☪ .☆ ━━ NINETY SEVEN ━━ ☪ .☆
Chifuyu não disse nada quando entrou no quarto. Não disse nada quando sentou do meu lado, me olhando. E, mesmo que não tivesse dito nada, a presença dele já era o suficiente para me fazer chorar de novo. Eu me sentia péssima. Tudo o que eu mais queria é que esse dia nunca tivesse acontecido. Chifuyu esticou a mão para segurar a minha e me olhou, como se estivesse esperando por uma permissão. Mas eu apenas segurei a mão dele com força na minha. Pelo menos aquilo, para tentar apagar as marcas daquele dia de merda, daquela vida de merda.
Ele não falou nada, não me perguntou nada, nem mesmo tentou me consolar. E, sinceramente, eu agradecia por isso. Porque eu não queria falar; e ficava feliz por Chifuyu me conhecer bem o suficiente para saber disso. Ele apenas acariciou minha mão com calma enquanto eu fechei os olhos com força.
-Você pode ligar pra Juju pra mim?- foi a primeira coisa que eu disse, olhando para ele. Ele me olhou por um tempo, me analisando, antes de me responder.
-Eu acho que ela tá no corredor. - ele falou, se levantando, mas eu o segurei. Chifuyu me olhou. -Eu não vou te deixar sozinha.
Eu suspirei e soltei a mão dele enquanto Chifuyu saia por um instante para buscar pela minha amiga. Tinha milhares de coisas que eu queria perguntar para ela; mas, principalmente, queria agradecer Juju. Porque se ela não tivesse aparecido...
-Aiko?- no entanto, não era Juju que estava na porta agora. Mas sim minha irmã. Os olhos dela estavam vermelhos, e é claro que Sayuri esteve chorando esse tempo todo. Olhei para o teto, tentando me acalmar.
-Sayuri, agora não é um bom momento.- eu murmurei. Escutei ela fungar. -Se você veio aqui pra me culpar por mais uma merda, por favor, saía daqui.
-Não! Eu... Eu não faria isso!- ela disse, meio alto demais. Olhei para os olhos claros dela. E perdi completamente o controle que ainda tinha.
-Não? Não?- eu ri com sarcasmo, me levantando daquela cama. -Pelo amor de Deus, né, Sayuri! Como se essa fosse a porra da primeira vez que isso aconteceu comigo! E o que você fez da última vez? Porque não foi ficar do meu lado!
-E eu sinto muito por isso! Me arrependo pra caralho do que eu fiz, mas não posso mudar isso, porra! Mas estou aqui, tentando arrumar as coisas entre nós, porque eu te amo!- ela gritou. Eu apenas balancei a cabeça.
-Então desista, Sayuri. Porque não pode arrumar as coisas entre nós, entende? Eu não sou mais a irmã que você costumava conhecer, porra!- eu disse, irritada. -Eu não quero sequer fazer parte dessa família de merda! Minha vida pode até ser uma merda, mas é mil vezes melhor quando não estou perto de você nem da mamãe!
Eu soube que aquilo tinha acertado em cheio Sayuri no momento em que as palavras saltaram da minha boca. E, por mais que eu a amasse, não deixava de ser uma grande verdade. Mesmo que aquilo destruísse minha irmã, era a verdade; não tinha ela contribuido para que eu fosse assim agora? Quebrada, fodida e machucada. Profundamente machucada, tanto que as vezes não sabia se um dia eu teria conserto.
-Não diga isso.- ela falou, num sussurro, lágrimas escorrendo pelas bochechas. Eu suspirei.
-Apenas saía daqui, Sayuri. Eu realmente... Não quero olhar pra sua cara. - eu falei.
Ela estava abrindo a boca para dar uma resposta quando a porta abriu e Chifuyu voltou com Baji, Angeli e Juju.
-Puta merda, Sayuri, não te falei pra ficar na sua?- Chifuyu disse com irritação, parando entre mim e ela. Sayuri pareceu surpresa com a irritação de Chifuyu. -Saí.
-Chifuyu!- ela reclamou, perplexa.
-Estou falando sério, Sayuri. Em dois minutos você já consegue fazer Aiko ficar estressada, e ela já passou por merda demais hoje. Então saí, ou eu juro pra você que te chuto pra fora.- ele disse tão sério que fez minha irmã arfar. Ela olhou pra ele como se tivesse recebido um tapa na cara e saiu, batendo a porta atrás de si. Fechei os olhos com força e bufei.
-Ei.- escutei a voz de Juju e ela puxou de leve meu cabelo para chamar minha atenção. -Me chamou?
-Obrigada.- eu disse a olhando. Juju suspirou.
-Deixa disso, Aiko.- ela disse seriamente. -Estava preocupada pra caralho com você, mas sua mãe veio surtando pra cima de mim me chamando de trombadinha e os caralhos todos e blá blá blá.
-Ela é uma puta desgraçada, não deveria sequer escutar as merdas que saem da boca dela.- eu disse com irritação. -Juju?
-Hum?- ela disse me olhando. Torci o nariz, me lembrando de algo. Óbvio que eu estava doida para arrumar um assunto e fugir do que tinha acontecido mais cedo, por isso soltei:
-Você trabalha pra traficantes e seu pai é da polícia?
Ela torceu o nariz e vi Chifuyu e Baji trocarem um olhar perplexo. Juju suspirou, sentando ao meu lado na cama e se jogando para trás.
-Sabe como é, eu gosto de viver perigosamente. É por isso que ele estava comigo, ele achou que eu tava fazendo merda e me seguiu. Estava brigando com ele quando te escutei gritar.- ela falou. De repente foi como se todo o ar da sala tivesse sido sugado. Ficamos em silêncio por um bom, bom tempo. -Olha, Aiko, meu pai me fez jurar não falar nada, mas preciso te contar algo.
Apenas encarei minha amiga e, pela forma como ela me olhava, sabia que era merda; sabia que tinha alguma merda rolando e, independente do que fosse sair da boca dela, eu não ia gostar nem um pouco.
-O que aconteceu?- perguntei. Juju esfregou o rosto com força.
-Meu pai quer chamar o conselho tutelar. Claro, depois do que aconteceu, ele puxou sua ficha no sistema e descobriu que você foi presa por tentar matar o arrombado do seu padrasto. E ele não é burro, sabe? Ele juntou as peças, percebeu que sua mãe mentiu pra livrar o desgraçado e descobriu que você não tá matriculada em nenhuma escola de Tokyo. Então, claro, ele percebeu que tem algo errado. Ele tá vindo aqui pra dar um jeito na sua situação.
Puta que pariu! Mas que merda do caralho! Se alguém chamasse o conselho tutelar, eu tô bem mais que fodida! Porque de duas a uma: ou vou pra porra de um lar adotivo, ou vou ter que morar com alguém da minha família já que claramente não vão me deixar morar com minha mãe (e graças a Deus). Mas eu não posso e nem quero ir pra nenhum desses lugares! Comecei a me desesperar;
-Preciso dar o fora daqui, tipo, agora.- eu falei, começando a vasculhar a gaveta onde tinham jogado minhas roupas. -Me dá sua jaqueta, Juju.
Ela nem protestou antes de jogar pra mim. Corri para o banheiro, batendo a porta atrás de mim e trocando de roupa o mais rapido que conseguia, minhas mãos tremendo. Quando saí, Baji tinha desaparecido e eu franzi o cenho para Chifuyu que estava segurando Angeli no colo.
-Ele foi ligar a moto, porque você vai ter que correr. Consegue correr, né?- ele perguntou e eu assenti. -Que bom.
-Cadê a Sam?- eu perguntei, atônita.
-Ela teve que sair.- ele disse e aquilo só me fez ficar ainda mais desesperada. Porra! Tinha como esse dia piorar?
-Tá, a gente acha ela quando sairmos dessa porra de lugar do caralho!- eu disse, começando a me desesperar.
-Ei.- Chifuyu disse, colocando a mão com delicadeza no meu ombro. Tentei não me encolher com aquilo, tentei apagar as lembranças do que tinha acontecido mais cedo; porque lembrar daquilo agora não ia adiantar nada. Apenas olhei para os olhos do meu namorado, e, por algum motivo, aquilo já era o suficiente para me deixar um pouco mais calma. -A gente vai sair dessa. Você precisa se acalmar, Aiko.
-Tá bom. - murmurei. -Juju, se alguém tentar me seguir...
-Relaxa, eu dou um jeitinho.- ela cantarolou. -Você deveria ir indo também, Chifuyu. A gente dá um jeito de sair daqui. Não é como se nunca tivéssemos feito merda e fugido juntas antes.
Chifuyu torceu o nariz e balançou a cabeça, mas estava sorrindo. Ele me olhou apenas uma vez antes de sair. Respirei fundo.
-Vamos esperar um pouco. Ai a gente conta até dez, manda sua família se foder, e saí correndo, que tal?- Juju disse, rindo. Eu dei um sorriso para ela.
-Parece perfeito.
Quando Juju abriu a porta, nem mesmo pensei duas vezes antes de correr. Pelo menos a saída daquela merda não era longe e eu corria rápido o suficiente. Mas não o suficiente para ficar invisível nos olhos da minha família, porque escutei minha mãe gritar.
-Onde pensa que está indo, Aiko Tanaka?- ela gritou, logo atrás de mim. É sério essa porra? Ela realmente...
Parei de correr; me virei lentamente para encarar a mulher que me colocou no mundo. Um olhar tão mortal que a fez travar e arregalou os olhos.
-Não te interessa. E você pode ir se foder e ir pra puta que pariu!- eu gritei, em alto e bom som. Ela arregalou ainda mais os olhos vermelhos de tanto chorar; e não por minha causa. Levantei os braços, mostrando o dedo do meio pra ela. -Sua merda do caralho!
-Aiko!- ela gritou comigo, mas eu já estava correndo de novo.
Tinha pelo menos dois guardas bem atrás de mim quando consegui, finalmente, chegar ao lado de fora. E, graças a tudo o que era mais sagrado, Baji já estava ali. Praticamente pulei em cima da moto e ele arrancou com tudo. E, mesmo quando já estavamos longe... Meu coração não parava de bater na garganta; e, sinceramente... Eu não sabia quando isso pararia.
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