☪ .☆ ━━ THIRTY SEVEN ━━ ☪ .☆
Não sentia nada enquanto meu punho descia contra o rosto do garoto na minha frente. Uma, duas, três vezes. Ninguém sequer ousou me questionar quando eu o fiz. Até porque eu era a segunda no comando daquela merda tanto quanto Hanma. Então, já que não tínhamos a porra de um líder, eu tinha a merda do cargo mais alto naquela gangue maldita. Eu não me importava nem um pouco em bater naquele garoto folgado do cacete, e muito menos me importava com a platéia de garotos me olhando com horror. Meu punho estava sangrando, mas não tanto quanto a cara do imbecil que caiu de costas no chão quando larguei a camiseta dele.
-Hey, Aiko.- escutei me chamarem e me virei para olhar os olhos dourados de Kazutora. Ele estava sorrindo para mim, daquele jeito esquisito que me fazia desejar estar socando ele também. -Bateu nele porquê?
-Porquê eu quis. - eu falei, dando de ombros e soltando meu cabelo, o balançando com irritação. -Tá vendo isso aqui?- perguntei e Kazutora se inclinou na minha direção, analisando a mancha de chocolate quente na minha jaqueta com muita atenção. Até demais. -Foi ele que fez. Me deu um esbarrão.
-Ah, entendi. Nesse caso, bateu pouco ainda. - Kazutora disse, rindo. O pior era saber que ele não falava em tom de brincadeira, ele realmente acreditava naquela merda. Revirei os olhos.
-Essa garota é um demônio. - escutei um garoto murmurando para o outro enquanto Kazutora estava passando um paninho molhado na minha jaqueta, tentando tirar aquela porra de mancha.
-Você não sabia? Ela já tem uma reputação faz um tempão. Antes mesmo de andar com o Hanma. O lado sul é dela, sabia? - o outro resmungou. Revirei os olhos. Grande merda, não foi difícil chutar os arrombados do sul e tomar aquele lugar como meu território. Mas graças a Hanma, eu tinha virado uma imbecil enfiada em merdas até a garganta. Era tudo tão mais simples quando era eu que mandava os outros fazerem as coisas para mim! Cacete.
-É, acho que não vai sair.- Kazutora disse, jogando o pano no chão e dando de ombros, aquele cabelo estranho dele balançando.
-Viu? Ele mereceu uns socos. - eu falei, caminhando até onde Hanma estava e me largando ao lado dele. Hanma parou de conversar com um dos capitães da Valhalla para me olhar, sorrindo.
-Senti saudades disso.- ele disse. Virei para ele e franzi o cenho. Que porra ele estava falando?
-Disso o que, débil mental?- eu falei o olhando e dando um sorriso sarcástico. Tudo bem, nossa relação tinha melhorado um pouco, mas eu ainda não tinha engolido toda aquela merda que Hanma me fazia passar.
-Você parando de agir como uma chata sentimental e voltando a ser a Aiko que tá cagando pra tudo e pra todos.- ele disse. Tive que me segurar para não socar o nariz dele.
Essa era a versão de mim mesma que eu mais tinha odiado, a pessoa que eu era quando saí do reformatório. Maldosa, cruel e babaca. Quase como Kisaki! Eu era uma desgraçada. Quantas pessoas eu não fodi só por diversão? Porque eu estava quebrada e vazia e não tinha mais sentimentos? Mas isso mudou. Muita coisa mudou, na verdade. E agora eu podia estar agindo como essa versão de mim, mas era tudo uma farsa do caralho para que eu conseguisse o que eu queria: acabar com o Kisaki. E eu não me importava se tivesse que pisar em algumas pessoas para chegar lá. Eu estava decidida: acabaria com esse puto desgraçado. Se eu não podia contar com Hanma para me apoiar e nem arrastar Sam para esse problema, faria sozinha. Nem que eu tivesse que voltar a ser a demônio azul. Eu não tinha ganhado uma reputação, arranjado um território e ser reconhecida por ser uma cuzona atoa. Só era foda pensar que eu teria que me tornar alguém que meus amigos, os de verdade, não aprovavam para chegar onde eu queria.
-Hanma.- chamei e ele me olhou, esperando. Deu um dos meus melhores sorrisos sarcásticos para ele. -Eu tô é pouco me fudendo para o que você gosta ou deixa de gostar.
Escutei Kazutora cair na gargalhada enquanto passava os braços ao redor de mim e Hanma me deu um sorriso meio psicopata. Kazutora me apertou em um abraço.
-É por isso que eu gosto dessa garota!- Kazutora disse, apertando minha bochecha. -Tão adorável!
-Vai tomar no meio do seu cú, Kazutora.- eu disse, dando um chute nele para que saísse de perto de mim, esse babaca do caralho.
Baji era uma maldita maria fifi, e como eu e ele passamos as últimas semanas fofocando sobre literalmente tudo e todos, eu sabia bem quem Kazutora era. O que ele tinha feito. Matado o irmão de Mikey, arrastado Baji para aquele buraco. E agora estava ai, agindo como um maldito psicopata, doido para desgraçar ainda mais a vida de Mikey. O que mais me irritava era Keisuke ainda amar esse imbecil do caralho e tentar dar uma de fodão estilo "eu vou salvar o Kazutora e tirar ele dessa escuridão". Porra! Eu já estava prevendo a merda toda batendo na porta.
Meu celular vibrou e eu rezei para todas as divindades para que fosse Keisuke me dizendo para ir encontrar com ele, me tirar daquele inferno do cacete. Mas não era ele.
"Onde você tá? Já tô aqui".
Merda, eu tinha esquecido desse encontro do cacete! Mil e uma vezes merda. Nem teria como esconder dela agora que eu estava em uma ganguezinha de merda. Tinha certeza que ou ela me atiraria do alto de um prédio, ou zombaria com a minha cara. Conhecendo a arrombada como eu conhecia, votava no último.
-Preciso ir.- falei começando a me afastar de Hanma e Kazutora.
-Ei, ei, ei! Onde você vai?- Hanma gritou atrás de mim. Levantei a mão para dar um tchauzinho.
-Se fosse da sua conta, eu teria te dito!- cantarolei, já saindo do fliperama abandonado.
Eu comecei a correr pelas ruas; o lugar onde eu tinha marcado não era tão longe assim dali, mas eu sabia como a garota maldita tendia a ser sem paciência, então me apressei. Quando cheguei na ponte deserta, ela já estava ali, como prometido.
Os cabelos vemelhos e cacheados dela estavam caindo no rosto, a pele morena brilhando na luz do sol. Vi ela tirar o cabelo da frente do rosto e levar um baseado de ervinhas até a boca. Balancei a cabeça enquanto me aproximava dela.
-Nunca vai tomar jeito, Juju?- perguntei e ela deu uma risadinha, começando a fumar aquela maconha. Juju soprou a fumaça, jogando a cabeça para trás.
-Oi, gata.- ela disse com um sorriso malicioso, se inclinando na minha direção e dando um beijo estalado na minha boca. Arqueei uma sobrancelha. -Poxa, Aiko, faz quase um ano que não te vejo. - ela falou com um biquinho. -Saiu do reformatório e nem veio me ver.
-Eu estive um pouco ocupada.- falei me inclinando na grade, logo ao lado dela. Juju riu.
-Ah, sim. Ganhando território, reputação. Andando com o porra do Hanma. Esperava mais da minha capetinha. - ela disse e eu torci o nariz.
-Pessoas cometem alguns erros de merda. Tipo você que parou no reformatório por tráfico de drogas, saiu e continua traficando. - eu disse com cara de desgosto. Juju apenas deu risada e fez um gesto de tanto faz com as mãos. Ela sempre foi assim: não dava a mínima para nada. E também foi a pessoa que me ensinou a como sobreviver naquele inferno de reformatório.
-Eu gosto do dinheiro. - ela disse dando de ombros, me oferecendo a maconha. -Quer?
-Parei de usar essa merda quando saí. - eu disse jogando o cabelo para trás. Juju deu uma risada alta.
-Qual é, Aiko. Quando ficou tão chata? Vai me dizer que também virou hetero?- ela disse. Fiquei quieta e ela arregalou os olhos, escancarando a boca. -Não! Você tá afim de um garoto? Não é possível!
-Juju, qual é. - murmurei colocando o rosto entre as mãos. Não tinha ido ali para falar disso! Muito menos explicar que o garoto que eu gostava não olhava na minha cara faziam mais de duas semanas e ignorava as minhas mensagens e sempre parecia ocupado demais para me ver. É, eu bem que sabia que isso não daria certo! Mas sou uma otária do cacete, como Baji gosta de pontuar sempre que tem a chance.
-Estou profundamente chateada. Quem eu vou beijar agora?- ela falou fazendo um biquinho. Revirei os olhos. Juju era, sem nenhuma sombra de dúvidas, a ex mais chata que eu tinha.
-Juju, é sério. - eu falei e ela deu risada. Ai percebeu a jaqueta que eu usava, fazendo uma careta de nojo.
-Tá zoando que você tá nessa porra de gangue, Aiko.- ela disse e eu fiz cara feia para ela. -Puta merda, esse Hanma ama te meter em umas merdas do cacete.
-Eu sei. Por isso te chamei.- eu disse e ela suspirou, tragando a maconha em seus dedos.
-Podia ter pedido antes, Aiko.- ela disse me olhando profundamente. Merda. Juju me conhecia demais. Ela sabia que eu estava fodida. Que por isso estava pedindo ajuda.
-Estava com medo. -admiti para ela, a pegando de surpresa. -Não queria envolver mais gente nas minhas bostas. Mas agora quero foder com tudo. E com todo mundo.
Juju deu uma risadinha, se inclinando na minha direção e pegando sem que ninguém notasse o papel em minhas mãos.
-Só descobre o que conseguir. - eu disse, por fim. Ela assentiu.
-Vou te livrar dessa, capetinha. Depois a gente junta todo mundo e quebra esse porra na porrada se for preciso. Quem quer que esteja te causando isso, mexeu com a pessoa errada.- ela disse, seriamente. Eu agradeci. Devia ter buscado por Juju antes, mas fiquei com medo do porra do Kisaki. Agora, as coisas eram diferentes. Tinha mais gente para proteger. -Toma aqui um baseadinho pra você.
-Porra, Juju. Eu tô indo trabalhar.- eu falei enquanto ela tateava minha jaqueta em busca de um bolso.
-Foda se, usa depois.- ela disse. Revirei os olhos.
-Eu moro com uma criança!
-Fuma antes de ir pra casa!- ela disse. Bufei quando ela largou aquele baseado no meu bolso. Eu certamente o jogaria no lixo quando me afastasse dela.
Juju deu um beijão na minha bochecha e começou a se afastar saltitante. Eu ri e balancei a cabeça, me virando para fazer meu caminho até o mercado. Apenas rezando para que Juju conseguisse o que eu queria.
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