☪ .☆ ━━ NINE ━━ ☪ .☆
Eu não podia sequer acreditar que Kisaki estava fazendo aquilo. Ele estava mesmo ameaçando Sam? É sério? Qual é a desse pirralho maldito, afinal? Eu me virei para ele, preparada para uma discussão, mas senti Sam me chutar por debaixo da mesa. Troquei um olhar com ela, algo que Hanma não deixou passar despercebido. Sabia que mais tarde teria que aguentar questionamentos vindo desse débil mental. Kisaki se achava um grande gostoso, né? Como se ele fosse a porra do dono do mundo, o cara mais inteligente! Então porque ele não usava essa inteligência toda para fazer algo que prestava ao invés de ficar arranjando problemas por ai? E nos arrastando para as merdas dele, cacete?
-Relaxa, Tanaka. Não precisa ficar me olhando com essa cara de merda.- Kisaki disse se virando para me olhar com ar de deboche. Eu grunhi com irritação. -É apenas um aviso. O mesmo vale pra você, Aiko.
-Opa, opa. Ela não ia trair a gente. Né, Aiko?- Hanma disse me olhando e dando um sorriso. Fechei os punhos com força por baixo da mesa.
-Se eu quisesse fuder com vocês, eu já tinha feito isso. - eu disse com irritação. Kisaki deu risada.
-Ah, eu sei. Você é muito trouxa pra conseguir fazer isso. - Kisaki disse. Me virei para ele, preparada para o dar um soco na boca, mas Hanma se esticou e segurou meu braço. Kisaki sorriu. -O que eu disse? Você faz tudo o que ele quer.
-Teu cú.- eu disse e me levantei, irritada. -Saí da minha frente, quatro olhos.
-Vê se não volta muito tarde pra casa hoje. - Hanma cantarolou. Eu bufei com irritação e Sam me olhou, confusão e surpresa passando pelo rosto dela.
-Você não é minha mãe. - eu retruquei, empurrando Kisaki para que ele me deixasse passar.
Tinha acabado de sair de perto dele e estava esperando Sam quando escutei Kisaki dizer:
-Até porque sua mãe não te quer, né?
Porque eu ainda deixava as palavras desse imbecil do cacete me afetarem? Cerrei meu punho com força, sentindo toda minha mágoa e raiva chegar forte como um tsunami. Mas Sam segurou minha mão, um aviso silencioso de que não valia a pena. Apenas olhei para Kisaki e Hanma e sorri com deboche antes de dar o fora dali, com Sam ao meu lado.
Era impressionante o como Kisaki conseguia fazer meu pior lado surgir. E, por mais que eu tentasse me controlar, por mais que tentasse não dar a ele o que queria, Kisaki sempre conseguia dar um jeito de me fazer explodir. Era desgastante ficar fugindo daquilo, era desgastante fazer tudo o que aquele imbecil queria, era desgastante estar naquele buraco. As vezes eu me questionava se Hanma era mesmo meu amigo já que estava sempre me arrastando para essas merdas. Legal, ele queria diversão, problema dele! Mas me levar para esse buraco junto... Era de foder!
-Quer falar sobre o que acabou de acontecer?- Sam perguntou. Tinhamos ficado tão quietas depois que saímos de lá que eu até tinha me esquecido que Sam estava comigo. Tive que piscar os olhos com força para afastar minhas lágrimas de irritação, e coloquei as mãos no bolso da jaqueta. Olhei para o chão porque encarar Sam ia ser demais.
-Sinto muito por tudo o que aconteceu, Sam. Kisaki é um bosta, um otário do caralho. - eu disse com irritação. Sam, por outro lado, deu risada.
-Agora eu entendi o porque você o odeia.- ela comentou e eu me virei para ela, apenas para encontrar Sam olhando para o céu. -Também não gostei do tal de Hanma.
Eu fiz uma careta, algo que, claramente, não passou despercebido por Sam. Ela me olhou e arqueou a sobrancelha, esperando por uma resposta. Resposta para que, afinal? Merda, eu odiava o como Sam era inteligente. Claro que ela já devia ter sacado boa parte das coisas com apenas alguns minutos de conversa merda.
-Ele é seu namorado?- ela perguntou e eu engasguei com minha saliva, começando a tossir descontroladamente. Sam torceu o nariz e meu deu um tapa tão forte nas costas que fez eu me curvar.
-Credo, Sam! Saí fora, Deus que me livre namorar um débil mental. - eu disse dando risada. -Meu relacionamento com Hanma é... Complicado.
-Mas você gosta dele.- ela disse e não era bem uma pergunta. Eu podia ver o julgamento nos olhos dela! Merda, por onde eu começaria a explicar?
-Lembra que eu te contei que fui presa? - perguntei e ela assentiu. -Quando saí do reformatório, eu estava morando na rua. Eu arrumava brigas com outros garotos para conseguir arranjar o que comer, onde passar as noites. Um dia, enfrentei alguém mais forte que eu. O garoto tinha uma faca e ele... Enfim, ele me cortou aqui na barriga. - eu disse levantando um pouco a camiseta para ela ver a cicatriz. Sam arregalou um pouco os olhos. -E me deixou sangrando em um beco para morrer. Hanma, ele... Salvou minha vida naquela noite. Desde então, eu não saí do lado dele.
Sam ficou em silêncio por um bom, bom tempo. Ela me olhou, depois olhou para o céu, quase como se estivesse se decidindo se ia ou não se meter naquele assunto. No fim das contas, ela decidiu se meter.
-Eu entendo você ser grata a ele por ter salvo sua vida, Aiko. Mas não acha que ser leal até a morte já não é um pouco demais?- Sam perguntou e eu torci o nariz. -Seja sincera. Porque você faz tudo o que o Kisaki quer?
-Eu não tenho escolha, Sam!- protestei. Ela balançou a cabeça. Sam sabia que era mentira. -Está bem. Eu faço porque Hanma nos enfiou nessa enrascada, porque ele queria uma diversão e achou que Kisaki ia proporcionar muito disso! Eu faço porque eu amo meu amigo e não quero que ele afunde na merda.
-E ai você vai se afundar junto dele? Porque é isso que está acontecendo. - Sam disse e eu fiz uma careta. Abri a boca para protestar, mas ela me cortou. -Ele não é seu amigo. Quer dizer, não vou julgar o que ele sente ou não por você, mas ele não age como um bom amigo. Se ele vê o quão infeliz você está nessa história, que você só faz por causa dele, e não muda, então ele não te merece.
O pior de tudo era admitir que Sam estava coberta de razão. Abaixei a cabeça e fiquei em silêncio. Senti Sam entrelaçar o braço no meu e deitar a cabeça no meu ombro.
-Você merece mais. - ela disse. -Mas não se preocupe, Aiko. Vou tirar a gente dessa.
Eu sorri; e, pode parecer idiota e precipitado, mas Sam já fazia parte da minha vida. E também do meu coração.
Trabalhar era uma bela de uma merda, mas pelo menos naquele dia eu só trabalhava no período da tarde, o que deixava a noite livre para eu fazer todas as merdas que quisesse. Ainda assim, o mercado estava vazio e eu estava entediada. Era um saco usar camiseta de gola alta porque eles não queriam que minha tatuagem ficasse aparente e era um saco ter que jogar o cabelo para o lado só para poder esconder o lado raspado. Tudo bem, eu sei que só faltava uma placa escrito "delinquente" pendurada no meu pescoço, mas ter que mudar quem eu era só para poder trabalhar era demais, né?
Eu estava com o cotovelo apoiado no caixa e a cabeça deitada na mão, a verdadeira imagem de tédio. Eu só queria ir embora dali, comprar skittles e evitar voltar para casa antes das duas da manhã porque sabia que Hanma estava com Kisaki e eu não queria ficar perto do maldito otário.
Estava tão perdida em pensamentos que me assustei quando colocaram algumas embalagens de peyang yakisoba na minha frente para que eu passasse.
-Desculpa, estava distraída.- eu falei levantando a cabeça para olhar a pessoa. Apenas para dar de cara com aquele garoto loiro. Chifuyu Matsuno. Ele estava me analisando, mas eu rapidamente desviei o olhar e comecei a passar aquelas embalagens.
-Ei. Você não é a garota da encrenca de mais cedo?- ele perguntou e eu torci meu nariz. -Aiko.
-Como sabe meu nome?- perguntei meio horrorizada. Ele deu risada e apontou para o crachá preso a minha roupa. Ah. É. Tinha esquecido disso. E agora me sinto uma grande imbecil.
-Não sabia que trabalhava aqui. - ele disse.
-Eu geralmente fico de manhã ou de noite. Raramente de tarde.- eu comentei. Porra, porque eu estava falando demais? Merda.
Agora que não tinha toda aquela confusão e euforia por ter encontrado dois membros da Toman, conseguia analisar melhor aquele garoto. Ele era bem bonito, se eu fosse ser sincera. O cabelo loiro que caía nos olhos verdes e o sorriso dele era fofo. Droga, porque eu estava admirando a beleza alheia? Foco, Aiko. Ele é da Toman, então é seu inimigo. Mas eu não estava exatamente na Moebius hoje, né? Então talvez ele não fosse meu inimigo naquele momento. E porque caralhos estou pensando nisso? Droga!
-Eu gosto mais do seu cabelo quando dá pra ver o lado raspado. Você fica mais bonita. - ele disse e eu senti minhas bochechas esquentarem. Ele também ficou vermelho, o que me fez rir.
-Obrigada. - eu disse meio sem graça. Não estava acostumada com elogios. Geralmente as pessoas me olhavam torto e nunca me achavam bonita. Estava me sentindo uma idiota agora. -As pessoas me olham e só vêem problemas.
-Porque são idiotas. - ele disse instantaneamente. -Quero dizer, você parece mesmo uma delinquente, mas isso só te deixa mais interessante.
Eu ri meio sem graça e senti minhas bochechas pegando fogo. Então ele me achava interessante? E porque eu estava com vergonha ao invés de mandar ele ir se fuder?
-Ei, você tá livre mais tarde?- ele perguntou. Torci o nariz.
-Você nem me conhecê e já vai perguntando essas coisas?- eu perguntei dando risada. Isso fez ele ficar vermelho.
-Não é isso! Eu só ia perguntar se você queria sair comigo.- ele disse meio vermelho. Ah, pronto. Agora quem está vermelha sou eu! E com muita, muita vergonha. E me sentindo uma besta por ter ficado feliz com esse convite. Mas que porra? -Quer dizer, você parece ser legal, e eu ia gostar de conhecer alguém que saí arrumando briga só pra defender um gato.
-Eu... Sair com você, é?- eu perguntei desviando o olhar do dele. Nem conseguia encarar Chifuyu. Eu deveria ver aquilo como oportunidade para conhecer mais da Toman, certo? Então porque a última coisa que eu estava pensando era nisso?
-Sim. Comigo e com o Baji. - ele disse. Respirei fundo, me segurando para não xinga-lo. Eu achando que ia ser um encontro, meu Deus, como sou tapada!
-Eu vou pensar a respeito. Toma, meu número.- eu disse pegando uma caneta e me levantando. Puxei a mão do garoto na minha e comecei a escrever. -Eu saio as oito. Se eu tiver afim, eu vou com vocês. Caso contrário, você vai tomar um vácuo eterno.
Ele me deu um sorriso e pagou o que devia antes de se virar para sair. Eu fiquei o olhando porque sou patética nesse nível, esperando para ver se ele ia virar. Quando ele realmente virou, eu só faltei enfiar minha cara no chão. Isso fez Chifuyu dar risada e acenar.
Quando ele finalmente foi embora, peguei o celular e mandei uma mensagem para Sam. Até porque ela era bem mais inteligente do que eu e ia saber o que eu deveria fazer naquela situação.
"Sam, encontrei de novo com o vice capitão da primeira divisão e ele me chamou pra sair. O que eu faço?"
E eu sentia que as coisas estavam começando a esquentar. Eu só torcia para não acabar me queimando no processo.
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