Epílogo
Floresta Densa, 1570.
Era noite de lua cheia, próximo das 00h00. No meio da mata um grupo de nove bruxas estava reunido, concluindo os últimos passos do ritual que era denominado como sabbath. Lideradas por Agnes, a mais antiga e poderosa das bruxas que ali estavam. Todas as nove cultuavam, com maestria, um demônio chamado Pazuzu. Agnes estava agora celebrando a missa negra. Na condição de cerimonialista, a bruxa recitava orações ao demônio em um altar humano. Às 00h00 em ponto as bruxas fecharam os olhos e, no mesmo instante, passaram a sentir a presença de Pazuzu. Uma a uma, as bruxas passaram a revelar e a expor todas as crueldades que haviam feito até aquele momento. Rituais macabros, feitiços, encantamentos e afins. Pazuzu observava e ouvia tudo atentamente, ao mesmo tempo em que se nutria de toda aquela maldade. Embora a lua brilhasse lá em cima, naquele pequeno espaço da floresta a escuridão imperava. O culto seguiu por toda a madrugada e próximo do amanhecer deu-se início à dança batismal. Neste momento, as bruxas passaram a despir-se e ter seus corpos tomados por vários demônios. Assim que o sol, de fato, surgiu, pôde expor as bruxas todas nuas jogadas no chão. Ao despertarem, cada uma delas sabia o caminho que deveria seguir. Lucinda, a mais nova das bruxas, seguiu para a parte sul da floresta, sabia onde deveria chegar. Era em um local um pouco distante, habitado por camponeses que, anos mais tarde, fundariam uma pequena cidade a qual dariam o nome de Monte Esperança.
Manicômio Martins Nunes, 2020
— Então é neste quarto que ele se encontra? — indagou a psiquiatra Letícia, preocupada com o que encontraria atrás daquela porta em sua frente.
— Exatamente, doutora. Como a senhorita já deve ter sido informada, desde que chegou aqui, o paciente não disse uma só palavra — o guarda local parecia bem inteirado sobre o assunto. — Penso que tudo isso tem a ver com o ocorrido na fazenda.
— Tudo bem, é tudo o que eu preciso saber — afirmou a psiquiatra.
Letícia já tinha ouvido a história de Guto ao menos umas três vezes naquela semana, não precisava passar por aquele terror psicológico de novo.
— Quero que você fique atento a qualquer chamado que eu possa fazer — bradou a psiquiatra, autoritária. — Contudo, peço que não me interrompa sem meu consentimento. Até onde sei, nenhum dos psiquiatras que já estiveram aqui conseguiu lidar com o paciente e sabendo da extensão do problema, não quero ser precipitada.
O guarda não respondeu mais nada, apenas lançou um sorriso irônico, como se estivesse torcendo para que mais esta profissional fosse mandada embora.
— Agora, por favor, abra a porta para mim — pediu Letícia, enquanto dava respiradas ofegantes. No fundo, Letícia sabia do perigo que corria ao entrar sozinha naquele quarto. No entanto, as outras abordagens não deram certo e, para a psiquiatra, isso se deu devido ao excesso de guardas que acompanhavam os profissionais. Assim que adentrou o recinto, Letícia se assustou com a escuridão que fazia ali, principalmente porque ainda era dia. Ao olhar para a sua frente, notou a sombra do paciente que estava de costas para a entrada, olhando pela fresta da única janela do quarto.
Guto, quieto, observava os outros pacientes brincando no pátio do manicômio. Seus olhos, iluminados pelo único feixe de luz que adentravam o quarto, estavam vermelhos, como os de alguém que chorou por um longo período.
— Luís Gustavo Malter... eu posso conversar com você por alguns minutos? — a psiquiatra estava visivelmente assustada.
Guto, no entanto, sequer se mexeu. Continuou olhando pela janela, calado, enquanto uma lágrima escorria de seu olho.
Letícia engoliu um seco. Todo aquele ambiente era assustador demais. Arrepios passaram a percorrer sua espinha. Respirando fundo, a moça buscou contatar seu paciente mais uma vez.
— Eu sei pelo o que você passou... sei de todas as coisas horríveis que viveu e que... fez — mais uma vez a psiquiatra sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Passou a temer ainda mais aquela situação, ao mesmo tempo em que sentia que precisava continuar naquele recinto. — Eu só quero que você saiba que eu não estou aqui para julgá-lo, mas sim para conversar, apenas isso. Eu só preciso conversar, sobre tudo, para que assim eu possa te ajudar a superar tudo o que aconteceu na fazenda.
Guto movimentou sua cabeça rapidamente, olhando fixamente para a parede à sua esquerda. Este pequeno gesto fez a psiquiatra dar um pequeno grito, assustada. Logo em seguida, Guto levantou o braço direito, colocando sua mão na cabeça. Enquanto tremia, ele buscava, com muito custo, pronunciar algumas palavras. Virou-se de frente para a psiquiatra, encarando-a. Após um tempo, Guto finalmente conseguiu proferir uma frase.
— O fim... doutora... o fim... está muito próximo... o caos só está começando... — bradou, soltando um grito muito forte logo em seguida.
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