☪ .☆ ━━ EIGHTY FIVE ━━ ☪ .☆
Estava girando o anel de pedra brilhante no meu dedo anelar, ansiosamente, enquanto meus pensamentos estavam em qualquer lugar, menos ali, naquele bar onde eu estava. A iluminação era uma merda e alguns bêbados tinham brigado alguns minutos antes de Hanma chegar e sentar ao meu lado, sorrindo como um gato. Algumas coisas nunca mudavam, mesmo em doze anos. O cheiro de bebida era forte, mas não era como se eu me importasse enquanto bebia a cerveja na minha frente, tentando prestar atenção na conversa que Hanma ainda insistia em levar.
-Caramba, Shuji. Já disse pra você que não ligo pra essas merdas todas.- falei, torcendo o nariz e parando de girar o anel de noivado na minha mão. Hanma arqueou uma sobrancelha para mim.
-Engraçado, quem deveria estar resolvendo "essas merdas" - ele começou, fazendo aspas com os dedos. -É você e não eu. É o seu casamento e não o meu!
Torci o nariz com irritação e revirei os olhos. Ele deveria agradecer a oportunidade de fazer algo que preste por mim e não estar matando pessoas por ai, isso sim!
-Como as coisas estão indo, aliás?- ele perguntou, levando o copo de cerveja até a boca, sem tirar os olhos de mim. Sabia que ele estava me analisando por completo, esperando que eu vacilasse naquela escolha. Algo que não fiz.
-Ah, você sabe. Vamos casar no fim do mês, então está corrido. - eu disse, dando de ombros e colocando uma mecha do meu cabelo loiro comprido atrás da orelha. Hanma riu.
-Acho que vocês estão se precipitando. - ele disse e eu arqueei uma sobrancelha. -Esse lance entre vocês está rolando tem dois meses e vocês já vão casar? Mas que merda, Aiko?
Eu dei a ele minha melhor cara de merda. Não precisava da liçãozinha de moral de Hanma, ainda mais porque, bem, ele era o Hanma!
-Eu conheço ele tem doze anos. Não acho que isso seja uma atitude precipitada, Shuji.- falei, de cara amarrada. Ele abriu a boca para retrucar, mas meu celular começou a tocar. O peguei e olhei para tela. -Falando no diabo, digo, meu noivo.
-Onde você está? - ele perguntou assim que coloquei o celular no ouvido. Torci o nariz.
-Oi, amor. - falei respirando fundo para não surtar. -Estou em um bar com o Hanma.
-Certo. Preciso que faça algo por mim. - ele disse e eu fechei os olhos com força.
-O que, Kisaki? De novo isso?- eu disse irritada. Kisaki riu do outro lado da linha.
-Sempre tão estressada.- ele falou, estalando a língua. -Não se preocupe, quando nos casarmos, não vai ter que se preocupar em limpar minhas merdas, Aiko.
-O que você quer?- perguntei, cansada.
-Vá mais cedo para reunião com os executivos da Toman hoje. Tem um traidor entre nós. Quero que descubra quem é para mim.
Meu coração deu um salto dentro do peito; merda, mil e uma vezes merda. Sabia o que aquilo significava: alguém ia morrer. Porque certamente Kisaki acabaria com quem fosse o traidor, não importava quem fosse.
-Está bem. - eu disse antes de desligar. Olhei para Hanma, que me encarava atentamente. -Preciso ir.
Hanma riu.
-Indo em outra reunião da Toman? Encontrar com seu amado Chifuyu?- ele provocou e eu fiz cara de nojo.
-Que Deus me livre de chegar perto desse merda do caralho.- eu disse, fazendo Hanma sorrir para mim. -Se arrependimento matasse, estaria morta.
-Tem certeza que não sente mais nadinha de nada por ele?- Hanma provocou de novo, sorrindo como um gato. Franzi o cenho.
-Terminei com ele tem um bom, bom tempo Hanma.- disse, pegando minha bolsa. Apontei o dedo pra cara dele. -Mas você já sabe disso, só gosta de encher a porra do meu saco, sabendo o como eu odeio falar sobre esse imbecil do caralho.
Hanma se divertia enchendo o meu saco com o assunto "Chifuyu Matsuno". Apenas revirei os olhos para ele uma última vez antes de fazer meu caminho até o lugar da reunião e, mesmo sabendo que Hanma também iria, o larguei para atrás. Apenas sabendo que aquele seria um longo, longo dia de merda.
Odiava ter que ir naquelas merdas de reuniões; mas odiava ainda mais ficar ali naquele lugar do caralho esperando a boa vontade dos putos todos aparecerem. O primeiro que vi foi Koko, que deu um sorriso para mim que me fez querer voar no pescoço dele. As vezes, Kokonoi conseguia me irritar mais que tudo no universo, sem nem mesmo abrir a merda da boca.
Minhas mãos estavam tremendo um pouco enquanto eu aguardava, impacientemente. Minha cabeça estava encostada contra a porta do box do banheiro e minha respiração um pouco ofegante. Eu apenas rezava, por tudo o que era mais sagrado, para que estivesse errada a respeito daquilo. Porque se eu não estivesse... Bem, então estaria fodida.
Olhei para meu pulso no braço esquerdo, o mesmo braço com a tatuagem que eu tinha feito, anos atrás, quando achei que Keisuke tinha morrido. Agora, ele simplesmente tinha desaparecido do mapa. Não que eu me importasse, sinceramente. Era melhor assim.
Apenas fitei o sol e a lua tatuados ali. Aquela tatuagem, por mais que pequena, representava as duas pessoas que tinham tido mais valor na minha vida durante minha adolescência: Chifuyu e Sam. Mas agora...
Talvez eu não estivesse pronta para ver aquele resultado daquele teste de xixi no palitinho ou talvez só não quisesse mesmo. Motivo pelo qual o enfiei dentro da bolsa sem nem mesmo olhar.
Larguei a bolsa em cima da pia e encarei meu próprio reflexo no espelho. O que eu tinha me tornado, afinal? Bom, de certo tinha algo: estava longe de ser aquela Aiko delinquente rebelde que eu costumava ser. O cabelo comprido loiro e liso, que me deixava com uma puta cara de nojenta, não ajudava a negar o quanto eu tinha mudado. Ou talvez as roupas que eu usava agora. Ou talvez até mesmo as coisas que eu fazia agora.
Estava prestes a dar um soco no espelho quando meus olhos se encontraram com os de alguém ali. Me virei bruscamente, fitando olhos verdes.
-Sabe, isso aqui é o banheiro feminino, imbecil.- eu disse com irritação. Chifuyu sorriu com sarcasmo para mim, se aproximando rápido, prendendo meu corpo entre a pia e ele. -Chifuyu! - rosnei.
-Tava se arrumando porque, hein? Seu noivo arrombado gosta de te ver assim? - ele perguntou, a boca perto da minha orelha. -Ou apenas está tentando fingir ser alguém que não é?
-Você é um merda do caralho. - eu disse, fechando os olhos com força quando ele afastou o cabelo do meu pescoço. E passou a língua pela minha tatuagem, fazendo todo o meu corpo estremecer. -Se alguém ver a gente aqui...
-Eu quero que se foda.- ele murmurou, levantando a cabeça para me olhar. -Você é a única mulher aqui, então acho que ninguém vai entrar na porra do banheiro feminino.
-Chifuyu, você está praticamente pedindo pra morrer.- eu falei, colocando as mãos entre os cabelos negros dele.
Ele apenas deu um sorrisinho debochado para mim, me puxando e me sentando na pia. Bem, mas que merda, viu? O puxei para mais perto se mim, até que minha boca estivesse grudada contra a dele, até que minha língua estivesse deslizando de forma intensa pela de Chifuyu. As mãos dele percorriam cada parte do meu corpo, partes que ele conhecia bem até demais.
-Não é como se não estivéssemos sempre brincando com o perigo.- ele murmurou contra minha boca.
-Se Kisaki descobrir isso, ele não hesita em te meter uma bala na testa.- eu murmurei. Chifuyu nem mesmo pareceu ligar, ocupado demais colocando as mãos dentro da minha camiseta.
-O plano foi seu, Aiko.- ele disse e eu bufei. -Apenas desista dessa ideia ridícula.
-E ai eu faço o que, Chifuyu? Agora é tarde demais.- eu falei olhando para os olhos dele. Ele respirou fundo. -Inclusive, seu imbecil, Kisaki está a dois passos de descobrir o que você fez!- dei um tapa no braço dele.
-Então vamos fugir. - Chifuyu disse. Não tinha nenhuma dúvida nos olhos dele. Prendi até a respiração. -Hoje a noite. Já acertei tudo, Aiko. Você sabe que seu plano idiota não vai dar certo. Ele sequer gosta de você! E você o odeia.
-Mas era a única chance de foder com ele, Chifuyu!- eu disse. Ele suspirou.
-Se ele matou a porra da garota que amava por ter rejeitado ele, o que acha que vai fazer com você?- Chifuyu sussurrou. Fechei os olhos com força, encostando a testa na dele, minhas pernas envolvendo a cintura de Chifuyu.
-Está bem. Eu faço o que você quer. Vamos fugir. - eu disse e ele sorriu, segurando meu rosto com força e voltando a me beijar com intensidade.
A porta bateu com força, fazendo Chifuyu e eu nos afastarmos, olhos arregalados, coração acelerado. Bem, não tinha como negar o óbvio ali; estávamos fodidos.
-Vocês dois ficaram loucos?!- Sam quase gritou, olhando com raiva de mim para Chifuyu. -Puta merda, caralho! Se alguém vê os dois, vocês morrem! Seus dois sem noção do cacete! Quantas vezes vou ter que falar isso?
-Fala baixo, sua retardada.- Chifuyu disse, tentando arrumar o cabelo. Pulei da pia, tentando desamassar minhas roupas.
-Vocês são dois burros, por Deus! Eu ainda vou ter um ataque cardíaco com vocês.- ela disse fechando os olhos com força. -Fora daqui, Chifuyu. É sério. Antes que os outros cheguem e alguém acabe te vendo aqui!
Chifuyu apenas me olhou uma última vez antes de desaparecer para fora do banheiro, me deixando completamente sozinha com Sam. Minha irmã e melhor amiga me olhou, perplexa.
-Aiko, puta merda!- ela disse, olhos arregalados. -Sabe o que Kisaki faria com vocês se pegasse você e Chifuyu? Quantas vezes vou ter que falar isso? Vocês estão jogando um jogo muito, muito perigoso.
-A gente vai fugir. - eu soltei. Sam parou de falar, me analisando. -Hoje a noite.
Ela deu um suspiro aliviado.
-Bem, finalmente! Deviam ter feito isso já, Aiko. Para de tentar salvar o resto dos garotos. Vai viver a merda da sua vida, pelo amor de Deus!- ela disse e eu abaixei a cabeça. -Aiko?
Olhei para Sam. Merda, ela me conhecia bem até demais. Não existia uma coisa sequer que eu conseguia esconder de Sam.
-O que aconteceu?- ela sussurrou. Passei a mão com força pelo rosto.
-Acho que estou grávida. - eu murmurei. Sam arregalou um pouco os olhos. -Não consegui ver o resultado.
-Quer que eu veja?- ela perguntou e eu assenti, abrindo a bolsa e entregando para ela.
E, só pela cara que Sam fez, eu já sabia a resposta.
"Preciso de você aqui. Venha me encontrar."
Tudo bem, eu podia fazer aquilo; e depois, iria fugir com Chifuyu para bem longe daquele inferno e Kisaki nunca mais encontraria a gente.
Mas, assim que abri a porta da sala onde Kisaki me mandou ir, encontrei o verdadeiro caos. E senti medo. Pela primeira vez em muito, muito tempo, eu senti medo.
Takemichi estava chorando, tinha levado um tiro na perna e estava sangrando. E Kisaki... Estava com uma arma, apontada para a cabeça de Chifuyu, que sangrava depois de tanto apanhar. Meu coração foi parar na garganta; não, não, não.
-Finalmente, Aiko! Demorou um pouco, hein? Achei que ia me livrar desses dois antes de você aparecer.- Kisaki disse, sorrindo.
-O que está fazendo?- eu disse, num sussurro.
-O que acha? Descobri quem é o traidor. - ele disse, rindo. -Venha aqui, Aiko.
Era uma ordem; eu nem mesmo sabia o que estava fazendo, assombrada, enquanto caminhava até Kisaki, meus olhos cravados em Chifuyu, naquela arma sobre sua cabeça.
-Aqui.- Kisaki disse, colocando minha mão sobre a arma. -Mate ele.
-O que? - eu disse, perplexa. Minha mão começou a tremer, mas Kisaki a manteve ali, pressionada na arma contra a testa de Chifuyu.
-Mate ele, Aiko.- Kisaki disse, sorrindo para mim. -E ai vamos sair para jantar, sim?
Meu coração estava acelerado; eu sabia como aquilo acabaria. E vi, nos olhos de Chifuyu, que ele também sabia. Tentei me virar; tentei lutar contra aquilo, mas Kisaki estava esperando que eu agisse daquela forma. Ele arrancou a arma para longe de mim, batendo com força o cabo dela contra minha bochecha, me fazendo cair. Chifuyu e Takemichi gritaram.
-Tão previsível, Aiko.- ele disse, com um suspiro, a arma apontada para mim.
-Pare!- eu gritei. -Estou grávida!
Kisaki apenas piscou os olhos. Foi como se todo o ar tivesse sumido da sala. Ele me fitou e, então, riu.
-Bem, de mim é que você não está. - ele disse, com nojo. -Porque eu jamais te tocaria.
-E eu jamais faria sexo com você!- eu rosnei. -Por favor, Kisaki. Quer que eu te implore? Só nos deixe em paz, porra!
-Acha que dizer que está grávida vai me fazer poupar o pai do seu filho? Ou até mesmo você?- ele cuspiu. -Eu tô é pouco me fudendo.
Não tive tempo para pensar em uma solução; não quando o barulho de tiro soou e senti meu peito arder. Caí de costas no chão, escutando Chifuyu gritar.
Eu estava sangrando; e morrendo. Porque tinha tomado quatro tiros. Quem poderia sobreviver a isso, afinal? Mas estava tudo bem; mesmo que aquele, no fim das contas, tivesse que ser meu final.
-Não se preocupe, Chifuyu. Você está indo se juntar a ela agora.- a voz de Kisaki soou e outro tiro ecoou.
Aquela foi a última coisa que escutei antes de meus olhos se fecharem. E eu nunca mais os abri novamente.
Apesar de tudo, esse foi um dos capítulos da Aiko que mais gostei de escrever, PODEM ME JULGAR KKKKKKK
é sobre isso e tá tudo bem, sabe?
~Ana
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