☪ .☆ ━━ ELEVEN ━━ ☪ .☆
Eu só queria entender o porque eu estava tão nervosa para sair com dois imbecis que eu nem conhecia direito. A mensagem de Sam tinha sido bem clara, mas tampouco ajudou a me fazer ficar mais calma com aquela situação. Bem, de qualquer forma, eu apenas esperava que tudo desse certo. E também esperava que Sam estivesse bem. Eu sabia que ela, provavelmente, estava lidando com umas merdas zoadas agora. Como eu sou idiota, preocupada com coisas banais comparada as coisas que ela deve estar passando agora.
Terminei de me trocar e joguei meu cabelo para o lado, o que fez a outra funcionária que estava comigo no vestiário fazer uma careta. Eu sei que se lançasse para ela um olhar torto já seria o suficiente para fazer ela tremer, mas estava preocupada com outras coisas. Como, por exemplo, o fato de que sair com Chifuyu e Baji era uma péssima ideia, para início de conversa.
Eu percebi que nada seria tão simples assim quando saí do mercado e encontrei Hanma escorado no poste, fumando. Ele olhou para mim e sorriu, jogando a bituca no chão e apagando com a sola do sapato. Torci o nariz conforme ele vinha na minha direção, colocando as mãos dentro do casaco da Moebius.
-Porque está aqui?- eu perguntei cruzando os braços. Ele tirou minha bolsa do meu ombro e colocou no dele, começando a caminhar do meu lado.
-Poxa, Aiko, preciso de motivos agora pra vir te ver?- ele disse com um sorriso. Revirei meus olhos com irritação.
-Bem, tudo o que você faz agora é por ordem do Kisaki, então acho que é compreensível eu questionar, né?- eu disse irritada. Não importava quanto tempo passasse, eu não iria engolir o fato de que agora tudo era voltado a Kisaki. Eu odiava isso, odiava com todas as minhas forças. Hanma fez um biquinho pra mim. -O que ele quer de mim?
-Eu não vim te ver por ordem do Kisaki.- ele riu. -Você ainda é minha melhor amiga, sabe?
-Tenho minhas dúvidas quanto a isso. - eu resmunguei. Hanma preferiu ignorar minha reclamação. Como ele andava fazendo todas as vezes que eu começava a falar como odiava toda aquela situação.
Ver Shuji ignorar o como eu me sentia naquela situação toda só me fazia pensar que talvez Sam estivesse correta; talvez eu não significasse tanto assim para Hanma como ele significava para mim. Ou, no mínimo, que ele não me amava tanto ao ponto de desistir dessas merdas todas que eu odiava. Era, de fato, revoltante.
Eu estava preparada para arrumar uma briga com Hanma quando meu celular começou a vibrar. Ele me olhou com curiosidade, mas eu dei um tapa na testa dele para que parasse de olhar meu celular e atendi sem ver quem era.
-Alô?- eu disse, ainda encarando Hanma que estava sorrindo com sarcasmo para mim.
-Oi, Aiko. É o Chifuyu. - quando escutei a voz do loiro, não nego que meu coração foi parar na garganta. Hanma deve ter notado minha mudança, pois começou a perguntar "quem é?" sem fazer nenhum som. Retruquei com meu famoso "não é da sua conta".
-Ah, oi.- eu disse, tomando cuidado para não falar o nome dele. Eu não me importaria de compartilhar essas informações com Hanma, mas isso foi antes de Kisaki. E outra, se ele soubesse que eu estava em contato com um membro da Toman, ia arranjar um jeito de fuder ainda mais minha vida desgraçada. Não, obrigada, eu passo.
-Eu só queria saber se você vai.- ele disse. Respirei fundo. Será mesmo que aquela era a melhor escolha, afinal? E, tipo, Hanma está aqui, e ele raramente está comigo agora. Eu não deveria me agarrar a esse pequeno milagre e passar o restante do dia com ele?
Mas não foi Hanma que escolheu, para início de conversa, me deixar de lado? Então que se foda! Eu não vou mudar meus planos por causa dele até porque ele não está merecendo esse tipo de coisa vinda de mim.
-É. Depende. Vocês planejam me assassinar? Porque já aviso que vai ser dificil, tá?- eu zombei. Chifuyu deu uma risadinha. -Vai ser onde?
-No parque itinerante que abriu no centro.- ele disse. -Sabe onde é?
-Sei. Eu encontro vocês lá, beleza?- eu disse e Chifuyu concordou antes de desligar.
Hanma estava me olhando quando me virei para ele. Cruzei os braços e arqueei a sobrancelha.
-Que foi, cacete? Perdeu algo na minha cara?- eu disse com irritação, voltando a caminhar em direção a nossa casa.
-Fez novos amigos, Aiko? Poxa, nem me fala nada?- ele zombou.
-É porque não é da sua conta, Hanma. Porque vou te contar se você vai ir correndo e dizer tudo a Kisaki?- eu rebati e sabia que ele tinha entendido o porque da minha irritação. O assunto da minha mãe ainda não tinha me descido.
-Eu não fiz de propósito.- ele tentou se justificar, mas ergui a mão e ele calou a boca.
-Não me importa, Shuji. Você já era debiloide antes de andar com o Kisaki, e eu nunca liguei pra isso porque te amo. Mas agora você tá virando um arrombado. E não sei se gosto disso. Então não fode, cara.- eu disse e suspirei, apertando o passo e deixando ele para trás.
Quando cheguei em casa, eu fui direto para o banheiro tomar banho e me trocar. Estava cansada, não nego, mas, ao mesmo tempo, eu estava ansiosa para sair com Chifuyu. Tipo, eu nem o conhecia, mas ele fazia eu me sentir uma adolescente normal. E eu só queria uma noite sem nenhum problema.
Eu saí do banheiro e fui em direção a porta de entrada. E, para a surpresa de ninguém, Kisaki estava aqui. Revirei os olhos. Uau, o que eu falei para Hanma não teve efeito nenhum! Não sei porque eu ainda me importo, sinceramente. Que se foda.
-Ei, ei, ei, onde você vai, Aiko?- Hanma me perguntou e eu fiz questão de o ignorar. -Eeeeei.
-O gato comeu sua língua? -Kisaki provocou. Sorri com deboche para ele.
-Precisa de mim, chefe?- eu zombei. -Caso contrário, o que faço ou não da minha vida não é da sua maldita conta.
Não esperei por uma resposta do demônio antes de sair, batendo com força a porta atrás de mim. Meus olhos estavam com lágrimas de irritação, mas nenhum daqueles dois merecia que eu chorasse por causa deles. Ainda assim, era meio inevitável.
Eu talvez tenha dado uma leve chorada enquanto caminhava até o lugar combinado. Tudo aquilo era uma merda, uma merda do cacete. E eu não deveria passar por nada disso! Eu tenho quinze anos! Que saco! Porque as coisas tinham que ser assim? O que o universo estava querendo me mostrar?
Deixada pela própria mãe, chutada pela irmã; por algo que nem foi minha culpa. O pai de Sayuri era um merda e ela sempre soube disso, mas não pensou nem duas vezes antes de desejar que eu morresse depois de eu ter me defendido e feito o papaizinho dela ir para na UTI. Uma pena que não morreu! Eu nem ligaria se tivesse acabado ficando dez anos no reformatório, pelo menos ele estaria morto agora. Eu odeio minha família, odeio por terem me abandonado e escolhido um assediador de merda.
As vezes, quando fechava os olhos, ainda podia sentir as mãos dele em mim. Aquilo fez meu estômago revirar; talvez eu devesse voltar para casa. Eu não deveria ter saído, para início de conversa. Aquilo não ia dar certo, de forma alguma! Que merda.
-Ei, Aiko.- eu escutei me chamarem. Merda, agora não dava para fugir. Esfrequei o rosto com força, esperando que fosse o suficiente para esconder minha cara de bosta e me virei. Chifuyu estava sorrindo para mim. Já Baji, estava de braços cruzados e com um ar entediado. Sério, esse cara é irritante pra cacete! -Você... Tá bem?
-Eu tô ótima, porque tá perguntando isso?- eu disse torcendo o nariz. Minha capacidade de mentir na cara dura era impressionante, sinceramente.
-Seu nariz tá vermelho e parece que você acabou de fumar maconha, seus olhos tão extremamente vermelhos.- Baji disse, sem nem fazer questão de ser delicado! Imbecil do caralho. Chifuyu olhou para ele em reprovação. Pelo menos alguém ali tinha senso!
-Talvez eu estivesse fumando maconha!- eu disse. Baji deu uma gargalhada.
-Até parece! E depois teve uma crise de rinite?- ele zombou. Mostrei o dedo do meio pra ele.
-Porque você não vai se fuder, ó seu grande imbecil?- eu disse com irritação.
-Meu Deus, parem os dois.- Chifuyu disse meio perplexo. Baji e eu fizemos uma careta. O jeito que Chifuyu falou foi como se tivessemos cinco anos, qual é! -Aiko, você quer conversar?
-Nem fudendo.- eu disse e cruzei os braços. Semicerrei os olhos. -Nem conheço vocês direito.
-Mas já tá ai me xingando pra caralho.- Baji reclamou. Eu acabei dando risada.
-Cara, você me irrita.- eu disse.
-Vocês dois até que são parecidos, é bem estranho, na verdade.- Chifuyu comentou, ganhando um olhar indignado meu e de Baji. Qual é, eu não tenho nada de parecido com esse animal! Chama-lo de animal é até xingamento aos animais. -Está bem, vamos indo antes que se matem.
Chifuyu estava rindo quando se virou e começou a caminhar em direção a montanha russa. Ah, sério mesmo? Bosta. Baji parou do meu lado e me olhou da cabeça aos pés. Eu torci o nariz e ele semicerrou os olhos, me analisando.
-Tô de olho em você.- ele disse. Eu fiz uma cara feia.
-Qual o seu problema, sério?- eu disse andando do lado dele atrás de Chifuyu.
-Da pra relaxar um pouco, por um segundo? Não precisa ficar tão na defensiva. Tô tirando uma com sua cara.- ele disse e eu torci meu nariz. Por um segundo eu pensei que ele soubesse de tudo. Merda. Vou ter que tomar cuidado com Baji. Ele pode ser um imbecil, mas não parece nem um pouco lesado.
-Você é irritante.- eu funguei.
-E você está tendo um dia de merda.- ele disse. Suspirei.
-Como todos os outros dias, que diferença faz agora, né?- eu murmurei chutando um pedrinha. Ele suspirou.
-Bem, tá ai a oportunidade de esquecer o resto e aproveitar a noite. Relaxa. Chifuyu jamais ia te machucar.- ele disse. Eu fiz uma careta e olhei para ele.
-Só ele? E você?
-Cara, eu não vou me comprometer. - ele zombou. Bati meu ombro no dele.
-Você é um babaca, já te falaram isso?- eu disse e ele deu risada. Ainda assim, sentia como se parte daquela tensão inicial entre a gente tivesse morrido.
Olha, eu não sei o porque eu aceitei ir naquela montanha russa. Gritei tanto que minha garganta ficou doendo e ainda tive que aguentar Baji rindo da minha cara. Ficou ainda pior quando saímos e eu vomitei tudo o que tinha comido numa lata de lixo. O auge da decadência. Chifuyu ficou meio desesperado e me comprou água e mentos, o que foi fofo, e Baji, o grande otário, ficou rindo até a barriga doer. Que ódio desse garoto.
-Você tá melhor?- Chifuyu perguntou e eu assenti.
-Estaria melhor se aquela hiena desgraçado parasse quieta.- eu disse dando um chute na canela de Baji. Ele sibilou e me olhou torto e eu ri. -Babaca.
-Otária. Sua cara foi hilária. Nunca vou esquecer desse momento.- ele zombou. Dei um tapão na nuca dele. -Sua filha da puta!
Eu dei risada e comecei a correr. Baji, como um grande imbecil, correu atrás de mim para dar o troco. Mas ele não ia me alcançar tão fácil.
-Você é lerdo!- eu gritei para ele, me virando e mostrando a língua. -Faz melhor que isso, garoto!
-Ridícula, você tem cinco anos?- ele gritou irritado, mas estava vindo atrás de mim. Eu ri e atirei a garrafinha de água vazia na testa dele. Baji parou de correr e me olhou indignado.
-Crianças, eu estou lidando com crianças! - Chifuyu gritou. Eu dei risada.
-Vem logo, seu lerdo. Eu quero tomar sorvete. - falei e acabei agarrando a mão de Chifuyu na minha. Ah, merda. Por que eu tinha feito isso? De qualquer jeito, era tarde demais para voltar atrás agora! Meu estômago deu um nó ainda maior quando ele apertou minha mão de volta. Baji abriu um sorrisinho malicioso e estava prestes a dizer alguma merda, mas eu o cortei. -Vamos logo antes que feche.
E eu arrastei Chifuyu comigo, largando Baji pra trás. Meu coração estava batendo acelerado no peito e fazia muito, muito tempo que não me sentia assim. E acho que sabia o que aquilo significava. Eu estava feliz, pela primeira vez em muito tempo. E tinha acabado de ficar dez mil vezes mais difícil fazer o que Kisaki queria.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro