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Tanto Max, quanto Marina estavam exaustos, apesar da empolgação com os últimos acontecimentos. O anfitrião cedeu seu quarto para que a colega de trabalho dormisse e resolveu se alocar ali mesmo, no sofá. As horas passaram voando e, como se num piscar de olhos, amanheceu. Embora o cansaço preenchesse seu corpo, Max não conseguiu dormir a contento, sobretudo por conta da ansiedade em buscar mais respostas para as suas questões. Ao acordar, o jovem ficou fitando o teto, enquanto elaborava em sua mente estratégias que pudessem, de alguma forma, ajuda-lo em sua busca. Distraído, espantou-se com o barulho da porta do quarto se abrindo. Era Marina, que já se encontrava arrumada.
— Ué? Ainda está de pijama? Olha a hora, teremos um dia cheio, se anima. — disse a jornalista, sorrindo.
— Bom dia para você também, minha querida. — disse Max, sorrindo. Em seguida, levantou-se e foi em direção ao banheiro.
Algum tempo depois, os dois jornalistas já estavam na estrada, indo em direção ao hospital em que a psiquiatra Letícia se encontrava. Ambos estavam atônitos, ao mesmo tempo em que ansiavam ter esse encontro com a doutora e, quem sabe, solucionar mais uma parte do grande mistério que cercava a família Malter. Intimamente, Max era o que estava mais empolgado, afinal sempre tivera vontade de produzir algo a respeito daquela família, contudo, quando falava sobre, era sempre desestimulado. Agora, no entanto, o jornalista havia encontrado a oportunidade perfeita e sabia que não podia desperdiçar.
— Sabe, Marina, eu mal consigo acreditar que estamos encarando tudo isso, sabe? Eu mal acredito para onde estamos indo e o que iremos fazer. Há muito tempo que isso se tornou o meu objetivo de vida, produzir uma matéria sobre a família Malter, colocar a minha visão... a nossa, em cima de toda essa história macabra.... eu me sinto tão vivo, como não me sentia há tempos.
Marina sorriu e encarou o colega de trabalho. No fundo, ela também estava empolgada, bem como estava feliz com toda a empolgação de Max. Contudo, sabia que as coisas não seriam tão simples.
— Precisamos ter calma e manter os pés no chão, Max. — bradou. — Eu sei que, em tese, tudo parece ser tão acessível, alcançável, mas sabemos que não é bem assim. O que temos até então são suposições, teorias, nada muito concreto. Além disso, não sabemos de que forma as pessoas vão reagir quando souberem o que estamos fazendo. Você tem ciência que há risco de perdermos até o emprego, não sabe?
Max agora trocou de semblante, ficando instantaneamente sério. Ele tinha ciência dos riscos, mas também tinha certeza que queria continuar. Vendo que o colega de trabalho ficou em silêncio, Marina decidiu intervir.
— Olha, eu não quis te desanimar. — e pegando na mão do colega, continuou. — Eu só quero que a gente assuma os riscos, porque, assim como você, agora eu também quero muito continuar, ver até onde isso vai nos levar. Também me sinto empolgada. — concluiu, dando uma piscada.
Sebastian voltou a sorrir, balançando a cabeça positivamente. Era perceptível que, se alguma forma, o rapaz se sentia confiante, acreditava realmente que tudo sairia como havia planejado.
Passados mais alguns minutos, os dois jornalistas finalmente chegaram ao hospital. O local não aparentava ter uma estrutura boa, além de preservar um aspecto sombrio, macabro. Não bastasse, todas as pessoas que andavam por ali pareciam assustadas, como se desconfiassem de algo. Marina sentiu um calafrio percorrer por todo o seu corpo, não sabendo se aquilo se tratava da ansiedade que agora a dominava, ou se temia o que estava por vir. Max, por outro lado, estava encarando tudo aquilo como um grande desafio. Estava tão animado e empolgado, que em seu ser não havia espaço para outras sensações. Agora, chegando à recepção, os dois jornalistas buscaram informações, sem deixar claro a profissão de ambos.
— Oi, bom dia. Gostaríamos de saber onde fica o quarto da doutora Letícia Saldanha, que chegou aqui recentemente. Ela é psiquiatra do manicômio Coxbury e... é nossa tia. — Marina se viu obrigada a mentir, pois já sabia que de outra forma não deixariam que ela e o colega entrassem.
— Letícia Saldanha Lins... — repetiu a recepcionista, enquanto olhava para a tela do computador. — Muito bem, ela se encontra no quarto de número onze, mas sinto lhes informar que o horário de visitas termina em menos de meia-hora.
— Tudo bem, é tempo suficiente. — afirmou Max, sorrindo.
Após, os dois jornalistas entraram e foram em direção ao quarto. Apesar da má estrutura, a identificação dos quartos era bem simples e de fácil compreensão, não demorou para que eles encontrassem. Ao chegar na porta, ambos paralisaram.
— Tá tudo bem? — questionou Marina, encarando o colega.
— Sim, sim, eu estou bem... — afirmou Max, respirando fundo.
Por mais que estivesse ansioso por aquilo, o jovem jornalista sentiu suas pernas paralisarem logo que chegou ao quarto onde se encontra a doutora Letícia. Não conseguia entender o porquê, mas seu corpo inteiro estava com calafrio. Sem hesitar mais, Max finalmente abriu a porta. Ali, deitada na cama, encontrava-se, dormindo, a doutora. Curiosamente, não havia com ela nenhum acompanhante. A aparência da moça se distanciava da observada em suas fotos. Parecia abatida, apática. Seus reflexos, no entanto, pareciam bem ativados, pois assim que a porta do quarto foi fechada, Letícia acordou-se, encarando-os assustada.
— Quem são vocês? O que fazem aqui? Quem deixou que entrassem? — indagou, impaciente e visivelmente incrédula com o a presença de dois estranhos.
— Calma, por favor, nós não lhe faremos nenhum mal. — Max foi rápido, temendo que algum médico ou enfermeiro ouvisse o tom de voz elevado da paciente.
— Quem são vocês? Se não me disserem eu começarei a gritar. — bradou a doutora Letícia, aumentando ainda mais o tom de sua voz.
— Muito bem, muito bem. Eu me chamo Marina e este aqui é Max, meu colega de trabalho. Nós dois somos... jornalistas. — concluiu Marina, temendo a reação da doutora.
— Jornalistas? Era só o que me faltava. — A doutora Letícia estava visivelmente incomodada com tudo aquilo. — Façam-me o favor de saírem deste quarto, antes que eu comece a dar um escândalo.
— Não, por favor, a gente não vai gravar nada, tampouco expor você de alguma forma, a gente só precisa conversar, nos dê apenas cinco minutos, é tudo o que pedimos. — pediu Max, nervoso.
— De forma alguma queremos incomodar ou piorar a sua situação, sabemos da delicadeza de seu estado, mas a gente só precisa de cinco minutos, eu juro. — completou Marina.
— Não querem incomodar? Vocês invadem meu quarto, chegam sem qualquer autorização, velam meu descanso e você ainda tem coragem de me dizer que a intenção era não incomodar?
Marina apenas baixou a cabeça. No fundo, ela sabia que a doutora tinha razão, talvez aquela não tenha sido a melhor abordagem. Tanto ela, quanto Max, haviam agido sem pensar. Vou pedir pela última vez, saiam deste quarto.
— Você tem toda a razão, claro, nos desculpe incômodo. Por mais que não pareça, esta, de fato, não era nossa intenção. — afirmou Max.
Os dois jornalistas baixaram a cabeça e se dirigiram à saída. Letícia, vendo aquela cena, franziu a testa, respirou fundo e deu aos dois uma chance.
— Vocês têm três minutos. Depois disso, eu peço, por favor, que me deixem sozinha!
Max e Marina sentiram um alívio e alegria os preencherem. Rapidamente viraram, agradecendo a doutora.
— Muito obrigado, de coração, você não sabe o bem que está nos fazendo. — disse Marina.
— Vamos, vamos logo. O tempo está passando. — bradou a paciente.
— Muito bem, nós viemos aqui para lhe questionar sobre um paciente seu... um paciente em específico.
— Luiz Gustavo Malter, imagino. — supôs a doutora.
— Ele mesmo. — seguiu Max. — Nós soubemos do incidente no Manicômio Coxbury, envolvendo você e o Guto... Luiz Gustavo... o que de fato aconteceu?
— Oras, isso já saiu na mídia, tudo o que aconteceu lá já foi explicado, publicado. Qual a dúvida em relação? — indagou a paciente.
— Sabemos disso... mas é que... partimos do princípio que Guto não é só mais um paciente com distúrbios... dado o trauma que teve com a família, tudo o que ele passou desde a infância... nós achamos que existe algo a mais rondando ele... algo que talvez a ciência... a psicologia não explica.
A doutora arregalou os olhos, encarando os dois jovens que estavam ali. Por alguma razão, seu coração começou a acelerar e flashes de seu contato com Guto vieram-lhe à mente.
— Eu não sei se está nos entendendo, mas é que... — antes que Max concluísse, fora interrompido.
— Eu entendi... entendi perfeitamente. — afirmou a doutora. — Pode parecer loucura o que lhes falarei agora, mas, no momento em que tentei falar com Luiz Gustavo Malter, senti que havia mais alguém ali naquele quarto. Não uma presença física, longe disso. Fisicamente, eram apenas ele e eu... mas, por um curto período de tempo, senti que alguém nos observava, uma presença pesada, incômoda... maligna. — concluiu, olhando novamente para os jovens.
No mesmo instante, Max e Marina sentiram arrepios por todo o corpo. A doutora continuou.
— Eu sei, sei que parece loucura e provavelmente eu esteja enlouquecendo mesmo, mas nada me tira da cabeça que o meu mal estar tem a ver com este outro ser que estava ali. — afirmou, com os olhos cheios de lágrimas.
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