☪ .☆ ━━ ONE HUNDRED AND THREE ━━ ☪ .☆
Quando Sam finalmente chegou em casa, Baji já tinha ido embora porque a mãe dele o ameaçou de morte caso não o fizesse, mas Chifuyu tinha ficado. E estava dormindo no sofá, o que eu não sabia se me fazia rir ou me deixava perplexa. De qualquer forma, Sam entrou, me olhou e franziu o cenho. Eu percebi que ela já estava prestes a me dar um xingo.
-Shiu, o Chifuyu e a Angeli estão dormindo. - eu disse ela torceu o nariz pra mim.
-Quero é que o Chifuyu se foda.- ela resmungou, se jogando ao meu lado no sofá. Arqueei uma sobrancelha para ela. -Porque está aqui e não no hospital?
-Porque iam chamar o conselho tutelar e ao inferno que eu volto pra porra da minha família.- eu disse com um resmungo. Sam me olhou seriamente.
Porque nós duas sabiamos que aquilo era uma merda, uma merda do caralho. E tudo o que eu menos precisava era que agora a porra da minha família decidisse que queria ficar comigo agora. Logo agora, que eu finalmente tinha encontrado felicidade e um lar de verdade, agora que eu finalmente tinha uma casa, ali com Sam e Angeli. Eu não me imaginava mais vivendo meus dias sem estar junto das duas. Então, sim. Seria uma puta merda do cacete se eu fosse obrigada a voltar para aquele lugar do caralho e morar com minha mãe. Isso era tudo o que eu menos precisava!
-Mas que merda, Aiko.- ela disse, por fim, esfregando o rosto. Suspirei.
-Eu sei. Mas eu fugi e eu continuaria fugindo. Ao inferno que eu vou voltar para aquele hospício do caralho.- resmunguei, fechando os olhos. -Onde você tava, Sam? Porque demorou? Eu tava preocupada.
-Não se preocupe comigo.- ela disse, mas o tom dela já dizia o suficiente: eu deveria sim me preocupar com ela, e não era pouco. Porque eu sabia o quanto Taiju a aterrorizava. Nunca achei que pudesse odiar tanto alguém quanto eu havia odiado Seiji, mas isso foi até Taiju aparecer. Porque esse cara... Ele me fazia temer pela vida de Sam. E talvez eu devesse começar a cobrar uns favores para colocar esse porra em seu devido lugar. Porque, ele até podia ser forte e os caralhos todos que fossem. Mas ele não conhecia os piores delinquentes de Tokyo. E eles não deviam favores a Taiju, mas sim a mim.
-Vamos dar um jeito nisso.- falei baixinho, querendo mesmo acreditar em minhas próprias palavras. Porque se alguém um dia machucasse Sam... Eu ia acabar presa de novo, isso era um fato, porque, sim, eu ia cometer a porra de um assassinato e ninguém me impediria de fazer isso. Absolutamente ninguém.
-Você está melhor?- ela perguntou e eu podia sentir o olhar de Sam sobre mim. Me encolhi um pouco e suspirei, abrindo os olhos para olhar minha irmã.
-Não estou.- eu disse baixinho. -Sinto como se tivessem marcado minha pele com ferro quente. E não consigo tirar o gosto de sangue da boca.
-Isso não é o fim, Aiko.- ela disse baixinho. -Então não ouse desistir, tá bom?
-Desistir sem sentar o Kisaki na porrada? Nem fudendo.- eu disse e ela deu uma risada fraca. -A gente vai sair dessa merda de buraco, a gente sempre saí.
-Não poderia concordar mais.- ela disse, apertando de leve minha mão e com carinho. -Mas agora...
Ela se levantou e caminhou até onde Chifuyu estava. Nem tive tempo de processar o que ela estava prestes a fazer e tentar parar Sam antes dela agarrar uma almofada e enfiar com tudo na cara do meu namorado, que acordou com um pulo.
-Acorda, garoto, a casa tá pegando fogo!- ela disse. Chifuyu arregalou os olhos e piscou. Sam deu risada.
-Você é uma puta de uma babaca, sabia disso?- ele reclamou, esfregando os olhos. Sam apenas deu risada.
-Já tá tarde, vai ter que dormir aqui.- ela disse pra ele. Chifuyu me olhou, como se pedisse permissão, e eu fiz uma careta.
Deixei Chifuyu e Sam se matando na sala e me tranquei no banheiro. Nenhum deles tinha me deixado completamente sozinha desde que toda aquela merda aconteceu, então...
Com calma e com as mãos tremendo, tirei minha roupa para colocar um pijama; tinham marcas por todo o meu corpo, roxas e vermelhas. Eu tinha tomado nove pontos na cabeça e minha bochecha tinha sido cortada. Nem mesmo conseguia olhar para meu corpo, para os lugares onde ele tinha me apertado e me marcado. Senti meu estômago se revirar e a vontade de vomitar me atingiu em cheio. Pisquei os olhos, as lágrimas queimando nos meus olhos e me agarrei a pia com força.
Eu não ia deixar ele me destruir, eu não ia deixar isso destruir tudo o que eu tinha conquistado, os anos que lutei para superar isso, eu não deixaria. Não deixaria tudo ir para o ralo de novo. Não deixaria nenhum homem me arruinar.
Ele não vai me arruinar.
Ele não vai me arruinar.
Ele não vai me arruinar.
Ele não vai me arruinar.
Ele não vai me arruinar.
Terminei de me trocar as pressas, escondendo aquelas marcas, me recusando a me sentir mal por tudo aquilo. Porra! Eu não tinha feito nada de errado e aquela merda não era minha culpa! Eu não tinha o porque me sentir suja por dentro. Eu não era a culpada aqui, eu não era! E eu não me sentria daquela forma, não mais, chega. Porque se eu permitisse que aquele sentimento continuasse vivo, aquele merda do caralho estaria vencendo. E eu não o deixaria vencer.
Fuyuki está morto, ele está morto e não pode mais encostar em mim, nem chegar perto de mim. Ninguém nunca mais vai me machucar, ninguém nunca mais vai me tocar dessa forma sem que eu permita.
-Aiko?- escutei a voz de Sam, do outro lado. -Você tá bem aí?
-Sim. Eu tô bem.- falei, suspirando e esfregando o rosto. Abri a porta, dando de cara com Sam.
-Se quiser, pode dormir na minha cama. Eu durmo com o Chifuyu. - ela disse e eu fiz uma cara perplexa. -Ei, espera ai, eu vou dormir no confortável e ele no chão!
Apenas dei risada e bati com o ombro no dela.
-Não precisa.- eu falei. -Eu... Vou sobreviver.
-Eu sei que vai. Só estava tentando te poupar do sofrimento de ficar perto daquele imbecil.- ela disse e eu balancei a cabeça.
-Vai, Dean, admite que no fundo você gosta dele. Admite, vai!- eu provoquei. Sam me mostrou o dedo do meio.
-Eu jamais vou dizer em voz alta.- ela bufou, fazendo o caminho até o quarto.
-Mas também não negou!- eu cantarolei e ela apenas estendeu o dedo do meio pra mim. Dei risada.
Sam já tinha arrumado tudo quando voltei pra sala. No sofá cama tinha espaço o suficiente para pelo menos três pessoas dormirem em paz, mas Chifuyu parecia a beira de um colapso nervoso, o que me fez rir.
-Para de surtar.- falei, empurrando ele para que deitasse logo naquela merda. Quanto menos enrolação, melhor. Quanto menos tempo eu tivesse para pensar e surtar, melhor.
-Você tem certeza que...- ele começou, mas bati com o travesseiro na cara dele.
-Cala boca.- eu murmurei, apagando a luz da sala e me jogando do lado dele.
O escuro, de alguma forma, ajudava um pouco. Apenas suspirei, me virando na direção dele e deitando a cabeça no ombro dele. Ele estava tão tenso que nem sabia se ele estava respirando.
-Se você surtar, eu vou surtar junto, e não vai ser legal.- eu murmurei, fechando os olhos e segurando a mão dele com força. Chifuyu apenas suspirou.
-Desculpa, eu só... Não quero ultrapassar o seu limite.- ele resmungou. Apenas bufei.
-Eu sei.- eu disse baixinho.
E também não precisava dizer mais nada. Apesar de tudo, eu não precisava surtar, não com ele. E aquilo era tudo bem, porque... Eu queria aquilo, queria estar perto dele. E tudo ficaria bem.
Eu sabia que estava fodida no momento em que saí do trabalho e dei de cara com minha tia. Eu nem mesmo tive tempo para fugir, gritar ou sei lá, porque ela me agarrou pelo pulso e me empurrou para dentro do carro dela. Bem, pelo menos agora eu sei que se alguém tentar me sequestrar, vou ser uma inútil!
-Me deixa sair!- gritei com irritação, tentando abrir a porta do caro, mas era em vão.
-Para de ser mau criada, Aiko Tanaka.- ela disse, brava. Eu costumava odiar esse tom dela quando era menor, mas agora... Comecei a socar a janela. -Pare já com isso!
-Então me deixa sair, preciso ir pra casa! Ver minhas irmãs!- eu gritei. Minha tia não tirou os olhos das ruas nem por um segundo, mas arqueou a sobrancelha.
-Irmãs, é? Está falando da ousada do hospital?- ela questionou. -A de cabelos rosas?
-Não fale mal da Sam!- gritei. Minha tia deu risada.
-Falar mal? Claro que não. Ela é corajosa demais para alguém com a idade dela. E disse para sua mãe as verdades que eu queria ter dito, então pontos para ela.- minha tia disse. Torci o nariz.
-Então, vai me deixar sair ou...?- eu disse, tentando abrir a porta.
-Você vai pra casa.- ela disse, e pelo tom, não tinha espaço para discussões.
-Casa?!- disse, com uma risada sarcástica. -Minha casa é para o sul.
-Você vai pra minha casa. Porque a partir de hoje, vai morar comigo. Tenho sua guarda provisória.- ela disse tranquilamente. Senti como se todo o ar sumisse dos meus pulmões. -Antes que você reclame de algo, vamos conversar, Aiko.
Tudo bem, eu precisava me acalmar. Precisava...
Tentei correr assim que ela parou o caro, mas claro que Yuna tinha que estar ali e claro que ela ia ajudar minha tia a me arrastar para dentro de casa. Elas me levaram até o quarto de hóspedes, onde eu sempre dormia quando ia para casa da minha tia. A diferença é que... Dessa vez, tinham grades na janela. Senti Yuna arrancando o meu celular do bolso e me virei, o coração na garganta. Mas a porta bateu bem na minha cara.
-Ei, que merda?!- gritei, chutando a porta com força. -Me soltem!
-Sinto muito, querida. Você está transtornada, Aiko. E eu entendo, entendo que tenha passado por muita merda e tenha ficado sozinha. Mas você não está mais sozinha. E eu vou cuidar de você.- minha tia disse. Meus olhos estavam cheios de lágrimas, e eu estava tendo um ataque de pânico.
-Então me deixa sair!- eu chorei.
-Você vai me agradecer amanhã, ou depois de amanhã, por isso. - minha tia disse. -Você vai gostar da França, Aiko.
-Quê?!
-Vamos nos mudar pra França amanhã, nós duas. E você finalmente vai poder se curar.
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