Tudo bem, as coisas estavam bem. Eu conseguia enxergar isso nas feições doces de Mitsuya, seus olhos deixavam isso bem claro quando me fitavam daquele jeito que fazia meu corpo se arrepiar. As coisas estavam bem, mas não consigo parar de pensar que, ao mesmo tempo que as coisas estão bem, elas também não estão. E eu não podia culpar Mitsuya.

Ele me viu ao lado do arrombado do caralho que simplesmente fodia diariamente a vida do garoto e da garota que considerava seus irmãos. Ele escutou Taiju me chamar de sua nova putinha. Sinceramente, eu não queria saber o que havia se passado em sua cabeça naquele momento.

Mitsuya havia me garantido que estava bem, mas eu não conseguia sentir que tudo estava bem, mesmo estando ao seu lado, observando nossas respectivas irmãs correrem pelo parque, presas em uma brincadeira que elas mesmas criaram.

Era uma noite de sábado tranquila. Certo que, no início da manhã, meus planos para aquele dia era ficar deitada na cama junto de Angeli, apenas esperando Aiko chegar do tal jantar com sua família que não hesitei em falar que ela não deveria ir e que daria alguma merda. Mas, em algum momento, Mitsuya me mandou uma mensagem para que eu fosse encontrá-lo ali com Angeli. Quando cheguei no pequeno parque no início da noite, não sei como mas fiquei levemente surpresa ao vê-lo na companhia de Luna e Mana.

─ Está pensando demais, Dean.─ Pisquei meus olhos, tomando cuidado para não me desequilibrar e acabar cair do trepa-trepa em que estávamos sentados.

─ Eu sei, é só que...─ Soltei um suspiro, erguendo minha cabeça para fitar o céu estrelado, agarrando as barras de ferro do brinquedo.─ Está tudo bem mesmo?

Mitsuya riu, e esbarrou seu ombro no meu de forma tão leve que quase não senti.

─ É a décima vez que me pergunta isso e é a décima vez que eu respondo que sim, está tudo bem, Sam Dean.─ Franzi o nariz e agarrei um de seus ombros, balançando-o levemente fazendo com que ele risse mais uma vez.

─ Não me chame de "Sam Dean", parece que está brigando comigo!─ Disse a ele que pareceu revirar os olhos de forma brincalhona antes de agarrar minha mão e lentamente entrelaçar nossos dedos, virando nossas palmas para que pudesse depositar um beijo nas costas da minha mão.

─ Eu deveria estar mesmo brigando com você, já disse que está tudo bem mas você continua perguntando.─ Ele sorriu enquanto eu suspirava, tombando minha cabeça o lado deixando com que ela se encostasse no ombro de Mitsuya.─ Pode achar que não, mas entendo, Sam. Eu entendo que você está presa, entendo e sei muito bem disso. E não vou deixar você por causa disso então pare de tentar achar problema nisso tudo.

Revirei os olhos com seu tom e soltei um suspiro ao senti-lo beijar meus cabelos, rodeando meus ombros com um de seus braços.

─ Você é bom demais, Mitsuya.─ Murmurei.

─ Você se preocupa demais, Sam.─ Ele murmurou em resposta. Pisquei meus olhos e sorri, meus olhos presos em Angeli que ria, abraçada a Mana e parecendo tentando afastá-la de Luna que também sorria.─ E eu já pedi pra você me chamar de Takashi.

Estava bem perto de retrucar quando meus olhos captaram fios esverdeados que eu conhecia muito bem e pertenciam a uma garota que parecia correr sem rumo para algum lugar.

Aiko...

Quase caí do trepa-trepa enquanto descia dele com rapidez, Mitsuya franziu o cenho, me observando se afastar dele com desespero.

─ Sam? O que está acontecendo?

Eu não o respondi, apenas saltei para o chão de terra, chamando por Angeli que rapidamente se juntou a mim. Estava prestes a ir embora sem explicar nada quando o garoto segurou meu ombro com delicadeza.

─ O que rolou?─ Olhei na direção que minha irmã havia ido após um provável jantar de merda e suspirei. Tudo bem, eu podia contar com Mitsuya. Ele era meu... Ainda não sei mas pelo menos estávamos juntos, não é?

─ Acho que vi a Aiko.─ O garoto franziu o cenho e lançou um olhar para as suas irmãs que já se aproximavam, confusas com o que estava acontecendo.

─ Ela não foi jantar com a família dela?─ Perguntou, seu tom parecia levemente preocupado.

─ E esse é o problema.

Mitsuya suspirou. Mana e Luna seguraram as mãos dele após verem Angeli segurar a minha mão.

─ Tudo bem, vamos lá.

Não deixei de sorrir para ele de um jeito nervoso enquanto pegava Angeli em meus braços, praticamente correndo na mesma direção que Aiko foi com a consciência que Mitsuya e suas irmãzinhas estariam nos seguindo.

Buscando por Aiko pelas ruas, consegui me perder uma ou três vezes e em todas essas vezes, toda vez que estava perto de entrar em desespero, quem me ajudou a manter a calma foi Mitsuya que apenas tocava meu ombro e me encarava com aqueles olhos lavanda.

No final, consegui encontrar aquela imbecil que chamava de irmã e seus cabelos ridículos. Ela estava em uma ponte, fitando as águas do córrego, inclinada um pouco demais sobre o corrimão da ponte. Ah, aquela merda denovo não!

─ Aiko!─ Gritei, conseguindo assustá-la que rapidamente se afastou do corrimão e me olhou, surpresa. Seu cenho se franziu, assim que ela notou Mitsuya atrás de mim.─ O que aconteceu, sua imbecil?

Ela piscou os olhos, e os revirou.

─ Ako!─ Exclamou Angeli, esticando os bracinhos para Aiko que não pensou duas vezes em pegar a criança nos braços, pressionando os lábios contra a bochecha da menina que riu.

─ O de sempre. Família de merda.

─ Cadê a Dupla Maravilha?─ Perguntei, lançando um olhar para os dois lados da ponte. Se Aiko correu deles ou algo assim, eles iam atrás dela, não importando o que acontecesse. Baji e Chifuyu são dois imbecis, mas eles jamais deixariam Aiko sozinha, principalmente depois do que aconteceu no Halloween.

Minha irmã não me respondeu. E isso só queria dizer uma coisa, ela saiu correndo de qualquer merda de canto sem olhar para trás e saber se algum imbecil foi atrás dela.

─ Tá bom, então vamos para casa.─ Soltei.

─ Eu quero dormir e esquecer essa noite de merda.─ Resmungou Aiko e então, arregalou um pouco os olhos ao se dar conta do que acabou de falar na frente de três criança. Ela se virou para Mitsuya.─ Desculpa...

O garoto riu, balançando a cabeça levemente.

─ Tá tudo bem.─ Ele disse a ela, virando-se para mim.─ Eu vou levar vocês.

Aiko franziu o cenho, confusa. Ela trocou um olhar com Angeli que ainda estava sorridente.

─ Mitsuya, não precisa...

─ Você não vai para casa sozinha enquanto tiver comigo, lembra?─ Pisquei meus olhos para ele, o empurrei levemente antes de esticar meus braços para Mana que arregalou os olhos, claramente feliz ao me sentir pegá-la no colo.

─ Então, vamos logo, Takashi.

O garoto sorriu, se inclinando para beijar a ponta do meu nariz. Aiko parecia ter travado completamente naquele momento.

Em algum momento, na nossa caminhada até nossa casa, Aiko diminuiu a velocidade dos seus passos para poder caminhar ao meu lado. Mitsuya não demorou muito para notar que ela queria conversar comigo, sozinha.

─ Então, o que tá rolando entre você e o bonitão ali?