☪ .☆ ━━ SEVENTEEN ━━ ☪ .☆
Quando Sam me contou aquela história, quis vomitar. Senti a bile subindo e rasgando minha garganta, meus olhos ficaram embaçados devidos as lágrimas. Eu estive no escuro esse tempo todo e... Porque? Porque Kisaki tinha feito aquilo? Claro que eu não era otária de pensar que ele tinha sujado as mãos ele mesmo, mas aquilo era obra dele. Claro que era. Toda merda que dá errado tem dedo do Kisaki. Meu coração estava trovejando no peito, a ansiedade ameaçava me destruir. E eu fazia parte de toda aquela merda. Era parte culpa minha aquela garota estar ali daquela forma. Mas eu não tive tempo de vomitar, de dizer algo, nem reagir diante da imagem daquela garota na UTI, obra da Moebius. Obra de Kisaki. Porque virando o corredor estavam dois garotos que fizeram meu coração parar de bater: Draken e o Invencível Mikey. Eu só tive tempo de agarrar a mão de Sam e correr para nos escondermos, tampando a boca dela. Sentia meu estômago revirar cada vez mais e mais. Eu ia acabar desmaiando ali mesmo.
-O hospital?- escutei o garoto, Mikey, dizer. Meu coração deu outro salto.
-Sim. -o outro respondeu.
-Porque estamos aqui?
-Para uma pequena visita. - Draken retrucou. E eles pararam ali no corredor, no mesmo lugar onde Sam e eu estávamos segundos atrás. Apertei a mão de Sam com força na minha, gesto que ela retribuiu.
-Quem é? - Mikey questionou.
-A namorada do amigo do Pah. Sete pontos na cabeça, dentes quebrados, retina do olho esquerdo deslocada. Golpes por todo o corpo deixaram suas costelas quebradas. Ela está inconsciente desde que chegou, há cinco dias. É assim que a Moebius trata suas vítimas. Um civil a encontrou desamparada na rua e relatou o ocorrido. - Draken falou e, a cada palavra que saia da boca dele, eu só tinha mais e mais vontade de vomitar. Eu cheguei a cair no chão, batendo a cabeça na lata de lixo. Merda! Sam me segurou e, para meu alívio, ninguém pareceu escutar.
-Mas que diabos vocês estão fazendo aqui? - alguém gritou. Me estiquei um pouco, apenas para ver um senhor e uma senhora. Provavelmente os pais daquela garota... Que merda! -Como se atrevem a virem aqui depois de colocarem minha filha na UTI?! Saíam daqui! Saíam daqui!
Eu vi Draken se curvar. Aquilo definitivamente fez meu coração parar de bater dentro do peito. Ele não tinha nada haver com aquilo e, ainda assim...
-Você acha que se curvando vai resolver isso, seu verme?- o homem gritou. Cada palavra me atingia como um tiro, bem no meio do meu peito. E pela cara de Sam, que estava quase chorando ao meu lado, ela estava sentindo o mesmo. -Minha filha quase morreu por causa de vocês cretinos!
-Não se curve para ele, Kenchin. Não fizemos nada de errado. - Mikey disse. -E porque esse velhote está descontando na gente?
-Sam, não consigo ficar aqui. - eu murmurei. -Preciso sair.
-Como você quer sair daqui?- ela retrucou e eu fechei os olhos com força, mordendo meu lábio para reprimir um soluço.
Vi Draken agarrar Mikey e o forçar a se curvar. O que arrancou muitas reclamações do garoto invencível.
-Nós sentimos muito pelo que aconteceu. - Draken disse, ignorando Mikey. -A responsabilidade é toda nossa.
-Por favor, parem!- o homem continuava gritando com eles. Mas deveria estar gritando comigo. E com Sam. -Vocês acham que se curvando vão fazer minha filha melhorar, seus vermes? Vocês são a escória da sociedade! São porcarias! Imundos! Lixos!
-Ahn?- Mikey exclamou, a beira de uma explosão.
-Cala boca, Mikey.
-Minha filha tem estado em coma desde então...- ver aquele homem chorando pela filha dele me fez querer morrer. Me fez questionar o porque eu estava viva se estava vivendo para causar desgraça como aquela para outras pessoas. -Por quê? Minha pobre menina foi completamente desfigurada. Por favor, vão embora. Nunca mais quero vê-los de novo.
Os pais daquela garota se afastaram mas, mesmo assim, Mikey e Draken permaneceram curvados. E um longo e pesado silêncio se estendeu.
-Nós vamos lutar contra a Moebius logo. Cuidaremos dos nossos problemas no nosso próprio mundo. Todos os nossos membros tem família. Pessoas com as quais se preocupam. Não podemos deixar ninguém de fora se machucar. Não podemos fazer seus amigos e familiares chorarem. Você não precisa se curvar. Apenas se preocupe com os outros. Tenha um bom coração. - Draken disse a Mikey.
-Você é tão gentil, Kenchin... - Mikey disse. -Sinto muito, Kenchin. Eu estou contente por você estar aqui comigo.
Quando eles começaram a se afastar, agarrei a mão de Sam e saímos correndo para fora do hospital. Eu estava colérica, e estava surtando. Eu queria sumir, desaparecer, morrer. Quando saímos, vi que tinha um garoto em uma moto, esperando por alguém. Torci o nariz. Porque ele era familiar, de alguma forma?
O pior de tudo foi a cara que Sam fez quando viu ele. Ou melhor, quando ele viu ela. Ele deu um sorriso para Sam e levantou a mão para acenar, mas eu já estava puxando ela para longe. Porque eu me dei conta que, sim, eu sabia quem era aquele.
Só parei de correr quando chegamos a um beco. Caí de joelhos e vomitei tudo o que estava segurando desde o momento que Sam me contou aquela história. Meus olhos estavam cheio de lágrimas e tudo estava queimando. Eu queria desaparecer. Sam segurou meu cabelo com delicadeza e eu podia escutar ela soluçando.
Eu tinha milhares de coisas para dizer. A começar com "em que merda a gente se meteu e como resolvemos isso" e terminando com "que porra você andou fazendo nessa última semana". No fim das contas, fiquei com o último.
-Como você conhece Takashi Mitsuya, Sam?- eu perguntei me virando e olhando nos olhos dela. Ela pareceu verdadeiramente chocada com minha pergunta.
-Você o conhece? Eu o vi apenas algumas vezes e...- ela começou a falar, mas eu a cortei.
-Espera, você me criticou por ter me aproximado do Chifuyu e deixo claro pra você, eu me afastei dele, e virou amiga do capitão da segunda divisão da Toman?- eu disse perplexa. Isso, que bela forma a minha de fugir da minha culpa. Pela cara de Sam, eu já soube que: primeiro, ela não sabia desse detalhe; segundo, eu estava fazendo merda.
Passei a mão rosto com força.
-Kisaki fez isso.- eu murmurei. Sam apenas assentiu. -Eu não aguento mais isso. Eu não... Eu vou mata-lo.
-Aiko. Pensa direito. Agora não podemos resolver isso. O que nos resta é arrumar uma forma de...
-Fuder com ele antes que ele foda com a gente?- eu disse com uma risada sarcástica. -Estamos atoladas na merda, Sam!
Ela se ajoelhou na minha frente e segurou meu rosto em suas mãos. Como ela conseguia? Como conseguia permanecer assim diante daquilo tudo?
-Vamos dar um jeito nisso, Aiko. Juntas. Vamos acabar com Kisaki, Seiji e quem for o merda que ficar no nosso caminho.
Encostei a testa na dela e fechei os olhos.
-Espero que você esteja certa.
Eu ainda estava me sentindo um lixo, mas a raiva era algo bom a se apegar em momentos como aquele. Eu estava balançando a perna inquieta, olhando de minuto em minuto o horário no meu celular. Ele estava atrasado; Mas não é como se ele se importasse comigo, afinal! Porque se realmente se importasse, não teria cooperado para o que aconteceu com aquela garota. O dono da sorveteria tinha me dado um milkshake de graça, provavelmente depois de ver minha cara péssima. Ele era um cara legal. Mas eu simplesmente sabia que se colocasse qualquer coisa para dentro, ia vomitar.
Escutei o sininho que indicava que a porta tinha sido aberta e estiquei a cabeça para olhar. Apenas para ver Hanma entrando e sorrindo para mim enquanto vinha na minha direção. Pelo menos ele estava sem aquele lixo de uniforme da Moebius; não que mudasse algo.
-Ei, demôniozinha. Por onde você esteve, hein?- ele cantarolou.
Eu nem perguntei nada a Hanma e tampouco dei a ele tempo de me contar aquela história em particular que ele vinha escondendo de mim; me levantei, agarrei aquele milkshake e joguei tudo na cara de Hanma. Todas as poucas pessoas que estavam ali olharam para nós, e ficaram em silêncio, como se alguém tivesse acabado de morrer ali. Hanma ficou em silêncio. O sorriso dele morreu e ele parecia verdadeiramente chocado com aquele meu gesto agressivo.
-Quando ia me contar?- eu disse, em alto em bom som. -Quando ia parar de me deixar no escuro, cacete? Porque fizeram isso? Porque?! Eu prometi ajudar e vocês envolvem pessoas que não tem nada haver com isso? E machucam elas?
Fechei meu punho com força e soquei o peito dele. Uma, duas, três vezes. Hanma segurou meu pulso.
-Aiko, calma, espera, deixa eu te explicar uma coisa...
-Não! Cala essa boca, Hanma. Você teve tempo o suficiente para me contar. Me diga, se eu não tivesse descoberto tudo sozinha, você pretendia me dizer algo?- eu falei. O silêncio dele já dizia o suficiente. -Você é um merda que nem o outro otário que resolveu seguir. Você, definitivamente, não é meu amigo.
Eu me virei para sair, mas Shuji segurou meu braço, fazendo eu me virar para ele. Trinquei o maxilar de raiva.
-Me larga, Hanma!- eu gritei, tentando puxar meu braço, mas ele o apertou com força. -Está me machucando.
-Vai me deixar falar?- ele disse.
-Ei, você é surdo, cara? Ela não te mandou soltar?
Ah, não. Não, não, não.
-Vai se meter em um assunto que não é seu, arrombado?- Hanma disse sorrindo daquele jeito psicopata que eu odiava.
-Keisuke, não se mete nisso.- eu disse olhando para o garoto que encarava Hanma com um olhar mortal. E ai vi Chifuyu se aproximando, parecendo tão puto quanto Baji. E, ah, que delícia. Eles estavam com o uniforme da Toman.
Hanma olhou para mim e deu uma risada. E eu sabia que ele tinha entendido o que eu andava fazendo ultimamente.
-Larga. Ela. Agora.- Baji disse. Hanma apenas balançou a cabeça e me soltou.
-Te vejo em casa, Aiko. Ai a gente conversa.
-Não me espere acordado.- eu cuspi. Me virei e comecei a dar o fora dali, andando o mais rápido que eu conseguia.
Estava chovendo. Eu nem me importei conforme as gotas de água caiam sobre mim, não demorando muito para me deixarem completamente encharcada. Eu funguei, e estava quase chorando de novo quando senti uma mão se fechando no meu pulso. Me virei, o punho erguido.
-Ei, calma!- Chifuyu disse, os olhos arregalados, abaixei a mão e bufei, me soltando dele e voltando a andar. -Aiko!
-Me deixa em paz, Chifuyu. - eu disse, apertando o passo.
-Ow sua mal agradecida, acabamos de livrar seu traseiro. Um obrigado seria legal!- Baji gritou irritado. Eu ri com sarcasmo e me virei para os dois.
-Eu não pedi a sua ajuda!- eu gritei. -Não pedi pra se meter, não pedi para aparecerem na minha vida! Vão embora! Me esqueçam! É melhor assim.
-Por causa do seu namorado?- Chifuyu perguntou. Eu fiz uma careta.
-Namorado?
-O cara lá de dentro.
Eu cai numa gargalhada assustadora. Namorado... Porque as pessoas achavam isso? Inferno.
-Namorado é o caralho! Eu sou idiota, mas não nesse nível!
-Você mora com ele?- Baji perguntou.
-É isso ou morar na rua.- eu murmurei. -Só dêem o fora daqui, que saco. Me esqueçam!
-Porque? Porque, Aiko? Porque tá evitando a gente?- Chifuyu disse e eu senti a mágoa naquela pergunta. Dessa vez, eu explodi.
-Porque eu só vou fuder com sua vida, Chifuyu! Eu sou uma babaca do caralho e não vale a pena! Não vale a pena, tá me escutando? Então, se você tem um pingo de amor próprio, vai ficar longe de mim.
Eu não esperei por uma resposta; corri para longe dali. E corri e corri sem rumo. Porque, se eu fosse ser sincera... Eu não tinha para onde ir.
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