Soltei uma risada, e meus pés se afundaram levemente no elástico e então meu corpo foi lançado para o ar. Por um momento, o céu parecia mais próximo e então, desabei na cama elástica, sentindo meu corpo se balançar com os movimentos feitos ao meu redor. Pisquei os olhos e o rosto de Draken surgiu na minha visão, ele abriu um sorriso, seus cabelos loiros se encontravam um pouco bagunçados, mesmo continuando presos em uma trança.

─ Você é muito lesada!─ Disse ele, chutando minha perna levemente, se desequilibrando por conta do garoto que acabara de passar atrás dele aos pulos fazendo com que o elástico abaixo de nós chocoalhasse.

─ Vai se foder, você foi o primeiro a cair!─ Resmunguei para ele, dando um tapa em sua perna fazendo-o chiar e novamente me chutar, só que dessa vez nas costelas. E doeu para um caralho! Soltei mais um palavrão, me contorcendo no chão de elástico para poder chutar o idiota que desviava dos meus chutes, soltando umas risadinhas irritantes.

Estávamos em uma espécie de labirinto feito de cama elástica e bexigas no meio de um parque. Um brinquedo feito para as crianças que nos rodeava e soltavam risadas enquanto adentravam ainda mais no labirinto de bexigas, se empurrando e jogando uma a outra no piso de cama elástica. Ainda não sei como Draken soube daquele lugar ou o que ele tava pensando quando me levou até ali.

─ Pelo menos, não fui eu que caí por causa de um moleque catarreto!─ Ele riu, desviando de mais um chute e por um deslize, Draken acabou tropeçando em uma bexiga solta no chão, caindo ao meu lado fazendo com que todo o elástico chocoalhasse ainda mais. Juro que vi uma menina cair de cara no chão por causa daquilo.

Com um sorriso já crescendo em meus lábios, encarei os olhos escuros de Draken que me encarou com o cenho franzido, levemente irritado.

─ Sem uma palavra.─ Rosnou. Aquilo foi o motivo pelo qual explodi em risadas ao ponto de lágrimas descerem por minhas bochechas.

Pisquei meus olhos, mordendo uma parte da casquinha em uma das mãos, mastigando o pedaço crocante enquanto me mantinha andando no mesmo ritmo do garoto loiro ao meu lado que também devorava um sorvete de casquinha. O sol já estava se pondo e estávamos caminhando na direção da creche de Angeli. Meus cabelos pareciam um ninho de tão bagunçados após aquelas horas, empurrando Draken com força na direção das paredes de bexigas e sendo empurrada para o chão de elástico. E minhas roupas estavam um pouco mais do que amassadas.

─ Por que?─ Perguntei, dando a mordida final na minha casquinha. O garoto me olhou com uma sobrancelha erguida.

─ Por que o quê?─ Retrucou minha pergunta. Revirei os olhos, passando as mãos por minhas saias.

─ Você me levou para um "parque" e me comprou uma casquinha, por quê?

─ E precisa de motivo pra ajudar uma garota que tava com cara de cú na rua?─ Retrucou ele, inclinando levemente a cabeça para o lado.

─ Claro que sim, grandão. Não estamos em um conto de fadas.─ Resmunguei. Draken revirou os olhos com tanta força que jurei que ele ia desmaiar.

─ Só cala a boca.─ Rosnou, afundando uma mão em meu rosto e o balançando de leve, me fazendo soltar uma risada enquanto dava tapas no antebraço do homem.

Aiko havia saído cedo naquela manhã e eu sabia muito bem o motivo. Halloween, 31 de Outubro, finalmente o confronto da Toman contra Valhalla chegou e pelos sussurros entusiasmados que meus ouvidos captaram nas noites que eu passava na boate de Seiji, tentando colher a maior quantidade de informações sem parecer muito suspeita.

Naquele dia, o destino não só das gangues da região mas também do submundo seria decidido e mudado, independente de quem vencesse aquela batalha criada sem muitos motivos sãos. Soltei um suspiro, erguendo o óculos de lentes escuras e o colocando em meu rosto enquanto analisava o reflexo na vitrine de uma loja de roupas.

A garota que eu encarava naquele momento parecia uma estrangeira francesa. Uma boina cor de creme estava perfeitamente colocada nos fios vermelhos como sangue, um óculos escuros cobriam os olhos caramelo que às vezes pareciam ter a cor de Whiskey e um batom vermelho cobria os lábios levemente carnudos. Um vestido curto e preto ao lado de um sobretudo creme compunham suas roupas.

Definitivamente, aquela não era eu. E sinceramente estava feliz pelo meu trabalho, havia ficado irreconhecível não só para mim mas para todos que vão estar no lugar que iria acontecer a tal batalha, ou pelo menos era isso que eu esperava.

Com mais um suspiro, me afastei da vitrine e comecei a andar pelas ruas, com um suave sorriso nos lábios para não atrair mais atenção do que já estava atraindo por conta das minhas roupas. No final, a coisa mais difícil foi entrar naquela merda que mais parecia um lixão de carros sem que algum dos idiotas ousasse encostar um dedo em mim e acabasse fodendo tudo.

Afastei uma mecha do cabelo falso do meu rosto, adentrando em um carro abandonado um pouco longe demais de onde estava a concentração de todos os delinquentes que foram até ali para presenciar que fim daria aquela batalha. Me sentei no estofado velho e abracei minhas pernas, lançando um olhar cheio de ódio para o garoto mais próximo que se afastou um ou dois passos.

─ Você não deveria tá aqui, pãozinho.─ Não me assustei quando ouvi a porta envelhecida do carro em que eu estava se abrir fazendo um barulho horrível e então,  Sombra me encarava com um sorriso.

─ E nem você.─ Retruquei. Tendou estalou a língua no céu da boca, retirando seu celular do bolso.

─ Sabe como é, né, pãozinho. É bom ficar por dentro dessas merdas por aí e alguém que me interessa muito vai tá por aqui hoje.─ Soltou ele. Eu estava bem perto de resmungar algo e questionar mais sobre aquela tal pessoa tão interessante quando uma risada soou chamando minha atenção para o pequeno espaço aberto ali que estava lotado de todos os delinquentes possíveis. E forçando minha visão, não evitei soltar um palavrão quando vi Chifuyu e um garoto loiro de olhos azuis que me parecia um pouco familiar.

Um cara parou, todos os olhos cheios de ansiedade pareciam presos nele. Em um tom entediado, o cara vestido por um macacão que me parecia simples.

─ Sou o Hansen, da Ikeburo Criminal Black Members. Sou aquele testemunhando a luta de hoje!

Um momento de silêncio. Um sorriso cresceu no rosto do cara e então, gritou.

─ Tão prontos para arrebentar?

Quando vi os garotos vestidos com o uniforme bastante conhecido da Toman, me encolhei e franzi o cenho por um momento, sentindo um algo que arrepiou meu corpo e que só poderia significar que nada de bom sairia daquela batalha entre Toman e Valhalla.