☪ .☆ ━━ TWENTY NINE ━━ ☪ .☆
Eu não via a Sam desde que ela saiu na noite passada. Quando ela chegou, eu já estava dormindo, e quando eu acordei ela já tinha ido para escola. De qualquer forma, odiava ficar dentro de casa me sentindo uma inútil. E ficar ali, sozinha, também era uma bela de uma merda. Só me fazia ficar pensando e pensando em coisas demais. Então, quando deu meio dia, eu comi qualquer coisa na cozinha e comecei a revirar os armários. Ei! Sam me disse que eu podia morar aqui, então aquela, em partes, também era minha casa, né? Comecei a fazer uma lista das coisas que estavam faltando. Com o dinheiro que eu tinha pego ontem na minha antiga casa e recebido de salário, dava para comprar tudo o que faltava e ainda sobrava dinheiro para um celular novo.
Depois que fiz a lista, fui para o banheiro trocar de roupa e refazer os curativos no meu rosto. O lado bom é que meus olhos já não estavam inchados, apesar de meu olho esquerdo ainda estar bem roxo. Eu tinha alguns hematomas na bochecha, mas estavam mais esverdeados do que roxos, e os cortes já tinham cicatrizado. Eu ainda estava parecendo um caco, mas estava bem, bem melhor. E pelo menos já conseguia andar direito. É uma evolução!
Vesti a jaqueta jeans que Sam me deu e arrumei meu cabelo da melhor forma possível. Bem, eu estava com cara de quem tinha acabado de fugir do inferno. E pensar naquilo me fez rir. Eu era mesmo uma bela de uma fodida.
Andar pelas ruas foi um pouco desconfortável, pois muita gente me olhava quando eu passava e até mesmo virava para me acompanhar com o olhar. Caralho, nunca viram uma delinquente surrada, não? Era revoltante, mas eu tinha prometido a Sam tentar parar de me meter em tantas encrencas. Então eu ia pelo menos me esforçar para cumprir com minha palavra, afinal.
Passei primeiro em um mercado. Eu odiava fazer compras mas daquela vez eu fiz com vontade pensando no como Sam e Angeli ficariam felizes com algumas das besteiras que eu estava comprando pra gente. Eu não sabia cozinhar, até porque, minha mãe nunca me ensinou algo de útil e no reformatório a única coisa que eu aprendi é a como causar ferimentos que levam a quase morte de uma pessoa.
Eu sabia que o segurança do mercado estava na minha cola, o que era um tanto revoltante, mas não me importei a medida que colocava alguns pacotes de salgadinho dentro do carrinho e seguia para o outro corredor, agora para comprar coisas saudáveis.
Já estava começando a me irritar com o segurança na minha cola, então fui para o caixa e paguei tudo o mais rápido possível para sair dali sem arrumar a porra de uma confusão.
Eu não deveria ter comprado tanta coisa assim, sinceramente. Quase derrubei as sacolas enquanto tentava equilibrar todas elas nos meus braços. E eu ainda tinha outros assuntos para resolver, o que dificultava minha vida.
Estava afundada nos meus próprios pensamentos, caminhando rumo a única loja que vendiam celulares que não custavam a alma. Porém, no meio do caminho, vi uma loja de brinquedos. Mas o que me chamou a atenção foi uma Barbie na vitrine, aquela que tinha escutado Angeli falar por horas e horas. Me aproximei mais do vidro para ver melhor.
Porra, porque essas bonecas malditas custam um rim? Ainda assim, eu não conseguia parar de pensar no como Angeli ficaria feliz com aquela boneca. E, bem, eu precisava mesmo de um celular novo? Bem, foda se. Entrei na loja e gastei o que restava do dinheiro com aquela boneca. E se quer mesmo saber, saí de lá muito mais feliz do que quando acordei. Agora eu não via a hora de finalmente poder dar aquele presente para Angeli. Sam provavelmente ia me matar por ter gastado tanto dinheiro em uma boneca, mas se era para ver Angeli feliz então valia a pena.
E são essas pequenas coisas que parecem tão idiotas que mudam tudo para mim. Isso nem mesmo Kisaki podia me tirar.
Estava tão perdida no meu próprio mundo e feliz pensando em tudo aquilo enquanto caminhava rumo a escola de Sam que nem percebi alguém se aproximando de mim até a pessoa estar do meu lado, com a mão no meu ombro. Eu dei um pulo, derrubando algumas sacolas no chão, meu coração indo parar na garganta.
-Puta que pariu, que susto do cacete!- eu reclamei com Chifuyu, a mão no meu peito. O garoto de olhos verdes deu risada, me ajudando a pegar as coisas que eu tinha derrubado no chão. Ele estava com uniforme escolar e me admirava não estar junto de Baji.
Ele terminou de me ajudar e nos levantamos. Tentei pegar as sacolas da mão dele, mas Chifuyu não deixou, o que me fez bufar um pouco.
-Preciso ir.- eu disse estendendo a mão com impaciência. Chifuyu deu um meio sorriso para mim, o maldito.
-Vai mesmo tentar fugir de novo, Aiko?- ele disse, jogando aquele cabelo loiro para o lado. Eu tive que morder a bochecha pra não suspirar de forma patética.
-Fugir? Não sou mulher de fugir.- eu disse arrancando as sacolas da mão dele. -Eu só tenho coisas importantes para fazer, apenas isso.
Voltei a andar. Chifuyu veio atrás de mim. Torci o nariz; pelo jeito, ia mesmo ser difícil me livrar dele. Merda, será que era tão difícil para esse imbecil entender que eu só vou fuder com a vida dele?
-Então porque você não fala comigo?- ele perguntou calmamente. Algo que me irritava mesmo em Chifuyu era isso: era como se nada no mundo fosse capaz de tira-lo do sério. Puta merda! -Você está bem?
-Ótima. - disse com um pouco de sarcasmo. Chifuyu suspirou. -Mas porque você me pergunta? Já deve saber tudo, né?
Ele franziu o cenho para mim; Chifuyu vai mesmo se fazer de desentendido agora?
-Ah, qual é. Eu duvido que Sayuri não tenha te falado do quanto ela me odeia e despreza.- eu zombei. Aquilo pareceu pegar Chifuyu de surpresa.
-Não, na verdade. - ele disse. Dessa vez eu que franzi o cenho. Ele parecia verdadeiramente surpreso. -Ela só me disse que a irmã dela estava no hospital e, bem, eu fui lá porque ela pediu e você já sabe o que aconteceu depois. E Baji me contou o resto. Mas Sayuri nunca me disse nada de ruim sobre você, Aiko.
-Porque não estou surpresa com o fato de Baji não saber segurar a língua dentro da boca? - zombei com uma risada cruel. -E você, pelo jeito, é bem próximo da Sayuri. Se foi lá só porque ela pediu.
Eu chutei com irritação uma pedra no meu caminho. Me sentindo uma imbecil por ter deixado toda minha irritação transparecer em uma simples frase. É! É, caralho, estou com ciúmes! Tarde demais para negar agora, né? Pois é, eu sei!
-Ela é minha amiga. - Chifuyu disse, dando de ombros, ignorando completamente meu tom de deboche. Parei de andar e me virei para ele, parando bem na frente de Chifuyu. E bufei.
-Amiga? Só amiga? Ah, qual é, conta outra.- eu soltei sem querer. Tipo, sem querer mesmo! Devia ter ficado quieta, porque aquilo fez Chifuyu sorrir e minhas bochechas queimarem.
-É sério. - ele disse com firmeza. -Eu realmente só vejo ela como amiga.
-Não sei se me sinto ofendida por você olhar para minha irmã, que é linda, e apenas ver ela como amiga.- eu falei torcendo o nariz. Aquilo fez Chifuyu dar risada.
-Eu gosto de outra pessoa. - ele falou. Meus ombros deram uma leve caída. Ah. Certo. Isso explicava as coisas.
-Entendi.- falei me afastando um pouco e me virando para continuar. -Eu preciso...
-É você, sabia?- ele falou. Congelei na hora, meu coração indo parar na garganta. Acho que estou ouvindo coisas. -Aiko?
-Eu... Quê?- eu disse meio incrédula. Como ele sequer podia dizer isso? Chifuyu certamente tinha batido com a cabeça, não é possível!
Mas ele também não me deixou falar nada e nem, sei lá, fugir, porque eu ia mesmo fugir, antes de me puxar até que meu corpo estivesse grudado com o dele. Por Deus! Meu estômago revirou tanto com apenas aquilo que achei que ia vomitar. Ou desmaiar. Ou morrer. Um desses.
O rosto dele estava tão perto do meu que eu podia sentir a respiração de Chifuyu contra o meu rosto, o que fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Meu coração batia tão forte dentro do meu peito que me perguntei se Chifuyu era capaz de sentir, já que estávamos grudados.
Ele colocou as mãos com delicadeza no meu rosto e o puxou para perto do dele. Até que não existisse espaço entre nós. Até que a boca dele estivesse pressionada contra a minha, de forma delicada. Merda, merda, merda, merda! Não passou de um selinho carinhoso e demorado, mas foi o suficiente para acabar comigo. E com o resto de auto controle que eu tinha.
Chifuyu se afastou, o rosto dele estava tão vermelho que me fez dar risada. Quem esperaria esse tipo de coisa vindo dele? Bom, eu não estava preparada!
-Desculpa se eu fiz a coisa errada.- ele começou a falar. Chifuyu entrou em desespero e ai eu entrei em desespero também.
Meu Deus! O que estávamos fazendo? De verdade? Porque era claro como a luz do dia que não poderíamos ficar juntos. Ainda assim... Ainda assim, atirei isso para o espaço quando segurei o rosto dele e o puxei até que minha boca estivesse contra a dele. Dessa vez, não foi exatamente um selinho.
E eu provavelmente ia me arrepender muito de fazer isso mais tarde.
Mas tampouco pensei nisso quando senti a língua dele deslizando pela minha, quando senti Chifuyu abraçando minha cintura. Meu coração batia tão forte que parecia que ia explodir. Eu nunca tinha me sentido desse jeito antes. Bem, com ninguém. Tanta pessoa para eu me apaixonar, tanta pessoa que eu podia beijar, tinha logo que ser o vice capitão da primeira divisão da Toman? Porra, caralho!
Me afastei de Chifuyu, o que o deixou confuso. Comecei a me desesperar ali mesmo.
-Isso não podia ter acontecido.- eu disse passando a mão pelos cabelos. Chifuyu ficou dividido entre ficar confuso e ofendido. -O problema não é você, não me olhe assim! Sou eu. Você vai se arrepender de ter feito isso, Chifuyu.
-O que diabos isso quer dizer?- ele perguntou. -Aiko, pelo amor de Deus!
-É sério! É sério, Chifuyu. Você vai desejar nunca ter me conhecido, e vai me achar uma filha da puta. E eu vou sofrer pra cacete, mais do que já tô sofrendo.- eu falei mordendo a bochecha. Ele me puxou para perto de si de novo, mesmo eu tentando e falhando em me afastar.
-Eu não tô entendendo nada disso, Aiko. Mas não vou me arrepender. Disso você pode ter certeza.- ele disse. E me beijou de novo. E de novo, e de novo.
Mas era mentira. Porque ele ia sim se arrepender. E ia me odiar, para sempre e sempre e sempre. Eu não podia fazer isso. Merda! Só estava tornando tudo mil e uma vezes mais complicado.
Me afastei de Chifuyu. Abri a boca para falar de novo isso quando meu olhar se encontrou com o de outra pessoa, ali do outro lado da rua. Meu coração parou de bater dentro do peito. O loiro seguiu meu olhar e bufou quando ele também a viu.
-Eu tô fodida.- soltei. Chifuyu começou a reclamar. -Shiu! Olha bem pra cara dela. Ela vai comer o meu cú.
-Porque você me beijou?- ele perguntou. Dei um tapa na nuca dele.
-Você me beijou, idiota!- sibilei, pegando minhas coisas e começando a caminhar até onde Sam me olhava com a maior cara de cú do universo.
Chifuyu teve a coragem de dar um tchauzinho para Sam, um sorriso debochado no rosto. Sam respirou fundo com irritação e esticou o braço para mostrar o dedo do meio para ele.
-Oi, Sam...- comecei assim que alcancei ela. Sam me fuzilou com o olhar.
-Nem fala nada.- ela disse agarrando minha mão e começando a me puxar para longe dali.
Eu sabia que ia tomar uma puta bronca. E, ainda assim, não conseguia parar de pensar na sensação dos lábios de Chifuyu contra os meus. Aquilo certamente daria merda; mas, naquele momento... Eu não me importava.
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