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Estava me sentindo bem. Bem na merda, só se for. O dia mal começou e já percebi que ia ser um dia de merda pelo jeito que queimei o café da manhã, consegui queimar líquido. Eu nem sabia que essa merda era possível, mas tinha acabado de queimar líquido. Isso sem falar que acordei atrasada então, foi uma confusão para que eu conseguisse arrumar Angeli para a escola enquanto fazia a mesma coisa comigo. No final, também cheguei atrasada na escola por ter ido levar Angeli até a creche antes de estar ali.
As aulas se passaram com uma puta lentidão e por incrível que pareça, consegui prestar atenção em cada assunto dado pelo professor sem que me distraísse com a visão da janela ao meu lado, mesmo que estivesse recebendo reclamações a cada mísero segundo por estar rabiscando coisas aleatórias no meu caderno durante a hora de fazer atividades.
Balancei a cabeça para tirar alguns fios de meus cabelos que caíram na minha tez por conta do vento enquanto andava pelos corredores, uma moeda era jogada ao ar por mim e então atingia minha palma até que meus passos cessaram em frente uma máquina de salgadinhos que ficava no fundo da escola, próxima aos clubes de futebol e vôlei. Me inclinei para analisar melhor o que tinha ali.... Tudo bem, um salgadinho de queijo vai melhorar meu dia quando eu comer ele depois de beber um guaraná...
Meu dedo pressionou o número do salgadinho de queijo e eu esperei, rezando para que aquela merda não travasse ali quando fosse cair. Não sei porquê fui gastar tempo rezando, aquele era um dia de merda, claro que aquela porra ia travar e eu ia ficar sem a caralha do meu lanche, ou pelo menos era o que eu pensava, pois quando já estava pronta para entrar novamente na escola, um barulho alto soou e então, meu salgadinho estava na área de recolhimento, assim como outros salgadinhos e doces.
─ Você está melhor?─ Questionou o garoto, tirando seu pé da lateral da máquina e se inclinando para pegar os salgadinhos junto do doces. Pisquei meus olhos, levemente surpresa com o que havia acabado de acontecer. Lentamente, me aproximei, pegando meu salgadinho de queijo e o abrindo, rapidamente enfiando uma das bolas feitas de queijo na boca.
─ Sabe aquela ponte?─ Mitsuya balançou a cabeça, abrindo um salgadinho também e começando a devorar ele da mesma forma que eu estava fazendo.─ Eu quero me jogar dela.
O garoto riu enquanto minhas costas se pressionavam contra a parede ao lado da máquina, a gente continuou comendo em silêncio até ele quebrar com uma frase que me fez olhá-lo levemente irritadiça.
─ Então, você não me respondeu ontem.─ Pisquei meus olhos e encarei os olhos lavanda do garoto, ele tinha um sorriso provocante nos lábios quando completou:─ Sobre sair comigo hoje.
Empurrei levemente um de seus ombros, fazendo-o rir.
─ Você que foi embora sem esperar que eu respondesse, idiota.─ Resmunguei. Mitsuya não se incomodou com o xingamento, e encostou o ombro na parede ao meu lado.
─ Então, quer dizer que vai?─ Perguntou, seus olhos brilhavam suavemente. E isso era um saco, toda vez que aqueles olhos ficavam daquele jeito, significavam que eu tava perto de aceitar que Mitsuya me leve para onde ele quiser. Tombei minha cabeça para trás, não me importando se meu cabelo estivesse simplesmente se arrastando no cimento da parada e ficando ainda mais parecido com um ninho por causa do meu movimento.
─ Onde você vai me levar?─ Perguntei, mesmo sabendo que era quase impossível que ele me dissesse. Mitsuya riu e uma de suas mãos seguraram meu ombro, me balançando levemente com divertimento. Eu acompanhei seu riso por um momento.
─ Nem tente, não vou dizer.─ Ele disse em um tom suave. Dei de ombros como se dissesse que valia a pena tentar, aquilo fez que Mitsuya soltasse mais uma risada.
Novamente, ficamos em silêncio. Apenas quietos, ouvindo as vozes e risadas dos nossos colegas de escola que pareciam aproveitar o intervalo de uma forma que nunca fiz realmente. Claro que até o garoto simplesmente ir até a lateral que havia chutado da máquina e sair de lá com uma caixa branca envolta em uma fita vermelha que formava um laço charmoso. Ele se aproximou com a caixa em mãos, sorrindo daquele jeito que me fazia crer que sempre havia uma coisa que eu não sabia quando se trata de Mitsuya.
─ Bom, já que vou te levar para um lugar que você não sabe qual é, pensei que seria justo pelo menos te dar algo para vestir.─ Franzi o cenho com confusão, esticando minha mão e desfazendo o laço com um único puxão. Mitsuya manteve seus olhos lavanda em meu rosto, parecendo estar analisando minimamente minha reação. Meus olhos se arregalaram quando abri a caixa e me deparei com um tecido branco, um que eu conheci bem, pois estive o vestindo nas últimas semanas para que as meninas o ajustassem em meu corpo e adicionassem bordados que mais se pareciam pétalas de cerejeiras dançando ao vento.
Meus dedos roçaram no tecido macio e então, eu o peguei, o levantando para analisá-lo melhor. Mitsuya sorriu de um jeito doce, inclinando levemente a cabeça.
─ É um presente de boas-vindas.─ Soltou quando eu o encarei, uma pergunta clara em meus olhos.─ As meninas queriam te dar algo para comemorar sua entrada no clube então elas que fizeram o vestido, te usando como modelo, sem que soubesse que ele era um presente para você.
Pisquei meus olhos e voltei a encarar o vestido em minhas mãos. Ele era simples, mas mesmo assim, muito bonito. E saber que era um presente daquelas garotas sorridentes e energéticas fazia meu coração esquentar. Abri um sorriso, voltando a colocar o vestido na caixa, eu não queria sujá-lo sem querer ou algo do tipo. Rapidamente, tirei a caixa branca das mãos de Mitsuya após fechá-la.
─ Realmente não vai me dizer para onde vamos?
Ele sorriu, se aproximando, conseguindo segurar meu nariz entre os nós de seus dedos, balançando-o suavemente.... Como se eu fosse uma espécie de criança.
─ Pare de ser curiosa, Sam.─ Sussurou ele, tão próximo que eu podia sentir seu hálito de menta.─ Você vai ver quando chegarmos lá, apenas fique pronta depois do fim das aulas.
E então, Mitsuya se foi. Em passos lentos que me pareciam levemente preguiçosos, não deixando me lançar um olhar que continha mil e um segredos antes de adentrar no prédio da escola.
Tudo bem, o vestido estava simplesmente perfeito em meu corpo, não que eu estivesse surpresa com isso mas é só... Balancei a cabeça, abrindo a torneira e deixando que minhas palmas acumulasse água o suficiente para jogar em meu rosto, limpando-o. Com rapidez, sequei minha pele usando papel-toalha e então, saí do banheiro. Meus passos ecoavam pelos corredores enquanto andava, minha bolsa em um dos meus ombros e cabelos rapidamente presos em um rabo-de-cavalo, eu não ia dar mais uma chance para que ele ficasse ainda mais parecido com um ninho.
Mitsuya já me esperava fora da escola, seus olhos pareciam encarar o retrovisor da sua impulso e uma mão escorreu por seus fios por um momento até que suas orbes finalmente me notassem ali. Ele abriu um suave sorriso e me esperou chegar perto dele para começar a falar.
─ Você é bonita.─ Soprou de forma suave. Soltei uma risada com sua fala.
─ Você também é bonito.─ Retribui, balançando meus ombros, ouvindo o som da sua risada. Mitsuya rapidamente subiu na moto e me esperou fazer o mesmo, mas eu não fiz até continuar minha fala:─ Temos que voltar antes das cinco, tenho que buscar minha irmã.
─ Tudo bem, a gente não vai muito longe e posso deixar você na escola de Angeli.─ Disse, aqueles olhos me encarando... Segurando em seus ombros, subi na moto e me sentei atrás de si, meus braços em torno de sua cintura quando ele deu partida, guiando-me para um lugar que eu não tinha a mínima ideia de qual era.
O vento atingiu meu rosto fazendo uma suave carícia que me fez sorrir e vi pelo retrovisor que Mitsuya fez o mesmo.
Uma pista de patinação. Pessoas giravam sob as pequenas rodas de seus patins no assoalho liso, outras aproveitavam para ficar focadas na área de fliperama, seus olhos fixos nas telas que apresentavam os jogos. Aquilo... Lancei um olhar para Mitsuya que sorria para mim, provavelmente achando graça da minha expressão surpresa.
─ Como você achou isso?─ Perguntei, apontando para o nosso redor. Ele se aproximou, sua mão alcançando a minha e entrelaçando nossos dedos antes de me puxar em direção a uma mesa ali próxima.
─ Uma vez, um amigo meu se perdeu por aí e acabou aqui.─ Mitsuya riu, os olhos nostálgicos.─ No dia seguinte, ele nos arrastou pra cá e ficamos vindo por dias até cansarmos daqui, mas ainda venho de vez em quando.
Assenti, ignorando que minhas bochechas estavam quentes por conta das nossas mãos juntas e do fato que a palma de Mitsuya era quente e suave, mesmo tendo alguns calos, talvez por conta da costura ou pelas as lutas que ele deveria se meter. No final, a gente não se sentou na mesa mas sim paramos em frente de uma estante de patins que ficava ao lado da mesa.
─ Você sabe andar?─ Ele perguntou, parecendo se dar conta que me trouxe até ali sem saber se eu andava ou não de patins. Não deixei de rir dele, pegando um par de patins azuis usados.
─ Você sabe?─ Perguntei de volta. Mitsuya riu, e nós nos concentramos em calçar nossos patins com agilidade.
As rodas deslizaram na madeira lisa, um pouco trêmulas por conta da minha incerteza. Fazia um tempo que não chegava nem um pouco perto de um patins, então era normal que eu me sintasse daquele jeito. Mas, ainda assim, não deixei de rodar em torno de mim mesma com rapidez quando me dei conta que meu equilíbrio continuava o mesmo de anos atrás.
Mitsuya riu, passando ao meu lado e girando-se para me encarar enquanto continuava a patinar de costas.
─ Exibida.─ Soltou em um tom que ele parecia estar me elogiando mas do que qualquer coisa. Sorri, patinando até ele que segurou meus braços para que não me afastasse mais. Seus olhos encararam os meus e eu não ousei desviar, o sorriso em meu rosto continuou ali enquanto continuávamos nos olhando, claro que até uma criança possuída pelo demônio quase me derrubar quando tentou fazer uma manobra que ela claramente não dominava.
Mitsuya riu, me observando encarar a criança tempo bastante para assisti-la cair no chão após tropeçar nos próprios pés, e sim, eu ri bastante daquela queda.
─ Vigésima nona questão, ─ Meus dedos continuavam apertando os botões fazendo com que meu personagem continuasse atingir o oponente dele. No meu lado, Mitsuya continuou fitando o papel amarelado em suas mãos, analisando a questão que estava prestes a proferir.─ um talento secreto.
Franzi o cenho, apertando a sequência que faria meu personagem soltar algum tipo de esfera de energia que atingiu meu oponente. Tudo bem, mais um golpe e acabo com essa merda...
─ Cantar.─ Soltei para Mitsuya, ainda concentrada no combate que eu tava bem perto de vencer.─ Quando era muito pequena, minha mãe me colocou em umas aulas de canto, ela queria que eu soubesse fazer alguma coisa que não seja arrumar problemas.
O garoto ao meu lado riu.
─ Claramente sua mãe não pensou que seu talento natural para problemas nunca ia sumir.─ Comentou ele, me permiti soltar uma risada que saiu meio pausada, pois estava ocupada tentando desviar de uma ofensiva dentro do jogo.
─ E o seu?─ Perguntei.─ Qual é o seu talento secreto?
Mitsuya pareceu pensar por um momento, antes de responder em um tom meio risonho.
─ Sei dizer qualquer tipo de tecido só de tocar nele.─ Espera.... Pisquei meus olhos, lançando um olhar para ele com o cenho franzido, repetindo a mesma sequência de ataque especial com os dedos.
─ Pera, quê?─ Soltei uma risada, ouvindo o barulho característico que o jogo reproduz quando um oponente é derrotado. Mitsuya deu de ombros, seus olhos lavanda continuavam analisando o questionário que encontramos largado no chão.
Eram cinquenta perguntas aleatórias que decidimos responder juntos, assim que o encontramos após sair da pista de patinação, sedentos por água e por alguma comida. A gente só havia respondido 29 questões até aquele momento e eu poderia dizer que estávamos nos conhecendo cada vez mais.
Já havia descoberto que Mitsuya possuía uma tatuagem na lateral da cabeça que se encontrava coberta por seu cabelo lilás e conseguia grafitar não importava o que seja, mas ele havia parado a um tempo por um motivo que não revelou qual.
E ele já havia descoberto que eu tinha alergia a amendoim, gostava de usar casacos ou jaquetas e que preferia passar o dia na minha casa quando neva.
─ Trigésima, o que você mais gosta em uma pessoa?─ Leu a pergunta impressa no papel. Suspirei, mordendo levemente os lábios enquanto olhava para meus pés. Como assim o que você mais gosta em uma pessoa? É uma pergunta meio confusa demais... Tipo, o que me fez gostar de Aiko? Eu não sei responder essa merda...
─ Eu não sei, talvez sei lá sorriso ou algo do tipo. E você?
─ Acho que também não sei, acho que é honestidade, sei lá.─ Ele piscou os olhos, parecendo momentaneamente surpreso com algo quando fitou o questionário denovo.
─ Trigésima primeira, primeiro beijo.
─ Não tenho.─ Mitsuya me olhou, surpreso. Dei de ombros, afastando os fios que escaparam no aperto do elástico que mantinha meu cabelo preso.
─ O que foi?─ Perguntei quando ele ficou quieto demais.
─ Você tá me dizendo que nunca beijou alguém.─ Falou lentamente, como se não estivesse acreditando verdadeiramente em minhas palavras. Soltei uma risada, empurrando um dos ombros dele de leve.
─ Isso é normal, não fique com essa cara de idiota.
─ Eu sei que é normal, só que...─ Mitsuya analisou não só meu rosto, mas me analisou por inteira. Os olhos deslizando por minhas pernas por um momento até retornar a encarar meu rosto.─ Esquece...
Como ele não parecia muito afim de completar sua frase, eu apenas aceitei aquelas meias palavras. Mas, no fim do dia quando ele me deixou na frente da escola de Angeli e partiu com um sorriso suave para onde queria ir, não deixei de pensar no quanto queria saber o motivo pelo qual ele parecia tão surpreso com uma coisa daquelas....
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