Eu odiava o sol batendo no meu rosto, odiava o calor que me impedia de usar em paz a porra da minha jaqueta, odiava os caras babacas me olhando torto porque eu tinha quebrado o nariz deles depois que vieram fazer piadinhas de merda pra cima de mim e odiava Hanma por me enfiar em suas merdas idiotas. Quer dizer, eu não o odiava de verdade, mas dá pra entender o que eu quero dizer, certo? A questão é, agora não somos mais Hanma e eu, porque Hanma ficou entediado e resolveu que deveriamos ser 2+1=3! E, sinceramente, eu não entendia qual era a de Kisaki. O que ele queria, afinal? Só fuder com todo mundo, tacar fogo e ver tudo queimar? Porque, sinceramente, eu não conseguia entender os ojetivos dele por trás de todos aqueles planos mirabolantes, extremamente pensados e detalhados. Ele podia conquistar o mundo! Mas o que ele queria era arrumar encrencas com gangues? Fala sério, né!

-Aiiikoooo, porque está com essa cara feia?- Hanma zombou, puxando as pontas azuis do meu cabelo. Dei um tapa na mão dele, o que só o fez rir. Não importava a situação, tudo parecia uma grande piada para Hanma. Tenho certeza que nem mesmo se ele visse uma pessoa morrer na frente dele ia tirar o sorrisinho idiota do rosto! As vezes era um pouco assustador, admito.

-Cadê o Kisaki?- eu disse, cruzando os braços. -Você disse que ele estaria aqui.

-Você sabe como ele é.- Hanma disse dando de ombro. -Faz o que quer, na hora que quer.

Claro que eu sabia. Três meses de convivência com o demônio já era o suficiente para conhecer Kisaki, mesmo que eu nunca fosse conhecer o interior de sua alma. As vezes, na calada da noite, me perguntava que PORRA estava fazendo com minha vida. E porque estou me aliando com pessoas como Kisaki Tetta. Eu provavelmente deveria incluir Shuji no meio, mas é meio difícil fazer isso. Ele é meu melhor amigo (pra vocês verem como tô podre de amizades), esteve comigo quando ninguém mais esteve. Foi ele que me ajudou quando eu mais precisei de alguém. Acho que eu estaria bem morta por dentro se não fosse por ele e talvez morta no sentido literal também já que foi ele que me ajudou quando estava sangrando num beco depois de ter sido cortada por um imbecil. Foi ai que conheci Hanma. E tudo na minha vida mudou drasticamente depois daquele dia.

-E ainda assim esperamos ele como dois cachorrinhos.- eu rosnei, irritada. Se fosse ser sincera, eu não gostava mesmo da forma que Kisaki via a gente. Como se fossemos a porra dos servos dele, sei lá! Hanma nem ligava, ele gostava demais de Kisaki para se importar com isso. E ele queria mesmo era diversão, então não estava nem ai se Kisaki era mais frio ou mais caloroso. Já eu não gostava desse tipo de tratamento. E Kisaki sabe disso, o arrombado. Faz questão de deixar claro que quando eu não for mais útil para ele, vai simplesmente me substituir. Uau, que belo 'amigo' ele é! Um verdadeiro cuzão.

E eu continuou andando com ele. Irônico, não é?

E ai o puto apareceu, com aquele ar todo arrogante dele que me fazia querer começar a gritar de pura irritação. Kisaki gostava de mostrar que era melhor que os outros e era simplesmente irritante. Tipo, beleza, cuzão, a gente já sacou que tu é o cara! Agora abaixa essa porra de bola, pode ser?

Ele estava usando aquele uniforme feio da Moebius, as mãos dentro dos bolsos da calça. Caminhou bem devagarzinho até nós, como se ele fosse a pessoa mais importante da face da Terra. Eu estava mesmo pronta para dar as costas e deixar esse cuzão sozinho, mas Shuji me segurou, dando um sorriso de divertimento para mim.

-Aiko, relaxa um pouco! A diversão nem começou e você já quer ir embora? Assim não dá!- Hanma cantarolou. Eu bufei.

-Isso não é diversão, é uma exibição de 'olhem como sou superior a vocês dois e vocês dois são minhas putinhas'.- eu disse com pura irritação. E Hanma deu risada.

-Mas não é isso que somos? As putinhas dele?

-A puta que pariu que eu vou ser putinha de um homem como ele!- falei em alto e bom som e Kisaki torceu o nariz para mim.

-No entanto, aqui está você, Aiko. Bem do meu lado, fazendo exatamente tudo o que eu mando.- ele disse arqueando a sobrancelha.

Aquele arrombado.

Falando como se eu fizesse porque ele mandou e não porque eu quis! Olha, sinceramente, esse cara é um belo filho da puta.

-Qual é, Kisaki? O que você quer da gente hoje?- eu disse cruzando os braços, já louca para sair daquela porra de hospício do cacete. Kisaki deu um sorriso maldoso e eu odiava aqueles sorrisos porque geralmente vinham antes de um plano que certamente foderia com muita gente.

-A gente vai causar uma briga entre a Toman e a Moebius.- ele disse, simplesmente, como se isso explicasse tudo. Torci meu nariz.

-Porque você quer isso, afinal? Somos parte da Moebius.- eu disse. Kisaki riu.

-A Moebius é uma escada para que a gente use até chegarmos no objetivo real, Tanaka.- ele disse, ajeitando aquele óculos horroroso no rosto. -Hanma vai me ajudar na questão da Moebius, mas de você eu quero outra coisa.

Eu apenas o olhei e cruzei os braços, esperando. No fim das contas, por mais que custasse a admitir, eu fazia, de fato, tudo o que Kisaki queria de mim. Mas eu tinha meus motivos.

-Você vai buscar informações para mim. Não me importa o como, nem o que você vai fazer, se vai bancar a espiã ou não, mas quero que descubra o que puder sobre Manjiro Sano e a Toman.- ele disse, simplesmente. Arregalei os olhos.

-Tá de sacanagem, né? Eu não sou espiã, nem sei por onde começar a procurar! E outra, como vou fazer tudo sozinha?- eu disse irritada, mas Kisaki riu.

-Não sozinha. Eu arranjei alguém do submundo pra trabalhar com você e que definitivamente vai te ajudar a não foder com tudo. O nome dela é Sam Dean Salvatore.

E foi ali, naquele exato momento, que tudo na minha vida já fodida começou a piorar.