☪ .☆ ━━ NINETY ONE ━━ ☪ .☆
Tudo bem, as coisas estavam meio confusas ultimamente. Apesar de Kisaki estar estranhamente quieto e na dele, agora apareceu um novo arrombado na área pra me fazer querer morrer de tanta raiva, e esse arrombado é Taiju Shiba. Não nego que fiquei tentada a cobrar alguns favores para mandar mata-lo. Principalmente porque era uma merda saber que Sam estava nas mãos dele e da Dragões Negros. Uma bela de uma merda do caralho! Mas não tinha muito que eu pudesse fazer, não sem cometer um crime, e Sam jamais aceitaria isso. Ela provavelmente me esfolaria viva se eu surtasse novamente como tinha surtado no dia que achei que Baji havia morrido.
Era sábado e eu estava de folga. Mas isso não significava que o dia seria lindo e incrível, porque eu tinha algo para fazer, algo que me fez ficar a tarde toda olhando para parede me perguntado se era mesmo uma boa ideia. Sam tinha deixado bem claro o quanto ela odiava aquilo e que eu deveria simplesmente mandar minha irmã tomar no cú e não ir. No fundo, sabia que Sam estava certa. Mas, ainda assim...
Era aniversário de Sayuri. E fazia tantos anos que eu não comemorava aquela data com minha irmã, achando que ela me odiasse. E talvez ela tivesse me odiado por um tempo; mas Sayuri implorou, literalmente de joelhos, para que eu fosse no aniversário dela. O que me colocava numa puta situação merda, porque eu não queria ir até aquela casa nunca mais. Mas Sayuri era minha irmã e, mesmo que ela não merecesse que eu me importasse, eu a amava. E as vezes a gente tende a fazer uns sacrifícios idiotas por quem ama.
Puta merda, Sam tem mesmo razão. Minha lealdade é uma porra mesmo. Deve ser por isso que só me fodi a vida inteira! E só pra completar, arranjo um namorado que consegue ser pior do que eu nesse quesito.
E ainda tinha o fato de eu ser problemática pra caralho. Isso não da pra negar, é meio nítido as marcas fodidas que ficaram no meu psicológico depois de tudo o que aconteceu desde que fui parar no reformatório; as vezes, eu ainda tenho medo de mim mesma, dos pensamentos na minha mente. Talvez eu precise de uma boa dose de terapia. Quem sabe não arrasto Kazutora junto comigo.
-Você ficou o dia todo quieta.- Chifuyu disse, se virando para me olhar, ignorando completamente Baji reclamando que não estávamos prestando atenção no jogo. -Está tudo bem?
Bem, não estava. Não estava porque eu não conseguia pensar em outra coisa que não no quão merda aquele dia do caralho ia ser.
Apenas resmunguei, encostando a testa no ombro dele e fechando meus olhos. Chifuyu levou uma mão até meu cabelo, acariciando de leve e eu suspirei.
-Eu realmente vou ter que ficar vendo vocês dois de boiolagem?- Keisuke reclamou mas apenas estiquei o braço para mostrar a ele o dedo do meio.
-Cala boca, Baji.- eu reclamei. -Você só tá com inveja.
-Cala boca, sua retardada. - ele falou e me deu um chute nas costas, me fazendo cair em cima de Chifuyu, que caiu no tapete.
Tentei me levantar para socar a cara do imbecil do caralho, mas Chifuyu me puxou de volta, me mantendo ali, deitada em cima dele. Eu bufei e resmunguei, mas não protestei mais. Baji começou com as reclamações dele.
-Não quero ir hoje.- eu falei e os dois ficaram terrivelmente quietos. -Não quero ter que olhar aquela mulher do caralho.
-A gente não precisa ir. - Baji disse e eu fiz uma careta.
-Se você não for, a Sayuri vai literalmente morrer.- eu falei, me livrando de Chifuyu e o encarando. -E mesmo que ela tenha sido uma puta babaca comigo, é minha irmã. Ela tinha dez anos quando eu fui presa. Então eu sei que naquela época pra ela tudo foi meio merda e confuso e ter minha mãe falando que eu era uma otária louca não deve ter ajudado em nada.
-Sua mãe é uma bela filha da puta.- Baji soltou.
-Baji!- Chifuyu censurou e o garoto deu de ombros.
-O que? Ela é mesmo. Quem faz isso com a própria filha? - ele disse e eu suspirei. Senti a mão de Chifuyu na minha e me virei para olhar ele.
-Você não precisa ir se não quiser, Aiko. Sayuri não tem o direito de ficar brava com isso. - ele falou seriamente e eu apenas dei de ombros, deitando a cabeça no ombro dele.
-Eu vou ir. Ficar cinco minutos naquele inferno e ir embora. Acho que isso é o suficiente.- eu murmurei.
-Acho que cinco minutos é tempo o suficiente pra rolar merda. - Baji comentou. Torci o nariz.
E que boca maldita.
Estar naquela casa de novo não era, de forma alguma, legal. Era muito, muito estranho, e eu já estava me sentindo deslocada naquele lugar do cacete. O único ponto positivo é ter os dois idiotas junto comigo enquanto estava naquela porra do caralho. Aquela casa continuava a mesma merda de antes; mas eu já não era a mesma. E definitivamente não pertencia a aquele lugar.
-Oh, vocês todos chegaram juntos.- minha mãe disse, tentando e falhando em dar um sorriso. -Meninos, essa é minha filha mais velha, a Aiko.
-Você é doida, né?- eu falei e recebi uma cotovelava na costela de Chifuyu. Minha mãe me olhou, confusa. -Eu já conheço eles, cacete.
-Ah, sim. Eles são amigos da Sayuri. - ela disse, franzindo o cenho pra mim. É sério?
-Na verdade, não é isso não.- Baji disse fazendo uma careta. -Aiko é namorada do Chifuyu. E também minha melhor amiga.
Minha mãe pareceu até parar de respirar, como se tivesse acabado de escutar a pior merda da vida dela. Já fechei a cara na hora, querendo voar no pescoço dela, sinceramente.
-Achei que você e Sayuri fossem acabar namorando. - ela soltou, olhando Chifuyu. Isso é sério mesmo? -Vocês seriam um casal fofo.
-Mas que p...- eu comecei, mas Chifuyu segurou minha mão com força.
-Pode até ser, mas a única pessoa que eu amo é a Aiko.- ele disse, dando de ombros. A puta da minha mãe nem fez questão de esconder quando torceu o nariz em desgosto. Eu queria tanto meter um socão nela.
-Certo. Vocês podem subir. Sayuri tá lá em cima, com a Yuna e a namorada da Yuna. - ela disse fazendo uma careta. A olhei e pisquei os olhos.
-Como assim? Quando a Yuna voltou para o Japão? - perguntei. Puta merda, fazia uns cinco anos que eu não via minha prima. E que belo dia pra encontrar com ela!
-Faz um tempo.- ela disse me encarando. -Se você estivesse em casa, saberia.
-Se você não fosse uma vaca, eu estaria em casa.- disse automaticamente. Eu poderia ficar discutindo aquilo, mas não tinha vindo nessa merda de casa pra discutir com minha mãe.
Talvez tenha sido por isso que fiz meu caminho até o andar de cima, mesmo que minhas pernas tremessem um pouco. Eu queria vomitar; estar ali era um inferno. Sinceramente, eu preferia estar em um passeio com Kisaki e Hanma do que estar ali naquele lugar, onde não tinha memórias boas.
-Se quiser ir embora, a gente vai embora.- Chifuyu disse, me olhando. Apenas suspirei, caminhando até onde costumava ser o quarto de Sayuri. E, bem, eu acertei em cheio: continuava a mesma bosta de antes, tirando o fato que agora era ainda mais pink.
Não tive tempo nem de dizer algo antes de alguém pular em mim, me fazendo quase cair no chão.
-Filha da puta, onde você tava?- Yuna gritou, me apertando com força. Merda, tive que piscar os olhos para não chorar enquanto apertava minha prima dois anos mais velha de volta.
-Me fudendo é uma ótima resposta pra essa pergunta.- eu disse e recebi um beliscão em troca.
-Para de ser assim, garota!- ela reclamou e eu dei risada. -Achei que tava morta numa vala, sei lá!
-Eu tava presa, mas é quase a mesma merda.- falei quando ela se afastou para olhar meu rosto com atenção. Encarei os olhos castanhos de Yuna, o cabelo loiro dela caindo no rosto.
-Sabe, é engraçado porque descobri hoje que você tava presa, e pela Sayuri.- ela disse e eu franzi o cenho. Mas que merda? -Sua mãe disse pra todo mundo da família que te mandou pra estudar em outro país. O que me deixou puta porque nem notícia você mandava. Mas isso faz mais sentido.
-Ela também deve ter esquecido de contar que fui presa por que ela preferiu defender um abusador do caralho e depois me deixou ir morar na rua pra morrer. - eu disse com sarcasmo e sabia que Yuna estava começando a se irritar com aquilo. Conhecia bem minha prima; ela era igual a mim, explosiva e inconsequente.
-Não falem disso hoje.- escutei Sayuri falando, atrás de nós. Yuna revirou os olhos e segurou minha mão, me arrastando para o quarto de Sayuri.
-Quero te apresentar alguém. - ela cantarolou, nem mesmo deixando Sayuri chegar perto de mim. Tinha outra garota ali e... Ai meu Deu! -Aiko, essa é minha namorada.
-Quê?!- eu praticamente gritei, arregalando os olhos. Minha prima me olhou torto.
-Quê o que? Vai me dizer que tem problema com isso? - Yuna reclamou. Me virei e torci o nariz.
-Não é isso!- eu disse e apontei pra idiota na minha frente. -É que essa imbecil do caralho da sua namorada é...
-Aiko!- Juju gritou, se jogando nos meus braços. Fiz cara feia. Estava ciente de todos os outros idiotas nos olhando, confusos. Ai meu Deus, eu mereço. Tentei afastar ela, mas Juju estava me apertando com força.
-Me larga, Juju!- reclamei. -Tá apertando minha costela.
-Chata pra cacete, né?- ela disse, rindo, e se afastou.
-Caramba, Aiko, você conhecê todo mundo?- escutei Baji dizer e o fuzilei como olhar.
-Como vocês se conhecem?- Yuna perguntou, confusa. Torci o nariz quando vi Juju sorrir.
-Cala boca, Juju. - avisei, mas claro que ela já estava falando.
-Lembra da doida com sede assassina que protegia meu traseiro no reformatório que te falei? - Juju perguntou. -Minha ex que me trocou por macho?
-Mas que porra, Juju, isso não é verdade, sua retardada do caralho.- falei com irritação. Juju sorriu.
-É a Aiko!
Pelo amor de Deus. Yuna me olhou perplexa e Juju estava rindo como se aquilo fosse muito engraçado e não uma tragédia.
-Você é uma puta desgraçada. - reclamei. -E uma má influência.
-Admite logo que eu faço a sua vida mil vezes melhor.- ela disse sorrindo com malícia. Mostrei o dedo do meio pra ela. -Sabia que eu tirei o BVL da Aiko?
-Porque você é assim?- falei dando um tapão na testa dela. -Para de falar essas merdas na frente do meu namorado.
-Seu namorado, é? Qual dos dois idiotas ali?- ela perguntou encarando Baji e Chifuyu que nos olhavam confusos pra caralho porque são dois idiotas, bem ao lado de Sayuri. -Te conhecendo bem deve ser o loiro, o outro tem cara de imbecil.
-Os dois são. - retruquei. Baji fez a maior carona feia. -Mas você tá certa.
-Você é previsível.- ela disse. Enfiei o cotovelo na costela dela.
-E você tá doida pra entrar na minha família, né? - provoquei e ela riu.
-Só pra ficar com você, gata.- ela disse dando um tapinha na minha bochecha. Yuna revirou os olhos.
-É bem estranho pensar que você é a ex da Juju porque do jeito que ela fala parece que a ex dela é uma puta surtada.- Yuna comentou ganhando minha atenção. Revirei os olhos.
-Ela é uma puta surtada, emocionada do caralho. - Baji disse. Mostrei o dedo do meio pra ele.
-Babaca do caralho. - reclamei.
-Aiko.- Sayuri me chamou e eu a olhei. Torci o nariz quando ela me arrastou pra fora do quarto.
-Pra onde a gente tá indo?- eu perguntei, mas parei de falar quando paramos na porta de um quarto. Um quarto que conhecia bem. -Que merda, Sayuri?
-É seu quarto! Não quer entrar?
-Porque eu ia querer?- perguntei, soltando minha mão da dela. -Esse lugar não é mais minha casa. E vocês não são mais minha família!
-Isso não é verdade.- ela disse baixinho. -A gente te quer aqui de volta!
-A gente quem, Sayuri? Só você, né? Porque a imbecil da nossa mãe simplesmente esquece que sou tão filha dela quanto você. - eu disse, irritada. -Vocês basicamente me chutaram pra fora. Sinceramente? Sam tinha razão, vir aqui foi a merda de um erro.
-Ah, claro que você tinha que trazer sua amiga pra conversa.- ela disse fazendo cara feia. -Claro que ela não queria que você viesse.
-Ela não é minha amiga, é minha irmã. - falei apontando o dedo pra cara dela. -Minha família. A única que viu quem eu era e não fugiu. Então, não fale sobre Sam, Sayuri. E, sim. Vir aqui foi um erro. Porque essa casa, a mamãe e até você... São só uma lembrança constante de quem eu costumava ser e não sou mais. Porque estou fodida psicologicamente e, querendo ou não, tudo começou aqui nessa merda!
-Aiko...
-Estou indo embora.- falei, me virando e começando a descer as escadas. Ignorando Sayuri me chamando.
Estava na porta quando escutei uma voz me chamar, tão irritada que me fez virar no pulo e desespero. Ai, que merda.
-Onde você pensa que vai sem me dizer oi?- minha tia disse, me encarando. Depois de quase quatro anos, ela finalmente tinha me achado. O que só me fazia querer chorar e, ao mesmo tempo, fugir.
E foi meio isso que eu fiz, ignorando os protestos que vieram quando corri pra fora e desapareci bem, bem rápido. Porque eu sabia que, no momento que minha tia começasse a falar comigo, eu iria chorar que nem uma criança. Porque eu sabia que ela era a única que me amaria independente do que eu fizesse. E sabia que talvez eu fosse ficar ali, com ela. E eu não estava nem um pouco pronta para enfrentar minha família disfuncional. E nem mesmo sabia se um dia eu estaria.
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