☪ .☆ ━━ SIXTEEN ━━ ☪ .☆
Não tenho a mínima ideia do que Aiko estava fazendo da vida dela para estar na casa do tal Chifuyu. Certo, eu falei para ela se aproximar mas, ir até a casa dele é quase que rir na cara da porra do perigo. Suspirei, passando a mão por meus cabelos e lançando um olhar ao meu redor. Estava começando a ficar nervosa com aquela demora da Aiko.
Mas, como se tivesse acabado de ser invocada, a delinquente apareceu no início da rua, vestindo um uniforme horroroso. Seus olhos vagaram até me enxergar. O cenho se franziu e Aiko praticamente correu na minha direção, jogando inúmeras perguntas em cima de mim com um rapidez e agressividade que não a permitia falar de forma coesa.
─ Aiko, já chega!─ Gritei. Ela me encarou com os olhos arregalados, surpresos.─ Primeiro, sim, eu estou bem. Segundo, não foi o Seiji. Ele é um merda mas nunca iria me bater. Foram uns idiotas que tentaram me agarrar noite passada.
Ela piscou, os punhos se fecharam.
─ Quem.─ Não uma pergunta, mas uma exigência. Revirei os olhos e dei um tapa em seu braço.
─ Pare com isso! Está tudo certo, alguém já desceu a porrada neles no seu lugar.
─ Com certeza, esse alguém não bateu o suficiente!─ Retrucou ela.
Suspirei, balançando a cabeça e me levantei com rapidez, minhas mãos alisando a saia que eu vestia para tirar os vestígios de grama e terra. Com mais um suspiro, encarei Aiko. Ela ainda aguardava por alguma resposta.
─ Não tem como eu te dizer quem foi, porquê não parei os caras para perguntar os nomes deles, estava mais ocupada tentando fugir.─ A delinquente abriu a boca, mas comecei a falar novamente sem lhe dar tempo para qualquer fala.─ O que estava fazendo na casa do tal Chifuyu?
Aiko fechou a boca e abriu várias vezes, parecendo buscar palavras para se explicar.
─ Eu vi minha irmã.─ Pisquei. Tudo bem, isso mudava as coisas e muito. A garota de cabelos azuis parecia realmente abalada com o que havia acontecido e eu não a julgava por isso. Aiko amava sua irmã mais do que tudo, mas ainda assim, quando precisou, a irmã lhe deu as costas para ficar ao lado de um abusador.─ A gente discutiu, e ela falou umas coisas que ─ Aiko procurou evitar meu olhar quando começou a brincar com a barra da blusa de seu uniforme.─ eu não gostei e, o Chifuyu me ajudou...
Toquei seu ombro e fiz um carinho para confortá-la, então sorri, ou pelo menos tentei.
─ Parece que esse Chifuyu é até que legal.
Aiko me olhou e balançou a cabeça, confirmando.
─ Ah, sim, ele é muito legal.─ Reforçou de modo que julguei ser desnecessário. Mordi meus lábios por um momento, antes de soltar o que estava se passando por minha cabeça.
─ Não seja amiga dele.─ Ela me encarou, talvez surpresa pelo meu tom rígido.─ Ele pode ser legal, mas, nós iremos estragar tudo que ele gosta.
Aiko fez uma careta de confusão, se encolhendo levemente mas então, ergueu uma sobrancelha, parecendo minimamente irritada com minha fala.
─ É por isso que ligou para mim?─ Perguntou, soltando um bufo desacreditado.─ Sei que sou uma fudida mas não precisa me tratar como uma criança, Sam.
Tudo bem... Espreitei meus olhos para Aiko, analisando a forma que rapidamente entrou na defensiva, antes de soltar mais um suspiro, colocando minhas mãos na cintura e me inclinando levemente na sua direção.
─ Apenas estou a lembrando que se envolver com alguém como ele só dá problema, principalmente na nossa situação.─ Ela mordeu os lábios e desviou o olhar, pois sabia que eu estava certa.─ E te chamei até aqui porquê liguei pro Kisaki.
Aiko me olhou, surpresa.
─ Você fez o quê?─ Praticamente gritou. Suspirei, uma de minhas mãos balançaram meu cabelo de forma nervosa.
─ Fiz nossa missão. Liguei para Kisaki e disse quem ele deveria atingir.
─ E que caralhos isso significa?─ Ela perguntou, claramente abalada e puta comigo.
─ Significa que o plano está andando. E é melhor não se aproximar ainda mais desse tal de Chifuyu ou quando a merda acontecer, ela vai acabar respingando em você.
Uma semana. Desde aquela conversa nem um pouco agradável com Aiko, a gente não se falou nenhuma vez após darmos as costas uma a outra e partimos para nossos próprios caminhos cheios de espinhos e manchados. Havia sido uma semana em que a única coisa que passava por minha cabeça era teorias sobre o provável futuro passo de Kisaki.
Aquilo estava me atormentando ao ponto de fazer com que eu perdesse noites inteiras de sono, não que tivesse muitas noites que passava dormindo... Os arranhões já estavam começando a curar, então rapidamente abandonei as faixas, continuando só com os curativos do meu rosto mas as fofocas sobre mim continuavam mesmo que todos fingissem que não.
Suspirei, ajeitando minha bolsa em um de meus ombros enquanto descia as escadas que me levariam ao saguão com lentidão. Senti as pontas do meu cabelo preso em um rabo de cabelo roçar na pele do meu pescoço conforme me aproximava cada vez mais do fim da escadaria. E apenas cessei meus passos quando um barulho que eu reconheci ser como choro alcançou meus ouvidos.
Não precisei muito para encontrar de onde vinha aquele choro, e, encolhida próxima a saída, estava aquela garota de olhos dóceis que sempre parecia estar tentando uma espécie de amizade comigo. Pisquei meus olhos, um pouco confusa com a cena mas não hesitei em me aproximar dela e nem ao menos me ajoelhar ao lado dela.
─ Ei... O que aconteceu?─ Perguntei, tocando levemente em seu braços. O rosto choroso da menina se levantou e me encarou. Ela fungou, passando as mãos por seu rosto com muita força.
─ Aconteceu nada.─ Murmurou ela com a voz fraca. Eu não disse nada, apenas deslizei meus dedos por seu braço, tentando fazer com que ela se acalmasse aos poucos.
─ Você está chorando então, aconteceu tudo menos nada.─ Sussurei em resposta. A garota piscou e mais lágrimas vieram.
─ Minha amiga, ela...─ Os soluços interromperam sua fala.─ É horrível, Sam.─ A garota passou as mãos por seu rosto, tentando limpar as lágrimas.─ Eles bateram nela, eles...
Franzi o cenho, e pela forma que seu choro se intensificou, não foi necessário de mais palavras para que eu entendesse o que estava acontecendo.
─ O Haya está tão puto com tudo isso.─ Ela murmurou em meio à lágrimas. Sinceramente, não tinha a mínima ideia de quem diabos era Haya mas foram as próximas palavras de Yume que me atingiram tão profundamente que tive que me esforçar para não vomitar ao lado dela.─ Realmente espero que ele acabe com a Moebius depois de tudo que fizeram com ela.
As flores em minhas mãos não deveriam ter mais do que algumas míseras gramas mas pesavam como chumbo, assim como o peso invisível que me forçava a ficar praticamente curvada. Poucas horas antes, eu estive limpando as lágrimas de uma garota que se encontrava sofrendo com a crueldade feita a uma de suas amigas. Poucas horas antes, estive me deparando com a consequências de minhas ações.
Desde então, estive me sentindo a pessoa mais podre que já nasceu no mundo. Enquanto escrevia uma mensagem que pedia para que Aiko me encontrasse no hospital, tive que parar uma ou duas vezes para vomitar e chorar. Mas, o choro e o vômito não chegou nem perto de aliviar o peso em meus ombros e muito menos aquela sensação que me dava impressão que meu coração estava se afundando de forma dolorosa.
As flores em minha mão não me fazia crer que eu teria alguma chance de adentrar no paraíso... Ergui meu rosto, fitando o céu azul quase que sem nuvens em uma tentativa de evitar o derramar de lágrimas.
─ Sam?
Virei meu rosto e encarei Aiko que estampava um sorriso que rapidamente desapareceu quando ela fitou meu rosto. Eu não disse nada, mas a garota já estava se aproximando e as mãos seguravam meus ombros, seu cenho franzido de preocupação.
─ O que aconteceu?─ Ela perguntou. Ah, claro que ela não saberia... Com certeza Hanma e Kisaki pensavam que deixá-la no escuro era uma forma de controlar Aiko e seu senso de justiça imparável.
Eu não a respondi, apenas agarrei uma de suas mãos e a puxei para dentro do hospital. Por algum milagre, a recepcionista não pareceu ligar para as duas adolescentes que adentraram nos corredores da UTI.
Não disse nada para Aiko quando paramos em frente a um espelho que nos dava a visão de uma garota. Ela tinha aproximamente minha idade, cabelos castanhos e seu rosto estava completamente desconfigurada. Era algo horrível de ver e o aperto em meu peito dizia com todas as letras o que eu já sabia.
É sua culpa.
─ Sam?─ Perguntou Aiko, seu olhar estava confuso. Apertei o caule das flores em minha mão com força.
─ Ela e o namorado foram espancados, ela foi estuprada.─ Disse rapidamente sem nem ao menos me importar com o choque que congelou as feições da delinquente.─ E sabe quem fez isso, Aiko?
Eu a olhei sem expressar muitas emoções.
─ Moebius. Foi a Moebius que fez e não sei você mas está claro para mim quem fez isso.
Ela não disse nada, apenas olhou para a garota que respirava com ajuda de aparelhos e lutava por sua vida que foi ameaçada, pois estamos em um mundo de merda e nós estávamos no meio de uma guerra que sequer tínhamos consciência.
Aiko virou-se para mim e parecia estar prestes a falar quando seus olhos se focaram em algo atrás de mim. Sem sequer me dar tempo para alguma reação, ela me puxou e praticamente correu até o final do corredor, me obrigando a me esconder atrás de uma lata de lixo.
─ Aiko, mas o que ─ Ela meteu a mão na minha cara e apontou para frente. Foi naquele momento que entendi o motivo de seu desespero. Ali estava ele. Draken parecia vestido com as mesmas roupas da noite que me salvou e tinha uma feição séria no rosto que o fazia ganhar alguns anos a mais. Ao lado de Draken, parecendo não ter a mínima ideia do que estava acontecendo, estava ele.
Mikey, o invencível...
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