☪ .☆ ━━ SIXTY SEVEN ━━ ☪ .☆
Enquanto Kazutora me arrastava pelas ruas, achei que ele fosse, sei lá, me matar. Passei boa parte da minha tarde apenas esperando o momento em que ele finalmente faria isso. Que me atiraria na frente de um carro ou enfiaria o canivete no bolso dele na minha garganta. Mas ele apenas ficou falando por horas e horas sobre coisas absurdamente idiotas, o que não estava sendo lá muito legal porque eu estava com os nervos a flor da pele. O que esse surtado do caralho quer comigo, afinal?
-Você bem que podia pintar o cabelo de outra cor, né?- ele disse puxando uma mecha do meu cabelo e eu torci o nariz. -Tive uma ideia.
-Porque eu sinto que é uma ideia de merda?- eu murmurei, mas ele me ignorou, passando o braço ao redor dos meus ombros e me puxando em direção a uma farmácia.
-Confia em mim, Aiko?- ele perguntou, sorrindo de uma forma bizarra e assustadora. Eu estremeci levemente. Esse garoto me assustava pra caralho, então, claro que eu não confiava nele! Nem um pouco, aliás!
-Não?- eu disse e ele riu.
-Tudo bem, mas vai ter que confiar em mim. - ele disse me puxando para entrarmos. Eu apenas fechei os olhos com força.
Que opções eu sequer tinha, afinal? Exatamente, nenhuma! Então não me restava mais nada que não ficar ali esperando Kazutora comprar seja lá o que ele veio comprar. Eu estava nervosa e ansiosa e, ainda assim, não ousei pegar o celular e dizer para Sam ou Chifuyu onde eu estava. Se fosse ser mesmo sincera, estava irritada. Cansada e estressada. Tudo o que tinha acontecido naquele dia... Havia sido demais. E, mesmo que Kazutora fosse um louco do caralho, talvez estar ali com ele não fosse tão ruim assim. De fato era um alívio estar ali e não trancada na porra do quarto do Draken tendo que dar explicações da minha vida, vendo Sam toda íntima de Mitsuya e Chifuyu passando da porra de todos os limites.
-Vamos pra minha casa.- Kazutora disse quando voltou até mim, balançando uma sacola em mãos. -Meu dinheiro acabou, então preciso do seu.
-Pra que, exatamente, você precisa do meu dinheiro?- eu perguntei, mas já estava passando para esse surtado do caralho tudo o que eu tinha nos bolsos. Kazutora pegou e os olhos dele brilharam em divertimento.
-Mais tarde, Aiko. Não seja tão ansiosa!- ele brincou, dando um tapinha leve na minha bochecha.
Eu deveria protestar e, bem, tentar impedir que um psicopata me levasse até a casa dele, mas não protestei enquanto Kazutora me arrastava pelas ruas. Sinseramente? Talvez eu entendesse um pouco ele. Eu teria me tornado assim, como Kazutora, se não tivesse tido Juju na minha época no reformatório. Uma parte de mim sentia pena de Kazutora; porque estava claro como a luz do sol que ele tinha passado os últimos dois anos... Completamente sozinho. E isso... Bem, era uma merda.
Kazutora entrou animadamente no lugar podre que ele chamava de casa. Não tive muito tempo de observar as coisas antes dele me arrastar até o banheiro. Ok, talvez eu devesse ficar um pouco preocupada. Mas a verdade é que eu já nem tinha mais forças para me importar, não depois de tudo o que aconteceu nesse dia horroroso do caralho.
-Vou pintar seu cabelo.- Kazutora declarou. Me virei para ele e franzi o cenho.
-De que cor?- eu perguntei. E porque eu não estava protestando? Ele deu risada.
-No final você descobre.
Deixei Kazutora tocar no meu cabelo e até me assustei um pouco com a delicadeza com que ele o fez. Ele não falou nada por horas, realmente concentrado no que estava fazendo. Enquanto ele estava cagando com meu cabelo, apenas fiquei olhando para o nada, segurando minha vontade de chorar. Aquele dia tinha sido um belo dia de merda. Me perguntava se tinha como aquela merda ficar pior do que já estava. Acabei dando uma fungada sem querer o que arrancou um olhar de Kazutora. Ele franziu o cenho para mim e me deu um tapinha no ombro, como se aquela fosse um puta jeito foda de reconfortar alguém que está na merda!
-Levanta ai, Aiko.- ele disse e eu o fiz. Nem tive a chance de protestar antes dele enfiar minha cabeça na pia do banheiro e começar a lavar meu cabelo.
O jeito que ele massageava meu couro cabeludo me fez querer dormir ali mesmo, com a cabeça enfiada naquela pia e um psicopata logo atrás de mim. Mas eu estava tão cansada e meu dia tinha sido tão merda... Apenas dei um suspiro.
-Agora só falta secar.- Kazutora disse de forma animada.
Ele passou mais uma hora puxando meu cabelo e quase me queimando com aquela merda de secador. Não tinha espelho naquele banheiro, então nem dava para ver que merda ele tinha feito. Não que eu me importasse, sinceramente.
-Pronto.- Kazutora disse animado e começou a me arrastar para sala, onde tinha um espelho horroroso e gigante na parede.
Pisquei. Mas que porra... Me aproximei mais, tocando no meu cabelo. Onde antes era azul... Agora era vermelho. Vermelho sangue. Kazutora estava logo atrás de mim, me olhando com expectativa.
-E ai, o que você achou?
-Caralho, Kazutora. Até que não ficou uma merda.- eu falei puxando uma mecha. -Obrigada. Eu realmente gostei. - o foda é que era sincero.
Ele deu risada.
-Que bom que você gostou. Agora, vamos sair.- ele disse agarrando minha mão. Fiz uma careta.
-Já está de noite, Kazutora.
-E dai? É assim que é bom. Agora vem a melhor parte. - ele disse. Abri a boca para perguntar o que ele queria dizer com isso, mas bateram na porta e ele foi atender.
Talvez eu devesse avisar alguém que estava viva. Ou Sam ou Chifuyu, sei lá. Mas, se fosse ser sincera... Eu não queria. Kazutora voltou e jogou um saquinho em mim. E quando olhei... Torci o nariz.
-Porra, você fez toda uma cerimônia só pra me chamar pra fumar maconha com você?- eu disse indignada. -Puta merda, Kazutora. Podia ter falado antes que era isso!
-Achei que fosse ficar irritada se eu chegasse do nada te oferecendo drogas.- ele disse dando risada. Revirei os olhos, enfiando o baseado no bolso e o seguindo para fora do lugar.
-Depois do dia de merda que eu tive, sinceramente, tô puta porque você não ofereceu antes.
-E eu usei seu dinheiro pra isso, então, obrigado.- ele disse e eu revirei os olhos.
Apenas o segui pelas ruas noturnas, em silêncio. O vento estava gelado, batendo com força sobre nós. Não que nos importassemos. Kazutora parou quando chegamos a um parque e se deitou na grama, olhando para a lua. Com um longo suspiro, me deitei ao lado dele.
-Acende.- eu disse, jogando o baseado pra ele. Kazutora deu risada, mas o fez.
Jurei nunca mais fumar maconha na minha vida. Afinal, aquilo apenas ia foder com meus pulmões. Mas quer saber? Foda se; eu não tenho mais nada a perder. Então, talvez tenha sido por isso que fiquei dividindo aquele baseado com Kazutora até o fim. E talvez por isso tenha fumado o segundo também. Até nos dois estarmos completamente alegres e rindo para tudo e para todos, como dois grandes imbecis. Até eu sequer me lembrar o porque estva tão triste assim.
-Eiiii, sabia que somos parecidos?- eu perguntei para ele, rindo. Kazutora se virou para me olhar, o rosto tão perto do meu que podia sentir a respiração quente dele contra meu rosto. -Nós dois fomos presos! Mas eu não consegui matar meu padrasto, o que é uma pena.
Kazutora deu uma gargalhada e eu franzi o cenho. Tinha sido tão engraçado assim?
-Por isso você é assim, doidinha que nem eu!- ele disse dando um peteleco na minha testa. Eu ri. -Também tem uma família de merda, Aiko?
-Ah, com toda a certeza. Minha mãe é uma cachorra desgraçada, me deixou pra apodrecer no reformatório.- eu ri. -Espero que ela morra.
-Que engraçado. É como se fossemos gêmeos separados na maternidade! Temos até tatuagens no pescoço. Sabe o que deveríamos fazer?- ele gritou, animado. Isso, por algum motivo, me deixou animada também.
-O que?
-Tatuagens iguais! Ia ser incrível não ia?- ele disse e eu dei uma gargalhada.
-Que tal "vai se fuder"?- eu ri. Kazutora riu.
-Acho brilhante!
Nós ficamos rindo, completamente envolvidos pela droga. Completamente idiotas. E, naquele momento... Nada mais importava.
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