Meus olhos estavam fechados enquanto o vento gelado da manhã batia no meu rosto, fazendo meu cabelo balançar. Fazia alguns dias que eu não via e nem sabia de Sam e Angeli, ou Chifuyu, Baji, Kazutora... Aquilo era uma bela de uma merda, mas eu sabia que quanto mais afastada ficasse deles, melhor seria. Não podia arrastar meus amigos para as minhas merdas, não queria que mais coisas ruins acontecessem com eles. E, sabendo o como Izana era um puto louco do caralho, sabia que a merda dessa vez ia estourar de uma forma fodida. E claro que aquilo era culpa de Kisaki. No fim das contas, nem precisei pensar no como faria para desvendar os planos dele, já que Kisaki e Hanma entraram para Tenjiku. Apenas para que Kisaki pudesse manipular Izana, que já não batia nem um pouco bem das ideias.

O que mais me confundia é que quando falei para Mikey sobre Izana Kurokawa, ele jurou para mim que não fazia a menor ideia de quem Izana era. Bem, ele ia descobrir logo se Kisaki conseguisse o que tanto queria! Mas que bela merda do caralho. Precisava me aproximar mais de Izana para descobrir que merdas eles estavam tramando. Draken dizia que eu estava me arriscando demais e que podia acabar até morta. Eu não ligava; se fosse para proteger quem eu amava, bem, eu o faria. Foda se o resto!

-E aí, Tanaka.- escutei aquela voz odiosa do cacete logo atrás de mim. Franzi o cenho antes de me virar e fitar os olhos de Kisaki.

-E aí.- eu disse, jogando a cabeça pra trás e olhando para o céu azul. -O que você quer?

-Só bater um papo.- ele disse se apoiando na grade ao meu lado. Franzi o cenho para ele. -Você realmente pegou ódio da Toman, hein.

-São um bando de imbecis do caralho.- sibilei irritada. -Podem todos irem para o inferno.

-No começo, achei que fosse um planinho seu para me fuder.- ele disse. Apenas arqueei a sobrancelha para ele. Kisaki deu risada. -Mas pelo jeito você só acordou seu lado podre que Hanma sempre fala. Tá mesmo com os Haitani, né?

-Não vejo o porque eu estar de volta com Ran e Rindou seja da sua conta, Kisaki.- falei com um suspiro entediado, sabendo que ele analisava cada ação minha. Analisa aqui, filha da puta! -Eu nem deveria ter deixado eles. 

-Percebi que estava falando sério quando vi sua amiguinha Sam quase morrer com você indo embora. Soube que ela tá mal pra caralho por sua causa.- ele disse com um sorriso. Dei risada, mesmo que escutar aquilo tivesse doído na minha alma.

-Eu tô é pouco me fudendo. - disse e Kisaki riu.

-Eu percebi. Percebi que não é uma farsa sua, você realmente é uma puta cuzona mesmo. - ele disse estalando a língua. -Podia ser uma mentira, mas ver Sam Dean quase morrendo por você ter a deixado e Chifuyu Matsuno com uma namorada nova já é resposta o suficiente. - O que?

Tudo bem, Aiko. Isso provavelmente era mentira, e você sabe disso. E, ainda assim... Você terminou com ele. Chifuyu tem o direito de fazer o que ele quiser, ele é livre! Então porque isso doía pra caralho, mesmo eu sabendo que nem deveria ser verdade? Mas e se fosse? As vezes a falta que Chifuyu me fazia ameaçava me destruir quase tanto quanto a falta que Sam me fazia. 

-Já apaguei os dois da minha vida faz um tempo, Kisaki. Você tá só sendo chatinho lembrando desses dois imbecis.- eu suspirei. Sorri para ele. -Então, somos colegas de gangue de novo! 

-É. Parece que sim, Tanaka. No fim das contas, ter você do nosso lado vai até que ser útil.- ele disse com um sorriso maldoso. Eu apenas dei uma risada e sorri cruelmente para Kisaki. 

-Claro que vai. Eu sempre fico do lado vencedor. E todo mundo quer ficar do lado do demônio, não é?

Hanma não era burro; eu podia enganar todos, mas não ele. Não quando ele parecia me enxergar como se eu fosse feita de vidro, completamente transparente. Claro que ele sabia que tudo o que eu estava fazendo não passava de um plano. Claro que ele não perdeu a chance de mandar eu me afastar antes que desse merda. Claro que mandei ele se fuder. Se não fosse por ele, não estaria enfiada nessa merda do cacete, então agora ele que vá se foder! Pelo menos eu sabia que ele não iria abrir o bico para me fuder. O que já era a porra de um avanço! Eu já tava fodida, não precisava ficar ainda mais, sinceramente.

Apertei o pingente de sol na minha palma com força. Tinha se tornado a porra de uma mania fazer isso toda vez que eu estava ansiosa, fazer isso para me lembrar de Sam. E, que mesmo que ela não estivesse ali do meu lado, ela sempre estaria comigo. Dentro do meu coração. 

Suspirei e passei a mão pelo rosto; apenas esperava que ela estivesse bem e...

-Ei, caralho!- gritei, dando um pulo para trás para não ser atropelada pela moto que foi jogada com tudo pra cima de mim. Quando levantei o olhar, meus olhos se encontraram com olhos cor de bronze. -Que merda pensa que está fazendo, garoto?!

Kazutora estava atrás de Baji e pulou da moto, marchando na minha direção. Mas que cacete! Me virei para começar a correr, mas Kazutora foi mais rápido que eu, agarrando meu braço com força até demais. Não hesitei em meter um tapa forte na cara dele, o fazendo chiar. Mas ele não se afastou.

-Me solta, arrombado, ou eu juro...- comecei.

-Vai o que, me matar?- ele zombou com um sorriso maldoso. Sorri de volta.

-Vou acabar com tua raça.- rosnei.

-Vai porra nenhuma.- Keisuke rosnou de volta. -Você vai vir com a gente.

Dei uma risada sarcástica.

-Bem, vocês dois podem ir se fuder!- eu disse mostrando o dedo do meio para os dois. -Vocês tem problema de entendimento? Não quero papo com vocês não. São dois imbecis, a duplinha de idiotas. Porque eu sequer ia querer ficar perto de vocês?

-Aiko, cala essa boca.- Baji disse com um suspiro. -Você acha o que, que a gente é tapado?

-É mesmo pra eu responder isso?- eu ri. Keisuke me fuzilou com o olhar.

-A gente sabe que merda você tá fazendo. - Kazutora disse me olhando com aqueles olhos grandes. Arqueei a sobrancelha. Mas que merda, isso era tudo o que eu menos precisava!

-Ah, é?- zombei com um sorriso sarcástico.

-Para, tá beleza? Ou esquece que eu já fiz o mesmo que você? Mas sabe de algo, Aiko? Eu quase morri tentando fazer tudo sozinho, porra!- Keisuke gritou comigo. -E você vai morrer se fizer isso!

-Pode até ser.- disse, me desvencilhando de Kazutora e começando a fazer meu caminho novamente. -Se eu estivesse mesmo com algum plano, Keisuke. Mas eu não estou. Eu simplesmente não suporto mais olhar pra cara de vocês. Então me esquece, beleza?

Comecei a me afastar, meu coração doendo com aquelas mentiras todas. Merda! Mas que merda! Porque esses dois tinham que vir bancar uma de Sherlock Holmes pra cima de mim, porra?

-Eu não vou desistir de você!- Keisuke gritou atrás de mim. -Então faz o que quiser, mas não vou desistir! E vai se fuder, burra do caralho!

Eu queria rir e queria chorar e queria sumir. No fim, apenas estiquei a mão e mostrei a ele o dedo do meio antes de finalmente desaparecer. Apenas desejando que, no final, ele se lembrasse daquilo.

-Alô?- atendi já estressada pela insistência daquele número desconhecido em me ligar. Já estava a beira de soltar uns bons xingamentos quando escutei alguém fungar.

-Aiko? É o Takemichi.- silêncio; eu fiquei em profundo silêncio. Porque se ele estava me ligando... Então era o Takemichi do futuro. E nada tinha mudado. Meus olhos se encheram de lágrimas.

-Onde?- eu disse num sussurro.

-Eu te mando o endereço.

Fiquei feliz por Ran e Rindou terem ido se meter em alguma merda com Izana e estarem longe para caralho para saberem o que eu estava fazendo mas, ainda assim, tomei todos os cuidados possíveis enquanto caminhava até a casa de Takemichi. Mais correndo do que andando. 

Meu coração trovejava dentro da garganta; se ele tinha voltado, o futuro não tinha mudado. Ou até estava pior. Deus, porquê? Porque essas merdas estão sempre acontecendo comigo?

Takemichi estava me esperando do lado de fora quando cheguei. E, foi só bater os olhos em mim, que ele começou a chorar. E ali eu entendi; entendi que eu, provavelmente, tinha feito uma merda muito, muito grande no futuro.

Takemichi tinha me levado ao quarto dele e despejado tudo de uma vez em cima de mim, não me deixando sequer fazer uma pergunta. Não que eu tivesse muito o que dizer, não quando estava completamente em choque pelo que tinha acabado de escutar. Mortos; estavam todos mortos! Pelas mãos de Mikey. E eu também estava morta, porque tive a porra de uma overdose. Casada com Rindou, é sério isso? Pelo amor de Deus, parece que meus futuros todos são uma bela merda do caralho, se superando em saírem cagados. Uau! Eu deveria simplesmente desistir agora, por Deus! Isso parecia uma fase de vídeo game que a gente não consegue passar e parece que só piora a cada segundo.

-Tem outra coisa que preciso te falar.- ele disse, me olhando. Assenti para que ele continuasse. Bem, ele sabia que eu estava na Tenjiku apenas por um plano, já que o meu eu do futuro fez questão de contar isso antes de morrer. -Volta a falar com a Sam, Aiko.

Pisquei confusa. Não era como se eu não quisesse isso mais do que tudo no universo! Mas eu não podia arrastar ela para minhas merdas, não de novo.

-Não posso, Takemichi. Não posso enfiar Sam nesse buraco.- eu disse, os olhos cheios de lágrimas. Ele balançou a cabeça.

-Você ainda não entendeu, Aiko? Você não estar com Sam é o motivo principal para tudo ter dado errado. É o motivo principal para tudo na sua vida ter desandado. Você ama ela, ela te ama, porra! Então, só... Engole seu orgulho e vai atrás dela. Você no futuro me implorou quase de joelhos pra te convencer a não se afastar de Sam.

Se eu mesma tinha pedido isso, então... Então Takemichi tinha mesmo razão. Por Deus, tudo o que eu mais queria era me jogar nos braços da minha irmã! Mas não queria, não queria que ela tivesse que conviver com um lixo que nem eu.

-Você pensa demais.- ele suspirou. Fechei os olhos com força.

-Porque sou tão estúpida no futuro? - resmunguei com irritação.

-Porque você também é uma estúpida no passado.- uma voz disse seriamente da porta e senti meu coração ir parar na garganta conforme me virava para encarar os olhos verdes de Chifuyu.

Ele me olhava seriamente, os braços cruzados e as costas encostadas no batente da porta.

-Quando caralhos ele chegou aqui?- murmurei para Takemichi. Takemichi franziu o cenho.

-Ele tava aqui antes mesmo de você chegar.- Takemichi disse. Arregalei os olhos.

-Você só me fala isso agora, caralho?- eu disse me levantando num pulo. Esfreguei o rosto com força. -Eu preciso ir embora.

-Não acha que a gente precisa conversar?- Chifuyu disse arqueando a sobrancelha.

-Não sei, Chifuyu. Não acho que a gente tenha mais alguma coisa pra discutir.- falei com um suspiro. Ele balançou a cabeça. -Preciso ir. Preciso ir atrás da Sam.

-Tá, Aiko. Mas não pense que vai fugir dessa conversa.- ele disse com um resmungo, saindo da frente.

Eu ia passar reto e ir embora; eu deveria fazer isso. Ainda assim, respirei fundo e me virei pra ele.

-Sinto sua falta.- soltei, o olhando. Bem, foda se, Takemichi já tinha contado tudo pra ele a essa altura, então não adiantava negar que aquela merda com a Tenjiku era tudo um teatro! -Sinto sua falta pra caralho e me arrependo de ter terminado com você. Eu nunca peço desculpas pelos meus erros, só aceito isso e fujo, mas eu tô te pedindo desculpas por ter ido embora. Eu te amo. Desculpa.

Não esperei por uma resposta e nem que Chifuyu processasse tudo o que eu tinha dito para ele de uma vez. Apenas saí correndo dali; porque tinha algo que eu precisava fazer.

Era final de tarde e eu estava ansiosa pra caralho. Claro que Sam não estava em casa quando eu cheguei. Ela provavelmente tinha ido buscar Angeli na escola ou sei lá. Apenas esperava que ela chegasse logo, antes que a ansiedade me consumisse ou eu mudasse de ideia sobre ao quanto estar ali.

Nem tinha percebido que estava procurando uma desculpa para me jogar de novo nos braços de Sam até Takemichi me dar a desculpa perfeita para isso. Tentei ser altruísta, deixando Sam de fora dos meus rolos, mas quer saber? Foda se. Foda se! Porque aquilo estava me destruindo, quase tanto quando estava destruindo ela. Então porque deveriamos ficar separadas quando queriamos ficar juntas?

Eu contaria tudo para Sam. Contaria tudo, inclusive dessa porra louca do Takemichi ser viajante no tempo. Contaria para ela meu plano com Mikey e Draken, contaria para ela que eu nunca quis deixar ela. Porque eu amo Sam pra caralho. Não sei mais viver sem ela.

Por Deus, eu ia morrer se ela não chegasse logo naquela porra!

Então, a porta abriu e escutei Sam falando com Angeli e mais alguém. Foi ai que vi minha irmã, sorrindo ao lado de Mitsuya. O sorriso dela morreu quando os olhos de Sam caíram em mim e ela os arregalou um pouco. Tá, talvez eu devesse ter avisado antes de chegar do nada, caindo de paraquedas na sala, mas eu tava nervosa, porra!

-Demorou pra caramba, hein, cacete!- eu reclamei encarando Sam. Ela piscou, como se eu fosse uma alucinação. Tudo bem, aquilo parecia irreal até pra mim. Me levantei e dei um meio sorriso para Sam. Então disse, com um sussurro: -Você me pediu pra voltar pra casa. Então, eu voltei pra casa, Sam.