(𝙚𝙞𝙜𝙝𝙩.) why not venture out at night
───── POR QUE NÃO SE
AVENTURAR À NOITE.
JÁ PASSAVA DAS DUAS da manhã quando Morgana percebeu que o celular havia descarregado, observando enquanto Lukkie e mais um grupo de seus amigos andavam para longe da ala leste e de toda a agitação que não parecia estar nem perto do fim. A essa altura, muitos dos poucos rostos queridos pela princesa já haviam partido, retornando para os seus quartos a fim de evitar problemas no dia seguinte. Mesmo assim, ela sabia que algumas pessoas, como Stella e Riven, ainda poderiam estar no ambiente festivo, entretidos em seus próprios mundos enquanto a festa pudesse fornecer algo minimamente excitante para os alunos.
Ela adentrou então novamente para os galpões barulhentos onde tudo ocorria, desviando de alguns jovens bêbados no caminho e evitando sujar a jaqueta com a bebida barata que estavam oferecendo. Entre a música já confusa em sua mente e os burburinhos aleatórios que ora surgiam em seus ouvidos, ora desapareciam, ela cogitou a possibilidade de estar um pouco alterada quando ouviu uma voz feminina, alta e clara, chamando seu nome.
─ Morgana! ─ Ela se vira, espremendo os olhos até enxergar Stella acenando para a mesma.
Ela parecia aflita, com as sobrancelhas perfeitamente feitas curvadas e o cenho franzido quando a Roux se aproximou o mais rápido possível. Ela abriu a boca para perguntar se algo havia acontecido, mas foi completamente ignorada pela loira, que pegou em seu pulso e saiu caminhando apressadamente até a saída.
─ O que? O que houve? ─ A mais velha indaga, puxando alguns de seus fios cacheados do cabelo para trás das orelhas, e respirou fundo antes de seguir Stella para um destino incerto, mal percebendo enquanto a música diminuía gradativamente seu volume.
─ Bloom encontrou um Queimado além das barreiras.
─ Outro?
─ Precisamos nos apressar se não quisermos que ela morra. Você não recebeu nenhuma mensagem dela?
─ Meu celular descarregou. ─ A negra diz, sem dar muita importância ao ocorrido.
─ Espero que as outras tenham recebido também. Não sei como uma fada quebrada e uma especialista sem arma poderiam ajudar.
─ Não fale assim de você mesma. Vamos apenas nos certificar de encontrá-la em segurança. Se for necessário, eu uso o...
─ Não vai usar sua relíquia. ─ A outra para, encarando a amiga com choque em um curto período de tempo.
─ Se for um caso de vida ou morte, não tem porque temer mais a uma bronca do meu pai do que um Queimado. Está tudo bem, Tella.
Ela observa enquanto a mais nova suspira brevemente, parada sobre a barreira invisível, e percebe que a mesma passa os dedos pelo anel em seu indicador.
─ Vamos. ─ Morgana instruí, tomando a iniciativa de atravessar primeiro o bloqueio mágico que protegia Alfea.
Numa noite tomada pelo vazio, as florestas além da escola preparatória pareciam ainda mais assustadoras do que a quilômetros de distância à frente, mesmo que com o risco de haver mais criaturas espalhadas por entre as árvores. A lua estava cheia e brilhante, mas nas copas verdes e escurecidas, ela mal aparecia. Haviam sombras que procuravam distorcer a realidade do que poderia realmente existir por ali, e o silêncio mórbido soava como um alerta.
─ Ouviu isso? ─ Stella sugere, encarando para além das duas.
Antes que a princesa de Andros pudesse processar o pequeno barulho que preencheu o espaço como se fosse um trovão, as duas já estavam correndo na direção do som, com seus saltos emitindo tudo o que aquela floresta poderia escutar naquele horário da noite, e não tarda até que ambas se deparem com um novo Queimado, cuja atenção parecia concentrada em Bloom e Sky.
Enquanto Bloom parecia paralisada diante da proximidade com o monstro, Sky se encontrava ao solo seco, caído no chão quando Morgana reparou que o príncipe usava um uniforme de batalha consigo, além da sua espada. Ela franziu o cenho, rapidamente voltando o olhar para a ruiva, e se perguntou se aquilo tudo havia sido planejado.
─ Feche os olhos. ─ Stella anuncia, mirando as palmas abertas na fera quando uma forte rajada de luz se instalou no local, obrigando até mesmo a Roux a cobrir o rosto com o braço.
A criatura, desnorteada, afasta-se com dificuldade quando ambas enxergam as demais calouras chegarem, com Terra estendendo uma única mão na direção do Queimado, como se planejasse um ataque. Quando ele se atreve a se aproximar, espinhos surgem do solo e paralisam o ser, imobilizando o que parecia ser sua perna.
À frente das outras, Bloom canaliza seu poder bem a tempo de atiçar chamas na criatura, forçando-a mais uma vez a recuar.
─ Aisha! ─ Ela clama, pedindo por ajuda quando a outra fada ergue as mãos.
Apesar disso, não é possível enxergar nada mais do que algumas pequenas porções de água se desvencilhando do chão, sendo atraídas pela jovem de forma lenta e inesperada.
─ Não temos tempo! ─ Musa afirma, relutante, ao lado de Stella.
─ Eu não... ─ Ela diz, mas a frase se perde no caminho quando todas percebem que a demora pode custar suas próprias vidas.
─ Aisha, eu não vou aguentar por muito tempo! ─ Bloom grita, estendendo ainda mais as mãos em chamas na face do Queimado.
Sem que mais ninguém perceba, a mão de Morgana pousa em seu colar, relutante quando os dedos encontram a pedra fria e enorme que tomava a posição de pingente no amuleto. Ela aperta então o mineral sobre sua mão direita, estendendo a outra em uma direção próxima a de Bloom quando sente o pingente brilhar em dourado e azul. Mesmo assim, as outras não parecem perceber, com exceção de Stella, que balançava a cabeça negativamente para a Roux.
Ainda sim, não poderia ter muito o que fazer e, quando ela se dá conta, já está ativando a pedra:
─ Sordna... ─ Sussurra com os olhos castanhos fechados, respirando fundo enquanto sente uma energia mística fluir por entre suas veias.Quando as pálpebras se abrem novamente, ela pode enxergar a água fluindo por entre seus dedos, atingindo o fogo de Bloom e se transformando em uma intensa neblina que iria desnortear o monstro.
Diante das sombras, as garotas podem ver uma lâmina se erguer, afiada e brilhante, rumo ao ser obscuro com o corpo queimado em cinzas. Não é preciso muito para deduzirem que quem está a reger a arma é Sky, que empunha o instrumento no peito do Queimado, largando um corpo sem vida ao chão em seguida.
Ansiosa, Morgana pode sentir algumas batidas vívidas de seu coração enquanto todos se aproximam, observando com desconfiança o Queimado morto. A Roux largou a relíquia presa em seu pescoço ao sentir a pedra esquentar contra sua palma, denunciando o uso da mesma quando sentiu um olhar sobre si.
Quando ela olha para cima, é Sky, cujas orbes azuladas a encaravam com uma atenção que nem a própria conseguia identificar.
─ Espera... ─ Musa diz, e sua mão recai no ombro de Bloom enquanto as outras diminuem o passo. ─ Acho que não está...
Antes que pudesse terminar, o Queimado se levanta, desengonçado e feroz para cima de Bloom, mas as fadas conseguem se afastar a tempo de evitar um ataque direto. Ele grunhe algo incompreensível, um ultimato rouco e agoniante quando, de repente, seu peito escuro passa a brilhar em um tom escarlate. Ele solta outro som então, mas esse parece emitir alguma dor quando a luz no interior de seu tronco parece ultrapassar a superfície de sua pele, ardendo para além das frestas do peito esquelético que tinha. Quando veem, cada uma está cobrindo os próprios olhos de uma energia que parece ressoar por toda a floresta, brilhando em vigor e mistério.
Quando Morgana abre os olhos, arriscando a própria visão, ela pode ver a fera mais uma vez ao chão, apesar de naquele momento, parecer definitivo.
─ Não estava morto mesmo. ─ Uma voz, madura e feminina, afirma com convicção. Quando todos se viram, percebem a presença da diretora Farah. ─ Agora está.
Com olhos num azul intenso sumindo abruptamente, ela encara a todas, os lábios comprimidos em nervoso quando avistam Morgana, Sky e Stella.
─ Acho que estamos ferradas. ─ A loira diz de recanto, para que apenas a Roux pudesse ouvir, e ela percebe que não estava tão distante da amiga em todo esse tempo, afinal.
─ Estamos sim. Com toda a certeza.
Num último momento, ela busca pelo colar novamente em seu pescoço, onde a pedra azulada de seu reino ainda se apresentava quente devido ao uso. Ela sabia que Andros já havia sido comunicado sobre isso.
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