☪ .☆ ━━ ONE HUNDRED FIFTY ━━ ☪ .☆
Nonna não disse nada até que eu me sentasse na cama e ela cobrisse minhas pernas com cuidado, encarando meu rosto coberto por ataduras. A mulher idosa soltou um suspiro, esticando uma das mãos cobertas por rugas para acariciar minha pele.
─ Nipotina, eu sinto tanto por você.─ Ela murmurou com pesar. Reprimi minha vontade de fazer careta com seu tom. Deus, deve ser muito bom dizer que sente muito quando toda a merda já tá feita e não tem nada que consiga concertar o estrago.─ Se eu tivesse perguntado mais, talvez nada disso tivesse acontecido com você, minha nipotina.
─ Mamma, não coloque tanto peso em seus ombros.─ Disse a mulher vestida com um suéter vinho e uma calça jeans, além de ter um sorriso simpático nos lábios. Eu a reconheci sem muito esforço. Ela era uma versão feminina do meu pai, principalmente agora que pintou os cabelos de loiro.─ Tudo que aconteceu com Rose é culpa da Natsu e só. Fique feliz por Rose estar nas nossas mãos agora.
Pisquei meus olhos, me sentindo um pouco confusa demais. Como assim eu estou nas mãos delas?
─ Nonna, Zietta...─ Eu as chamei em um tom baixo, o italiano saiu completamente errado mas nada que elas não possam entender. As mulheres me olharam com doçura e quase revirei os olhos.─ Vocês podem me dizer o que está acontecendo?
Nonna franziu o cenho e sorriu.
─ Ah, sim, você deve estar muito confusa com tudo mas não se preocupe, vou te explicar tudo direitinho.─ Soltou a idosa, sentando-se na minha cama enquanto minha tia arrastava uma poltrona para perto de nós, pronta para auxiliar nonna em seu relato.
─ Bem, acredito que não se lembra, pois faz muito tempo mas seu pai fez um acordo comigo. Ele queria que eu lhe ensinasse tudo sobre os negócios da família quando você, minha nipotina, fizesse dezesseis anos. E como falta alguns dias para seu aniversário, eu e sua zietta junto seus cugini viemos cumprir o acordo.─ Mas que merda...─ Rose, você não imagina o susto que tivemos ao descobrir que sua mãe virou uma puttana immonda e minhas doces nipotinas estavam largadas por aí desde não sei quando. Senti meu velho coração parar quando soube que você estava no hospital por causa de uma briga entre gangues.
Não é como se vocês pudessem falar alguma coisa quando ignoraram a minha existência e a de Angeli por anos, se lembrando agora por conta de um acordo feito com um cara que tá morto e enterrado em um lugar que custa meu apartamento inteiro.
Sinceramente, não sei que porra se passa na cabeça desse povo que simplesmente quer pagar de santo quando se deparam com o caos feito por sua negligência. Tudo bem, eu posso ter enfrentado muita merda que não foi nem um pouco bom para meu psicológico mas havia sobrevivido sem a ajuda deles e o principal, Angeli viveu muito bem sem saber um terço do que tive que enfrentar para que ela continuasse daquela maneira.
─ Sua nonna está desmaiou quando soube que você passou horas dentro de uma sala de cirurgia.─ Meus olhos se arregalaram um pouco... Agora, estava explicado porque eu me sentia tão lenta! Deve ser por conta de algum medicamento ou algo do tipo!
─ Mas, não se preocupe, minha nipotina, a nonna vai cuidar de você agora.
Franzi meu cenho, levemente confusa com sua frase. Deus, como posso explicar para essa mulher que não precisei de seu cuidado quando tudo foi jogado na merda e agora preciso muito menos.
Soltei um resmungo um pouco alto demais quando tropecei mais uma vez no corredor. Nonna me explicou que meus medicamentos poderiam fazer com que eu ficasse um pouco confusa mas que logo eu ia parar de tomá-los, afinal eu estava recuperando bem da cirurgia. Mas, até aquelas merdas pararem, eu vou ficar tropeçando a cada passo que dou e às vezes incapaz de reconhecer as pessoas, como aconteceu com aquele garoto de cabelos bicolores e também com minha zietta no início da manhã.
Tropecei mais uma vez e tive que me agarrar na primeira coisa que vi para não cair no chão, claro que essa coisa tinha que ser no batente de alguma parede. Soltei um suspiro, me afastando dali com rapidez.
Tudo bem, você precisa focar, Sam. Você precisa achar aquele garoto do dia anterior. Precisa saber onde Angeli tá e deixá-la bem longe da nossa família nem um pouco sã.
Tropecei mais uma vez. Mas, por algum milagre, não consegui cair.
─ Sam?─ Pisquei meus olhos e franzi o cenho ao me deparar com um bando de garoto que ou tinha o cabelo loiro ou tinha o cabelo colorido. Que merda era aquela?
─ Sim?─ Murmurei, sem saber quem havia falado comigo. Foi um garoto de cabelos loiros e olhos verdes que deu um passo em minha direção. Ele ficou me olhando em silêncio, por tempo demais...
Tudo bem, aquilo tava meio assustador... Eu estava bem perto de perguntar para os outros qual era o problema daquele garoto quando o mesmo simplesmente correu na minha direção e me abraçou com força, nos levando ao chão.
Ele chorou contra minha pele, me abraçando cada vez mais forte.
─ Graças a Deus, graças a Deus...─ Ele murmurava. Pisquei meus olhos, surpresa e confusa. Meu olhar foi até os garotos que observavam aquela cena com um mísero sorriso nos lábios, eu os analisei e nada de Kazutora.
Dei tapinhas nas costas daquele me abraçava, aos poucos sentindo ele se afastar de mim. O garoto loiro tinha as mãos cobrindo seu rosto e ele soluçou. Ele parecia se importar muito comigo... Não sei porquê mas senti vontade de rir dele, mas em vez disso, eu apenas soltei um suspiro. Estava claro que conhecia ele mas por conta dos remédios fortes, eu não conseguia me lembrar bem dele.
─ Ei, cara, desculpa mas,─ Ele me fitou com aqueles olhos verdes ainda cheios de lágrimas que desejava derramar.─ quem é você?
Notei um misto de reações nos rostos dos garotos ao meu redor. Primeiro, todos arregalaram os olhos como se tivessem levado um soco no estômago. Segundo, eles piscaram os olhos como se ainda estivessem se recuperando do soco. Terceiro, eles começaram a falar juntos como daquele jeito estranhamente sincronizado que a gente só vê gêmeos fazer. Quarto, um deles percebeu que eu não tava conseguindo acompanhar e meteu uma cotovelada nas costelas do outro. Quinto, começou uma confusão generalizada só por causa daquela cotovelada. E tive que esticar uma das mãos para poder estalar os dedos na frente do rosto do garoto loiro de olhos verdes que me fitava sem piscar, como se estivesse preso em um transe que acabou saindo com o estalar de meus dedos.
─ E então, quem é você?─ Soltei. Ele fechou os olhos por um momento, enfiando as mãos no rosto, parecendo desesperado e tão triste que era meio difícil de ficar olhando para ele. Mordi os lábios, me sentindo nervosa.
─ É por causa dos remédios.─ Eu disse. O garoto tirou as mãos do rosto e me fitou, ignorando a confusão de vozes ao nosso redor.─ Não é que eu não me lembre de você, é meio que os remédios são fortes, me deixam muito lenta e não consigo reconhecer algumas pessoas.
Ele me olhou com o cenho franzido. E abriu a boca, começando falar algo que não consegui escutar por conta dos imbecis que não paravam de discutir um com o outro. Franzi o cenho, um pouco irritada com todo aquele barulho. Eles acabariam chamando a atenção dos enfermeiros e não vai demorar pra nonna me encontrar. Então, no final, eu não vou conseguir saber da Angeli.
─ Ei, calem a porra da boca!─ Gritei, e todos eles o fizeram. Me virei para o loiro.
─ Chifuyu. Eu sou o Chifuyu Matsuno.─ Pisquei meus olhos... Tudo bem, ele é o Chifuyu. Guiei minha atenção para os outros garotos e esperei que cada um se apresentasse. Notei que todos eles pareciam machucados demais, como se tivessem se envolvido com aquela luta.
─ Smiley.─ Soltou um de cabelos cacheados em uma coloração pêssego, sorrindo.
─ Angry.─ Respondeu outro que era a cópia exata do Smiley tirando que ele não sorria e tinha cabelos azuis, além que tinha um braço e uma perna enfaixada.
─ Hakkai.─ Soltou outro, também com cabelos azuis e uma cicatriz que cortava seus lábios. Ele sorria, mesmo que os olhos tivessem lágrimas não derramadas.
─ Takemichi.─ Disse um loiro de olhos azuis, ele também parecia perto de chorar.
Lentamente, balancei minha cabeça para os garotos. Tudo bem, eu reconhecia aqueles nomes. Eles me traziam confiança... Então, tá legal.
─ Tudo bem, então quem vai ser o primeiro a me dizer que porra tá acontecendo?
─ Espera, tudo isso aconteceu de ontem pra hoje?─ Perguntei para os garotos em minha frente que balançaram a cabeça em conjunto. Soltei um suspiro, enterrando uma mão em meus cabelos enquanto com a outra, aproximava mais o milkshake de morando da minha boca. Tá, tudo bem...
Muita informação e eu estava muito lenta. Mas, caralho, aconteceu praticamente uma guerra civil entre adolescentes que precisavam urgentemente de algum psicólogo e eu estava sendo operada após ter sido atingida por um taco bem na cabeça com força além das convulsões que foram consequências de um AVC hemorrágico. Pois é, Kisaki Tetta me fodeu legal e realmente quase morri, ainda bem que Aiko conseguiu matar ele, mesmo que...
Suguei o líquido feito de morango com mais força, lançando um olhar para Chifuyu que se mantinha quieto, olhando para o nada.
─ Ela vai viver.─ Murmurei, mais para mim do que para ele. Todos me olharam e eu sorri.─ Aiko é o tipo de pessoa que vai fazer de tudo pra ficar viva só pro Kisaki não ser o idiota que a matou.
Balancei um dos meus pés e chutei a canela do garoto loiro que chiou, me lançando um olhar de raiva. Meu sorriso se abriu ainda mais, tombei minha cabeça e deixei com que ela se encostasse no ombro de Hakkai.
─ Obrigado por virem me visitar.─ Falei para todos eles. Vi Takemichi começar a chorar, erguendo o braço e escondendo o rosto no cotovelo. Smiley riu e Angry pareceu preocupado com o estado do loiro, pegar o guardanapo da mesa e estender para o chorão que rapidamente pegou o papel para limpar suas lágrimas.
─ É a única coisa que a gente podia fazer.─ Disse Hakkai em um tom baixo e olhando para o nada. Ele pareceu engolir seco antes de abaixar a cabeça e me fitar.─ Ele também está vindo...
Não deixei de sorrir para o garoto, pois sabia muito bem quem estava vindo e eu ficava feliz por isso, mesmo sabendo que provavelmente não vou o reconhecer de primeira.
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