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Sebastian agora estava mais confuso e atordoado. Embora não soubesse exatamente quem era Pazuzu, sentia que não se tratava de algo bom, pelo contrário, a simples menção deste nome fez seu coração acelerar.
— Pazuzu? — indagou, sentando-se. — Quem é Pazuzu?
— A pergunta não é quem, mas o que ele é. — Agnes, mais uma vez, foi direta. Sentia que não era o momento para enrolação, as cartas tinham que ser colocadas na mesa. — De acordo com minhas pesquisas, Pazuzu é uma entidade demoníaca.
— Como é que é? ... O que você quer dizer com isso? — Sebastian parecia incrédulo.
— É exatamente isso que você ouviu. — Agnes prosseguiu. — Como eu ia dizendo, Pazuzu é um demônio que faz parte da mitologia suméria. Sua origem data de uns mil anos antes de Cristo. Aparentemente, ele é líder dos demônios do vento e era responsável por trazer tempestades, mas também a seca e a fome. Só que ele não se limitava a isso.
— Ainda tem mais coisa?
— Tem... O pior é que tem. — mais uma vez Agnes respirou fundo. — Além das coisas que acabei de dizer, Pazuzu era conhecido por proteger as mulheres durante a gravidez, quando ele era invocado, claro. Mas apesar desse ato parecer benevolente, não era disposto de maneira gratuita. Pazuzu se submetia à proteção das mulheres grávidas, desde que a alma da criança ficasse sob seu domínio.
O clima naquela pequena sala ficou pesado demais. O silencio pairou por alguns instantes, enquanto um vento frio adentrou pelas frestas da janela. Sebastian permaneceu calado por alguns segundos, tentando assimilar tudo o que acabara de ouvir. Em seguida, passou a encarar Agnes, curioso.
— Por que você está me contando todas essas coisas, Agnes? Aonde exatamente você quer chegar com isso?
— Lembra que ainda há pouco eu te falei que nenhum psiquiatra, antes de doutora Letícia, tinha conseguido manter um diálogo com Guto? — assim que Sebastian assentiu com a cabeça, Agnes continuou. — Pois bem, na verdade ela não conversou com ele de fato, mas foi a primeira a ouvir sua voz depois de muito tempo. E você sabe qual foi a única palavra que ele disse?
— Pazuzu...?
— Exatamente.
Sebastian agora colocou as mãos sobre a cabeça, tentando, mais uma vez, absorver tantas informações. Por um lado, ele mal acreditava que tinha descoberto tanta coisa sobre a família Malter, mas, por outro, não compreendia o interesse de Agnes nesse assunto, uma vez que, mais cedo, ela o havia repreendido justamente por conta disso.
— Eu sei o que você deve estar pensando... — a jornalista decidiu quebrar o silencio torturante que se fazia naquela sala. — Mais cedo, assim que você saiu do jornal, eu me senti culpada pelas coisas que você me disse. Eu tenho ciência que às vezes acabo pegando pesado demais e que, de fato, me contentei com a vida que venho levando. Não é nada do que sonhei, mas é o que o destino havia me reservado. — Agnes deu uma breve pausa, engolindo um seco. — Só que agora, mediante tudo o que acabei descobrindo, eu sinto que preciso buscar algo a mais na minha profissão, algo que me instigue a melhorar enquanto profissional, um desafio, acho que este é o termo correto.
— E isso significa? — apesar de já ter compreendido o que a colega queria dizer, Sebastian sentia necessidade de ouvir as palavras saindo dos lábios de Agnes.
— Significa que talvez você estivesse certo. Talvez Rebeca não fosse apenas uma psicopata doentia, pode ser que tenha existido algo a mais por trás de todo o massacre envolvendo a família Malter e, por alguma razão, sinto que devemos investigar, devemos ir atrás de mais respostas e, quem sabe assim, faremos a matéria de nossas vidas, algo que, finalmente, possa nos dar destaque e reconhecimento em nossa área.
Sebastian arregalou os olhos. Era nítido o seu interesse para com o caso, mas nem nos seus maiores sonhos imaginou que Agnes poderia se interessar também, sobretudo por conta do que ela havia lhe falado pela manhã.
— Ok, Agnes, eu estou um pouco emocionado. — brincou o jovem jornalista.
— Não me venha com gracinhas, Sebastian. Eu só posso estar louca e é melhor você aproveitar isso, porque se minha sanidade voltar, eu esqueço tudo e volto à minha vida monótona. — afirmou a jornalista, seriamente.
— Não estou com gracinhas, minha amiga, muito pelo contrário. Eu, de fato, estou admirado e emocionado com tudo isso. Há umas horas atrás eu tinha decidido esquecer toda essa história e, veja só agora, meu ânimo voltou completamente. — sorriu. — Qual o primeiro passo que daremos? Quero dizer, por onde e quando começamos?
— Vamos com calma, as coisas não serão tão simples assim. Primeiramente, vamos comer alguma coisa, eu estou morrendo de fome.
Sebastian apenas sorriu. Agnes tinha razão, já era tarde e ele também estava com fome. Imediatamente, o jovem ligou para um restaurante, enquanto a amiga dirigiu-se ao banheiro, para lavar as mãos e o rosto, seu semblante não disfarçava o cansaço. Alguns minutos depois, o entregador chegou, trazendo hambúrgueres e batata-frita. Não era exatamente o que os dois jornalistas compreendiam como belo jantar, mas era o que tinham para aquela noite. Enquanto comiam, Sebastian aproveitou para sanar algumas de suas dúvidas.
— Sabe o que eu ainda não compreendi? — indagou, fitando a colega de trabalho. — Você me disse que este demônio, Pazuzu, também protegia as mulheres grávidas... De que forma isso se relaciona com o que estamos buscando?
Agnes deu mais uma mordida em seu hambúrguer e, em seguida, deu um gole em sua cerveja. Após, limpou a boca na manga de sua camisa e passou a encarar Sebastian, seriamente.
— Você sabe que a palavra corre, não sabe? As pessoas estão habituadas a fofocar sobre a vida alheia. — bradou Agnes, com uma expressão séria. — Certa vez, em uma conversa com um jornalista, eu fiquei sabendo que o bisavó de Edwirges Malter, Euzébio, na intenção de salvar a esposa que se encontrava com uma gravidez de risco, fez um pacto com uma bruxa... o preço foi a alma do filho que estava por nascer.
Sebastian, mais uma vez, colocou as mãos sobre o rosto, levando-as até o cabelo. Permaneceu assim por uns segundos, tentando organizar os pensamentos. Após um tempo, voltou a encarar Agnes que, a esta altura, também sentia-se desnorteada.
— Isso tudo é uma loucura. — Sebastian parecia incrédulo. — Eu realmente não sei o que pensar, são muitas informações e eu me sinto aéreo demais para assimilar todas essas coisas. — agora, o jovem encarou Agnes mais uma vez. — Você acredita nessas coisas? Você acha que isso aconteceu? Acha que essas coisas acontecem?
Agnes respirou fundo, pensativa. Mesmo sabendo que uma hora ou outra seria questionada dessa forma, ela precisava, assim como o amigo, assimilar muita coisa que absorveu nessas últimas horas.
— Eu não desacredito, acho que essa é a minha resposta. — afirmou a jornalista. — Já ouvi algumas histórias sobre bruxas, possessões demoníacas, pactos... mas tudo muito abstrato, nunca vivenciei algo do tipo e nem quero. Ainda assim, uma reportagem mais ampla, sobre o caso da família Malter pode nos ajudar enquanto profissionais e é apenas isso que me faz alimentar essa loucura. No fundo, eu sei que você também sente a mesma coisa.
— Você está certa, neste momento, apesar da dificuldade em assimilar todas essas coisas, eu também sinto que precisamos buscar ir além. Quando começamos? — indagou o jornalista, sorrindo.
— Já começamos, o primeiro passo foi colher essas informações. A pergunta agora é, por onde começamos.
— Podemos ir até o manicômio Coxbury, quem sabe...
— Opa, opa, vá com calma, meu amigo. As coisas não são tão simples quanto parecem. Coxbury não é um parque de diversões que você visita quando tem vontade. Estamos falando de um manicômio e de um paciente que também é assassino.
Sebastian, nesse momento, conteve-se. De fato a amiga tinha razão.
— Eu também andei me informando sobre o manicômio. — Agnes continuou falando. — As únicas pessoas que mantém contato com Guto são os enfermeiros e os psiquiatras. Qualquer outra pessoa está proibida de, ao menos, entrar na ala em que está localizado o seu quarto.
— E o que faremos então? — Sebastian agora parecia recluso.
— Pense bem, meu amigo. Sabemos de alguém que teve contato com Guto recentemente. — afirmou Agnes, olhando para a tela do computador. Ali, em meio à matéria publicada naquele site, estava, destacada, a imagem da doutora Letícia Saldanha Lins.
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