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Minha vida era uma merda. Geralmente as pessoas acham que quando adolescentes falam esse tipo de coisa, estão fazendo drama. Isso é porque não me conhecem e não sabem o quão fodida eu sou. E nem por todos os tipo de coisas de bosta eu já tive que passar. Deve ser legal ter uma família que preste, que se importe com você. Uma casa para morar. Comida todo dia, nossa, deve ser incrível. Não posso dizer que sei ou que me lembro do que é ter tudo isso. Porque, vamos aos fatos.
Número um, minha família é um lixo. Se minha irmã me visse agora, ela passaria reto e fingiria que não me conhecê. Se eu visse minha mãe agora, capaz de eu parar novamente no reformatório, porque, ah, sim, eu ia agredir ela! Meu pai? Meu pai está morto, e o meu padrasto tentou abusar de mim quando eu tinha doze anos, o motivo pelo qual, após tentar matar ele (e falhar até mesmo nisso), eu fui parar no reformatório.
Número dois, eu moro na rua. Sério mesmo, eu vivo aqui nesse verdadeiro inferno, tendo como amiga uma faca que uso para ameaçar os putos que vem cheios de gracinha para cima de mim. Claro, tem abrigos onde eu vou para comer e dormir, mas geralmente as pessoas tentam chamar o conselho tutelar para me enfiar em um lar de adoção. E, bem, não, obrigada, isso é tudo o que menos preciso. Ou eles acabariam me enviando para casa da minha tia e, por mais que eu a ame e ela seja fantástica, eu não quero arrastar ela para todo esse problema fodido que eu sou.
E, por último, número três, eu não tenho amigos. Bem, pelo menos não amigos que prestem. O único que eu tenho me conheceu para me propor coisas meio ilegais, mas quem se importa, certo? Eu já tinha parado de me importar há muito tempo com o que acontecia ou deixava de acontecer comigo. Quando diziam que o reformatório mudava as pessoas, era verdade. Não era uma questão de escolha, você precisava mudar se queria continuar viva ali. Ou você ficava forte ou caía nas graças de alguém forte para te proteger. E, como sou sortuda para caralho, tive que aprender, na marra, a ser forte. Eu tenho uma cicatriz na sobrancelha que ganhei em uma das minhas inúmeras brigas no reformatório.
Eu entrei naquele inferno sendo uma pessoa e saí sendo um mini demônio. Era assim que muitos me chamavam pelas ruas. Bem, eu tinha ganhado uma fama, afinal. Os apelidos mais comuns eram "o demônio de cabelo azul" e "o demônio com a tatuagem de cobra no pescoço". Nem a capacidade de me chamarem pela merda do nome os putos tinham. Deve ser o medo, isso sim. Porque se tem uma coisa que a maioria dos homens daquele submundo eram, é um bando de cagão.
No fim das contas, eu teria vendido minha alma para ter um lar que prestasse. Que valesse a pena lutar por. As vezes eu me sentia tão vazia que não entendia qual o motivo de eu ainda lutar tanto. Pelo que eu lutava? Certamente não era por mim mesma. E eu não tinha mais ninguém, então, porque eu ainda não tinha desistido?
Estava pensando exatamente nisso enquanto socava com força um pirralho maldito que tinha tentado agarrar uma garota a força no meu território. A menina, sabiamente, saiu correndo. E eu descontei toda minha raiva do dia naquele infeliz. O rosto dele estava tão ensaguetado que, se um dia ele tinha sido bonito, não era mais. Eu tenho certeza que quebrei o nariz dele em três pontos diferentes. Não é como se o putinho não merecesse! Posso ser uma vaca podre e maldita, mas nunca vou aceitar alguém desrespeitando uma mulher na minha frente e ficar suave.
Eu larguei a camiseta dele e o garoto caiu como merda no chão. Estava completamente apagado, mas estava respirando. O que era bom, porque, honestamente, eu não tinha interesse nenhum em voltar para o reformatório. Limpei minhas mãos cheias de sangue na camiseta e me virei. Apenas para encontrar Hanma com um sorriso no rosto, escorado na parede de tijolos.
-Poxa, Aiko, você sempre se diverte sem mim.- ele disse com uma voz divertida. Revirei os olhos, passando por ele, bem ciente que Hanma estava logo atrás de mim, como um cachorrinho.
-Que você quer?- perguntei enquanto colocava minha jaqueta. Estava começando a escurecer e sempre ficava meio frio quando estava de noite. O que ajudava a esquentar? Socar pessoas. Mas eu já tinha socado gente demais hoje.
-Sabe como a vida andam entediante, ne, Aiko?- ele disse e dessa vez me virei para olhar Hanma. Ele sempre, sempre estava se envolvendo em merda. Tipo, eu também me envolvia em merda, mas ele parecia buscar por ela. Gostar dela. Eu nunca ia entender isso em Hanma.
-O que você quer dizer com isso, Shuji?- questionei, mas ele deu de ombros.
-Conheci um cara. Gostei dele. Ele parece que vai deixar as coisas bem interessantes daqui para frente.- Hanma disse. Eu arqueei a sobrancelha.
-E o que eu tenho haver com isso?- eu falei meio estupidamente. Hanma deu risada.
-Aiko, você sabe que não faço nada sem minha demôniozinha comigo.- ele disse dando um tapinha na minha cabeça. Segurei a mão dele com força, os olhos faiscando de raiva. -Venha conhecer ele.
-Porque?- eu disse cruzando os braços.
-Porque vamos nos divertir muito, nós três juntos. - ele cantarolou. -Um dia vamos ser mais que isso que somos agora, Aiko.
-Quem é essa cara?- eu perguntei. Hanma tinha esse problema de caçar briga e se envolver em merdas sem nem saber onde estava se metendo. Era revoltante.
-Kisaki Tetta. Vem comigo. Vai entender melhor quando falar com ele. Ah, vamos, pare com essa cara. Até mesmo você vai gostar da diversão.
E então, eu o segui. Porque, se fosse mesmo ser honesta, a amizade de Hanma era o único motivo para eu ainda estar lutando. Mesmo que, no fundo, eu soubesse que não valia tanto a pena assim.
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