulhoso antes de encarar o corpo com certo nojo. ─ Cruzes! Como é feio!
─ Você teve mais controle do que esperei. ─ Aisha revela com surpresa, apesar de não tirar os olhos do Queimado por um momento sequer.
─ Foi um elogio? Está me elogiando agora? ─ Ela dá uma risada debochada quando Morgana esconde sua arma nas costas.
─ O anel. ─ Stella diz, tomando a frente por um momento, apesar do nojo para com o monstro. ─ Onde está?
─ Tella, acho que está ali. ─ Lukkie aponta, virando a cabeça com certa confusão enquanto apontava para um ponto específico.
─ Ele enfiou dentro dele...? ─ Bloom encara, a face esboçando enjoo enquanto confirmava a localização do objeto. Ela encara Aisha. ─ Então, você vai...
─ Eu não! Já fiz a minha parte. Esqueceu? Canhão de água? ─ Ela sugeriu, um sarcasmo não agressivo quando encarou a amiga.
─ Foi tão impressionante que poderia querer terminar.
─ Pelos mares! Deixa que eu faço isso.
Rápida, Morgana se aproxima do ser e procura pelo anel, recebendo um auxílio da fada do fogo logo em seguida. Ela respira fundo então, percebendo que provavelmente iria enfiar a mão no tórax de alguém ─ mesmo que esse alguém em especial fosse um assassino morto ─ e aproximou a mão do local, tocando o metal frio e dourado e pressionando os dedos na pele da criatura. A textura era tão nojenta que ela sentiu que, se tivesse de estômago cheio naquele momento, provavelmente teria vomitado. Então era de se esperar que ficaria super feliz quando finalizasse com aquilo, arrancando a relíquia de seu corpo por completo.
─ Como uma lei do Universo, eu sei que estou me condenando com essa frase mas... ─ Ela respira fundo, entregando o objeto para Stella. ─ Essa é a coisa mais nojenta que fiz na minha vida. Não tem como piorar.
─ É, você acabou de condenar sua própria cabeça. ─ Aisha responde, recebendo um sorriso da Roux.
E então, ela se lembra.
─ Ah não... O Silva.
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