Capítulo 5
Alice
Olhos felinos. Analisam-me como se pudessem invadir-me descobrindo tudo o que mantenho guardado dentro de mim. Seus olhos são exigentes, buscam instigar-me a ele, mas jamais farei isso. O desprezo se mantem em seu olhar e faço o possível para que esteja no meu, desvio o olhar e encaro meu chocolate quente, prefiro ignorá-lo a continuar sendo investigada pelos seus olhos.
A conversa das meninas parece bem divertida, no entanto não consigo prestar atenção, tudo o que me ocupada é a raiva que sinto deste cara. Parece que não terei uma única folga dele e isso me incomoda completamente.
Sinto-me tão desconfortável de uma maneira repentina, isso parece tão ridículo deixar que sua presença me afete desta maneira. Mexo-me na cadeira e tomo um gole da minha bebida, olho novamente e me impressiono quando noto que ainda me encara.
— O que está acontecendo amiga? – indaga Mari.
— Não é nada – minto, e nossos olhos se encontram de novo.
Minha amiga que não é nem um pouco boba, olha rapidamente para o mesmo lugar que eu e vê quem eu menos deseja, no entanto não fica com raiva como eu, ela me encara e sorri.
— Quem é ele? – questiona um pouco alto de mais.
— Ele quem? – dizem minhas outras amigas e logo olham para o mesmo lugar que a pouco eu encarava.
Sinto-me ainda mais nervosa quando percebo que nem disfarçam, tenho certeza que ele percebeu o interesse delas, pois o sorriso discreto em seu rosto não nega. Foi rápido, mas eu percebi quando os seus lábios se curvaram, logo ele voltou a ficar sério, contudo antes eu o vi sorrir e isso me deixou ainda mais nervosa.
Deduzi que o homem que eu mais detesto no mundo estava rindo de mim e tudo isso por causa das minhas amigas que não sabem disfarçar. Para piorar eu estava usando a roupa que vesti no bar, como tenho que levar para casa a fim de lavar, não me dei ao trabalho de tirá-la. Não quero que ele me veja assim.
— Vocês não sabem nem disfarçar – repreendo-as com raiva.
— Vai dizer quem é? – indaga Karine.
Penso em simplesmente ir embora, entretanto isso poderia ser bem mais desastroso e algo dentro de mim diz que não é uma boa ideia. Respiro fundo quando percebo que não poderei fugir disso.
— É o Henrique – digo sem tirar os olhos do chocolate quente, que já parece estar frio.
— Aquele Henrique? – pergunta Esther.
— Sim – murmuro e vejo-as se encarar e sorrir.
Sinto o meu estômago revirar, não posso crer que estão pensando em algo assim. Evito olhar em sua direção mesmo sentindo que ele está olhando para mim, essa situação parece estar cada vez pior.
— É o namorado da Milene – enfatizo, buscando fazê-las entender a realidade.
— É o mesmo cara com quem teve o seu primeiro encontro – recorda-me Karine.
Abro a boca para respondê-la, todavia qualquer coisa que eu diga agora pode revelar muito de mim. Seria complicado explicar o motivo de não ter tido outros encontros, sinto-me verdadeiramente livre tem um pouco mais de um ano e em minha lista tinha muita coisa para fazer e ter encontros não era algo tão relevante.
Tento ser uma pessoa diferente, esforço-me todos os dias para ser uma pessoa agradável e normal, por que no fundo se me conhecerem de verdade... Estarei sozinha de novo.
Ignoro meus pensamentos e tento controlar minha respiração, jamais havia sentido o meu coração tão acelerado. Odeio-o ainda mais por me deixar constrangida e insegura na frente das minhas amigas.
— Não foi um encontro para mim – afirmo.
Elas me encaram sem acreditar, o meu coração em algum momento quis que fosse um encontro de verdade, pois somente naquele momento eu quis sentir o que é estar com alguém que queira estar conosco, mas não poderia ser com ele, nada daria certo se fosse ele.
— É uma pena, o Henrique é bem bonito – diz Mari.
Permito-me encará-lo, não posso discordar da minha amiga, ele é incrivelmente bonito. Alto, forte não tem como negar que ele malha bastante. Henrique parece de fato um príncipe, possui o cabelo em um formato bagunçado, mas sensual e os lábios carnudos mostram a perfeição.
Seu rosto é delicado e o sorriso... Bom é o sorriso mais lindo que já vi, no entanto ainda é o namorado da minha amiga e sei que nunca poderá acontecer algo entre nós, mesmo que eles se separassem ele ainda teria sua história com ela.
Acho que estou louca, para pensar em algo assim, só posso ter enlouquecido. O fato é que nos odiamos e sempre iremos nos odiar, é isso que importa.
— Acho-o normal – assumo e continua mexendo no meu copo já que não sinto mais vontade de beber.
Elas não dizem uma única palavra e quando as encaro percebo que se olham como se conversassem entre si, não sei exatamente o que estão pensando, no entanto pela maneira como se encaram não é algo bom.
— O que houve, por que se olham assim? – questiono sentindo-me nervosa.
— Não é nada – comenta Karine e sorri.
— Sei que tem algo, me digam – peço e elas voltam a se encarar. — Digam logo – ordeno.
— Não é nada importante, só achamos que ele não te olha como se fosse namorado da sua amiga – explica Mari.
Sinto a vergonha invadir-me e detesto quando isso acontece. Sem que eu possa impedir, meus olhos se dirigem a ele e deparo-me com a maneira que me encara e que me deixa tão nervosa, ansiosa... O meu corpo parece responder a ele quando um arrepio consegue me percorrer por inteira.
Isso não pode estar acontecendo, é culpa dele por ficar me encarando igual a um homem possessivo, isso já está me enlouquecendo.
— Se continuarem se olhando assim, acho melhor chamar um segurança – comenta Esther.
Viro meu rosto para ela com agilidade, desejando poder agredi-la mesmo sabendo que não tem culpa de nada, contudo creio que alguns comentários não deveriam ser feitos.
— Isso é ridículo, sério não sei o que me faz dar tanta atenção a vocês – digo com raiva.
— Você parece bem afetada por ele – fala Karine, mas assim que a olho percebo que se arrependeu do que disse.
— Eu vou dar uma volta – exclamo e levanto-me sem esperar uma resposta.
Vou em direção a um pequeno corredor que possui salas onde é possível ter um pouco mais de privacidade, é uma sala bem pequena, cabe uma mesa com lugares para no máximo duas pessoas e ao invés de ter porta eles usaram uma cortina de tecido grosso na cor vermelha, ficou muito estiloso.
Após alguns minutos que estou andando, encontro uma sala vazia e entro, no entanto antes que eu possa fechar a cortina alguém entra atrás de mim e a fecha com agilidade, viro-me rapidamente e me deparo com o Henrique.
Ele não diz uma única palavra com os lábios, não ouço sua voz, mas seus olhos me dizem muito mais do que ele poderia sonhar em dizer. Sinto-me nua conforme ele observa todo o meu corpo, em nenhum momento tentou disfarçar, ele apenas me analisou.
Não me mexo. Mantenho o meu olhar firme e não transmito nenhuma emoção, com o passar dos anos fiquei muito boa em fingir. Não deixo que ele perceba como me sinto nervosa e que de uma maneira ridícula não consigo ignorar o que sinto mesmo sabendo que é errado, ainda o odeio e isso parece à coisa mais esquisita que já vivi.
— Você está... Estilosa – comenta.
Não respondo, tenho vontade, mas não posso respondê-lo por que sinto que minha voz vai falhar miseravelmente. Tento entender o que está acontecendo comigo, já que em todos os outros momentos jamais me senti tão nervosa como agora, a vergonha parece me invadir.
Ele continua a me encarar, de repente seus olhos param no lugar em que eu menos desejava e instintivamente uso minha mão para cobrir, mas ele é rápido e logo puxa o meu braço, levando o um pulso machucado para perto de si.
Henrique analisa o meu pulso, vejo muitas emoções em seu rosto. A preocupação, a atenção, a raiva, o pavor... Quando ele finalmente olha para mim vejo a preocupação aumentar em seu rosto e isso me desestabiliza. Sinto toda a força que sempre senti diminuir, parece que todo o meu escudo está desmoronando.
— O que fizeram com você – indaga, sua voz é um sussurro e isso me faz estremecer.
— Eu... Não... Posso... – sussurro, minha voz não sai o suficiente para que eu possa terminar de falar.
O homem que eu mais odeio no mundo se aproxima ainda mais em mim e olhando em meus olhos, sem ao menos piscar ele beija o lugar que está ferido.
Quando os seus lábios tocam a minha pele sinto o arrepio invadir-me descaradamente. Gostaria de saber por que me sinto assim, queria que de alguma forma ele soubesse que faz com que eu me sinta assim.
No momento em que se afasta puxo o meu pulso par mim, imagino que ele vai embora, no entanto ele simplesmente não vai, seus olhos abismados me encaram novamente fazendo com que eu me sinta uma criança.
— Eu jamais a machucaria – afirma.
A firmeza em sua voz me assusta, ele parece muito mais nervoso do que eu havia pensado, antes que eu pudesse responder ele vira-se e vai embora, parecendo muito mais irritado do que no momento que havia chegado aqui.
*** A Alice tá complicada kk
🤩🖤
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