Sam Dean era realmente muito bonita. Ela tinha longos cabelos cor de rosa e mechas onduladas que alcançavam sua cintura. A pele dela era tom de pêssego e sardenta e os olhos cor de caramelo. Apesar daquela beleza estonteante, era nítido a falta de dias dormidos daquela garota pelas olheiras. E ela estava com uma criança no colo, o que só me fez ficar mais desconfortável ainda! Tipo, porra! Que merda Kisaki tá fazendo? Envolvendo alguém que claramente tem uma pessoa importante para cuidar? A forma como Sam estava agarrada a aquela garotinha denunciava o quão importante a menina era. E tinha outro detalhe: ela não parecia, nem um pouco, uma garota do submundo. Muito menos alguém que trabalharia para um traficante puto como Seiji.

Tipo, você olha pra mim e pensa: porra, essa menina é problema puro. Melhor não se meter com ela. Mas você não olha para Sam Dean e pensa que ela é, sei lá, subordinada de um escroto como Seiji. Me recuso a usar outro termo, aliás.

Quais eram os demônios daquela garota, afinal?

E em que merda Kisaki estava pensando quando resolveu meter nós duas numa missão do cacete de destruir o invencível fodido Mikey? Cara, as chances dessa porra dar certo são praticamente nulas! Que inferno, Kisaki!

-A gente pode conversar rapidinho?- perguntei cruzando meus braços. Eu estava com um leve peso na consciência por causa da criança no colo dela, mas não podia fazer nada quanto a isso.

Vi Sam Dean trocar o peso do corpo de um pé para o outro, visivelmente desconfortável com aquela situação. Claro, afinal, tinha uma criança que não deveria nem ter cinco anos no colo dela. Ai, merda. Em que tipo de bosta estava me metendo, afinal? Eu podia enfrentar a fúria de Manjiro Sano, mas não conseguia aguentar a ideia de envolver alguém como Sam numa situação como essas. E eu nem conhecia a garota! Porque eu me importava?

Ela me lembrava a minha irmã, de alguma forma. Acho que é por isso que me importava. Minha irmã podia me odiar agora, mas, ah. Eu ainda a amava, mesmo que ela não merecesse um pingo do meu amor.

-Não precisa ser exatamente agora, se não quiser. Só... Acho que seria uma boa a gente se conhecer melhor. - eu disse. A garota só ficou me encarando com aqueles olhos que pareciam estar analisando minha alma. Mas que caralho! Eu ia ter que fazer toda a conversa, porra? Eu bufei em alto e bom som. Sou totalmente sem paciência. -Beleza, já ouviu falar do Kisaki Tetta? - perguntei e ela fez uma careta, o que já me dizia tudo: não. Porra, do que ela sabe? Como vou caçar informações sobre o invencível Mikey se ela não sabe nem o básico da merda toda? Dei um longo suspiro. -Ok, o papo é longo, quer, sei lá, tomar um sorvetinho?

Ela me olhou feio. Já dizia o suficiente: resolva tudo aqui e agora, com você eu não vou para lugar nenhum. Revirei os olhos. Qual é? Era o cabelo raspado ou a tatuagem no pescoço? Ou a orelha toda furada?

-Não tem língua não, garota? - eu acabei soltando na hora da raiva.

-Eu só não quero perder a saliva com você. - ela retrucou. Fiz uma careta. Certo, curta e grossa! Mas pelo menos ela fala!

-Legal. Então eu gasto a minha. É o seguinte, eu faço parte de uma gangue chamada Moebius. Ou fazia, sei lá. Isso é meio irrelevante, sinceramente. Eu...- respirei fundo e olhei para o céu, trincando os dentes quando disse: -Trabalho para a porra do Kisaki Tetta. Ele é um filho da puta, só deixando claro. Mas a questão é, ele e o seu, sei lá, chefe, estão trabalhando juntos. Você sabe disso, né?

Pela cara que ela fez, não sabia. Caralho, ela não sabe de nada? Respirei fundo.

-Eu não sei exatamente o que eles querem com a Toman, mas querem que a gente banque de espiãs para eles. Coletando informações sobre tudo.- eu disse e suspirei, passando a mão pelo rosto. -Uma bela merda, né?

-É.- ela murmurou. -Eu não entendo nada sobre gangues. - ela completou. Eu assenti.

-Eu vou te explicar o básico. A Moebius tem como líder um cara chamado Osanai, mas, se formos ser sinceras aqui, quem controla tudo é o Kisaki. E a Toman é a gangue Tokyo Manji. É comandado pelo Manjiro Sano, o famoso invencível Mikey. - eu disse e ela soltou um "ah". Até porque todos já escutaram falar do Mikey. -Eu não sei o que Kisaki e Seiji querem com a Toman, mas eles querem que a gente se fo... - olhei para a criança no colo dela. -ferre e resolva essa merda.

Sam apenas me olhou antes de fechar os olhos com força. Tipo, eu entendia, porra. Aquilo tudo era uma bela de uma merda! E também extremamente revoltante.

-Olha, não te conheço. Mas se não quiser se envolver nisso, eu me viro sozinha.- eu falei. Ela riu com sarcasmo e eu torci o nariz.

-Eu não tenho opção de não querer fazer parte disso.- ela disse, olhando nos meus olhos. E ai eu percebi que os problemas dessa garota eram ainda mais intensos do que eu imaginava. Apenas assenti para ela. E, então, sorri.

-Pois bem, Sam. Então é o seguinte: a gente vai dar o que esses dois otários querem e, juntas, vamos dar um jeito de tirarmos eles de nossas vidas. Nos livrarmos de vez.

Quando Sam deu um sorriso para mim, eu já sabia qual seria a resposta. O que eu não imaginava é que seria tão difícil conseguir aquilo. E nem que nós duas estávamos destinadas a nos fudermos tanto.